sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Espiritualidade & Tarot...

Por que isso me interessa?

A Sacerdotisa II, do Cosmic tarot.
Símbolo arquetípico da vivência
espiritual profunda.
Quando comecei minha jornada com o tarot me pareceu muito natural que o descobrir-se com o auxílio das mensagens dos arcanos era intimamente ligado à ideia de evolução espiritual! As imagens do tarot em sua sequência simbólica, tanto nos arcanos maiores quanto menores, remontam pictoricamente aos processos iniciáticos descritos nas grandes escolas de mistério, e nos ensinamentos de grandes Mestres, tanto da Magia quanto da Espiritualidade! Com o desenvolvimento do meu aprendizado, e da própria tarologia no Brasil e no mundo, observei que a tendência era, cada vez mais, a de se associar o tarot a uma linguagem psicológica. As teorias de Jung, sobretudo, ganharam força no estudo, na prática, e no ensino do tarot. Esse processo foi de importância fundamental para tirar o tarot de uma aura quase supersticiosa, por um lado. Por outro lado toda a abordagem espiritual começou a ser encarada como obscura e, de certa forma, ultrapassada. Bem, esse é um daqueles casos em que o pêndulo foi para longe demais do centro!
Houve dentro do estudo da tarologia literalmente um processo de desmistificação do tarot. Santo Agostinho dizia que o místico é aquele que busca uma experiência pessoal com Deus. Desmistificar é, portanto, tirar Deus, deuses ou as experiências místicas de contato com a divindade, e de sua interação numa atividade ou conhecimento. Assim sendo determina-se que o tarot não precisa da crença em Deus, ou deuses, para funcionar. É um instrumento de leitura do inconsciente que revela os fatos do momento presente como são sentidos e vividos por quem se consulta. Mostra também as possíveis influências do passado dentro desse momento, e as projeções do inconsciente para além do tempo reconhecível, ou seja, o tarot pode realizar prognósticos para o futuro. 
Dentro deste escopo de definições foram acrescidas às funções oraculares do tarot possibilidades de aplicações terapêuticas. As revelações dos arcanos desvelam programações profundas na psique, que ao serem trazidas à tona abrem campo para a libertação do programa, e a sua resolução. Não por acaso tantos terapeutas de abordagem convencional, como psicólogos e psiquiatras, tanto quanto do holismo se aproximaram da tarologia. Como disse esse movimento foi importante, e mais do que necessário. As muitas escolas de magia, por exemplo, acabavam colocando suas próprias crenças como verdades absolutas na prática e no estudo desse sistema simbólico. Eu mesmo ouvi coisas como: “O tarot flui melhor se for lido sobre uma mesa redonda de vidro”, “Ah, as cartas têm de ser consagradas a alguma entidade egípcia, devido as suas origens”, ou ainda “Tem de se consagrar o tarot ao povo cigano, pois fortalece sua prática de leitura”, e assim por diante. Isso tudo é verdade sim, mas para cada uma dessas pessoas que desenvolveram suas práticas espirituais dentro de doutrinas específicas, mas não é uma verdade absoluta para todos os que se interessam pelo estudo dos arcanos. Isso não significa, de modo algum, que se deva descartar essas possibilidades. A experiência pessoal é quem define o que chamamos de sabedoria. Por isso experimente, não descarte.

Uma experiência interessante

Eu mesmo fiz uma experiência muito comum no estudo do magia, a de se nominar objetos mágicos. Em seu livro O Tarot da Criança Interior os autores Isha e Mark Lerner nos lembram de que é possível fazer isso com o seu baralho de tarot! Escolha um nome dentro da mitologia, ou de inspiração própria, para seu baralho. Se quiser, e tiver quem conheça a numerologia, poderá fazer um estudo vibracional do nome escolhido. Esse nome não deve ser pronunciado na presença de qualquer um! Segundo a tradição esse segredo torna o elo psíquico entre você o objeto mágico em questão mais intenso e profundo. Fiz o experimento e o resultado foi bem perceptível. Evoco o nome silenciosamente enquanto embaralho as cartas e teço minhas intenções para aquela leitura. Desde então minha interpretação se tornou mais fluente e a sensação de que as cartas “falam comigo” é quase palpável, ou melhor, dizendo, audível!
Com isso quero dizer que sim, o tarot não depende de nada disso para funcionar, mas tanto essa quanto outras práticas, tanto mágicas quanto espirituais, reforçam e refinam o canal psíquico do leitor! Pessoas que começaram a praticar a meditação, para citar outro exemplo, observaram que sua clareza de interpretação e comunicação, e o foco nos principais pontos da leitura, aumentaram em muito! Cada pessoa obterá resultados diferentes das diferentes possibilidades, o que é muito natural. Somos individualidades, pequenos universos com funcionamentos distintos. Como astrólogo lembro que as influências de cada mapa natal respondem a isso muito bem! Exemplificando mais uma vez, uma pessoa com Netuno bem dignificado no mapa, e muitos planetas em signos do elemento ar, poderá sentir uma grande abertura psíquica no simples ato de acender um bom incenso ou aspergir uma essência aromaterápica no ambiente de uma leitura.

Ampliando horizontes

Quando falo em espiritualidade não me refiro apenas a práticas mágicas ou meditativas, mas à própria percepção filosófica do leitor. A diferença entre um materialista e um espiritualista é de que o primeiro acha que toda a melhora que faz em si mesmo serve ao próximo, e ao meio a que ele pertence. Um espiritualista também crê nisso, mas percebe que, além disso, evolui para si mesmo em suas sucessivas encarnações. Dentro de uma visão puramente materialista e mental da vida (onde se acham grande parte das teorias psicológicas), todas as vivências são moldadas na relação do indivíduo com o meio ambiente, familiar e social, e do que ele apreende dessas vivências, consciente e, sobretudo inconscientemente. A visão psicológica nos põe diante do fato do que somos fruto do meio e de que repetiremos a grande maioria dos programas implantados por nossas vivências e os condicionamentos decorrentes desses programas. 
A ideia de inconsciente até o presente
momento ignora o conceito de alma,
e a experiência reencarnatória.
O próprio doutor Freud dizia que “para todo o evento consciente há sempre um inconsciente que o determina”, e que a psicanálise não tem por objetivo trazer a felicidade, mas sim aliviar as cargas (no máximo) da nossa psique. Assim todo o desequilíbrio ou enfermidade da alma passa por três estágios de resolução: 1º) Você reconhece que tem um problema, a partir disso vai buscar ajuda. 2º) Há o reconhecimento de como se manifesta esse problema, que pode se apresentar na forma de complexos, suas origens, e do que o detona. Nesse momento você reconhece o funcionamento do condicionamento, mas não consegue interrompê-lo. 3º) Nesse último estágio você é capaz de reconhecer os mecanismos inconscientes e conter sua manifestação. Exatamente como diz o lema dos alcoólicos anônimos: “Só pó hoje não”. Ou seja, o problema é diminuído ou contido significativamente, mas não de todo superado! Até aqui descrevi como operam os processos terapêuticos convencionais de modo geral e sintético. Os procedimentos das terapias complementares, bem como as leituras de tarot, percorrem esse mesmo caminho. Uma leitura dos arcanos pode mostrar um ou dois problemas pontuais, revelar suas origens e apontar os caminhos para sua resolução através de orientações táticas. Entretanto, sem a compreensão intrínseca do que gerou esses problemas, muito provavelmente, eles se repetirão! Tudo isso, até aqui, pode ocorrer sem uma perspectiva espiritual da existência.
Práticas mágicas nem
sempre definem uma
vivência espiritual

verdadeira.
Ao incorporarmos uma perspectiva espiritual das leituras de tarot, e dos processos de terapia holística, entendemos que a vida não é estanque. Que existem os chamados momentos evolutivos, onde cada um de nós passa por um processo próprio de maturação espiritual. São esses momentos que fazem com que duas pessoas passando pelas mesmas condições de educação, ou enfermidade, ou desenvolvimento social tenham reações completamente diferentes uma da outra diante de tal situação. Os momentos evolutivos são definidos pelo Karma ao longo de sucessivas encarnações. A perspectiva espiritual traz ao trabalho oracular e terapêutico do tarot, e das terapias da Nova Era, a possibilidade de um quarto estágio de cura, a transcendência. Transcender é ir além do que é reconhecido ou tido como possível. Os ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda, definiram o ápice desse momento como Nirvana. Os indianos chamaram de Samadhi, e os japoneses de Satori. Iluminação, compreensão e elevação são alguns dos significados pertinentes a esses termos.
A meu ver uma abordagem focada unicamente nos aspectos terapêuticos do tarot serve apenas como um acelerador no reconhecimento dos processos psicológicos que motivam a psique, e moldam a personalidade. Por sua vez uma abordagem puramente oracular fica vazia, é se utilizar dos símbolos arquetípicos dos arcanos para “espionar as cenas dos próximos capítulos” do drama pessoal de quem se consulta. Somente abraçando uma perspectiva espiritual da vida é que as mensagens do tarot ganham significado e conotação mais amplosÉ possível perceber através dessa ótica que estamos o tempo todo interagindo com nossa porção interior da divindade em nós mesmos e nos outros, e de que planos maiores de consciência e inteligência estão atuando em nossas vidas e nos dirigindo para a nossa evolução pessoal e coletiva, e a cada um dentro do seu próprio momento evolutivo. Estamos entrelaçados em nossos relacionamentos que não são, de modo algum, casuais, mas sim carregados de significados e propósitos que são invisíveis a uma consciência focada na casualidade. Essa percepção pode despontar numa única leitura, ou em sucessivas leituras regulares. E isso não é teoria não, é observação!
Para concluir acho importante destacar que Espiritualidade não tem relação direta com Religiosidade. A primeira bebe na essência que nutre as muitas vertentes do saber espiritual, inclusive na dos fundadores das inúmeras religiões. A segunda baseia-se na doutrina de seus fundadores e nos dogmas decorrentes das interpretações feitas por profetas e sábios que vieram depois. Ou seja, a Religião limita-se em si. A Espiritualidade abraça o todo!