quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O Eremita - Arcano IX


Título esotérico – O Profeta do Eterno (O Profeta como alguém que não anuncia só o futuro, mas as verdades eternas da existência, ou seja, a sabedoria que transcende o tempo).

Analogia Astrológica – Virgem (O 6º signo), o signo que marca o começo do outono no Hemisfério Norte, o tempo da colheita, de revisão das ações tomadas, e de “separar o joio do trigo”. Por isso é tido como um signo crítico, sua crítica baseia-se na busca de um modelo divino ou sagrado de perfeição que cada coisa traz em si intrinsecamente. Trabalho este que requer dedicação, atenção e esmero, qualidades que sobram neste signo zodiacal.

Analogia Numerológica – O 9 como o último dos números simples, simboliza o fim da jornada ao mesmo tempo em que abre a possibilidade de novos caminhos, mais profundos, através dos números compostos. Mostra uma consciência amadurecida que segue num trabalho de investigação de si mesma, da vida ou de alguma disciplina em particular procurando atingir sua totalidade. Experiência rica, mas limitada à perspectiva do seu investigador. Ninguém vê o todo, como o próprio 9 não pode ultrapassar a si mesmo (3 X 9 = 27 = 2 + 7 = 9) assim como ninguém de fora pode dar ao indivíduo algo que ele mesmo não tenha buscado (5 + 9 = 14 = 1 + 4 = 5).

O Arcano – Um homem idoso usando um manto azul atravessa uma paisagem, que apesar de não ficar explícito, parece ser noturna, já que ele segura uma lanterna bem junto aos olhos. Ele segura um cajado no qual está se apoiando. A parte de dentro de seu manto é na cor amarela e o capuz é vermelho, a mesma cor da toga que ele usa por baixo do manto. Ele tem barba e cabelos brancos. Sua postura encurvada transparece dificuldade, desgaste do tempo e certa apreensão.

Significado – Nos tempos atuais, onde os velhos são desprezados apesar de todo o valor que ainda possuem para as gerações mais jovens, é difícil imaginar que os anciãos eram tidos como fonte de sabedoria e orientação para os clãs. Mesmo em sociedades tidas como muito machistas uma mulher podia participar do conselho tribal quando se tornava avó, pois havia passado por todas as etapas da maturidade! O velho aqui é o símbolo da própria sabedoria. Mas o que é a sabedoria? Sabedoria é o conhecimento vivido e experimentado ao longo do tempo. Por mais talento nato que uma pessoa possa ter nada substitui a experiência de vida. Qualquer talento, por mais abundante que seja, se tornará maior e mais expressivo depois do teste do tempo. O manto azul remete à introspecção profunda, indicando uma consciência voltada para si mesmo em busca de respostas. O forro amarelo do manto indica que a procura por essa sabedoria se utiliza dos próprios recursos intuitivos, criativos e intelectuais. A toga vermelha assinala a tenacidade com que essa busca ocorre. O capuz caído sobre seus ombros mostra o quão capaz ele é de se fechar, física e mentalmente, às influências externas que possam tentar obstruí-lo nessa jornada por iluminação interior. Seu caminho é reflexivo e não meditativo como o do arcano de A Estrela. A meditação é uma ausência de mente. A reflexão, por sua vez, é o uso aplicado, disciplinado e profundo da mente na procura por uma resposta. O cajado tanto nos diz que ele é um peregrino quanto revela sua prudência e atenção ao trilhar o caminho. Sua lanterna, que ao que parece tem seis lados e apenas três à mostra, é o símbolo da luz da consciência que o guia. O seis é tido como o número da perfeição. Os grandes iniciados dizem que aquele que desenvolveu o mestrado espiritual possui os olhos sempre voltados para o que é belo e engrandecedor. Ao passo que o homem de instintos inferiores julga tudo o tempo todo, por isso tem os olhos sempre voltados para o defeito e à imperfeição porque se acha melhor do que aquilo que vê. O sábio sabe que qualquer imperfeição que reconheça fora de si indica algo que precisa ser evoluído em si mesmo. Por isso o Eremita é um sábio que aparece antes do fim da jornada nos arcanos maiores. Ele cresceu com o que aprendeu nos arcanos anteriores e sabe que tem muito mais a crescer com os que ainda virão. Assim, usa a sabedoria que já adquiriu para adquirir ainda mais sabedoria e alargar sua consciência rumo à iluminação/transcendência do arcano de O Mundo!

O Eremita no Osho Zen tarot.
Divinação – Sabedoria, busca por profundidade de perspectiva. Solidão, recolhimento, introspecção, reflexão, retiro espiritual ou de descanso (férias inclusive). Personalidade sóbria. Dependendo da situação pode até ser o tipo desconfiado. Prudência, determinação, disciplina. Humildade, pessoa simples. Ação cuidadosa, esmero, personalidade detalhista. Diminuição do ritmo para observar as coisas com mais atenção. Essa diminuição pode também se dar por desgastes ocorridos, que podem ser físicos, mentais ou conscienciais. Maturidade, velhice. Tempo, experiência. A ação longa de um período de tempo sem perspectivas claras de resolução. Estudo profundo de uma disciplina. Investigação, pesquisa. Espionagem e ou o espião. O cético, que tem que ver para crer. Inspeção pessoal ou de órgãos fiscalizadores sobre algo.  Voto de silêncio ou castidade, ou gosto pelo silêncio e pouco interesse sexual que pode ser momentâneo ou permanente. Masturbação. Autossuficiência afetiva, social e ou financeira. Retirada súbita do convívio social. Negativamente é a agorafobia (medo de lugares cheios ou públicos). Isolacionismo político. Avareza afetiva e material. Timidez social excessiva, paranoia. Carências afetivas não resolvidas ou saciadas. Pode indicar pobreza ou recursos muito escassos.

Personagem do Cinema – Chuck Noland, interpretado por Tom Hanks no filme Náufrago de 2001. Chuck é um inspetor da Fedex (Federal Express), empresa multinacional que entrega cargas e correspondências, e é ocupado demais para lidar com os assuntos familiares e sentimentais. Seu trabalho é verificar o andamento dos vários escritórios da empresa pelo mundo! Numa dessas viagens seu avião cai e ele fica preso numa ilha do Pacífico sul por quatro anos tendo de resistir, tanto física quanto psicologicamente, para sobreviver à espera de um resgate! Sendo o único sobrevivente ele fica na ilha tendo como única companhia a foto de sua mulher e uma bola de voleibol que ele batiza de Wilson (na verdade essa é a marca da bola). Wilson passa a ser seu único “amigo”. Longe de tudo, e com medo de enlouquecer, Chuck começa a rever seus valores e prioridades e aprende a “ouvir os sinais”, como o par de asas que surgem em dados momentos da trama. Como toda a linguagem artística o cinema tange o inconsciente coletivo... A esfinge do próximo arcano, A Roda da Fortuna, possui asas. E as asas sempre aparecem na trama quando os ventos da mudança vão soprar no destino do personagem...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Roda da Fortuna - Arcano X

Título Esotérico – O Senhor das Forças da Vida (O eterno ciclo de nascer, viver, morrer, que rege todas as coisas existentes).

Analogia Astrológica – Júpiter (Regente de Sagitário e co-regente de Peixes), senhor das forças expansivas da vida. Esse planeta emite uma quantidade de energia muito maior do que a que recebe do sol! Por isso está associado à generosidade, exuberância e boa sorte. Júpiter é o arauto das mudanças súbitas e da virada de sorte. Era o representante de reis e soberanos na antiguidade, sendo por isso associado à evolução e elevação em todos os sentidos.

Analogia Numerológica – O indivíduo (1) que se encontra com o absoluto (0) dando um novo sentido e direção à própria existência (1)! Pode-se entender aqui o absoluto como a vida, o destino, ou Deus imanente presente em todas as coisas, inclusive dentro da psique, e que ao ser contatado permite-nos alterar os rumos da própria existência. Caso contrário o indivíduo apenas sofre com os acontecimentos da vida chamando-os de destino ou fatalidade!

O Arcano – No aro de uma roda com seis raios três estranhas figuras se sustentam. A roda está suspensa por dois suportes de madeira que fazem parte de um apetrecho apoiado sobre o chão. No centro da roda encontra-se um eixo com uma manivela. As três figuras são uma lebre que está subindo na roda, uma esfinge coroada que se encontra no topo e um animal com cabeça humana. A esfinge é azul e tem três de suas quatro patas em contato com a roda. A sua quarta pata, a esquerda, segura uma espada.

Significado – A roda é símbolo do movimento e das mudanças. Consta que juntamente com a descoberta do fogo foi um dos mais importantes marcos para a evolução da espécie humana na criação de sua civilização, permitindo a movimentação de comunidades inteiras e a comunicação e o comércio com outros povos distantes. A lebre é um antigo símbolo pagão da deusa Eostre, também chamada de Ostara, deusa da primavera e do renascimento da vida. A lebre era o primeiro animal a sair da toca indicando que o fim do inverno chegara e que os domínios da deusa haviam, mais uma vez, se estendido sobre a Terra. Daí a Páscoa, que é comemorada na primavera no hemisfério norte, ser chamada de Easter, em inglês e Ostern, em alemão. A lebre é, portanto, o símbolo das forças da luz em ascensão e dos novos começos. O homem com um rabo que está caindo representa a estupidez humana que tenta controlar o fluxo da vida. A ilusão do controle e da permanência. Antigos baralhos medievais mostravam um homem com orelhas de burro caindo da roda. A esfinge é o símbolo do mistério da vida. No mito de Édipo ela aparece como um ser que propõe uma charada que se não é desvendada resulta na morte do inquirido. Aqui ela lembra que a vida tem um aspecto misterioso e insondável, que faz com que uma pessoa nasça com muitas vantagens e benesses, enquanto outras padecem na carência de quase tudo! Suas três patas que tocam a roda lembram o movimento trifásico que rege a vida, começo, meio e fim. A pata com a espada indica que é ela quem regula o giro da roda. Detém o poder sobre o movimento.
Mudança é algo natural, intrínseco à natureza e ao homem, embora nem sempre bem vinda. O que lembra a lei da impermanência do budismo tibetano “só o que não muda é a mudança!”. Por fim o próprio nome Fortuna faz menção à deusa romana da sorte, boa ou má. Ela era representada por uma cornucópia e um timão, que é uma roda, que simbolizavam tanto a distribuição de bens como a coordenação da vida humana. Daí a roda ser sempre referida como o símbolo máximo do destino. Hoje há resquícios dessa referência nas roletas de cassinos ou no sinistro jogo da roleta russa. Algumas vezes essa deusa era representada cega, pois que distribuía suas bênçãos de modo aleatório.
Os seis aros da roda dizem que esse movimento é perfeito, pois este número expressa essa qualidade. Tudo vem e vai na hora exata! No entanto a manivela no seu centro indica que podemos intervir na nossa sorte, desde que não queiramos parar seu movimento. O livre arbítrio está para o destino como o surfista está para a onda gigantesca na qual ele desliza.

A Roda da Fortuna no Osho Zen Tarot.
Divinação – Mudanças de todo o tipo, virada de 180º nos acontecimentos. Movimento. Capacidade de agarrar oportunidades. Êxito casual como em jogos de loteria. Golpe favorável de sorte. Adaptação, flexibilidade diante do imprevisto. Disposição inventiva diante de mudanças e até mesmo de crises. Busca por evolução, crescimento. Avanço significativo num aspecto da vida. Ou quando as coisas mudam de direção inesperadamente e os novos eventos são felizes. Como um caso que conheci, em que uma estudante de economia foi para Paris para estudar numa bolsa desta disciplina e lá conheceu a radiestesia. Apaixona-se pelo novo conhecimento e mais tarde torna-se uma respeitada radiestesista em sua cidade natal! Desejo por mudança, seja física ou pessoal. O surgimento de recursos alternativos que podem representar uma saída ou solução para um dilema. Negativamente é a inconstância, instabilidade. O medo, às vezes fóbico, das mudanças. Humor instável, por vezes até de modo patológico como o que ocorre na bipolaridade. Pode também representar uma repetição cíclica de um evento sem nunca aprender com ele, ou seja, não evolui daquela experiência. Como pessoas que sofrem sempre o mesmo tipo de desapontamento amoroso, ou que entram em crises financeiras sempre pelos mesmos motivos.


Personagem do Cinema – Os três personagens, Klaus (interpretado por Liam Aiken), Violet (interpretada Emily Browning) e Sunny Baudelaire (interpretada pelas Gêmeas Kara e Shelby Hoffman) do filme Desventuras em Série, de 2004. Eles são três órfãos que perdem os pais subitamente e herdam sua fortuna. As crianças, porém, só terão direito a ela depois que a filha mais velha Violet completar dezoito anos. Até lá eles têm de ficar sob a guarda de um parente distante, o Conde Olaf (Jim Carrey), que deseja roubar o patrimônio delas, não medindo consequências para isso! Os três irmãos passam a fugir do seu malfeitor e a contatar com outros parentes com quem possam ficar, descortinando assim uma miríade de tipos estranhos. Entre eles o tio Montgomery que cria serpentes, animais que trocam de pele sazonalmente. Ou a tia Josephine que após perder o bem amado companheiro Belo, desenvolveu uma série de fobias irracionais, como medo de corretores de imóveis ou o medo de maçanetas. Ela nunca as tocava para que não se partissem e seus estilhaços furassem seus olhos!... Ou seja, todos os personagens têm alguma relação com símbolos ou situações de mudança, inconstância ou fatalismos de algum tipo!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A Força - Arcano XI

Título Esotérico – A Filha da Espada Flamejante (Os poderes intensos e radiantes que jazem dentro da psique).

Analogia Astrológica - Leão (O 5º signo), simboliza o poder criador que habita dentro de cada homem e que anseia por expressão. É o verbo divino-criador “Eu Sou”, que ao ser afirmado coloca o indivíduo no centro do universo onde tudo pode ser acessado, atraído ou manifestado. É a força criadora, centralizadora e realizadora da vontade imbuída de um propósito interior e força bem estruturada.

Analogia Numerológica – O indivíduo absolutamente centrado em si (1 e 1), quer seja pela vontade ou pelo autoconhecimento, encontra um outro poder oculto dentro de si (2). Ou a polaridade yang (1) que ao atingir seu máximo vira o seu oposto (2), como ensina o I Ching.  Como quando uma arte de guerra (luta) como o Kung Fu ou o Aikido viram filosofias de desenvolvimento e crescimento espiritual.

O Arcano – Uma jovem mulher trajando uma capa vermelha como a dos antigos viajantes, e usando uma espécie de vestido azul, segura um leão com as duas mãos pela boca. Ela usa ainda um chapéu em forma de leminiscata que lembra o chapéu do arcano de O Mago. Embaixo vê-se a ponta dos dedos do seu pé direito, o que denota que ela está fazendo força ao mesmo tempo em que está firmemente apoiada. O leão apesar de totalmente subjugado não parece estar sofrendo. Ele exibe uma bela juba dourada, a mesma cor das mangas fofas que a donzela usa. Outro detalhe curioso é a de que a mulher abre a boca do animal na exata altura de sua vagina.

Significado – A mulher por si só tem sido a representação simbólica mais comum das coisas sutis do homem, como sua alma, sua sabedoria e inspiração. O fato de ela estar enfrentado o leão (tradicionalmente associado à ideia de poder, força, coragem e nobreza), indica tanto uma luta furiosa onde a civilização, a sutileza e a sabedoria ganharam a batalha, como o encontro de forças interiores que se pronunciaram quando necessárias. Esse encontro com as forças interiores podem ter um significado tanto psicológico quanto espiritual. No primeiro a fera interior e sua fúria viram vontade, força e ação dirigidas a um objetivo. No segundo um processo de comunhão entre a parte animal e divina do homem o elevam e o tornam poderoso em todos os sentidos. Como o que acontece com a subida da kundalini, em que a energia bruta da sexualidade ao subir vai se refinando, e ao chegar ao topo no 7º chakra, o Sahashara, transforma-se num poderoso despertar espiritual e consequente iluminação. Esse simbolismo aparece bem claramente em ela abrir a boca do leão à altura de sua vagina ao mesmo tempo em que usa um chapéu com a forma de leminiscata, símbolo matemático do infinito que também alude às forças espirituais superiores, igual ao Mago. Esse por sua vez possui esse contato de forma direta e constante, enquanto que a Força faz esse contato por intermédio de uma vitória sobre si mesmo ou sobre alguma coisa! A capa vermelha é a representação dessa nova força e energia da qual a donzela está imbuída. É a afirmação do “eu”, ou das forças superiores que se expressam através dele. Tudo isso, porém, requer tanto empenho quanto constância! Este arcano rege os feitos heroicos a que se propunha o guerreiro interior no arcano VII O Carro. Todas as lendas que retratam esses feitos estão sob sua égide. Como no mito da deusa sumeriana Inanna que desce aos reinos infernais de sua irmã Ereshkigal para pedir sua ajuda. Esta exige que ela se apresente nua, ou seja sem seus poderes, como sinal de confiança e boa vontade. Apesar de todos os avisos Inanna vai ao encontro de sua irmã sombria despindo-se de seus trajes e berloques mágicos. Ao encontrá-la percebe que ela está transformada em meio mulher, meio leão. A deusa do submundo a ataca, e mata Inanna dentro dos seus domínios. Após alguns dias a própria Ereshkigal a ressuscita e diz que ao renascer dentro do mundo sombrio ela levaria consigo parte do seu poder, que somado aos seus poderes já existentes a tornariam uma rainha e deusa ainda mais poderosa! O que parecia uma traição foi na verdade uma benção, o reino dela e o de sua irmã agora eram uma coisa só. Assim a jovem Inanna volta ao mundo da luz para enfrentar e vencer indubitavelmente seus adversários! Partes desse mito muito antigo se expressam também no mito grego de Hércules e o Leão de Neméia, e no conto de fadas francês A Bela e a Fera. Em todos eles ao abraçar a fera interior encontramos grande poder, força, prazer ou amor nunca antes vividos. Sua força bruta é dirigida para a realização de algo que sem ela seria impossível! Por simbolizar as forças brutais da existência o leão faz da donzela de A Força o arauto da consciência humana dominando o seu destino, representado anteriormente no arcano de A Roda da Fortuna.

A Força no Osho Zen tarot.
Divinação – Autoconfiança, força e poder pessoal. Feitos admiráveis, grandiosos. Reconhecimento, aplauso. Magnetismo, exuberância, podendo emanar grande elegância e suave sex appeal, ou uma sexualidade fortemente pronunciada. Por isso é também o arcano da atração sexual, pois emana o animal interior para o mundo exterior. Persuasão, sedução. Eloquência, veemência. Afirmação dos desejos e vontades pessoais. Tipo: “eu quero, eu posso, eu consigo”! A não aceitação de predestinações, fatalismos, ou arbitrariedades de qualquer espécie. O tipo de personalidade que luta para obter o que quer e que obtém êxito na grande maioria das vezes. Pode indicar exatamente isso, uma vitória depois de muito esforço e luta. O espírito aguerrido e lutador de alguém que quer “vencer” na vida, indo além dos limites que as circunstâncias ou a sociedade aparentemente lhe impuseram. Romper barreiras, transpor obstáculos. Realizar conquistas. Negativamente é como uma criança mimada que faz exigências o tempo todo porque quer ser satisfeita, sem se importar se o outro pode ou não atendê-la. O ego infantilizado, arrogante, presunçoso, chauvinista. Aquele que “se acha o cara”. Exibicionista, gosta de mostrar seus feitos e provar o tempo todo o seu valor. Não aceita críticas ou opiniões ao seu modo de ser e agir, reagindo negativamente. A dramaticidade exacerbada, aliás, é outro aspecto de sua sombra, que se bem dirigido pode revelar talentos cênicos latentes.

Personagem do Cinema – Ruth, interpretada por Roseanne Barr na comédia Ela é o Diabo, de 1989. Ruth é uma mulher, gorda, feia e desalinhada que faz de tudo para agradar ao marido, mas é abandonada por ele. Bob (Ed Begley Jr.), o faz de modo mais cruel e humilhante possível. Ele a troca por Mary Fisher (Meryl Streep), uma escritora de romances de segunda categoria, conhecidos como romances-cor-de-rosa, a quem ambos haviam conhecido num jantar. Ruth decide se vingar seguindo um plano traçado por ela cujos itens vão sendo riscados à medida que são realizados! Trata de descobrir os podres da vida pessoal de Mary e do trabalho de Bob, que é contador. Ela também cria uma agência de prestação de serviços para mulheres que precisam de uma segunda chance. A agência faz enorme sucesso e Ruth torna-se uma mulher poderosa e influente, usando dessa influência em sua vingança. Ao final ela arruína a carreira de Mary, põe Bob na cadeia e parte para viver sua vida como uma nova mulher. Apesar de o filme ter elementos dos ardis vingativos do arcano de O Diabo e a determinação firme e o planejamento do arcano de O Carro, a paixão com que Ruth se lança na empreitada, a inabalável autoconfiança inédita que ela adquire, e o poder pessoal que ela acessa são típicos do arcano de A Força. Na última cena do filme, curiosamente, a personagem aparece usando uma capa vermelha.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A Dimensão do Olhar

Lendo o tarot com profundidade

Para ver o mundo num grão de areia
E o céu numa flor silvestre,
Segura o infinito na palma da tua mão
E a eternidade numa hora.

William Blake

Conversando com uma amiga ouvi uma confissão muito humana por um lado, mas de certo modo estarrecedora para mim, vindo de uma pessoa que por tantos anos dedicou-se ao estudo e ao trabalho oracular com o tarot. Uma declaração mais ou menos assim: “Estou cansada de tantos anos de estudo com os símbolos, desenvolvendo e aprofundando minhas percepções pessoais para no fim ter de desvendar basicamente as mesmas coisas para as pessoas! Elas sempre querem saber de amor, dinheiro, a carreira… É maçante!…” Com todo o respeito pelo desabafo da minha referida amiga e colega, quero aqui lançar um outro olhar sobre essa questão.
O Eterno,
de William Blake (1757-1827).
Não nego, de modo algum, que de modo geral a pessoas são mesmo focais e as suas crises internas são desencadeadas por seus tropeços no mundo prático. Por questões meramente instintivas, em alguns casos, e culturais, na maioria dos casos, buscamos a felicidade nas mesmas coisas.
Não há como ignorar que mesmo quando conquistamos os emblemas do status quo um vazio ainda se faz perceber e bem no fundo nos perguntamos: “Tenho tudo… por que me sinto assim?” Com o tempo vamos nos acostumando a chamar isso de mau humor e vamos empurrando para debaixo do tapete dos dias, dos meses e anos até que um grande tropeço, como um divórcio ou demissão, nos faz olhar o contexto da própria jornada. Afinal não éramos tão felizes assim, não é mesmo? A felicidade é impossível quando não conhecemos as reais motivações dos nossos sentimentos e ações. Enquanto isso não ocorre vivemos uma vida mecanizada, reagindo sempre do mesmo modo que fomos educados, ou segundo as imagens que criamos de nós mesmos estimulados pelas respostas dos outros aos nossos atos. Vivemos uma vida como a dos elefantes de circo, animais enormes atados a pequenas cordas, porque um dia, quando filhotes, eles tentaram se soltar, e como não conseguiram, aceitaram que jamais poderiam!
A crise é um momento único para que possamos olhar de dentro da pequenez dos nossos valores cotidianos a real dimensão do que somos, e dos vários planos de consciência que nos envolvem todos os dias. O tarot é um sistema perfeito para olhar além dessa cortina materialista e limitada em que nos acostumamos a toldar nossas visões!
O Julgamento (Além da Ilusão),
no Osho Zen tarot,
a libertação da ilusão material. 
Lembro de uma moça que há muitos anos atrás veio me procurar para uma leitura de tarot. Ela estava grávida do primeiro filho e tinha algo por volta dos vinte e poucos anos. Comecei a leitura e o tarot revelou uma intensa crise familiar entre ela e o pai. A cliente então complementou dizendo que de fato o pai não aceitava o seu casamento com um rapaz mais jovem e imaturo em muitos aspectos, na opinião dele, é claro. Ela então decidiu seguir o seu caminho e foi trabalhar no mesmo ramo que o pai, ela trabalhava com ele até então, e passou a ser sua concorrente a partir daquele momento. Assim sendo casou-se saiu de casa e foi viver sua vida. Antes disso ela e o pai se amavam muito!
Ela disse que essa crise que eu tinha visto era real, mas que o que a trazia a uma consulta ao tarot era algo bem mais prático – os valores concretos e imediatos mais uma vez movendo a roda dos acontecimentos. Ela estava preocupada com o fato de que uma carga de mercadorias havia sido extraviada num acidente com um caminhão que vinha de uma cidade distante. Apesar de ter seguro, ela estava muito preocupada com o fato de não poder atender o prazo dos clientes e com a possibilidade perdê-los para os concorrentes.
Embaralhei as cartas mais uma vez e fui para a questão que havia sido colocada. Assim que deitei as cartas selecionadas na mesa, destacou-se o arcano de A Lua, e esse arcano parou o meu olhar. Não lembro até hoje dos outros arquétipos, mas apenas de olhar para a velha Lua, arauto dos medos, dos movimentos inconscientes e temas emocionais não resolvidos, veio a mim a pergunta: “Desde que saiu da casa do seu pai e decidiu montar o próprio negócio, qual foi o maior medo que a acompanhou desde então?” Ao que ela respondeu: “Sempre tive medo de que algo desse errado e eu tivesse de pedir a ajuda dele para não quebrar!”
Eis aqui o clássico caso da filhinha do papai que queria crescer e provar que podia fazê-lo sem o auxílio de ninguém. “E qual solução veio à sua cabeça nessa crise atual?…” Ela sorriu e imediatamente disse: “Procurar o meu pai.”
Tivemos uma longa conversa em que eu citei duas teorias sobre esse acontecimento. A primeira diz respeito a uma programação inconsciente que ela teria criado para si, para que um dia pudesse voltar e de algum modo resgatar a ligação com o pai, mesmo que com o orgulho ferido, pela imagem da filha necessitada a quem um pai super-protetor como ele nunca viraria as costas. A outra teoria que apresentei, e na qual acredito mais, é que somos todos parte de uma miríade de inteligências que se misturam entre si na imensidão do universo. Essas inteligências operam em conjunto para que todos nós encontremos o verdadeiro equilíbrio, aquele estado que nós humanos conhecemos como felicidade.
A Lua, arcano XVIII, no Osho Zen tarot.
As sombras da alma...
Essas inteligências operavam agora na sua vida para que ela resgatasse o amor paterno, indo além do orgulho de ambos, por ela, pela criança que viria, pelo pai que seria avô. Uma transição irreversível ocorrera e a menina era agora definitivamente uma mulher! A inteireza do seu ser requeria o resgate desse relacionamento.
Essa foi uma das consultas mais profundas e reveladoras que eu concedi em muito tempo. Lembro da moça saindo da minha sala e me dizendo: “É, tudo acontece por um motivo mesmo!” O olhar que estava fixado na praticidade elevou-se ao apelo da sua alma. Duvido muito que dali em diante ela tenha se esquecido de que somos todos parte de uma consciência repleta de muitas inteligências que se movem em direção ao equilíbrio maior.

Os versos de William Blake com os quais iniciei esse texto, espelham bem as possibilidades que cada momento traz em si, e mostram a dimensão que os símbolos do tarot podem dar a esses momentos. Disse a minha amiga que a limitação que a incomoda nos outros pode estar refletindo a limitação a que ela mesma confinou a sua visão do tarot. Os julgamentos que fazemos todos os dias de modo quase automático podem se infiltrar na visão dos arcanos e passamos a julgar o que é superior e o que é inferior. Por via das dúvidas a aconselhei a ver tudo como sendo superior, um enigma cósmico aguardando ser desvendado. Espero que a tenha ajudado!