quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Os Valetes do Tarot

Crescendo e Aprendendo...

Os Valetes do baralho clássico;
o Valete de paus do Oswald
Wirth tarot.
Os Valetes, também chamados de Pajens, ou Princesas, Crianças e Irmãs nos baralhos mais modernos, são os representantes da infância e do espírito aventureiro e inquiridor em cada um de nós. Eles são munidos da curiosidade natural do ser humano e também são os portadores do novo em nossas vidas. O novo representado pelos Valetes difere das outras cartas de mudança como O Louco (uma experiência inusitada e repentina que se apresenta tanto interna quanto externamente), A Roda da Fortuna (viradas radicais de 180º, muitas vezes inexplicáveis), O Enforcado (uma mudança de perspectiva interior que muda a relação com o mundo exterior), A Morte (uma mudança profunda e definitiva que tanto ocorre interna quanto externamente), ou A Torre (uma mudança abrupta e sempre desestruturadora em princípio, embora possa trazer clareza depois). Difere também dos quatro Ases (de paus, copas, espadas e ouros), eles representam um início vigoroso que sincroniza movimentos internos e externos numa mesma direção! Ou o Três de paus, que denota um caminho novo e radicalmente diferente das experiências que se apresentaram até então. Muito embora este arcano apresente uma situação ou acontecimento iminente. Os Valetes são o símbolo das mudanças que precisam ser cultivadas, consideradas e atendidas para que possam ocorrer. Assim como crianças só se criam e se desenvolvem mediante os cuidados dos pais! Os Valetes são sempre bem mais brandos, são mudanças em estado ainda embrionário.
Um bom exemplo foi de uma cliente que teve o Valete de paus marcando sua situação profissional, e parecia que uma proposta nova de grande possibilidade criativa havia surgido para ela causando grande entusiasmo. O que ela confirmou dizendo que havia recebido o convite de um grande hospital do nosso estado que tinha proposto que ela assumisse a criação de um centro de análises e diagnósticos clínicos, que seria inaugurado num grande shopping da capital. Era uma iniciativa inédita deste e de qualquer hospital da nossa região! Ela se sentiu evidentemente envaidecida pela proposta, totalmente embasada na sua experiência de trabalho numa clinica de diagnóstico por imagens por quase vinte anos. O cuidado a ser tomado aqui é que eles estavam com pressa e contatando também outros profissionais da área administrativa. Havia um prazo para a sua resposta. Ela teria de considerar com igual atenção a sua disposição física, já que sofria de uma doença autoimune que na ocasião a estava atormentando! Queria muito a vaga, mas tinha de considerar se teria condições de levar até o fim a empreitada, e por isso veio consultar o tarot. Gosto desta história porque tudo nela se refere mesmo ao Valete de paus: o surgimento do novo com suas considerações, a possibilidade criativa, e a necessidade de boa disposição física para realizar o que esse Valete nos traz.
O Louco, pai ou irmão mais velho
de todos os Valetes. The Fool,
do Osho Zen tarot, de
Ma Deva Padma. 
A criança em seu estado puro, intelectualmente aberto e curioso ao mundo externo, é o símbolo dos Valetes do tarot. Em termos divinatórios, tanto podem ser as boas novas a serem melhor exploradas, quanto crianças, ou pessoas de espírito jovial e criativo próximas ao consulente. Ao representarem uma personalidade estas serão sempre abertas às novas possibilidades, criações, sentimentos, ideias e pensamentos, oportunidades de investimento e aprendizado, e sempre muito energéticas e vibrantes nas qualidades representadas por seus naipes. Em termos psicológicos os Valetes representam nossa criança interior, a responsável por nossos rompantes de espontaneidade, humor, criatividade, generosidade e inocência por um lado, mas que por outro lado pode representar negativamente o Puer Aeternus. O aspecto da psique que se recusa a crescer e quer se manter sempre jovem e alheio às responsabilidades, compromissos, ponderações e vínculos da vida adulta. Por esse motivo considero todos os Valetes do tarot como os irmãos mais novos ou os filhos do arcano de O Louco, no melhor e no pior de suas expressões!
Na relação com a Cabala eles são associados à Malkut, o mundo físico onde a criação depois de manifesta começa sua subida pela Árvore da Vida em busca da Casa do Pai. Por isso espiritualmente os Valetes são o arauto da alma humana sempre em busca de evolução e do mais alto! São os eternos aprendizes da existência. Os Valetes eram os servos ou aprendizes dos senhores medievais, e de fato servir e aprender são atributos típicos desses quatro nobres arcanos do tarot. É sempre importante lembrar que eles preservam as características dos seus naipes, assim como todos os outros arcanos menores. Por estarem associados à Malkut na Cabala, os magos da antiga ordem inglesa Golden Dawn atribuíram-lhes a metáfora da semente, e associaram a eles o elemento terra. Assim cada Valete é a terra de cada elemento a que representa. O Valete de paus é a terra (ele mesmo) do fogo (que é paus, o naipe a que ele pertence). O Valete de copas é a terra (também ele mesmo) da água (que corresponde a copas, o seu naipe) e assim por diante!
Vamos aos seus significados simbólicos mais marcantes:

O Valete de fogo, do Osho Zen tarot.
Valete de paus: A terra do fogo. Simboliza a terra incandescida com as cores da primavera depois do longo inverno. É a criança alegre, criativa, encantadora e brincalhona que se diverte tanto só quanto acompanhada. Ama fazer coisas novas e criativas, inventa suas próprias brincadeiras. Brincar, quebrar esquemas usuais. Alegre, independente, irrequieto, e ousado, mas nada pretensioso. Tem grandes ideias, mas não se apega a elas. Com um corpo cheio de energia ama divertir-se e movimentar-se como em exercícios físicos e competições esportivas, ou também artes cênicas, e dança! Gosta e precisa expressar-se criativamente. Aprecia Jogos lúdicos para relaxar e não esquenta a cabeça, mantendo um espírito sempre positivo. No seu aspecto mais obscuro não leva as coisas a sério, brinca com tudo! Não suporta regras, restrições, horários, padrões e nem patrões. É infantil, irresponsável e inconsequente.

A Princesa de copas, do Thoth tarot.
Valete de copas: A terra da água. Simboliza a terra macia do fundo dos lagos, rios e mares, receptiva e acolhedora ao que faz peso sobre ela. É a criança meiga, afetiva, sociável, simpática e carinhosa. Possui pureza de sentimentos e total fidelidade ao que sente, é transparente e segue sempre seu coração. Gosta de conhecer pessoas, lugares e culturas diferentes. Quer sempre ampliar o círculo de relações e conhecimento, e por isso possui grande abertura ao próximo. Gosta e precisa relacionar-se com gente! O que pode torná-lo muito codependente dos seus relacionamentos. Aprecia servir ao próximo, ser prestativo o alegra. É maleável, gentil, e sua disposição em ajudar não vê distinção entre as pessoas em si e entre elas e os seres da natureza! Por outro lado sua maleabilidade excessiva o torna pouco estruturado, inconsistente e não comprometido com suas causas e relacionamentos. O que pode torná-lo um bajulador ou seguidor sem propósitos internos definidos, volúvel em seus sentimentos. O que popularmente chamamos de “coração vagabundo”!

A Filha de espadas, do Motherpeace tarot.
Valete de espadas: A terra do ar. Simboliza a terra que voa com a ventania na forma de poeira, flexibilizando-se, mas também sem nunca poder se tornar concreta como requer sua natureza! É a criança curiosa e hiperativa que tem os olhos sempre atentos aos movimentos novos e aos assuntos dos adultos. Sempre disposta a aprender pergunta sobre tudo o tempo todo, mas não fixa a atenção. É capaz de conhecer muitas coisas diferentes, e concatená-las ao mesmo tempo. Grande agilidade mental. Tudo o interessa! Abarca novas ideias e amplia os conceitos já conhecidos de modo inovador. Sua sombra é a mente que conecta várias coisas ao mesmo tempo, mas que não realiza nada de fato. A congestão e a confusão mental, a argumentação excessiva da mente, os pensamentos circulares. A tensão mental, e a preocupação incessante. Das simples dores de cabeça às enxaquecas persistentes. Insônia. Falta de direção e de planos de vida objetivos. Em casos extremos é a típica personalidade com o TDHA (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade).

A Irmã da terra, do
Tarot of The Spirit.
Valete de ouros: A terra da terra. Simboliza a terra que guarda em si as sementes de futuras germinações, florestas, árvores, flores e frutos! Representa a criança que cedo percebe as necessidades dos pais ou do meio onde vive, e começa a agir no sentido de auxiliá-los ou minimizar seu sofrimento. O bom aluno, dedicado, estudioso, compenetrado, o CDF. O filho comportado que ajuda a mãe na cozinha e ou o pai na oficina. Que sonha estudar e crescer para ajudar os pais ou a família no futuro. Aprender com o novo, investigar, aprofundar. Estudar para evoluir e transformar as oportunidades em trabalho e lucro. Desenvolvimento gradual. Germinador das novas oportunidades, investidor de novos empreendimentos. O explorador cauteloso das novas possibilidades e de todas as oportunidades a serem trabalhadas, e não desprezadas num primeiro momento. Aquele que especula novas formas de investimento e progresso. Fase inicial de crescimento. Fertilidade. Pode indicar gravidez. Sob muitas formas é o estudante ávido por conhecimento e evolução. Alguém que vê no saber o caminho mais seguro para o progresso em todos os sentidos! Negativamente simboliza a ânsia compulsiva por novos aprendizados ou investimentos, mas já sem propósito ou alegria!