segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Cruz Celta do Encantamento

Uma perspectiva mitológica do
sistema de leitura da Cruz Celta...

Apaixonado como sempre fui pela linguagem dos símbolos, acho que foi mesmo a mitologia a que encontrei primeiro pela boca do meu pai, e que abriu para mim o mundo mágico das linguagens simbólicas, que se resumiriam mais tarde no estudo dos arcanos do tarot. O Minotauro, a Caixa de Pandora e o Voo de Ícaro são as primeiras histórias mitológicas de que me lembro. Muitos anos depois o tarot entrou na minha vida, e foi paixão à primeira vista! Sua imensa flexibilidade arquetípica aliada à força de suas imagens abriu uma senda infinita de maravilhamento na qual trilho até hoje. Meus estudos não terminam, e quando penso que já tirei tudo de meus estudos e da observação das leituras para meus clientes e para mim mesmo, surge um novo ângulo inexplorado, uma nova perspectiva que enriquece minha compreensão da linguagem simbólica dos arcanos na sua interação com os sistemas de leitura que mais aprecio e pratico. E foi exatamente isso que aconteceu, mais uma vez, ao observar as posições da Cruz Celta dentro da adaptação feita por mim do significado de suas posições originais. Percebi nas dez posições desse método os dez personagens centrais de toda a trama mitológica, quer seja ela milenar como a grega, quer seja medieval como a do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Ao relacionar esses personagens aos palcos de atuação da psique, representados pelos dez posicionamentos desse método, foi possível criar um cenário de mitologia pessoal ao abrir as cartas. Via de regra estamos todos escrevendo nossas lendas pessoais neste mundo. Apenas alguns terão essas lendas influenciando a vida de milhares, ou milhões, de pessoas, e marcando a história de uma comunidade ou de toda a humanidade. Entretanto, isso não diminui o relato e nem a importância de nenhuma lenda pessoal. Andar por essa vida significa influenciar os outros com nossas trajetórias e ser influenciado por outras igualmente. Porém, compreender nossa trajetória e as lições que cada vivência traz em si é que pode agregar qualidade à nossa existência, e impulsionar a evolução e a transformação de nossa personalidade ao máximo de sua expressão. Essa é uma das funções dos sistemas oraculares, e ainda mais do tarot! Os personagens míticos são as representações de partes da consciência que todos acessamos em diversos momentos de nossa jornada. Mesmo os mais dramáticos como a escolha de Páris, que teve de escolher qual dentre as deusas Hera, Athena e Afrodite era a mais bela do Olimpo, e que ao escolher Afrodite, teve as outras duas deusas derrotadas a tramar contra ele no que culminaria na longa e sangrenta Guerra de Tróia. E quem nesta vida não faz escolhas que se não forem feitas com cuidado desembocam em consequências inalienáveis?
Da mesma forma os sistemas de leitura também apresentam os palcos onde todos nós desenvolvemos interesses em comum com todos os nossos irmãos de caminhada neste planeta. E, exatamente como ocorre nos mitos, os arcanos ali colocados mostrarão o modo particular como cada um de nós vive aquele setor da vida!
Dragões, símbolo dos grandes
desafios na senda evolutiva.
Os dez personagens míticos a que me referi na presente analogia são: o rei, a rainha, o mago conselheiro, o dragão, o reino, os súditos, o jovem guerreiro, a donzela, o mensageiro, e por fim, o encantamento ou maldição que permeia toda a história mítica. O rei como o centro do reino representa o centro da trama, e dos temas que empoderamos com nossa atenção. A rainha por sua vez é seu complemento amoroso, ou sua sina opressora como no casamento de Zeus e sua raivosa consorte, Hera. O mago é a personificação da sabedoria espiritual, ou inconsciente se preferir, que se manifesta em momentos críticos como uma ideia vaga, uma percepção sutil, mas persistente, ou uma forte intuição. Os magos são habitantes de um mundo superior, como Merlin ou Gandalf da obra de J.R.R. Tolkien, ou eram representados como humanos com habilidades superiores, como o sábio profeta cego Tirésias. O dragão, por sua vez, é uma figura mais persistente nos mitos medievais, e representa os desafios que parecem intransponíveis num dando momento de nossas vidas. Para os gregos os “dragões” tiveram muitas e assustadoras formas e poderes. Jasão enfrentou um dragão que não dormia para poder recuperar o Velocino de ouro. A Hidra de Lerna, uma fera cujo sangue era um veneno tão letal que nem os deuses escapariam. A Quimera, um animal com duas cabeças, uma de leão e outra de cabra, sendo que a cabeça caprina tinha um hálito venenoso... Possuía também patas de águia e uma cauda que na verdade era uma serpente peçonhenta. Serpentes também compunham os cabelos da Medusa, que transformava em pedra todos que a encarassem nos olhos. Uma clara alusão ao desafio de termos de encarar nossos temores. E assim por diante. De qualquer modo os dragões são a personificação mais recente dos obstáculos que nos atormentam, ao mesmo tempo em que engrandecem, ao serem vencidos, a nossa existência! O reino é a síntese de tudo o que se construiu no mundo concreto, a relação com o dinheiro e a vida material como um todo. Os súditos nos relatos míticos não são apenas uma massa de manobra, mas o suporte para as decisões do rei e suas ações. O jovem guerreiro aparece sob muitas formas, forte e consciencioso como Hércules, sensível e espiritual como Orfeu, beligerante como os gêmeos Pólux e Castor, ou nobre e honrado como Lancelot, que foi tão fiel ao seu amor por Guinevere quanto por sua amizade por Arthur. A donzela que na Idade Média teria de ser salva do dragão, ou de um monstro marinho como o foi Andrômeda pelo herói grego Perseu, que mais tarde a desposou. As donzelas são a vivência transformadora do Amor. É interessante observar que a figura do mensageiro perdeu significativa importância nos mitos medievais, o que não ocorre nos mitos gregos onde um deus (Hermes grego, ou Mercúrio romano), era designado para esta função. Seus alertas não podiam ser ignorados, pois que eram um aviso do próprio deus dos deuses, Zeus (ou de seu equivalente para os romanos, Júpiter). Por fim o encantamento é a chave para a compreensão de tudo o que ocorre na trama mitológica, revela o porquê das coisas acontecerem e o provável desfecho se nada for feito...

Bem, vamos à relação:

Posição 1 – O Rei: O soberano dentro de nós; representa o conjunto de vivências que tomam nossa atenção no momento. O tema que foi coroado por nós com nossa atenção e que reflete o panorama do nosso mundo interior, e que revela que espécie de rei afinal somos nós!

Posição 2 – A Rainha: Cruzada sobre a carta do rei, essa rainha pode estar sendo carregada por ele como num enlace romântico, ou como um fardo. Assim ela pode estar contribuindo para a expressão do seu rei, ou oprimindo-a.

Posição 3 – A Casa do Mago Conselheiro: O Conselho do Mago é a voz interior que fala-nos o tempo todo, a impressão mais funda de nossa consciência, ou a vontade mais urgente do nosso coração, e que nos soa como a verdade! Dependendo do resto do jogo se revelará se esta voz sábia está sendo de algum modo ouvida ou ignorada.

Posição 4 – A Toca do Dragão: Aqui mora o nosso desafio do momento, ele pode se apresentar como um problema real ou como a constatação de algo que tem de ser resolvido ou encarado de algum modo. Pode também representar o monstro interior, forjado por condicionamentos culturais e familiares, e que tem de ser superado!

Posição 5 – O Reino: Essa posição mostra a relação do indivíduo com o seu mundo material, seu trabalho, carreira, finanças, posses e tudo o que pode ser chamado de “seu reino”, suas conquistas, e como elas aparecem para o mundo! 

A Cruz Celta como um palco síntese 
dos mitos gregos e medievais.

Posição 6 – Os Súditos: Como nos reinos da antiguidade os súditos eram influenciados, mas também influenciavam, seus reis sobre as decisões do reino. Os súditos na vida moderna são representados pela família e os amigos, sobre os quais nos sentimos responsáveis, e para os quais nos voltamos para obter apoio sobre decisões importantes que poderão moldar nosso futuro.

Posição 7 – O Jovem Guerreiro: O jovem guerreiro vive dentro de nós e se apresenta toda vez que levantamos de manhã para enfrentar as demandas do dia a dia. Aqui é justamente esta sua função, mostrar como se está enfrentando a situação no momento.

Posição 8 – A Casa da Donzela (ou A Casa do Amor): A donzela em apuros aparece sempre que o amor irá se manifestar na trama dos mitos. Normalmente os heróis se apaixonam por ela, e ocupando esta posição da Cruz Celta ela indica a vida amorosa do consulente, ou se a possui; ou como encara a vida afetiva e sexual.

Posição 9 – O Mensageiro: Esta posição mostra uma indicação de algo que deve ser observado, como uma reflexão, ou o aprendizado de algo, que ao ser absorvido e apreendido ajudará a realizar a orientação do Mago Conselheiro e a vencer o Dragão. O mensageiro aponta uma perspectiva que não deve ser ignorada.

Posição 10 – O Encantamento: Todo o reino nas histórias míticas está sob a influência de algum tipo de encantamento, que ao ser revelado, explica muito do que ocorre na trama do mito. Seria a síntese, ou do que se trata o conjunto de vivências apresentadas pelos outros arcanos na leitura. A carta nessa posição revelará se estamos falando de um encantamento benigno a ser reforçado e apoiado, ou de uma maldição a ser superada!

Veja a redefinição original da Cruz Celta feita por mim lendo os seguintes artigos:
Tarot Terapêutico - O que é? 
Por Trás da Cruz Celta  
A Cruz Celta Astrológica 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Tarot - Vivência & Magia


Mais uma vez apresento um trabalho vivencial com o tarot, que também é, com certeza um ritual mágico com os arcanos. Como já disse noutro artigo sobre o tema, o preconceito que muitos possuem com a magia vem dos estereótipos criados pela ignorância, quando não pelo medo, popular. Como também já disse aqui a magia tem o mesmo valor que os modernos trabalhos vivenciais. Mobilizam-se símbolos arquetípicos e intensas emoções interiores, dirigidas por um propósito ou intenção, focados numa direção determinada. Com o uso das cartas do tarot essas forças arquetípicas ficam mais bem representadas, e mais bem embasadas na psique de quem vai se utilizar do ritual. Acrescentaremos a esta vivência de hoje o uso da chama, representada pelas velas. O fogo é um antigo símbolo de cura, iluminação e elevação que tem atravessado a história com a humanidade. As velas como suas representantes têm feito parte de inúmeras cerimônias e culturas ao longo dos tempos em todo o planeta. Um casamento mágico e simbólico perfeito! Para a execução deste trabalho cerimonial nos utilizaremos apenas dos arcanos maiores. Outro aspecto importante de se observar é a fase da lua em que se está, e se a presente fase corresponde ao que pretendemos manifestar. Eu costumo trabalhar apenas com as três fases lunares que aparecem na coroa tríplice da deusa Ísis. Que são:

Crescente – Uma fase de crescimento, expansão e conquista, ajuda a nutrir, sustentar e fortalecer os sonhos e os projetos pessoais. Está miticamente relacionada com a Deusa caçadora Ártemis (grega), ou Diana (romana). Também é uma lua que abre a psique para as influências sutis da natureza e do Cosmo. Utilizamo-nos dela para adquirir e manifestar objetivos. Auxilia nos rituais para fazer crescer, evoluir, prosperar, e desenvolver.

Cheia – Esta é a fase da plenitude lunar, por isso excelente para rituais de proteção e fertilidade. Amplia intensamente ainda os poderes extrassensoriais como intuição, clarividência, clariaudiência, cura psíquica etc. Durante esta fase todos os rituais de magia branca são favoráveis, como a consagração de objetos e nomes mágicos. Favorável também às iniciações, e de se fazer pedidos a Deidades específicas. Está relacionada com a deusa Selene.


Lua cheia, plenitude do poder lunar!

Minguante – Esta é a fase lunar da limpeza das energias densas e dos términos. Uma fase favorável para rituais de cura, purificação. Também de banimento e desobsessão de forças obscuras. Ajuda a romper vínculos indesejados, quer sejam afetivos, energéticos ou físicos. Está relacionada com a deusa lunar do submundo Hècate.

Escolha qual dessas fases lunares correspondem melhor ao que deseja manifestar em seu ritual. Em seguida selecione entre os 22 arcanos maiores aqueles que representam os três níveis de identificação e resolução da questão. Como no esquema que se segue:


Na posição 1 está o arcano que mostra a questão como se apresenta, ou como você a percebe. Na posição 2 está o modo como gostaria que a questão se resolvesse. E na posição 3 o resultado que deseja obter a partir desse ritual. Lembre-se de não cair na tentação de querer manipular a vontade e o desejo de outra pessoa. Você tem o direto de fazer a sua vontade, e não de obrigar outros a terem a mesma vontade, sim? Este é o princípio de toda a magia branca, que também é conhecida como Teurgia. Num relacionamento amoroso não se preocupe em desejar que o outro o ame, apenas peça que a energia do amor flua entre vocês dois. O Universo cuidará dos detalhes! Toda vez que suas intenções estiverem pendendo para o “eu” e o “meu” em relação ao outro, é um sinal para que você pare e reveja a prática, pois estará se distanciando da Luz. Recomendo que se tenha um baralho específico para leituras e outro para rituais. Isso ajuda a fortalecer a egrégora do baralho para uma e outra função respectivamente. Feito isso, passemos para a preparação da vela. Escolha uma vela que tenha a cor de um dos quatro quadrantes:

Norte – Elemento terra. Cor: Verde, arcanjo Uriel – Para a manifestação da riqueza, aquisição de bens, prosperidade, abundância, progresso em todas as suas expressões.

Sul – Elemento fogo. Cor: Vermelho, arcano Miguel – Para rituais de proteção e de amor. Para eliminar, transformar ou transmutar todas as energia densas e obscuras. Traz a Luz.


Os quatro elementos, forças ambiantes e interativas,
tanto no mundo interior quanto exterior.

Leste – Elemento ar. Cor: Amarelo, arcanjo Rafael – Para rituais de cura, e esclarecimento. Para a manifestação da verdade e do entendimento. Traz clareza e amplia a percepção consciente.

Oeste – Elemento água. Cor: Azul, arcanjo Gabriel – Para ampliar os dons psíquicos, e a sensibilidade espiritual aos planos superiores. Purifica sentimentos e percepções sutis.

Feito isso escolha um óleo aromático de sua preferência. Importante que seja natural, muitas vezes óleos sintéticos causam reações alérgicas. Se você conhece pouco sobre as propriedades mágicas e terapêuticas dos óleos essenciais recomendo que procure adquirir a essência de lavanda, que costuma funcionar como um coringa na aplicação da aromaterapia, use-a, serve pra todos os casos. Óleo puro de oliva também serve. Ele servirá para untar a vela magnetizando-a com o seu desejo. Sempre tomando o cuidado de mover os dedos untados do pavio em direção à base se deseja manifestar ou adquirir algo, e da base para o pavio se desejar curar, banir, afastar ou romper com algo. Enquanto faz isso reafirme sua intenção. A vela deverá ser colocada acima do triângulo formado pelas três cartas como no esquema acima. E ao acender a chama consagre-a às forças purificadoras e transformadoras do fogo e, se assim desejar, ao arcanjo do quadrante correspondente às suas intenções. E, claro, procurar estar direcionado a este quadrante é igualmente importante.
Ao acender a vela faça uma oração de sua preferência e peça para que tudo o que foi ali desejado seja por fim manifestado para o bem de todos os envolvidos. Depois disso faça uma entrega devocional. Não pense mais no que foi pedido. Deixe que as forças, suas e da existência, se manifestem. Por incrível que pareça essa costuma ser a parte mais difícil. Deixe-a queimar até o fim. Quando terminar recolha as cartas, agradeça mentalmente às forças invocadas, e encerre o ato mágico.

A cora de Ísis, símbolo do poder lunar. 

Quem conhece a magia cerimonial deve ter notado que não incluí na lista de relações de cada quadrante os nomes sagrados de Deus em hebraico, e nem os nomes dos reis e rainhas elementais. Primeiro porque estou a apresentar este ritual como uma vivência simbólica, e essas relações aqui mostradas possuem força arquetípica suficiente para este propósito! Em segundo lugar não pretendo fazer desse um texto introdutório na magia cerimonial, mas apenas mostrar outra forma de aplicação dos arcanos como um meio de interiorização e manifestação de objetivos. Tenho me utilizado deste e de outros rituais com o tarot de forma vivencial para o crescimento e o desenvolvimento de potenciais interiores como também abordei no texto Tarot & Magia, e com ótimos resultados.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

HQ Ancestral...



"O Tarot é uma história em quadrinhos da alma."


- Jaime E. Cannes.

O Tarot - O Porta Voz da Alma Humana




"O tarot é um alfabeto pictórico para descrever a realidade como a percebemos, e revelar soluções estratégicas dentro de nossos recursos e potencias íntimos."


- Jaime E. Cannes.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O Tarot - E o Dialeto Psíquico da Alma




"O tarot atua sobre a alma - o âmago de uma vida vivida dentro de cada um - de acordo com o grau de sua força de imaginação; quanto mais cheio de imaginação o tarot, tanto maior sua tendência para falar com exatidão o dialeto psíquico da alma."


- Antero Alli, no prefácio do livro "O Tarot da Criança Interior", de Isha e Mark Lerner.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Espiritualidade & Tarot...

Por que isso me interessa?

A Sacerdotisa II, do Cosmic tarot.
Símbolo arquetípico da vivência
espiritual profunda.
Quando comecei minha jornada com o tarot me pareceu muito natural que o descobrir-se com o auxílio das mensagens dos arcanos era intimamente ligado à ideia de evolução espiritual! As imagens do tarot em sua sequência simbólica, tanto nos arcanos maiores quanto menores, remontam pictoricamente aos processos iniciáticos descritos nas grandes escolas de mistério, e nos ensinamentos de grandes Mestres, tanto da Magia quanto da Espiritualidade! Com o desenvolvimento do meu aprendizado, e da própria tarologia no Brasil e no mundo, observei que a tendência era, cada vez mais, a de se associar o tarot a uma linguagem psicológica. As teorias de Jung, sobretudo, ganharam força no estudo, na prática, e no ensino do tarot. Esse processo foi de importância fundamental para tirar o tarot de uma aura quase supersticiosa, por um lado. Por outro lado toda a abordagem espiritual começou a ser encarada como obscura e, de certa forma, ultrapassada. Bem, esse é um daqueles casos em que o pêndulo foi para longe demais do centro!
Houve dentro do estudo da tarologia literalmente um processo de desmistificação do tarot. Santo Agostinho dizia que o místico é aquele que busca uma experiência pessoal com Deus. Desmistificar é, portanto, tirar Deus, deuses ou as experiências místicas de contato com a divindade, e de sua interação numa atividade ou conhecimento. Assim sendo determina-se que o tarot não precisa da crença em Deus, ou deuses, para funcionar. É um instrumento de leitura do inconsciente que revela os fatos do momento presente como são sentidos e vividos por quem se consulta. Mostra também as possíveis influências do passado dentro desse momento, e as projeções do inconsciente para além do tempo reconhecível, ou seja, o tarot pode realizar prognósticos para o futuro. 
Dentro deste escopo de definições foram acrescidas às funções oraculares do tarot possibilidades de aplicações terapêuticas. As revelações dos arcanos desvelam programações profundas na psique, que ao serem trazidas à tona abrem campo para a libertação do programa, e a sua resolução. Não por acaso tantos terapeutas de abordagem convencional, como psicólogos e psiquiatras, tanto quanto do holismo se aproximaram da tarologia. Como disse esse movimento foi importante, e mais do que necessário. As muitas escolas de magia, por exemplo, acabavam colocando suas próprias crenças como verdades absolutas na prática e no estudo desse sistema simbólico. Eu mesmo ouvi coisas como: “O tarot flui melhor se for lido sobre uma mesa redonda de vidro”, “Ah, as cartas têm de ser consagradas a alguma entidade egípcia, devido as suas origens”, ou ainda “Tem de se consagrar o tarot ao povo cigano, pois fortalece sua prática de leitura”, e assim por diante. Isso tudo é verdade sim, mas para cada uma dessas pessoas que desenvolveram suas práticas espirituais dentro de doutrinas específicas, mas não é uma verdade absoluta para todos os que se interessam pelo estudo dos arcanos. Isso não significa, de modo algum, que se deva descartar essas possibilidades. A experiência pessoal é quem define o que chamamos de sabedoria. Por isso experimente, não descarte.

Uma experiência interessante

Eu mesmo fiz uma experiência muito comum no estudo do magia, a de se nominar objetos mágicos. Em seu livro O Tarot da Criança Interior os autores Isha e Mark Lerner nos lembram de que é possível fazer isso com o seu baralho de tarot! Escolha um nome dentro da mitologia, ou de inspiração própria, para seu baralho. Se quiser, e tiver quem conheça a numerologia, poderá fazer um estudo vibracional do nome escolhido. Esse nome não deve ser pronunciado na presença de qualquer um! Segundo a tradição esse segredo torna o elo psíquico entre você o objeto mágico em questão mais intenso e profundo. Fiz o experimento e o resultado foi bem perceptível. Evoco o nome silenciosamente enquanto embaralho as cartas e teço minhas intenções para aquela leitura. Desde então minha interpretação se tornou mais fluente e a sensação de que as cartas “falam comigo” é quase palpável, ou melhor, dizendo, audível!
Com isso quero dizer que sim, o tarot não depende de nada disso para funcionar, mas tanto essa quanto outras práticas, tanto mágicas quanto espirituais, reforçam e refinam o canal psíquico do leitor! Pessoas que começaram a praticar a meditação, para citar outro exemplo, observaram que sua clareza de interpretação e comunicação, e o foco nos principais pontos da leitura, aumentaram em muito! Cada pessoa obterá resultados diferentes das diferentes possibilidades, o que é muito natural. Somos individualidades, pequenos universos com funcionamentos distintos. Como astrólogo lembro que as influências de cada mapa natal respondem a isso muito bem! Exemplificando mais uma vez, uma pessoa com Netuno bem dignificado no mapa, e muitos planetas em signos do elemento ar, poderá sentir uma grande abertura psíquica no simples ato de acender um bom incenso ou aspergir uma essência aromaterápica no ambiente de uma leitura.

Ampliando horizontes

Quando falo em espiritualidade não me refiro apenas a práticas mágicas ou meditativas, mas à própria percepção filosófica do leitor. A diferença entre um materialista e um espiritualista é de que o primeiro acha que toda a melhora que faz em si mesmo serve ao próximo, e ao meio a que ele pertence. Um espiritualista também crê nisso, mas percebe que, além disso, evolui para si mesmo em suas sucessivas encarnações. Dentro de uma visão puramente materialista e mental da vida (onde se acham grande parte das teorias psicológicas), todas as vivências são moldadas na relação do indivíduo com o meio ambiente, familiar e social, e do que ele apreende dessas vivências, consciente e, sobretudo inconscientemente. A visão psicológica nos põe diante do fato do que somos fruto do meio e de que repetiremos a grande maioria dos programas implantados por nossas vivências e os condicionamentos decorrentes desses programas. 
A ideia de inconsciente até o presente
momento ignora o conceito de alma,
e a experiência reencarnatória.
O próprio doutor Freud dizia que “para todo o evento consciente há sempre um inconsciente que o determina”, e que a psicanálise não tem por objetivo trazer a felicidade, mas sim aliviar as cargas (no máximo) da nossa psique. Assim todo o desequilíbrio ou enfermidade da alma passa por três estágios de resolução: 1º) Você reconhece que tem um problema, a partir disso vai buscar ajuda. 2º) Há o reconhecimento de como se manifesta esse problema, que pode se apresentar na forma de complexos, suas origens, e do que o detona. Nesse momento você reconhece o funcionamento do condicionamento, mas não consegue interrompê-lo. 3º) Nesse último estágio você é capaz de reconhecer os mecanismos inconscientes e conter sua manifestação. Exatamente como diz o lema dos alcoólicos anônimos: “Só pó hoje não”. Ou seja, o problema é diminuído ou contido significativamente, mas não de todo superado! Até aqui descrevi como operam os processos terapêuticos convencionais de modo geral e sintético. Os procedimentos das terapias complementares, bem como as leituras de tarot, percorrem esse mesmo caminho. Uma leitura dos arcanos pode mostrar um ou dois problemas pontuais, revelar suas origens e apontar os caminhos para sua resolução através de orientações táticas. Entretanto, sem a compreensão intrínseca do que gerou esses problemas, muito provavelmente, eles se repetirão! Tudo isso, até aqui, pode ocorrer sem uma perspectiva espiritual da existência.
Práticas mágicas nem
sempre definem uma
vivência espiritual

verdadeira.
Ao incorporarmos uma perspectiva espiritual das leituras de tarot, e dos processos de terapia holística, entendemos que a vida não é estanque. Que existem os chamados momentos evolutivos, onde cada um de nós passa por um processo próprio de maturação espiritual. São esses momentos que fazem com que duas pessoas passando pelas mesmas condições de educação, ou enfermidade, ou desenvolvimento social tenham reações completamente diferentes uma da outra diante de tal situação. Os momentos evolutivos são definidos pelo Karma ao longo de sucessivas encarnações. A perspectiva espiritual traz ao trabalho oracular e terapêutico do tarot, e das terapias da Nova Era, a possibilidade de um quarto estágio de cura, a transcendência. Transcender é ir além do que é reconhecido ou tido como possível. Os ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda, definiram o ápice desse momento como Nirvana. Os indianos chamaram de Samadhi, e os japoneses de Satori. Iluminação, compreensão e elevação são alguns dos significados pertinentes a esses termos.
A meu ver uma abordagem focada unicamente nos aspectos terapêuticos do tarot serve apenas como um acelerador no reconhecimento dos processos psicológicos que motivam a psique, e moldam a personalidade. Por sua vez uma abordagem puramente oracular fica vazia, é se utilizar dos símbolos arquetípicos dos arcanos para “espionar as cenas dos próximos capítulos” do drama pessoal de quem se consulta. Somente abraçando uma perspectiva espiritual da vida é que as mensagens do tarot ganham significado e conotação mais amplosÉ possível perceber através dessa ótica que estamos o tempo todo interagindo com nossa porção interior da divindade em nós mesmos e nos outros, e de que planos maiores de consciência e inteligência estão atuando em nossas vidas e nos dirigindo para a nossa evolução pessoal e coletiva, e a cada um dentro do seu próprio momento evolutivo. Estamos entrelaçados em nossos relacionamentos que não são, de modo algum, casuais, mas sim carregados de significados e propósitos que são invisíveis a uma consciência focada na casualidade. Essa percepção pode despontar numa única leitura, ou em sucessivas leituras regulares. E isso não é teoria não, é observação!
Para concluir acho importante destacar que Espiritualidade não tem relação direta com Religiosidade. A primeira bebe na essência que nutre as muitas vertentes do saber espiritual, inclusive na dos fundadores das inúmeras religiões. A segunda baseia-se na doutrina de seus fundadores e nos dogmas decorrentes das interpretações feitas por profetas e sábios que vieram depois. Ou seja, a Religião limita-se em si. A Espiritualidade abraça o todo!

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Como Utilizar o Tarot?


"Ler o tarot é se utilizar de uma linguagem simbólica que pode servir como uma aventura de enriquecimento intelectual, e um canal de crescimento pessoal, despertar espiritual, ou simplesmente uma forma de reflexão sobre onde estamos e onde queremos chegar! Pode também proporcionar uma sondagem sobre o futuro, ou uma investigação sobre o propósito de eventos marcantes do passado. É um instrumento perfeito de avaliação estratégica de decisões! Um veículo de orientação, reflexão, aconselhamento, autoconhecimento, divinação ou cura... Depende de você!"


- Jaime E. Cannes.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sobre a Formação do Tarólogo


"Tarologia não é achologia! Só estudar o simbolismo dos arcanos quanto ao seu significado divinatório não torna alguém um tarólogo decente! É preciso estudar mitologia, psicologia, princípios herméticos, teosofia, cabala e relacionar isso com o simbolismo das cartas. Os arcanos do tarot são cosmogônicos, em seu arcabouço cabem todos esses conhecimentos que permitem abordar a multiplicidade das vivências humanas de modo preciso e profundo... A formação de um tarólogo não se concluiu em um ano ou dois, mas segue continuamente até que se sinta o sinal interior de que se está pronto para abrir as cartas para outra pessoa, e nosso estudo e formação segue pela vida a fora... Cursos de tarot são INICIAÇÕES, a formação é um processo atemporal e até mesmo vitalício!"


- Jaime E. Cannes.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Revisando o Reiki...


Deparei-me, para minha total surpresa, com essas perguntas num site americano sobre temas holísticos. Não houve resposta a nenhuma delas. Era um entrevista onde um praticante de xamanismo questionava a eficiência do reiki como um tratamento terapêutico da Nova Era. Decidi compartilhar isso com os meus leitores, e responder a essas perguntas tendo como base meus exatos vinte anos de prática reiki.

O método de tratamento e iniciação Reiki não é simples demais?

Não entendo porque a simplicidade seria motivo para a desconfiança da eficiência da técnica reiki de terapia. A simplicidade é o fluxo das coisas. Quando tudo parece correr bem, costumamos dizer que foi simples... Não no sentido de medíocre, mas no sentido de natural, fácil, ou bom... Ou tudo isso junto! Por que uma técnica terapêutica de relaxamento, centramento e abastecimento de energia vital deveria ser complexa? Isso lhe daria mais seriedade? No taoismo se diz que quanto mais próximos estamos do fluxo da natureza mais estamos centrados no Tao (o Todo). A simplicidade é o fluxo da natureza, e a natureza é simples em sua expressão, não importando o quão complexa seja sua estrutura interior. O reiki é assim.

O fluxo da energia Ki presente em todo o Universo é contínuo,
livre e simples em sua expressão e manifestação.

Parece-me que as pessoas que só se sentem aptas depois de muitos meses, ou anos de preparação, estão mais preocupadas com a recepção dos outros, com o que vão dizer... Ou seja, estão dominadas pelo ego! Querem bater no peito dizendo “eu sou habilitado porque suei para ter isso!”... Para muitos isso é incrível, não? Nossa cultura dá muita importância ao esforço e ao sofrimento. Mas será mesmo que precisa tanto esforço para se tocar sinceramente alguém e compartilhar com ele a energia vital do Universo? A simplicidade da prática reiki é que viabiliza que ele seja também um caminho meditativo e espiritual. O reiki não envolve a compreensão de complexos sistemas simbólicos, aforismos milenares, cálculos e interpretação de nada! Reiki é a troca de energia vital Universal entre duas pessoas de modo eficiente e seguro para ambos. A sintonização, ou iniciação, reiki cria condições para essa eficiência e segurança desde que praticada por um Mestre habilitado.

As iniciações em Reiki não são “rápidas” demais?

Exatamente por ser de natureza simples o reiki não requer longos ritos de iniciação. Por isso que seus procedimentos iniciáticos também são chamados de “sintonizações”, o que significa que o iniciado é sintonizado ao fluxo da corrente Universal de energia Ki que percorre o nosso mundo assim como todo o Universo. E é, a partir disso, capaz de compartilhar essa energia com outras pessoas, ou mesmo de iniciá-las, no caso de ele ter sido iniciado no Mestrado.

Justamente a simplicidade do reiki é que faz com que
o seu nível I seja acessível até mesmo a crianças!
Qualquer um pode se tornar um terapeuta Reiki logo após a iniciação no nível básico?

Sim, pode sim. No nível I de reiki (básico) o iniciado não recebe símbolos, mas os têm colocados em seu campo energético. Assim ele pode transmitir a energia vital a partir do toque de suas mãos. Ele precisa estar presente para passar a energia Ki Universal. Somente após a iniciação no nível II é que será possível mover essa energia através do tempo e do espaço, podendo assim enviar reiki para pessoas distantes ou para situações no passado ou no futuro. A prática constante é que torna um reikiano mais habilitado e alinhado com o processo terapêutico desse sistema de tratamento. Quanto mais prática, mais centramento, serenidade interior, domínio sobre a própria mente, abertura íntima e ampliação da percepção intuitiva.

Qualquer um pode se tornar um Mestre Reiki?

A única coisa que uma pessoa precisa para se tornar um Mestre Reiki é querer isso! Porém, seria ideal que ela tivesse um propósito maior nesse Mestrado. Seria interessante que suas intenções tivessem como suporte o desejo de divulgar a técnica tendo como motivação interior a confiança absoluta na prática como um sistema de harmonização, energização, relaxamento e desenvolvimento interior ou espiritual, tanto para si mesmo quanto para outros. O Mestrado de reiki não significa virar um Mestre para o mundo, mas sim para si próprio. Significa ser capaz de responder a seguinte questão: “O quanto o reiki acrescentou de fato à sua vida?”. Quanto mais essa resposta for verdadeira para o aspirante ao Mestrado mais apto ele se sentirá a assumir essa responsabilidade, a encarar os questionamentos, as dúvidas alheias e, sobretudo, às suas próprias dúvidas ao longo do caminho. Então respondendo mais objetivamente a essa pergunta... Sim, qualquer um pode ser sintonizado para se tornar um Mestre (nível III de reiki), mas poucos o serão de fato, e menos ainda de modo contínuo e persistente. 

domingo, 12 de junho de 2016

Tarot - Uma Janela para a Consciência


"Ler o tarot para alguém é abrir uma janela para dentro da vida do outro, e mais do que isso, é vislumbrar lá dentro o que faz as coisas acontecerem aqui fora... Por isso ler o tarot é uma oportunidade para quem se consulta de olhar a própria vida sob outro prisma, e para quem lê uma oportunidade de ampliar a sua própria percepção sobre a existência."


- Jaime E. Cannes.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Descobrindo o Arcano Regente do Ano...

A vida vista pelo tarot, um grande ciclo evolutivo
composto de muitos ciclos menores de desenvolvimento...
Uma das aplicações mais comuns na relação entre o tarot e a numerologia é o cálculo do ano de crescimento interior, ou arcano regente do ano. Que vem a ser a soma da data de nascimento de uma pessoa mais o ano do seu último aniversário. Um ciclo que dura exatamente um ano inteiro. Assim uma pessoa que fez aniversário em 14 de novembro de 2015 deverá proceder a seguinte soma 1+4+1+1+2+0+1+5 = 15. Nesse caso o arcano regente do tarot desta pessoa é O Diabo. Outro exemplo é a data 28 de dezembro de 2015 veja o que acontece de novo: 2+8+1+2+2+0+1+5 = 21 que corresponde ao vigésimo primeiro arcano do tarot, O Mundo! Entretanto, ainda existe, mais uma vez, a possibilidade de reduzir ainda mais esse número e 21 = 2+1 =3, que corresponde ao arcano de A Imperatriz. Então eis a questão: Qual dos dois arcanos vale afinal? Ao que respondo... Os dois! Nesses casos eu vejo o primeiro arcano como a grande proposta ou direção que o novo ciclo tomará, e o arcano resultante da soma final seria a essência ou causa última de todo o processo. No caso de O Mundo seria o fechamento de um ciclo onde grandes coisas seriam acabadas para dar espaços a outras de maior significado e relevância, seja interna ou factualmente. A Imperatriz nos diz que o novo ciclo teria como finalidade abrir possibilidades de expressão criativa, afetiva e, sobretudo, de encontro do prazer puro e simples como uma exaltação da vida! E no caso de O Diabo as vivências de paixão, poder e materialidade que a carta propõe são, na verdade, oportunidades para que se faça escolhas a partir da afetividade e das afinidades interiores, e se possa definir os verdadeiros caminhos para a sua realização, e quem são os verdadeiros aliados nessa senda... Representado aqui pelo arcano da essência Os Amantes, pois que 15 = 1+5 = 6. É evidente que essas análises que fiz aqui são frias e não dentro de um contexto real de leitura, onde poderiam tomar outras conotações!
O arcano regente indica a direção
que a consciência seguirá 
ao longo do novo ciclo. 
A Estrela XVII, do Maroon tarot.
Alguns tarólogos têm como costume somar o arcano regente antes da leitura ou mesmo antes da vinda do cliente. Eu prefiro calcular no final das leituras iniciais porque a mim parece que sua interpretação dá um fechamento interessante a tudo o que foi dito, complementando significativamente o sentido de todo o conjunto das vivências como foram relatadas através dos arcanos via o inconsciente do indivíduo!
O que fazer quando o arcano regente é “desdobrável” como, por exemplo, uma pessoa que fez aniversário em 9 de janeiro de 2016?  Veja que 9+1+2+0+1+6 = 19, arcano de O Sol. Este é um arcano que pode se desdobrar mais duas vezes, 19 = 1+9 = 10 e 10 = 1+0 = 1. Ou seja, O Sol pode ser desdobrado nos arcanos de A Roda da Fortuna e de O Mago. Como fica? Nesses casos eu não interpreto o arcano que fica no meio, A Roda da Fortuna (número 10), como sendo a essência do momento! Isso é uma revelação exclusiva dos arcanos de algarismos simples de 1 a 9 e ponto final. Essa sequência simples representa não só a origem de todos os outros números, como a base psíquica do homem em todas as suas demais manifestações. E também porque em outro momento esta pessoa poderá ser regida pelo próprio arcano da Roda sem intercalar com O Sol novamente! Então que fique claro que O Mago, nesse caso, é a essência para onde a direção dos eventos do ano levam o indivíduo na senda do seu ciclo de desenvolvimento pessoal!

Antes ou Depois?

Resta então a pergunta: O que é mais válido, conhecer o regente do ano antes ou depois da leitura? Bem, como sempre defendo, essa é uma questão muito pessoal e depende muito do processo intuitivo de cada um. Informações antecipadas do cliente me atrapalham, gosto de ir montando o quebra cabeça dos símbolos tarológicos com minha visão interior. Há, com certeza, aqueles para quem o reconhecimento antecipado do regente traz a assinatura de tudo o que o consulente traz em sua vida naquele momento e, para essas pessoas, isso pode representar um caminho mais seguro na interpretação dos arcanos, e na orientação a ser dada para quem o procura!  

sexta-feira, 15 de abril de 2016

No que o Tarot Pode e Não Pode Auxiliar Você...


O que o tarot PODE fazer por você:

- Relacionar questões que pareciam desconexas e revelar o propósito último dos acontecimentos.

- Sintetizar as principais vivências do momento e apontar as origens da crise!

- Sondar as influências do passado, desta e de outras vidas, e a lição a ser tirada dessas influências.

- Revelar as tendências para o futuro, e os caminhos para a conquista daquilo que se deseja realizar, ou os meios para evitar aquilo que não se deseja...

- Apontar as melhores técnicas terapêuticas para vencer seus desafios pessoais.

O que o tarot NÃO PODE fazer por você:

- Apontar soluções onde elas não existem.

- Revelar caminhos fáceis onde é preciso muito trabalho!

- Anular o fato de que você é responsável por sua vida e, portanto, o coautor da sua realidade, e que por isso pode ajudar a construir ou destruir as possibilidades de concretização de qualquer prognóstico.

- E, acima de tudo, as leituras de tarot não podem substituir a necessidade de você correr atrás dos seus sonhos, e colaborar consigo mesmo para que eles se tornem reais!

quinta-feira, 17 de março de 2016

Qual Tarot Você Usa?


O Diabo XV, Condicionamento, 
do Osho Zen tarot 
de Ma Deva Padma.
Por mais que se tenha explicado isso, e por mais irritante que seja essa pergunta, ainda há aqueles que a façam, e mais do que isto, a fazem com ares professorais! Como se quem não soubesse de nada é quem está sendo inquirido! Embora essa pergunta impertinente pareça merecer uma resposta assertiva do tipo: "O que interessa que baralho eu uso se afinal quem vai fazer a leitura sou eu?", a questão é mais profunda. Bem, então vamos lá... Exploro esse tema melhor no meu livro Tarot para a Autotransformação e a Cura, mas posso começar dizendo que todos os baralhos de tarot se originam de um mesmo baralho, concebido provavelmente na Idade Média, e que representava toda a sociedade e o mundo da época. Essa despretensão em tornar esse baralho um oráculo fez com que ele funcionasse como um instrumento projetivo das imagens do inconsciente de toda a humanidade em todos os tempos! O tarot de Marselha é o remanescente mais próximo desse conceito original de todos os baralhos que vieram a seguir. Mais adiante suas imagens foram “modernizadas” e também a expressão do seu simbolismo. 
O 5 de ouros do
1JJ Swiss tarot.
O 5 de ouros do
Rider-Waite tarot.
Uma excelente contribuição nesse sentido foi dada por Arthur Edward Waite ao lançar em 1910 o seu o Rider-Waite em que foram modificadas as representações usuais dos arcanos menores dos jogos medievais, como no cinco de ouros, por exemplo, que era apresentado friamente com cinco moedas desenhadas na carta. Foi então substituído por uma imagem dramática em que um casal de mendigos vaga pela neve sem sequer o amparo espiritual ou altruísta da igreja. De fato uma imagem mais condizente com os significados de perda, carência e debilidade deste arcano. A partir disso inúmeros baralhos de tarot começam a carregar em si as “releituras” de seus autores dos símbolos tradicionais dos tarots ancestrais, e do próprio trabalho de Waite. Inicia então a confusão! Os autores passam a enfatizar os significados que lhes parecem mais pertinentes ao simbolismo dos arcanos. Em meados do século XX o tarot ganha nuances psicológicas e logo há os que afirmam que ele é apenas um instrumento de investigação do inconsciente mais do que de divinação... Surgem os baralhos que são "destinados" ao trabalho de autoconhecimento.


A Saída das Sombras

As muitas releituras do simbolismo do tarot ampliaram as possibilidades
de interpretação de seus significados sem, no entanto, ter o poder
de fazer qualquer uma delas se tornar a visão definitiva, "verdadeira"
ou a única a ser considerada ou aceita.

Por um lado esse movimento ajuda a tirar do tarot os ares obscuros a que ele vinha sendo associado nos séculos anteriores, mas mudou muito da sua representação. Os autores ao enfatizar os significados aos quais eram mais simpáticos mudavam também sua representação artística. O que acabou fazendo com que muitos baralhos ao serem comparados entre si, ou a uma imagem clássica do tarot, não lembrassem em nada seu ancestral da Idade Média. Com a demanda do mercado por cada vez mais novidades na área da tarologia, que teve uma explosão nos anos 70 e 80 do século XX, aparecem os baralhos temáticos e multiculturais como o Xultún, o primeiro transcultural na verdade, o Mitológico, o Nórdico, Xamânicos de toda a espécie, Xintoísta, etc. Os livreiros para venderem seus produtos começam a descrever na capa de apresentação dos seus lançamentos coisas como: “O verdadeiro tarot da tradição”, “Um jogo transcendental”, “O tarot sagrado da Deusa”, e coisas assim. Aumentando ainda mais a confusão na cabeça de leigos tanto quanto na dos interessados no tema. Dias desses uma mulher me ligou pedindo informações sobre meus atendimentos (embora esteja tudo explicado no meu blog na página “Consultas”). Na verdade ela queria saber qual o baralho que eu usava nas minhas sessões. Respondi que usava já há muitos anos o tarot Zen, ao que ela complementou, “do Osho”? Sim respondi, ela seguiu com seu desfile de ignorância, mas com a entonação de uma grande conhecedora: “Mas esse tarot é mais para reflexão, não é? Não trabalha com o Crowley?”. Respirei fundo e tentei explicar para ela que eu já tinha trabalhado com uma miríade de baralhos diferentes, e que isso não interferia na leitura. Ela concluiu com um ar jocoso dizendo: “Ah tá, depois te ligo então pra marcar”. E nunca mais...! O mesmo tarot de Crowley que ela preferia é justo um dos que tem mais resistência das pessoas pelo mesmo tipo de ignorância quanto à linguagem simbólica.

O Thoth tarot, alvo constante tanto de ataques
quando de adoração... Ambas reações exageradas!

Conversando com uma pessoa interessada em tarot ela me disse que se sentia muito atraída por esse baralho, mas que amigos e conhecidos diziam para ela o evitar porque ele era denso, que o mago que o fez era um louco, viciado e devasso, e de fato era! Mas e daí? Todos os símbolos que compõem o Thoth tarot de Aleister Crowley não são dele. Crowley parecia obcecado pela ideia da grande Besta e das sombras, todos conceitos que nasceram com o monoteísmo e com a Inquisição. Os símbolos do pentagrama, dos chifres e do cetro, por exemplo, que aprecem inúmeras vezes nesse tarot, são pré-cristãos e, portanto, politeístas. Foram os inquisidores que viram no pentagrama invertido os chifres do diabo. Muito antes disso Pitágoras via nesse mesmo símbolo o homem em desequilíbrio. O que Crowley fez foi dar a sua visão sobre esse símbolo, o que não o limita de modo algum. Isso é impossível! O inconsciente reconhece os seus símbolos e responde a eles. O que pode ocorrer é o leitor se limitar por sua própria consciência obstruída por seus conceitos críticos equivocados, o que já não tem nada a ver com a tarologia!


A Linguagem Simbólica 
em sua Totalidade

A liberdade artística na criação de
baralhos foi tão longe que muitos
não lembram em nada o simbolismo
original do tarot como este: A Sacerdotisa II, 

do Wooden tarot de A.L. Swartz.
No Osho Zen tarot sua criadora, Ma Deva Padma, apresenta o arcano de O Diabo como um leão com pele de ovelha. Essa imagem se refere a uma antiga história zen em que um leão é criado com um rebanho de ovelhas e assim vive por anos, até que um dia um leão mais velho vendo aquilo se choca. Avança sobre aquele iludido que berra como uma ovelha assustada. O leão velho então o coloca de cara a um espelho d’água e o faz olhar para seu reflexo, dizendo: “Olha, você é isso, um leão! Não uma ovelha!”. Essa história alude aos condicionamentos em que muitos vivem, negando sua real natureza e potencial intrínsecos. Uma linda história e simbologia que nos faz ver que O Diabo do tarot tradicional também tem um lado lúdico e divertido que devemos explorar e brincar com ele. Que precisamos de nossa fera interior para realizar coisas, e que ela pode nos trazer muito prazer e diversão. Nem por isso deixo de ver nas leituras que O Diabo também representa muitas vezes servidão aos instintos inferiores, abuso de poder, malícia e maldade. O mesmo leão que simboliza força e nobreza, também é a imagem arquetípica dos instintos brutais da natureza humana, tão bem representado em histórias míticas mais antigas que a da tradição zen, como a do Leão de Nemeia da mitologia grega. Uma fera violenta e implacável que habitava uma caverna escura. A leitura feita por Deva Padma traz a tona um viés luminoso desse símbolo, mas de modo algum elimina sua totalidade arquetípica! E se eu me limitasse a ver esse arcano apenas como a autora o apresenta, faria também leituras limitadas!
Romper com os próprios
paradigmas pode ser
perturbador, mas também
libertador. A Torre XVI,
do Soprafino tarot.
Sendo assim reitero mais uma vez que NÃO IMPORTA O TAROT QUE VOCÊ USA, ou que qualquer tarólogo use, o que importa mesmo é o uso que se faz dele e a afinidade com suas imagens! Você pode fazer uma leitura puramente psicológica usando o tarot de Marselha, por exemplo. Como pode fazer previsões usando o Osho Zen tarot! Quem define isso é você, e não o autor do baralho e muito menos o livreiro que só queria mesmo é criar uma frase de efeito para vender seu produto. A propósito, eu mesmo faço prognósticos com o tarot Zen! Voltando ao exemplo do Thoth tarot, veja que seu criador era um homem obcecado pelo lado obscuro da magia e do poder. Curiosamente seu baralho foi usado como base para a abordagem terapêutica do tarot por autores como Gerd Ziegler, Veet Vivarta e Veet Pramad em seus respectivos livros: "Tarot– Espelho da Alma", "O Caminho do Mago – Uma Visão Contemporânea do Tarot", e "Curso de Tarot e seu Uso Terapêutico".  Todos excelentes, e que não possuem absolutamente nada da obscuridade de Crowley porque seus autores se detiveram na totalidade da visão simbólica, e não nas releituras do seu criador!
Por esse motivo é que muitos autores e professores de tarot, como eu, insistem para que se inicie a aprendizagem do tarot por sua linguagem clássica original, e depois se vá explorando as reinterpretações feitas por criadores de outros baralhos. Suas releituras sempre são enriquecedoras, mas não podem ser alienadas da origem simbólica do tarot do qual, enfim, todos descendem.  E você, que acha inteligente saber que tarot um tarólogo usa em seu trabalho, saiba que isso é um atestado de pura ignorância e preconceito que só mostra o quanto você ainda precisa estudar, refletir e ampliar sua visão interior sobre a simbologia, tanto quanto sobre as linguagens do saber oculto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Reflexões Sobre o Tarot

A seguir algumas definições de tarólogos famosos, do passado e do presente, para inspirar e refletir sobre as aplicações, funções e a natureza do tarot. Escolhi essas citações por me pareceram as mais contundentes e, é claro, condizentes com minha própria percepção e experiência dentro da prática tarológica. No futuro pretendo colher mais desse tipo de definição ou enunciação sobre o significado e o propósito do tarot de autores e estudiosos que, assim como eu, dedicaram suas vidas à prática e ao estudo dos arcanos. Todos aqueles que registrei aqui têm seus livros indicados na minha lista de bibliografia recomendada. Note que alguns afirmam, ao contrário do que alegam certos autores nacionais, de que o tarot é sim um caminho para o transcendente, para a conexão com algo maior e, também, para uma conexão com Deus! Espero que gostem!



“As imagens das cartas do tarot são tão antigas e profundamente ligadas aos padrões inconscientes do desenvolvimento humano, que merecem todo o respeito e crédito. Não devem ser encaradas como brinquedos, mas, de certo modo, como imagens sagradas, não porque sejam sobrenaturais, mas porque, tal como uma obra de arte famosa ou alguma peça da literatura mundial, elas refletem nossos mais profundos conflitos, necessidades e aspirações.”

- Sallie Nichols em “Jung e o Tarot”.


“O tarot é o mais perfeito instrumento de adivinhação que pode ser usado com total confiança, por causa da precisão analógica das suas figuras e dos seus números.”

- Éliphas Lévi em “Dogma e Ritual de Alta Magia”.


“Imaginação, jogo, aventura pessoal. O tarot conta a história de alguém que está procurando escrever a história do que não sabe.”

- Alberto Cousté em “O Tarot ou a Máquina de Imaginar”.


“A forma com que o tarot opera em nível de previsão nada mais é do que uma espécie de espelho da psique.”

- Liz Greene em “O Tarot Mitológico”.


“Natureza e imagens alegóricas que se combinam para formar uma história.”

- Stuart Kaplan em “Tarot - O Mistério das Cartas”, documentário.


“Para mim o tarot é muito mais que um oráculo, é a ambiciosa tentativa do homem de encontrar a chave da coesão universal através do símbolo.”

- Jaime E. Cannes em “Por Trás da Cruz Celta”, artigo do Blog Tarotzenreiki.blogspot.com


“Assim, também a leitura dos símbolos do tarot, runas, cartomancia deve buscar sempre relacionar o consulente não apenas com as coisas imediatas e pessoais que o cercam, mas também com a energia universal.”

- Regina M. Azevedo em “A Sabedoria por Trás dos Oráculos”.
Revista PLANETA, Setembro de 1993.


“Quando consideradas como simples exemplos da imaginação mitológica, as cartas são dóceis; mas como ferramentas de divinação, são selvagens, poderosas e imprevisíveis.”

- Cynthia Giles em “O Tarô – Uma História Crítica:
Dos primórdios Medievais à Experiência Quântica”.


“Vale a pena considerar o tarot do ponto de vista de se estar trabalhando com um sistema vivo de energia, que funciona com padrões antigos profundamente enraizados, mas que lentamente vão se modificando com o passar do tempo; um sistema energético que contém profundamente dentro de si toda a sabedoria da raça humana; e um sistema energético capaz de transportar orientações das fontes Divinas para além do Louco e através dos caminhos arquetípicos dos Arcanos Maiores e das cartas da Corte”.

- Rose Gwain em “Descobrindo o seu Eu Interior Através do Tarot”.


“O princípio de que o nosso universo obedece a uma ordem exata é tão básico para o Tarot quanto a ideia de que as cartas do Tarot representam com precisão a própria estrutura do Universo”.

- Robert Wang em “O Tarot Cabalístico”.


“Assim como usamos um espelho para observar nosso exterior, podemos usar as imagens do Tarot para nos aproximarmos da nossa realidade interior. Uma aventura ousada! As imagens do Tarot são um espelho das imagens que temos na alma. Quanto mais as contemplamos, mais descobrimos sobre nós e nossas vidas”.

- Gerd Ziegler em “Tarot – Espelho da Alma”.



“As cartas conhecidas como Arcanos Maiores representam o caminho que percorremos na vida humana. Elas mostram 22 energias básicas do nosso Universo e nos orientam no caminho para Deus, para a iluminação”.

- Mario Montano em “Tarot – Espelho da Vida”.


“Todas as nossas convivências, todos os nossos sonhos, todos os possíveis arquétipos das nossas experiências podem ser encontradas nessas 22 cartas. Elas representam um espelho inesgotável; quanto mais nos aprofundarmos nelas, tanto mais poderemos descobrir. E cada vez que nos encontramos com elas, elas são totalmente novas e nos aparecem sob uma luz diferente”.

- Mario Montano em “Tarot – Espelho da Vida”.