quinta-feira, 7 de março de 2019

Cartas da Corte - Ampliando a Percepção...

O Rei de ouros, do
Druid Craft tarot.
Dentre os arcanos do tarot as cartas da corte são as que costumam representar maior dificuldade para quem está se iniciando. A maioria das pessoas não sabe quando devem encará-las como pessoas que participam da vida de quem está se consultando, ou como posturas que o consulente vem assumindo em sua vida, ou ainda como eventos que estão ocorrendo a sua volta... Pois bem, aqui vão três exercícios imaginativos que ampliarão a capacidade de flexibilização arquetípica desses arcanos, e aprofundarão sua percepção intuitiva. Como já disse outras vezes eu nunca tive problemas ao interpretar as cartas da corte! Sempre as tomei num primeiro momento como uma postura interior de quem se consultava comigo, e deixava minha intuição me guiar, e ela sempre me levou na direção certa quando esses arcanos marcavam pessoas dos relacionamentos dos clientes, ou eventos pontuais em suas trajetórias. De qualquer forma tive de elaborar estes exercícios  imagéticos quando decidi ensinar tarologia para outras pessoas, e me deparei com essa dificuldade na maioria dos meus alunos. Recomendo que para cada um desses exercícios se utilize o velho método da anotação manual. Escrever suas percepções com o próprio punho faz com que elas fiquem gravadas em você. O que antes era uma crença mágica muito difundida, hoje é um fato comprovado pela neurologia. Então tenha caneta e caderno na mão antes de começar. Aqui vão eles:

1º) Estude o mais minuciosamente possível o significado das cartas da corte, sempre tendo em mente que são personalidades humanas com características bem marcadas. Quando suas dúvidas minimizarem suficientemente escreva num bloco de notas suas lembranças de quando você mesmo agiu como um desses personagens do tarot. Em que momento você foi amoroso, envolvente ou sensual como uma Rainha de paus? Ou em que momento de sua vida você foi planejador, racional e organizado como o Rei de ouros? E assim por diante, com todas as dezesseis cartas da corte... Anote também, depois de cada descrição, em que situações você estava envolvido e que estimularam ou requisitaram essa postura de sua parte. Esse é um exercício que tanto estimula a percepção das cartas da corte como posturas psicológicas que assumimos diante dos eventos da vida, criando personas, quanto as situações práticas que cada uma delas pode simbolizar numa leitura...


A construção do conhecimento
é um trabalho contínuo, e que envolve 

muito empenho, observação e prática
como nos ensina o Cavaleiro de ouros
(Thoth tarot).

2º) Ainda seguindo nesta linha, escreva em seu caderno de anotações que pessoas em sua vida representam cada uma das dezesseis cartas da corte. Diga também que características se evidenciam e que fazem você associar o comportamento delas a esse ou aquele arcano. Não deixe, é claro, de anotar qual o arcano que define você mesmo na maior parte do seu dia a dia. No exercício anterior você já terá aprendido que nossa personalidade é mutável na maioria das vezes, assumimos posturas diferentes conforme cada situação que vivemos. Agora você terá de avaliar nas pessoas com quem convive, assim como em si mesmo, qual dessas personas (máscaras) elas e você se utilizam mais frequentemente em suas rotinas diárias. Em minha vida, por exemplo, reconheço minha irmã como uma Rainha de espadas: racional, crítica e socialmente reservada e polida, tanto quanto reconheço a mim mesmo como um Rei de copas, que combina sua intuição profunda com sua orientação racional, e que aprendeu a tomar certa distância das próprias emoções para evitar julgamentos ao realizar o trabalho que amo, que é o de intérprete do simbolismo do tarot! Caso não consiga relacionar certos arcanos a pessoas do seu convívio, reflita sobre isso também. Esses arcanos que faltam representam o quê? Qualidades que você despreza, não valoriza ou tem dificuldade de reconhecer ou expressar? Uma das coisas fascinantes que ocorre ao estudarmos o tarot, é que se o fizermos de modo correto, o crescimento que adquirimos no processo é inevitável e muito gratificante para o nosso próprio autoconhecimento.

Dentro de um contexto de leitura as cartas da corte
possuem muitas atribuições possíveis; posturas 

que se assume, pessoas que cercam o consulente, 
ou fatos objetivos do momento... (Osho Zen tarot).

3º) O terceiro exercício amplia ainda mais essa capacidade perceptiva. Procure reconhecer em filmes e peças de teatro que arcanos da corte estão ali representados! Numa obra clássica como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, a dimensão sonhadora e idealista do Cavaleiro de copas é mais que evidente. Do mesmo modo que a dimensão feminina de sofisticação, sensualidade refinada, e ao mesmo tempo exuberante, da Rainha de ouros estão muito bem representadas em outra obra clássica, A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas. Não é preciso se limitar às obras consagradas da literatura, embora os clássicos possam, por também estarem muito presentes em nosso inconsciente, oferecer referências importantíssimas nesse estudo. Qual carta da corte você daria à Scarlett O’Hara de E o Vento Levou? Ou para O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald? Mais uma vez esse exercício de flexibilização da percepção arquetípica pode ser imensamente útil, não só para ampliar e facilitar o processo imaginativo intuitivo nas leituras de tarot, como para alargar a capacidade de se reconhecer a personalidade das pessoas socialmente com alguma observação! Faça o mesmo com os filmes de sua preferência; quer seja os dramas policiais, quer seja os filmes da Marvel de super heróis. Não há limites!

Para quem possa estar se perguntado se o estudo do tarot seria sempre então uma atividade incessante e em permanente construção eu digo: sim, é! Quanto mais o estudo do tarot sair dos livros e partir para a prática da observação viva dos arquétipos, mais fluente se tornará o seu entendimento, bem como a compreensão e a transmissão de suas mensagens em sessões de leitura. Considerar que já se sabe tudo, ou que se “domina” um sistema de interpretação simbólica tão complexo quanto o tarot é, com certeza, o início da petrificação de conceitos. O que fará com que aos poucos sua visão da vida refletida nos arcanos se torne limitada, arcaica e desconectada do mundo e do tempo em que vive.