sábado, 20 de dezembro de 2014

Os Cavaleiros do Tarot

A ação expansiva...

Os cavaleiros do tarot, também conhecidos como Filhos, Irmãos, Sábios ou Visionários, nos baralhos mais modernos, são a representação do guerreiro dentro de cada um nós! Nos tempos atuais o papel do guerreiro tem sido resgatado para além da imagem do “fazedor da guerra”, mas também como aquele agente interior que nos faz levantar todas as manhãs para enfrentar a batalha do dia a dia. Revestimos-nos do guerreiro interior ao enfrentar uma vaga de emprego, ou num teste probatório de admissão num curso, ou ao enfrentarmos uma enfermidade, ou a enfermidade de alguém muito chegado. O guerreiro nos acompanha até no simples ato de ir trabalhar, e atender as demandas que nossa atividade exige! É bem verdade, que essa energia mal dirigida acarreta coisas como competitividade, confrontos e beligerância também. Na Idade Média os cavaleiros eram os protetores do reino e dos valores de sua comunidade. Em tempos mais remotos o rei também deveria ser um bom guerreiro e estrategista, além de monarca. Nos campos de batalha ele comandava e incitava seus homens à batalha. Com o passar do tempo a função de rei e de guerreiro foi bifurcada, e a este último coube o papel de protetor do reino e de conquistador de novos territórios. Sua ação seria, portanto, expansiva. No tarot essa disposição física para lutar, crescer e vencer está representada no simbolismo do cavalo, um animal belo e poderoso que era utilizado tanto para viagens, quanto para transporte de cargas, esportes e combates. Seu vigor muscular e elegância harmonizam-se perfeitamente bem com a figura arquetípica altiva, forte e vitoriosa dos cavaleiros antigos. E é justo o cavalo a ponte de ligação entre todos os cavaleiros dos arcanos menores com o primeiro cavaleiro do tarot, o jovem príncipe guerreiro de O Carro, dos quais descendem os guerreiros de cada naipe. Considero O Carro o pai ou o irmão mais velho de todos eles, aos quais ele empresta suas qualidades de determinação planejada ou simplesmente aguerrida, e a sua ânsia por vitória no combate.
Os Cavaleiros do baralho
clássico; O Cavaleiro de
copas do 1 JJ Swisss tarot.
Foi na Idade Média também que surgiu os altos ideais da cavalaria, como honra, coragem, generosidade e lealdade! Além do amor cortês para com todas as damas e donzelas. Daí a proximidade das palavras cavaleiro, e cavalheiro. O primeiro o originador dos ideais de dignidade e gentileza, e o outro como um seguidor desses ideais. O cavalheirismo, ao contrário do papel do guerreiro, tem sido questionado. Os seus críticos dizem que é uma postura machista que coloca a mulher como inferior ou incapaz. Outros ainda alegam que ao obterem espaço por direitos iguais as mulheres se tornaram competidoras dos homens na vida e, portanto, dar-lhes vantagens através de atos cavalheirescos seria uma burrice! Mesmo aqueles que defendem que o cavalheirismo tornou-se mais abrangente, ao estender sua gentileza e generosidade também aos mais fracos, mais velhos e as crianças, são confrontados com a questão: e quem acolhe e cuida do cavalheiro? Ou seja, esse é um papel e uma função pesada para os homem atual, mas que por outro lado o deixa sem uma função na sociedade que assinale positivamente sua masculinidade. Essa questão será solucionada quando os homens modernos resgatarem também a confiança uns nos outros que os antigos cavaleiros medievais tinham em seus irmãos, e se apoiarem mútua e amorosamente. Assim o cavalheirismo ganhará uma conotação mais ampla, indo além do trato entre os gêneros, e assumindo um papel mais cósmico de cuidado e gentileza para com toda a vida!


A Ordem dos Templários.

Os ideais da cavalaria formaram igualmente a base humana dentro de todas as guerras modernas, ao definirem o modo como os soldados adversários deveriam ser tratados, tanto no ocidente quanto no oriente. Basta ver a nobre imagem dos Cavaleiros Templários na Europa, e a ordem dos guerreiros Samurais no Japão. O idealismo, o sentido de missão, e busca pelo mais elevado são, aliás, a marca dos Cavaleiros do tarot. Como também o é a sua entrega à sua missão, e o desejo de fazer bem feito e dentro dos princípios da ética, da honra, e da dignidade.
Apesar de sua identidade original ser toda pertencente ao gênero masculino, e se coadunar mais com esse gênero, a verdade é que todos nós possuímos um guerreiro interior. Todos nós temos sonhos e ambições, e a vontade de torná-los reais! Ao serem destituídos de seus elevados ideais de realização os Cavaleiros podem se tornar agressivos, obsessivos, e até destrutivos. Como o eram seus análogos medievais em suas sangrentas batalhas; haja visto o horror que foram as Cruzadas, também chamadas de Guerra Santa. Cada Cavaleiro do tarot é representado pelo elemento fogo, que ao ser redefinido pelo elemento de cada naipe ao qual pertence, tem sua personalidade e ação moldadas segundo este elemento. O cavaleiro de paus seria então o fogo do fogo (pura ação e movimento), o de copas o fogo da água (a ação emotiva ou devocional), o de espadas o fogo do ar (a ação segundo um plano ou meta), e o de ouros o fogo da terra (a ação planejada e laboriosa para construir alguma coisa).

Vamos aos seus significados simbólicos:


Belerofonte, o Cavaleiro de paus,
do tarot Mitológico.
Cavaleiro de paus: O fogo do fogo. A intensidade de uma queimada. A ação intensa num determinado foco; uma ação com o objetivo de mudar, intensificar, ou melhorar uma coisa ou situação. Tem a intenção de tornar as coisas mais “elevadas”. Quer brilhar e viver a vida intensamente. Ama a ideia de sucesso e evolução em todos os seus sentidos. Possui uma personalidade envolvente e arrebatadora. Gosta de focar-se para realizar qualquer coisa. Aprecia a mudança e acredita com firmeza que tudo sempre pode melhorar, e que nada é impossível! Sua atenção está permanentemente voltada para as qualidades e temas luminosos desta vida. É um positivista. Sua sombra é a do jovem bruto, apressado e impaciente com o ritmo dos outros. Os detalhes o enervam! Pode ser também ansioso, exibido, egoísta, arrogante, e um sedutor compulsivo e sem vínculos mais profundos.

O Cavaleiro de copas, do Thoth tarot.
Cavaleiro de copas: O fogo da água. O vapor sobre a superfície de rios, lagos e mares vulcânicos que se eleva aos céus. O buscador do sonho, o guerreiro do coração. Aquele que se lança de cabeça em algo sem garantias de segurança. Segue sem titubear os ditames do seu coração. Sua ação não é temperada por coisas como bom senso ou crítica, apenas confiança no apelo interior. Representa a total dedicação amorosa a algo ou alguém sem expectativas ou cobranças, só a confiança nos sentimentos. Crê sinceramente no caminho que escolheu. Um visionário. Ama devotadamente, quer seja uma pessoa, uma causa, um ideal ou atividade. É o ato de apaixonar-se! O jovem galanteador. O místico no seu sentido mais puro, aquele que busca uma comunhão com Deus, ou o Transcendente. Sua sombra é justo a incompreensão que pode gerar entre os que o rodeiam, e que podem desacreditá-lo totalmente taxando-o de bobalhão e sonhador.

O Cavaleiro de nuvens, do
Osho Zen tarot.
Cavaleiro de espadas: O fogo do ar. O vento seco que devasta tudo. O grande conquistador. A mente focada nas conquistas objetivadas pela razão. O conquistador determinado e combativo; a obstinação interior. Vencer pelo poder e com toda a garra. Aquele que não desiste até a meta ser alcançada, e não poupa esforços, e até mesmo consequências, se ele exceder suas funções. A sua cobiça e competitividade podem desumanizá-lo, tornando-o cruel e violento. Sua sombra é daquele que vê tudo e todos como adversários em potencial, possíveis obstáculos às suas conquistas. O caráter defensivo. O ego que tenta afirmar-se através das suas conquistas. Raiva, animosidade, beligerância. O destruidor, aquele que vence esmagando o outro. O soldado de elite, o ninja, o boxeador e o lutador perito em artes marciais.

O Sábio dos mundos, do
Voyager tarot.
Cavaleiro de ouros: O fogo da terra. O calor e a luz que vivificam toda a natureza. O trabalhador disciplinado, perseverante, solitário, prático e realista. Aquele que constrói com as próprias mãos e esforço. Criar bases sólidas e estáveis para sustentar a vida. Disciplina. Trabalho árduo para tornar realidade uma meta. Ser dirigido por um senso prático e realista de sobrevivência. Persistência. Molda suas ambições com valores como a ética, a justiça e o bom senso. Aquele que possui uma relação de devoção com o trabalho que executa. Possui altos ideais sobre si mesmo e as atividades às quais se dedica. É o tipo confiável e confiante. Sua meta é a excelência! Sua sombra é a do viciado em trabalho. Um tipo tosco que sofre com a falta de uma visão mais ampla, ou de instrução e sutileza. Diminuição da força física, percepção súbita dos próprios limites. A aposentadoria forçada. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Os Valetes do Tarot

Crescendo e Aprendendo...

Os Valetes do baralho clássico;
o Valete de paus do Oswald
Wirth tarot.
Os Valetes, também chamados de Pajens, ou Princesas, Crianças e Irmãs nos baralhos mais modernos, são os representantes da infância e do espírito aventureiro e inquiridor em cada um de nós. Eles são munidos da curiosidade natural do ser humano e também são os portadores do novo em nossas vidas. O novo representado pelos Valetes difere das outras cartas de mudança como O Louco (uma experiência inusitada e repentina que se apresenta tanto interna quanto externamente), A Roda da Fortuna (viradas radicais de 180º, muitas vezes inexplicáveis), O Enforcado (uma mudança de perspectiva interior que muda a relação com o mundo exterior), A Morte (uma mudança profunda e definitiva que tanto ocorre interna quanto externamente), ou A Torre (uma mudança abrupta e sempre desestruturadora em princípio, embora possa trazer clareza depois). Difere também dos quatro Ases (de paus, copas, espadas e ouros), eles representam um início vigoroso que sincroniza movimentos internos e externos numa mesma direção! Ou o Três de paus, que denota um caminho novo e radicalmente diferente das experiências que se apresentaram até então. Muito embora este arcano apresente uma situação ou acontecimento iminente. Os Valetes são o símbolo das mudanças que precisam ser cultivadas, consideradas e atendidas para que possam ocorrer. Assim como crianças só se criam e se desenvolvem mediante os cuidados dos pais! Os Valetes são sempre bem mais brandos, são mudanças em estado ainda embrionário.
Um bom exemplo foi de uma cliente que teve o Valete de paus marcando sua situação profissional, e parecia que uma proposta nova de grande possibilidade criativa havia surgido para ela causando grande entusiasmo. O que ela confirmou dizendo que havia recebido o convite de um grande hospital do nosso estado que tinha proposto que ela assumisse a criação de um centro de análises e diagnósticos clínicos, que seria inaugurado num grande shopping da capital. Era uma iniciativa inédita deste e de qualquer hospital da nossa região! Ela se sentiu evidentemente envaidecida pela proposta, totalmente embasada na sua experiência de trabalho numa clinica de diagnóstico por imagens por quase vinte anos. O cuidado a ser tomado aqui é que eles estavam com pressa e contatando também outros profissionais da área administrativa. Havia um prazo para a sua resposta. Ela teria de considerar com igual atenção a sua disposição física, já que sofria de uma doença autoimune que na ocasião a estava atormentando! Queria muito a vaga, mas tinha de considerar se teria condições de levar até o fim a empreitada, e por isso veio consultar o tarot. Gosto desta história porque tudo nela se refere mesmo ao Valete de paus: o surgimento do novo com suas considerações, a possibilidade criativa, e a necessidade de boa disposição física para realizar o que esse Valete nos traz.
O Louco, pai ou irmão mais velho
de todos os Valetes. The Fool,
do Osho Zen tarot, de
Ma Deva Padma. 
A criança em seu estado puro, intelectualmente aberto e curioso ao mundo externo, é o símbolo dos Valetes do tarot. Em termos divinatórios, tanto podem ser as boas novas a serem melhor exploradas, quanto crianças, ou pessoas de espírito jovial e criativo próximas ao consulente. Ao representarem uma personalidade estas serão sempre abertas às novas possibilidades, criações, sentimentos, ideias e pensamentos, oportunidades de investimento e aprendizado, e sempre muito energéticas e vibrantes nas qualidades representadas por seus naipes. Em termos psicológicos os Valetes representam nossa criança interior, a responsável por nossos rompantes de espontaneidade, humor, criatividade, generosidade e inocência por um lado, mas que por outro lado pode representar negativamente o Puer Aeternus. O aspecto da psique que se recusa a crescer e quer se manter sempre jovem e alheio às responsabilidades, compromissos, ponderações e vínculos da vida adulta. Por esse motivo considero todos os Valetes do tarot como os irmãos mais novos ou os filhos do arcano de O Louco, no melhor e no pior de suas expressões!
Na relação com a Cabala eles são associados à Malkut, o mundo físico onde a criação depois de manifesta começa sua subida pela Árvore da Vida em busca da Casa do Pai. Por isso espiritualmente os Valetes são o arauto da alma humana sempre em busca de evolução e do mais alto! São os eternos aprendizes da existência. Os Valetes eram os servos ou aprendizes dos senhores medievais, e de fato servir e aprender são atributos típicos desses quatro nobres arcanos do tarot. É sempre importante lembrar que eles preservam as características dos seus naipes, assim como todos os outros arcanos menores. Por estarem associados à Malkut na Cabala, os magos da antiga ordem inglesa Golden Dawn atribuíram-lhes a metáfora da semente, e associaram a eles o elemento terra. Assim cada Valete é a terra de cada elemento a que representa. O Valete de paus é a terra (ele mesmo) do fogo (que é paus, o naipe a que ele pertence). O Valete de copas é a terra (também ele mesmo) da água (que corresponde a copas, o seu naipe) e assim por diante!
Vamos aos seus significados simbólicos mais marcantes:

O Valete de fogo, do Osho Zen tarot.
Valete de paus: A terra do fogo. Simboliza a terra incandescida com as cores da primavera depois do longo inverno. É a criança alegre, criativa, encantadora e brincalhona que se diverte tanto só quanto acompanhada. Ama fazer coisas novas e criativas, inventa suas próprias brincadeiras. Brincar, quebrar esquemas usuais. Alegre, independente, irrequieto, e ousado, mas nada pretensioso. Tem grandes ideias, mas não se apega a elas. Com um corpo cheio de energia ama divertir-se e movimentar-se como em exercícios físicos e competições esportivas, ou também artes cênicas, e dança! Gosta e precisa expressar-se criativamente. Aprecia Jogos lúdicos para relaxar e não esquenta a cabeça, mantendo um espírito sempre positivo. No seu aspecto mais obscuro não leva as coisas a sério, brinca com tudo! Não suporta regras, restrições, horários, padrões e nem patrões. É infantil, irresponsável e inconsequente.

A Princesa de copas, do Thoth tarot.
Valete de copas: A terra da água. Simboliza a terra macia do fundo dos lagos, rios e mares, receptiva e acolhedora ao que faz peso sobre ela. É a criança meiga, afetiva, sociável, simpática e carinhosa. Possui pureza de sentimentos e total fidelidade ao que sente, é transparente e segue sempre seu coração. Gosta de conhecer pessoas, lugares e culturas diferentes. Quer sempre ampliar o círculo de relações e conhecimento, e por isso possui grande abertura ao próximo. Gosta e precisa relacionar-se com gente! O que pode torná-lo muito codependente dos seus relacionamentos. Aprecia servir ao próximo, ser prestativo o alegra. É maleável, gentil, e sua disposição em ajudar não vê distinção entre as pessoas em si e entre elas e os seres da natureza! Por outro lado sua maleabilidade excessiva o torna pouco estruturado, inconsistente e não comprometido com suas causas e relacionamentos. O que pode torná-lo um bajulador ou seguidor sem propósitos internos definidos, volúvel em seus sentimentos. O que popularmente chamamos de “coração vagabundo”!

A Filha de espadas, do Motherpeace tarot.
Valete de espadas: A terra do ar. Simboliza a terra que voa com a ventania na forma de poeira, flexibilizando-se, mas também sem nunca poder se tornar concreta como requer sua natureza! É a criança curiosa e hiperativa que tem os olhos sempre atentos aos movimentos novos e aos assuntos dos adultos. Sempre disposta a aprender pergunta sobre tudo o tempo todo, mas não fixa a atenção. É capaz de conhecer muitas coisas diferentes, e concatená-las ao mesmo tempo. Grande agilidade mental. Tudo o interessa! Abarca novas ideias e amplia os conceitos já conhecidos de modo inovador. Sua sombra é a mente que conecta várias coisas ao mesmo tempo, mas que não realiza nada de fato. A congestão e a confusão mental, a argumentação excessiva da mente, os pensamentos circulares. A tensão mental, e a preocupação incessante. Das simples dores de cabeça às enxaquecas persistentes. Insônia. Falta de direção e de planos de vida objetivos. Em casos extremos é a típica personalidade com o TDHA (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade).

A Irmã da terra, do
Tarot of The Spirit.
Valete de ouros: A terra da terra. Simboliza a terra que guarda em si as sementes de futuras germinações, florestas, árvores, flores e frutos! Representa a criança que cedo percebe as necessidades dos pais ou do meio onde vive, e começa a agir no sentido de auxiliá-los ou minimizar seu sofrimento. O bom aluno, dedicado, estudioso, compenetrado, o CDF. O filho comportado que ajuda a mãe na cozinha e ou o pai na oficina. Que sonha estudar e crescer para ajudar os pais ou a família no futuro. Aprender com o novo, investigar, aprofundar. Estudar para evoluir e transformar as oportunidades em trabalho e lucro. Desenvolvimento gradual. Germinador das novas oportunidades, investidor de novos empreendimentos. O explorador cauteloso das novas possibilidades e de todas as oportunidades a serem trabalhadas, e não desprezadas num primeiro momento. Aquele que especula novas formas de investimento e progresso. Fase inicial de crescimento. Fertilidade. Pode indicar gravidez. Sob muitas formas é o estudante ávido por conhecimento e evolução. Alguém que vê no saber o caminho mais seguro para o progresso em todos os sentidos! Negativamente simboliza a ânsia compulsiva por novos aprendizados ou investimentos, mas já sem propósito ou alegria!

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Os 4 Estágios da Cura

"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás 
o universo e os deuses."
- Sócrates

A cura é um processo interior ou exterior de restauração do equilíbrio e da harmonia pessoal, nesta ordem, para a devolução do corpo ou da consciência ao seu estado natural de saúde e bem estar, ou a elevação ao próximo estado evolutivo. Portanto, a ideia de que a cura é um processo puramente físico e que trata basicamente de patologias é falsa!
Como todo o processo relacionado ao humano a cura pode ser dividia em quatro estágios diferentes, todos conectados entre si, mas que não levam um ao outro de modo automático. Cada etapa é uma conquista em si e depende muito do modo como cada pessoa encara seu próprio processo de cura interior e do comprometimento que tem com o mesmo. Apresento aqui uma síntese desses quatro estágios de cura interior ou exterior.
Vamos a eles:

1º Estágio – O Auto reconhecimento

Nesse ponto inicial há o reconhecimento da consciência sobre sua situação limitadora. Algo que surge com frases do tipo: “Tenho um problema!”, ou “Há algo errado comigo” de modo geral, ou uma percepção a cerca de suas limitações em um dado ponto da sua personalidade que limita sua atuação e realização social e individual. Para muitas pessoas esse ponto é o mais crítico, pois que muitos encaram esse reconhecimento como uma espécie de admissão do fracasso pessoal, e podem escolher “resolver por si mesmos” o que consideram um problema exclusivamente seu. Com muita frequência vemos os homens fazerem isso mais que as mulheres. A cultura machista ocidental alienou os homens de sua vida interior, de suas emoções, sentimentos e percepções mais profundas. Em troca ofertou-lhe a persona do senhor do mundo, do conquistador implacável (de mulheres e posses), e do eterno vencedor. Apresentou-lhe isso como sendo a essência verdadeira do masculino, e tudo o que não se encaixe nisso é fraqueza e o faz menos homem.
Enquanto isso as mulheres ao se livrarem da dominação patriarcal, aprenderam que ser fortes não compromete sua feminilidade, e muito menos fazer experimentos com sua consciência, percepção, sensibilidade e até com sua sexualidade. Costumo dizer que mulheres e homens foram vítimas do machismo.

2º Estágio – A Identificação


Nesta etapa da cura aprendemos a identificar o que nos causa sofrimento, e geralmente se trata de uma postura, atitude ou pensamento que se apresenta sempre que um conjunto de vivências importantes para nosso sentido de realização quer se manifestar. Uma pessoa sempre acusada de agressiva com os que ama, por exemplo, de repente percebe que diante de uma demonstração de amor sente um medo profundo que se manifesta como suspeita de falsidade, medo de cobrança ou de abandono que a faz reagir defensivamente.
Nesta fase, entretanto, ainda não se consegue interromper o fluxo reativo. É quase como se estivéssemos vendo nossa vida passar pela televisão. Apesar de ser uma conquista importante dentro do processo de autoconhecimento e cura, é também um tanto angustiante. Muito frequentemente as pessoas sentem culpa e vergonha do seu condicionamento.
Apesar disso é fundamental seguir adiante, aceitando que somos seres humanos, e que por isso mesmo nascemos mal acabados e vamos nos aprimorando ao longo de nossa existência.

3º Estágio – O Controle

Esta é uma valiosa conquista sobre si mesmo. Ao contrário da fase anterior, conseguimos interromper o fluxo reativo e paramos antes que ele se projeto sobre o outro ou os eventos externos. Então, seguindo nosso exemplo anterior, o indivíduo agressivo com os que ama sentirá dentro dos gestos de carinho confiança no que está vivendo naquele momento. Ao ouvir a voz do medo egoico dentro dele dirá a si mesmo: “É só medo, não é real! Estou seguro!”. Esta síntese que apresento não pretende insinuar que esses três estágios da cura interior são fáceis ou puramente psicológicos, eles se aplicam também como forma de curar sentimentos e emoções que se manifestam também como sintomas físicos. Todo e qualquer processo de terapia precisa de um profundo comprometimento interior com o propósito da cura. Para a maioria das teorias psicanalíticas este estágio é o final do processo de sanidade. O problema é que ainda existe uma identificação do ego com o desequilíbrio. Como quando um ex alcoólatra mesmo sem beber há mais de 30 anos se declara: “Eu sou alcoólatra!”. Ainda que pelo antagonismo ele continua preso ao seu distúrbio. Como alguém que metaforicamente vivia apenas de um lado da moeda de sua vida, e agora decide viver somente do outro lado.

4º Estágio – A Transmutação

Nesse estágio é comum a sensação de liberdade e totalidade. O indivíduo consegue olhar para sua limitação, condicionamento ou distúrbio de forma a não mais se identificar com ele. Não é mais necessário fazer nenhum esforço para o autocontrole, simplesmente se vê de fora do processo, que passa a ser estranho a ele. Ou seja ele se vê, mas não mais se identifica.  
Nem todos chegam a este estágio de cura pessoal, pois envolve muito mais do que uma abertura racional e inquiridora sobre si mesmo, envolve também uma ampliação da percepção espiritual e uma não identificação com a mente egoica. A mente não mais se fixa no que sabemos de nós porque nos falaram, o que sabemos de nós é o que reconhecemos no mais fundo do si mesmo! Nesses casos o desafio que se apresentou como um distúrbio, limitação, condicionamento ou mesmo enfermidade funciona como a ferida de Quíron, um sofrimento que o faz transcender, ou seja, ir além das experiências conhecidas até então em direção às alturas do espírito.
Assim a cura não é apenas um processo físico/mental, mas intrinsecamente espiritual para todos! Porém, poucos a percebem assim e a fazem um processo de ascensão da própria consciência. Não existe uma receita de como proceder para iniciar ou conduzir cada um dos quatro estágios, é um despertar interior, que para uns poderá levar uma vida inteira!

Leia também:
Espiritualidade & Tarot 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Sobre Reação & Resposta


Dentro do conceito de que somos todos responsáveis direta ou indiretamente por tudo o que nos acontece, vale sempre lembrar a terceira lei do movimento de Newton que diz que a toda ação se opõe igual reação. No mundo físico isso deixa bem explicado e claro como as coisas funcionam. Porém, no âmbito das relações humanas em seu trajeto de desenvolvimento pessoal deve-se distinguir a diferença entre reação e resposta.
Cavaleiro de copas (Osho Zen tarot),
postura de abertura diante da vida!
A reação é, como diz a palavra, uma ação imediata a algo ou alguma questão recebida por nós. Sua emissão é quase que mecânica, e corresponde ao escopo dos nossos modos e conhecimentos, emoções e percepções. A maioria esmagadora de nós segue pela vida reagindo sem refletir sobre a consequência de nossas ações para nós mesmos e ainda mais para outros. Essas reações automatizadas são as responsáveis por grande parte das nossas encrencas, desentendimentos, e mágoas. É claro que reações instintivas podem também nos livrar de situações de perigo, ou nos fazer agarrar uma oportunidade de trabalho, ou de uma conquista amorosa etc. Na maioria das vezes, entretanto, nas nossas relações sociais elas atrapalham. As reações estão intimamente ligadas aos conceitos mentais e as emoções mais comuns dentro das nossas relações interpessoais.
A resposta, por sua vez, vem de um centro interior de harmonia, onde os julgamentos e vicissitudes usuais de comportamento não entram na ação. A resposta vem de uma consciência observadora, e não julgadora.
Um exemplo que costumo utilizar com clientes e alunos é o de um almoço com amigos onde você decide repetir a sobremesa. Um dos amigos então pergunta: “Vai comer sobremesa de novo?”. Numa atitude reativa essa pergunta é reinterpretada rapidamente de várias formas, todas elas são ou negativas ou depreciativas. Coisas como: “Tá me chamando de glutão?”, “Será que acha que sou mal educado?”. Ou então: “Mas que droga! O que fulano tem de se meter no que faço?”. Em ambos os casos há uma agressividade defensiva que poderá virar uma mágoa a ser guardada ou um ataque. Algo do tipo: “É, vou sim! O que você tem com isso?”. Numa atitude de resposta você pode simplesmente dizer “Sim!”. Ou até tecer um comentário do tipo: “É, gostei desse doce!”. Mesmo que a pergunta tenha sido feita com a intenção de atingir você, para constranger ou mesmo invadir seu espaço íntimo de autonomia, a verdade é que de sua parte o jogo não é ativado. Não há desperdício de energia emocional com algo que não o levará a nada edificante, e que pode sim levar a um dia todo de incômodos e sentimentos de baixa vibração. É evidente que temos de aprender a colocar limites no mundo exterior, a fim de preservar nosso espaço criativo pessoal. Mas há lugares e lugares para se fazer isso, situações e situações, e há o bom e o mau combate. Não se esqueça disso!
O Cavaleiro de espadas (Osho Zen tarot),
postura defensiva-agressiva diante da vida.
No exemplo antes citado fica mais do que claro que a reação vem de um centro emocional desequilibrado que é reforçado pela mente julgadora. A reação é, portanto, mental e emocional simultaneamente. Por esse motivo a personalidade reativa está intimamente ligada ao simbolismo do Cavaleiro de espadas do tarot. Esse arcano possui uma disposição aguerrida que se excede a ponto de ver tudo e todos como um obstáculo ou ameaça. Uma personalidade dessas se forma após sucessivas frustrações, oposições, ou ataques que abriram feridas profundas, que por sua vez criaram a determinação interna de não mais sofrer do mesmo mal a qualquer custo! A composição Elemental deste cavaleiro é fogo do ar. O fogo das emoções sendo inflamado pelo ar dos pensamentos e julgamentos, que analisam, reinterpretam e julgam tudo o que cai na fogueira das nossas emoções.
A resposta é típica de uma personalidade não defensiva, disposta a enfrentar todas as situações da vida com espontaneidade e entrega. O sentimento de desconfiança do Cavaleiro de espadas é aqui substituído por um sentimento de confiança na vida e no bem, mesmo que esse bem não venha do outro. É o bem e a confiança na vida que se traz interiormente. Postura que corresponde com precisão ao Cavaleiro de copas em sua manifestação mais elevada. Sua composição Elemental é o fogo da água, ou seja o calor passageiro da emoção é transmutado na mansidão de sentimentos profundos e duradouros. A raiva é transmutada em sentimentos como a aceitação, e o perdão. O fogo, impulsivo e irracional, é “apagado” ou suavizado pela fluência de sentimentos profundos e positivos. Essa condição só é alcançada quando a pulsão dos instintos (fogo) é permeada com a integração da consciência espiritual abarcante (água). Assim a mente não responde mais aos seus arquivos mnemônicos defensivos, e se eleva a um nível de epifania constante. 


O mundo exterior responde às nossas respostas e
reage às nossas reações com igual intensidade.

Ao deixarmos de ser reativos, o meio que nos cerca fará o mesmo, segundo o princípio da mesma lei do movimento que citamos no começo desse artigo, e que corresponde perfeitamente aos princípios da lei do Karma. A personalidade reagente desencadeia uma sucessão de reações que atraem o seu infortúnio. A personalidade que responde aos fatos e estímulos desativa o jogo insano de certos indivíduos do mundo externo, e transita melhor pela vida.
Mas essa é uma perspectiva que dificilmente nasce pronta. Essa é a consciência de alguém que fez o despertar interior, e esse pode ser o trabalho de uma vida (ou vidas) inteira!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Tarot & Astrologia

Exercitando a Percepção 
Pessoal e Simbólica


Este é um exercício proposto por Mary K. Greer, que tanto serve para o autoconhecimento quanto para a memorização e personificação dos significados dos arcanos para quem está começando a estudá-los! Ao relacionarmos o simbolismo do tarot às vivências pessoais fica muito mais fácil memorizar seus significados.
A execução em si é bem simples, mas é preciso que se tenha algum conhecimento básico de astrologia para que seu entendimento seja pleno. O quadro abaixo mostra a relação entre arcanos do tarot e os signos e planetas da astrologia! A ordem colocada na relação que se segue é a do zodíaco:

Quadro que representa a roda zodiacal e os planetas a girar nela,
todos convertidos em arcanos do tarot.


Signos


Áries / Imperador – Touro / Hierofante – Gêmeos / Os Amantes – Câncer / O Carro – Leão / A Força – Virgem / O Eremita – Libra / A Justiça – Escorpião / A Morte – Sagitário / A Temperança – Capricórnio / O Diabo – Aquário / A Estrela – Peixes / A Lua.

Planetas


Sol / O Sol – Lua / A Sacerdotisa - Mercúrio / O Mago – Vênus / A Imperatriz – Marte / A Torre - Júpiter / A Roda da Fortuna – Saturno / O Mundo – Urano / O Louco – Netuno / O Enforcado – Plutão / O Julgamento.

Casas Astrológicas


Casa I (Ascendente) – O eu, a aparência, como recebo e respondo aos estímulos do mundo exterior.
Casa II – Valores materiais e morais, autoestima, bens, finanças, onde se busca segurança.
Casa III – Redes locais de contatos, comunicação, relação com o meio ambiente próximo; parentes como irmãos e tios, viagens curtas.
Casa IV – Fundação, família, a mãe, o ambiente doméstico, a alma, o passado, a infância.
Casa V – Autoexpessão, ego, criatividade, lazer, prazer, marketing pessoal (o que quer que os outros pensem de si), erotismo.
Casa VI – Trabalho, saúde, como se arruma e vive o cotidiano, qualidade de vida.
Casa VII – Parcerias, sociedade, casamento, relacionamento com outras pessoas.
Casa VIII – A morte, o que deve ser transformado para a evolução, recursos dos outros; magia, ocultismo.
Casa IX – Filosofia de vida, estudo acadêmico, temas superiores, espiritualidade, religiosidade; viagens longas e assuntos com o estrangeiro.
Casa X – Ambições, disciplina, materialidade, como o mundo o vê, o pai; profissão, carreira, missão de vida.
Casa XI – Afinidades sociais, grupos a que pertence ou se relaciona, Mestres, visão do futuro.
Casa XII – Preocupação com o social, altruísmo, a busca pelo transcendente, o desafio do Karma pessoal.

As casas astrológicas correspondem
a posição original dos signos no zodíaco.

Bem, agora pegue seu mapa astrológico natal e arrume na mesa os arcanos seguindo a relação acima, mas dentro da ordem do seu mapa. Por exemplo, se tiver Câncer no ascendente, casa I, você deverá colocar ali a carta de O Carro, assim na casa II sob a regência de Leão, coloque a carta de A Força e siga assim a ordem da roda até percorrer as doze posições e os doze signos zodiacais. Ao completar a mandala preencha as casas com os arcanos correspondentes aos planetas. Se tiver Sol em Escorpião coloque o arcano de O Sol na casa onde se encontra a carta de A Morte. Não tente fazer com isso uma análise astrológica, faça uma interpretação tarológica mesmo! Nesse exemplo a carta de A Morte deverá estar na quinta casa, já que o ascendente está em Câncer. Essa posição corresponde ao lazer, prazer, criatividade, erotismo e autoexpressão. Perceba como isso se dá com a presença do décimo terceiro arcano aí, e a influência do Sol atenua essa regência? Enfatiza ainda mais? De que modo? Se já fez a leitura do seu mapa astrológico esse exercício poderá trazer percepções novas sobre você mesmo, e complementará de modo interessante e significativo o estudo do seu mapa astrológico natal. Seguindo ainda a roda do exemplo dado, a casa VII, que rege relacionamentos, parcerias e casamento estará sob a égide do signo de Capricórnio, que transmutado num arcano do tarot será O Diabo. De um signo rígido e reservado surgirá um arcano que também pode reger a supressão dos instintos naturais, justamente por “demonizá-los”, mas que por sua natureza revela tendências passionais! Como reconhece isso em sua vida? Você vive sua passionalidade ou também aprendeu que ela é um bicho incômodo que deve estar amarrada e enjaulada?
Greer não dá maiores explicações sobre o que fazer com signos interceptados nem com o surgimento de um Stellium. Um signo interceptado é aquele que está contido dentro de uma casa tão ampla que ele não toca seus limites, também chamados de cúspide, nem no começo e nem no fim desta casa. Se um signo estiver interceptado o seu oposto também estará. Assim se possuir Aquário interceptado, Leão também estará! Na mandala do seu mapa vai parecer que um signo foi “pulado”. Como proceder então? Nesse caso recomendo que se considere o arcano correspondente como invertido. Sinalizando uma força que está bloqueada em seu fluxo. Se houver ali planetas e, portanto, arcanos correspondentes, observe se eles estão facilitando o fluxo dessa energia bloqueada ou a estão travando ainda mais?
Um Stellium é uma conjunção múltipla de três ou mais planetas num mesmo signo. Essa conjunção tem uma sucessão próxima com orbe de até 10º. Uma conjunção dessas enfatiza o surgimento de dons, talentos e habilidades relacionados ao signo que ela enaltece. Exalta-o tanto positiva quanto negativamente. Nesse caso, ao fazer a conversão para os arcanos, coloque na ordem do menor para o maior grau dos planetas da conjunção. No exemplo citado vamos supor que o Sol em 11º de Escorpião esteja num Stellium com Lua em 12º, Marte em 17º, e Júpiter em 19º desse mesmo signo. Ao colocar os arcanos correspondentes aos planetas sobre a carta de A Morte, que representa Escorpião, siga a ordem do menor para o maior, que ficaria assim: O Sol, A Sacerdotisa, A Torre, e A Roda da Fortuna. Colocados em sequência os arcanos vão tornar mais clara a interpretação do seu simbolismo na roda zodiacal.
Anote suas percepções, faça essa roda zodiacal muitas vezes. Não force o que à primeira vista parecer não fazer sentido, lembre-se que este também é um exercício de autoconhecimento. Suas percepções vão se ampliando à medida que você for se conhecendo mais. Pesquise mais sobre o significado das casas astrológicas e anote somente o que for relevante para você. Faça muitas vezes esse exercício lembrando-se de intercalar entre um e outro um tempo entre três e seis meses pelo menos.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O Motherpeace Tarot

Um Caminho Para a Deusa 
Através do Tarot

Criado em 1983 por Vicki Noble e Karen Vogel o Motherpeace Tarot (Tarot da Mãe Paz) foi um marco na história dos arcanos, que pela primeira vez tinham um baralho voltado para uma abordagem feminina da espiritualidade e dos conhecimentos esotéricos. Noble, a percussora do projeto de desenhar as cartas, viu nas imagens do tarot uma forte presença da Deusa das culturas primitivas e ditas pagãs. Tanto ela quanto Karen desenharam à mão livre usando tinta nanquim, sempre com o braço esquerdo, o lado do inconsciente. A proposta deste tarot é justamente a de resgatar a imagem da Deusa, que segundo elas está soterrada dentro do inconsciente coletivo na idade moderna, e de estimular uma sociedade voltada para seus valores pacíficos e de preservação da natureza e da harmonia desta com a comunidade humana.
O formato das cartas foge por completo do formato tradicional, são redondas uma forma associada ao feminino, a totalidade, a amplitude de possibilidades e ao espírito de inclusão e proteção comunitária, muito presente nas culturas ancestrais.
As suas imagens não possuem, nem de longe, a beleza e o primor artístico de baralhos como o Thoth tarot de Aleister Crowley e Frieda Harris e o Osho Zen tarot de Ma Deva Padma. Suas figuras, entretanto, encantam por seus traços primitivos que ora lembram desenhos infantis, ora lembram pinturas rupestres, muito espontâneos, cheios de mensagens de paz pessoal e planetária com um espírito positivo.


As Autoras

Vicki Noble é uma militante feminista, instrutora de yôga, astróloga e curadora xamã, além de intensa pesquisadora de formas oraculares, que viu no tarot a expressão máxima desses conhecimentos. Atualmente ela dá consultas de tarot e astrologia e ministra aulas de técnicas de cura xamânicas. Viaja pelo mundo promovendo workshops de xamanismo, já esteve muitas vezes no Peru. Também é professora de espiritualidade feminina no New College de São Francisco.
Karen Vogel é uma artista plástica que passou a especializar-se no trabalho com madeira e pedra. Interessou-se desde cedo pela espiritualidade feminina das culturas pré-cristãs e pelo ocultismo de um modo geral, e ainda mais por oráculos, onde dedicou-se de modo específico ao estudo do tarot. Atualmente dá consultas e workshops de tarot e arte feminina xamânica. Tanto Karen quanto Vicki dedicam parte de seus rendimentos ao apoio e preservação de culturas indígenas.

Os Desenhos


Os arcanos maiores simbolizam leis universais básicas que estruturam o universo natural. Repletos de significados cósmicos e metafísicos aludem a etapas da vida ou estágios na senda espiritual.















Já os arcanos menores tratam dos eventos microcósmicos do pequeno mundo onde vivemos em contraponto aos temas transcendentes propostos pelos arcanos maiores. No tarot Motherpeace os reis da corte medieval transformaram-se em Xamãs, as rainhas em Sacerdotisas os cavaleiros em Filhos e os pajens em Filhas.















O naipe de bastões (ou paus) encerra a força do elemento fogo. Simbolizam poder e autoridade. Frequentemente representados por tochas, aludem à luz e o calor do fogo natural e a libido e o calor produzidos pela sexualidade.
















naipe de copas é representado pelos vasos que encerram os sentimentos, emoções, desejos, sonhos inconscientes e visões. São símbolos arquetípicos do ventre e seios maternos.
















O naipe de espadas simboliza o potencial para o pensamento abstrato e conceitual, criar sistemas e vislumbrar claramente o futuro, bem como conhecer a lógica dos fatos. Nesse naipe as autoras também veem as tendências separatistas do ego.


















O naipe de discos (ouros) representa o reino físico, a magia da terra e a sua capacidade autosustentadora, a criação, a procriação, a permuta, a economia, a colheita frutífera e a arte como a expressão física do amor à Deusa.

Como Jogar


O formato redondo do tarot Motherpeace é, segundo Noble e Vogel, de uma abrangência muito maior de possibilidades interpretativas do que a dos tarots tradicionais. As suas lâminas permitem com mais frequência que as cartas saiam na posição invertida, o que enriquece em muito a leitura. As autoras orientam que as cartas invertidas costumam indicar o significado negativo ou oposto da expressão energética dos arcanos. Um arcano cuja essência tende a ser “negativa” ou mais desafiadora, como o Cinco de espadas (raiva, inveja, etc) estaria na posição invertida sendo modificado nessa pré-disposição. A pessoa em consulta estaria abandonando conscientemente essas energias psíquicas.
Noble salienta ainda que as cartas fornecem uma visão extra que nenhum outro baralho poderia: a interpretação por polaridades. Observando a inclinação da imagem, à direita ou à esquerda, pode-se dizer qual polaridade estaria direcionando o arcano na leitura. Por exemplo, uma carta inclinada para a direita estaria na sua polaridade yang ou solar mais acentuada, indicando que o ego estaria forçando ou contendo a manifestação energética da carta, o que não seria necessariamente negativo. Já um arcano inclinado para a esquerda estaria na sua polaridade yin ou lunar indicando uma energia um pouco contida com pouca confiança na expressão energética do arcano em questão.A indicação dada pela autora é de que, em princípio, considere as cartas como se saídas na sua posição vertical, e depois, gradualmente vá inserindo essas visões. Haverá uma dificuldade natural no começo, mas que cederá com o tempo dando espaço a uma expansão do campo perceptivo do leitor. Uma visão de 360 graus, circular, total, uma dádiva da Grande Deusa-mãe.

Leia também o artigo: Tarot Circular

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Papel Espiritual do Tarólogo


Dizem que a prometida Era astrológica do signo de Aquário já começou, mas que ainda é muito incipiente e que seu apogeu se dará lá pela metade do terceiro milênio, dois mil quinhentos e alguma coisa... A Nova Era da consciência planetária, por outro lado, não irá tão longe. Ao que tudo indica a decadência dos valores espirituais e holísticos está em franca expansão!
O que vemos atualmente é uma panaceia: os terapeutas holísticos estão sofrendo de uma ânsia infantil por reconhecimento social e legalidade e nesse afã estão criando associações e cursos para certificar terapeutas “qualificados”, com número de registro para garantir um bom serviço.
E os tarólogos então? Estão muito preocupados em divulgar o verdadeiro tarot, com muito estudo, atacando com veemência aqueles que se dizem tarólogos sem o ser, pois ao que parece é imprescindível defender a verdadeira natureza do tarot.

Cartomantes, o fio condutor do tempo que trouxe o baralho
de tarot aos nossos dias e o tornou o oráculo mais popular do mundo!

Ora isso não é uma cópia exata do sistema e da ordem vigentes? Basta uma rápida olhada na história para verificar o que aconteceu com todas as classes que se organizaram em ordens, sindicatos e associações, ou que saíram por ai dizendo-se defensoras da verdade desta ou daquela doutrina ou disciplina. Este foi o mesmo princípio que gerou o comunismo, o fascismo, o nazismo...
A proposta da Nova Era é justamente uma proposta de liberdade e de libertação dos antigos sistemas de hierarquia e poder, de introdução da espiritualidade na vida comum e, portanto, de total confiança de que tudo corre para o desenvolvimento de cada indivíduo.
Certificados não são sinônimos de talento ou competência, muito menos de seriedade.
A existência de cursos de formação atrai mais oportunistas e carreiristas do que a sua não existência. Tudo o que um capitalista quer é uma carteirinha que o certifique, colocando-o no panteão dos bons, sérios e estudiosos, entronado e livre para atacar os demais! É nisso que se resume a busca espiritual dessas pessoas? Essa é sua ideia de um mundo melhor?
O tarot necessita de defensores? Ora, ele sobreviveu pelo menos 600 anos à ignorância religiosa, à superstição e à exploração mercadológica de meados do século XX. Ao que tudo indica a força arquetípica de suas imagens podem muito bem cuidar de si mesmas.
E esse estudo todo, que por um lado é positivo e enriquecedor, não tem de ser dosado? Ora, toda a agressão e conflito nascem de um excesso de mente e uma carência de coração. Os atuais tarólogos parecem constrangidos em mencionar o uso da intuição (que é o uso do coração), como se a mente racional fosse a única forma de aprender. E por falar nisso não é uma proposta da Nova Era explorar recursos além da mente? Tudo o que vemos à nossa volta é o resultado do excesso de mente. Essa é a nova Terra que ambicionamos?

Voltando-se para Dentro


O 4 de copas no Osho Zen tarot,
o olhar que se volta para o interior.
Existem questões mais importantes que um tarólogo, ou um terapeuta holístico, tem a se indagar: Qual o real significado do seu trabalho para você mesmo? O que você acredita ser a maior contribuição de uma consulta sua para cada pessoa que o procura? O que você mesmo procura no estudo e na prática tarológica? É só uma atividade intelectual? Um meio de autossuperação? Um meio para acessar a sua divindade interior? Um modo de aprender mais sobre você e a vida? Que aprendizados são esses? Ou o tarot é só um instrumento pelo qual você se sente vivo e “importante” porque os outros o procuram? Você quer só adivinhar o que se passa do outro lado e sentir-se sempre encantado com isso?
Todas essas perguntas, e muitas outras, devem ser feitas por você à você mesmo e com certeza há muito material para pensar e meditar por muito tempo. O tempo, é indiscutivelmente, o melhor mestre e um maravilhoso seletor de competências, seriedade, profundidade e vocação. Cuide de si e da sua experiência diária com o tarot, deixe que a vida e o tempo assumam a conta do resto. Concentre-se na sua contribuição para o planeta ajudando da melhor maneira possível todo aquele que o procura. Isso independe de a sua relação com o tarot ser profissional ou não. Cada tarólogo no mundo possui a sua característica própria de levar seus clientes à introspecção e, portanto, à reflexão. Essa é sua assinatura e sua real contribuição à nova consciência que precisa de todas as visões para existir. A verdade não está lá fora.

A Transformação do Oráculo


O uso dos arcanos como sistema divinatório
ainda é válido, legítimo e enriquecedor!
A grande maioria dos tarólogos hoje em atuação, no início de suas atividades, inclinou-se para um trabalho puramente oracular e divinatório. Também acho que quase a totalidade desses, em dado momento, se questionou se aquele serviço era realmente útil, e especulou sobre como ele estaria de fato ajudando aqueles que procuravam suas consultas para saber daquele amor recém iniciado, ou daquele projeto que, finalmente, sairia do papel. O que teria motivado esse questionamento?
Ora uma leitura divinatória não é necessariamente ruim ou “inferior”, pois esse tipo de coisa só existe na cabeça dos seres humanos que criam tais classificações para amparar o próprio ego. A previsão do futuro é legitimamente humana, desde a antiguidade os homens queriam saber do futuro das colheitas, da saúde da prole e do andamento de empreendimentos futuros. Afinal naqueles tempos os recursos eram poucos, as dificuldades naturais para realizar qualquer coisa eram imensas... Isso fazia com que se buscasse algum conhecimento prévio sobre os acontecimentos e a vontade dos deuses (daí o nome divinatório para as artes de prever o futuro).
Esses fatores ainda hoje são válidos, vivemos num tempo em que as incertezas mudaram de nome e de figura, mas ainda são angustiantes. A relação com o tempo, e com a própria divindade, entretanto, mudou radicalmente. Há pessoas que nem sequer acreditam em Deus, mas que aceitam prontamente as palavras “Energia”, “Cosmo”, ou Inconsciente Coletivo. Isso mesmo, há aqueles que tomaram a teoria de Jung como uma definição mais acertada de Deus. Particularmente eu não concordo com esse racionalismo todo, me arrepia! Porém não quero entrar aqui nesse mérito filosófico.
A verdade é que o ser humano hoje se vê no limiar de sua civilização. Enquanto espécie se pergunta o que veio fazer aqui, Consumir, pagar e morrer? É todo esse o sentido da vida? E sobre todos os eventos individuais em que todos nós nos envolvemos, há algo para ser compreendido, integrado, superado ou transformado?
Essas são as perguntas que o ser pensante de um novo tempo está se fazendo. Isso ocorre porque nunca tivemos tanta consciência sobre a consequência dos nossos atos no planeta e em nossas vidas. A isso se deve o mérito da divulgação das filosofias orientais sobre o Karma e a reencarnação, bem com os princípios da psicologia e da ecologia. Somos autorresponsáveis, não há mais como negar!

A Nova Face do Tarot


O tarot, um fantástico instrumento de análise,
investigação e revelação dos eventos da vida,
do tempo e dos meandros da alma humana!
Muitos tarólogos foram sensíveis a essa mudança, aprofundaram seus conhecimentos sobre o Karma, a filosofia, a psicologia e a ecologia do planeta e da alma e perceberam que a flexibilidade simbólica do tarot comportava muito bem a profundidade dos conhecimentos tanto quanto a dos questionamentos.
As cartas aparecem então como um mapa que detecta padrões de comportamento antigos projetados no momento de certo conjunto de vivências. Revelam programações paternas e kármicas e apontam o caminho para a transformação e ou superação de tais programas.
Há muitos modos de proceder essa investigação, pois há tantos modos de se utilizar o tarot quanto há pessoas na Terra. A verificação disso é muito fácil, basta consultar dois profissionais diferentes e logo perceberá que ambos falarão sobre as mesmas questões que o motivaram à consulta. Com significativas diferenças, é claro!
Um parecerá buscar raízes mais psicológicas, outro mais espirituais ou kármicas, um terceiro poderá ainda avaliar, através das cartas, que padrões energéticos estão envolvidos no momento da consulta. Sim, uma miríade de enfoques sobre um mesmo tema, e todos muito construtivos com certeza! Para os que se preocupam em qual seria o tarólogo certo para o momento que está vivendo e seus valores, eu costumo dizer: “Não se preocupe, o tarólogo certo é que acha você!”.
Quantas vezes eu ouvi: “Eu nunca consulto ninguém sem indicações, mas quando vi o seu nome naquele site (ou anúncio), sei lá, marquei e vim.” Alguns ao final completavam: “Ah, fiz bem em vir, foi ótimo!”.
As funções divinatórias do tarot estavam ligadas quase que exclusivamente ao aspecto mundano da vida, hoje os eventos mundanos estão sendo relacionados aos aspectos interiores de cada um, e é no interior que mora o divino, não importa como o chamemos.
É essa a função espiritual do tarot. Quanto mais entendemos a relação dos fatos com as escolhas que se faz, mais elevada se torna a consciência, quanto mais se culpa os eventos externos, a economia, ou os outros por tudo o que ocorre mais densa e rígida fica a relação com a vida. Como disse o místico indiano Osho: Quanto mais para dentro, mais para o alto, quanto mais para fora, mais para baixo.

Leia também os artigos: Consulta a um Tarólogo e Intuição - A Chave Interior.