terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Mago - Arcano I

Título Esotérico – O Mago do Poder (O acesso direto ao poder da divindade interior que se amplia a níveis superiores cada vez mais e mais).

Analogia Astrológica – Mercúrio (Regente de Gêmeos e Virgem) rege todas as formas de comunicação e o uso da inteligência. É a capacidade do cérebro de acumular conhecimento, catalogar, discriminar e dispor das informações quando necessário, em milésimos de segundo. Simboliza a versatilidade, a sagacidade, a capacidade de aprender, de instruir-se e instruir a outros de modo rápido e eficiente! Por ser o planeta mais próximo do Sol e o mais rápido do sistema solar, foi associado ao antigo deus grego dos comerciantes e viajantes, Hermes, que era considerado o conhecedor dos mistérios superiores e seu maior tradutor. Pois era o único capaz de entrar e sair do Olimpo e dos reinos sombrios de Hades, e que conseguira enganar o seu irmão Apolo (o Sol)! A ambivalência de suas funções o tornou uma espécie de ponte entre o mundo físico e o espiritual e entre o mundo dos deuses e dos homens, o sagrado e o profano. A Sua regência dos mistérios ocultos deu origem à palavra “hermetismo” para definir os conhecimentos tidos como profundos e esotéricos! Também diz-se que uma coisa está hermeticamente fechada quando não pode ser abordada de modo direto, ou superficial. 
Símbolo de Mercúrio.
Curiosamente há uma incrível semelhança entre a imagem do arcano de O Mago como ela aparece no tarot de Marselha, e baralhos afins, e o símbolo astrológico do planeta mercúrio. O semicírculo superior assemelha-se ao chapéu, o círculo intermediário ao movimento dos braços de O Mago, e a cruz inferior com a mesa à sua frente!


Analogia Numerológica – O 1, o número que origina todos os outros, e que simbolicamente representa a origem de tudo que há! Seu símbolo esotérico é o círculo com o ponto no meio, a consciência centrada em si, ao mesmo tempo em que criadora de tudo o que existe ao redor de si. O criador. O multiplicador. Aquele que faz as coisas acontecerem. O 1 traz em si a possibilidade de manifestar qualquer coisa, bem como de atrair e realizar tudo! Um axioma da geometria diz que “por um ponto passam infinitas retas” e assim o 1 é a origem de tudo o que existe e também é a onisciência, a onipresença e a onipotência! Na Cabala é Kether, a Coroa. A presença de Deus-Pai-Mãe, criador de todas as coisas. A luz do infinito que não pode ser apreendida e ou compreendida por ninguém que permaneça em Malkut, o plano físico dos instintos.

O Arcano – Um jovem rapaz de cabelos louros e encaracolados está em frente a uma mesa. Ele olha para o seu ombro direito, e na sua mão esquerda ele dispõe de uma espécie de pequena vara. Na sua mão direita ele segura uma moeda dourada! Ele usa um curioso chapéu de abas largas que desenham uma leminiscata, o símbolo algébrico do infinito. A parte superior do chapéu é verde. Sua roupa é multicolorida, com todas as cores primárias que são retratadas no tarot de Marselha, mas em perfeito equilíbrio e proporcionalidade! Na sua mesa há vários objetos como facas, dados, moedas, copos e uma chaleira. Estranhamente esta mesa está posicionada de tal modo que só três de suas pernas aparecem! Embaixo, entre as suas pernas, um broto viçoso de grama desponta do chão árido.

Significado – A figura do jovem homem de pé alude à disposição célere do espírito em perfeita sintonia com sua verdade interior ou com uma grande Verdade Superior. Nos baralhos franceses este arcano se chama Le Bateleur, ou prestidigitador, que designa um malabarista, acrobata ou ilusionista. Na maioria das vezes, porém, ele é chamado de The Magician. Palavra em inglês que tanto define Mago, no sentido de um grande iniciado nos mistérios, quanto mágico, um simples ilusionista. Acho que assim é mais adequado! Afinal, muitos dos que tentarem desenvolver os atributos de O Mago talvez cheguem mesmo a ser Magos. Outros, entretanto, nunca passarão de mágicos! Sua posição ereta transpassa disposição, estado de alerta, consciência. O seu gesto com os braços e mãos alude ao gesto iniciático de conexão com o mundo superior ou cósmico que reverbera em ações e consequências no plano material, simbolizados pela vareta, que lembra a varinha mágica dos magos e bruxos, e a moeda dourada que alude às riquezas da terra. Esses dois elementos, assim como os demais sobre a mesa, evocam os quatro elementos da magia. A varinha é o fogo. A moeda e os dados são a terra. A chaleira e os copos são a água e as facas o elemento ar. Arthur Edward Waite explicitou isso no seu baralho, o Rider-Waite, colocando claramente os quatro objetos da magia sobre a mesa de seu Magician! O chapéu com a forma do símbolo do infinito marca sua conexão com os planos superiores da consciência ou do espírito, ou ambos! O chapéu é verde, a cor do acesso à verdade, da fertilidade, do progresso e da regeneração. A mesa é muitas vezes referida como o plano do mundo físico, e as três pernas seriam uma referência ao tempo e seu movimento trifásico, começo, meio e fim ou passado, presente e futuro que sustentam e ordenam a realidade como a concebemos! A mensagem é clara aqui, O Mago intervém nesta realidade usando seus talentos e habilidades internas. E é isso que está representado na folha verde brotando de um solo desértico! O seu talento poderá ser elevado ao nível de genialidade, que é a máxima expressão de O Mago. Como disse Arthur Schopenhauer: “Talento é quando um atirador atinge o alvo que os outros não conseguem. Gênio é quando um atirador atinge o alvo que os outros não veem”. Este arcano detém o poder de desenvolver quaisquer habilidades dos outros vinte e um arcanos maiores por ser o uno, a grande força que origina e rege todos os outros! Porém, quando todo este talento, ou gênio, é mal dirigido nasce o embusteiro, o manipulador, mentiroso, sedutor, o ladrão. A grande mente do crime tal como nas histórias em quadrinhos.

O Mago no Osho Zen tarot.
Divinação – O Gênio brilhante. O fazedor de milagres. O prodígio! Inteligência, comunicação. O aprendizado de idiomas. Grande poder de oratória. Domínio da língua mãe, ou de muitas línguas estrangeiras (um poliglota). Versatilidade, o jogo de cintura para negociações. Expressão fluente de um talento. Realizar uma ação com grande habilidade. Execução exímia! A capacidade de fazer muitas coisas simultaneamente, ter muitos interesses ou habilidades diversificadas. Uma personalidade cujos dons e talentos atingiram notoriedade em seu meio. A capacidade de tornar-se o centro de uma atividade, de um grupo de pessoas ou da atenção de alguém! Rege as profissões que criam, relacionam, comunicam ou mesclam as coisas. Tais como jornalismo, comunicação em todas as suas formas (rádio, televisão, internet etc), publicidade, comércio, farmácia, química, pesquisa científica em todas as suas formas. Alquimia, magia. Literatura, dança, atletismo. Os conferencistas, palestrantes e ministros de igrejas com grande poder de influência por suas ideias e ou ideais expressos em palavras, também estão sob sua égide, entre outros! Espiritualmente ele simboliza a presença da divindade dentro de cada um de nós que nos permite a ascensão em todos os sentidos, ou a realizar feitos que muitas vezes nos parecem impossíveis! Negativamente é o enganador, o mentiroso, o ladrão. Aquele que se aproveita da ingenuidade ou a falta de conhecimento do outro para tirar-lhe proveito! E com relação a isso o lado sombrio de O Mago, assim como seu lado luminoso, pode se expressar em qualquer atividade humana.

Personagem do Cinema – Jesus Cristo interpretado por Robert Powell no filme Jesus de Nazaré do diretor italiano Franco Zeffirelli, de 1977. Não poderia haver personagem melhor para representar os atributos arquetípicos de O Mago no cinema do que o próprio Jesus! Se deixarmos a paixão religiosa de lado veremos certas “coincidências significativas” na história de Jesus com relação ao mundo mágico! Ele é visitado e reverenciado por três reis magos que vieram da Pérsia. Terra de Zaratustra, ou Zoroastro em grego, que denominava seus mais altos sacerdotes de magi, ou Magos. Os Magos da religião conhecida como Masdeísmo eram capazes de dominar os elementos e criar fenômenos, mas sempre de modo ético em respeito às leis da natureza, e para elevar a consciência do homem à luz da perfeição divina. Sim, eles eram monoteístas. Os reis magos eram astrólogos e vieram seguindo uma profecia de Zoroastro que viram representada num aspecto astrológico nos céus. Depois salvam a vida de Jesus quando um dos reis magos sonha com a traição que Herodes pretendia cometer matando o menino Jesus! Daí em diante toda vida de Jesus é um verdadeiro testemunho do seu poder de oratória e a capacidade de suas palavras de inspirar espiritualmente, por meio de suas parábolas, desde simples pescadores à homens bem nascidos. Dá seu primeiro sermão aos onze anos de idade! Sem falar nos seus muitos milagres como transformar água em vinho, multiplicar os pães e os peixes, andar sobre as águas e ressuscitar Lázaro!

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Sacerdotisa - Arcano II


Título Esotérico – A Princesa da Estrela de Prata (A conhecedora dos mistérios do destino).

Analogia Astrológica – A Lua (Regente de Câncer), o astro que representa os ciclos da terra e da vida humana! Por sua transição do claro para o escuro, aparece/desaparece na imensidão do céu, sempre esteve associada ao mistério, ao oculto e aos ciclos misteriosos como nascer, viver e morrer análogos às suas três principais fases: crescente, cheia e minguante. Essas três lunações compunham a coroa de Ísis, deusa lunar da magia e da fertilidade, no antigo Egito. Por sua influência nas marés e nos ciclo menstrual feminino foi um astro sempre ligado aos ritos sagrados da terra, à feitiçaria, às bruxas e a tudo o que é mágico ou inexplicável. O psiquismo profundo é um dos seus atributos mais marcantes. E de fato, os cancerianos tendem a poderosos pressentimentos, e alguns chegam a ser grandes médiuns sensitivos, clarividentes e ou curadores.

Analogia Numerológica – O 2 como o número que se opõe ao mesmo tempo em que complementa a realidade apresentada pelo 1. Se o 1 é a luz da consciência e da razão, o 2 é a sombra do inconsciente que se comunica através de símbolos, intuições, ou profundas visões interiores. Se o 1 é o que se mostra e está explícito, o 2 é o que não se vê na aparência e tem de ser captado por outras vias. O 1 é objetivo e linear, o 2 é subjetivo e não linear. O 1 é ação, o 2 contemplação. O 1 afirma, impõe. O 2 questiona, duvida.  E assim por diante! Enquanto o 1 é a percepção de si mesmo e seus potenciais e talentos no mundo, o 2 é a percepção da existência do outro e suas necessidades.

O Arcano – Uma mulher sentada com um livro sobre as pernas. Ela usa uma coroa com uma tiara tripla, e um véu branco cai sobre seus ombros. Ela usa também um longo manto azul e por baixo está vestindo uma túnica vermelha. Em seu peito carrega uma cruz que parece cair sobre o livro. Atrás de si apenas insinua-se a presença de dois pilares que parecem sustentar uma espécie de véu ou cortina que oculta algo. A sua imagem ultrapassa a margem superior do quadro, a ponta da tiara se localiza logo ao lado do seu número, o II. Isso só se repete no arcano XXI, com a aureola do anjo e da águia ultrapassando o quadro.

Significado – A Sacerdotisa incorpora os aspectos espirituais e místicos do feminino. Ela incorpora os mistérios que cercaram a mulher em sua estranha conexão com os ciclos lunares e a tendência a pressentimentos, e a uma profunda conexão com os mundos interiores e imaginais! Ao contrário de A Imperatriz que incorpora os aspectos físicos do feminino, como maternidade, sedução, beleza, fertilidade etc. O livro que ela tem sobre as pernas simboliza a sabedoria registrada através dos tempos. Os livros foram durante séculos o único meio pelo qual o homem antigo registrou os conhecimentos adquiridos e os legou à posteridade! Por serem de acesso a poucos por muito tempo também, eles são igualmente o símbolo do conhecimento oculto e ou secreto. Em termos espirituais relaciona-se com os Registros Akáshicos, que são os registros armazenados misticamente nos planos superiores (no Corpo Akáshico) de tudo o que ocorre, ocorreu e ocorrerá! A coroa com a tiara tríplice pode ser uma alusão aos três reinos do humano: fisco, mental e anímico. Na simbologia católica é a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. O véu branco simboliza a pureza espiritual imaculada, a parte mais elevada do ser que não pode ser tocada por nada nesse mundo a não ser por sua própria vontade de evoluir! O fato de a ponta da coroa ultrapassar a margem superior do quadro no qual se encontra, alude ao acesso a uma consciência superior que é novamente resgatada ao fim da jornada dos arcanos maiores em O Mundo, onde o mesmo acontece com o desenho do arcano. O manto azul que a cobre denota a profundidade de sua natureza e a sua calma contemplativa. Entre o manto e a túnica vermelha há uma abertura que se parece com a entrada de uma gruta, a alguns até mencionam a entrada da vagina arquetípica da Grande Deusa-Mãe, cujos ritos eram realizados em cavernas pelos povos ancestrais! A cruz no centro do peito nos faz lembrar de nossa natureza dual, física e divina ao mesmo tempo. Ou como disse lindamente Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”. Os dois pilares atrás dela representam os pilares dos templos sagrados que refletiam as forças duais cujo atrito manifestava a vida e tudo o que há! Vida/Morte, Noite/Dia, Macho/Fêmea, Bem/Mal e assim por diante. Esse mistério que envolve essas manifestações e dos quais A Sacerdotisa é, simultaneamente, a conhecedora e a veladora é simbolizado pelo véu atrás de sua figura. Análogos aos Véus de Ísis que ocultam dos não iniciados as profundezas da sabedoria. Conhecimento este que não vem do só manancial acadêmico, mas também da contemplação interior dos mistérios.

A Sacerdotisa no Osho Zen tarot.
Divinação – A bruxa, a médium, canalizadora, a sensitiva, intuitiva, clarividente, clariaudiente. O conhecedor dos mistérios ocultos. A atitude contemplativa diante da vida, serenidade impassível. O sentimento de reconhecimento e conexão com o próprio destino ou propósito de vida. Fidelidade a si mesmo e seus princípios. A espera paciente pelo que é certo que chegará. Humildade, paciência, introspecção, profundidade de perspectiva. Espiritualidade, Sutileza, refinamento cultural ou espiritual, ou ambos! Distanciamento emocional, observação, preservação e autopreservação. Sensibilidade tanto psíquica quanto afetiva. O uso da intuição ou da guiança espiritual para obter êxito nos empreendimentos. Conexão interior com aspectos maiores da existência, tanto em nível psicológico quanto espiritual. A memória, que pode conter material de muitas vidas. Rege todas as atividades humanas que falam de observação, pesquisa, memória e sondagem profunda da vida e do homem. Tais como: história, antropologia, paleontologia, sociologia, psicologia, ocultismo, magia, oráculos e artes de cura psíquica. Com relação a isso deve-se salientar que enquanto O Hierofante rege as “técnicas” de cura que podem ser repassadas (em iniciações) aos interessados, A Sacerdotisa nos fala de habilidades únicas e intransferíveis de cura. Como nos casos dos afamados curadores Emma Kunz, Dean Kraft, Olga Worrall e João de Deus. Os talentos e dons naturais que fazem com que o indivíduo pareça ter nascido pronto, que parecem “saltar para o mundo” com pouca ou nenhuma estimulação! Simplesmente se manifestam num dado momento. Poupar, guardar (também no sentido de acumular), aguardar. A que vela de modo paciente pelo bem estar dos seus, fiel na presença. Em termos psicológicos e afetivos é a resiliência. Por esse motivo pode desempenhar na família o papel de “o amortecedor de impactos” durante as crises. O processo de somatização emocional, que leva à desarmonias físicas e doenças de todo o tipo, também estão sob a égide de seus aspectos negativos. Bem como a indiferença afetiva, a inacessibilidade social e interpessoal, a timidez exacerbada, e a frigidez sexual. E ainda a passividade, a acomodação, a covardia, e a resignação típica dos palermas e fracos.


Personagem do Cinema – As três personagens femininas centrais do filme As Brumas de Avalon (The Mists of Avalon, título original) de 2001 dirigido pelo diretor alemão Uli Edel especialmente para a televisão, Morgana (Julianna Marguiles), Igraine (Caroline Goodall) e Viviane (Anjelica Huston) representam bem as faces de A Sacerdotisa e também sua sombra. A história narra a luta dos seguidores da Deusa-Mãe para unir cristãos e pagãos através de um líder que representasse a ambos e assim confrontasse os saxões que devastavam toda a velha Bretanha! A trama é interessante, muito embora tanto o filme quanto a obra em que se baseia, escrita por Marion Zimmer Bradley, seja uma versão sob o olhar feminino da lenda do Rei Arthur que acaba distorcendo quase que totalmente esta linda história. A narrativa transforma Morgana numa boboca, e o poderoso Merlin (Interpretado por Michael P. Byrne), um sacerdote grão-druida e principal articulador de toda a lenda de Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, é reduzido a um mero coadjuvante! Sem falar que Viviane, a Senhora do Lago e grã-sacerdotisa de Avalon, o que menos faz é ficar em Avalon! Porém, a atmosfera e o enlevo místico e mágico que impregna a trama. O sentimento de propósito que guia os personagens, e o conhecimento do oculto e dos meandros do destino que se insinuam na sobrevivência do culto à Grande Deusa na figura da Virgem Maria no final, são temas bem típicos de A Sacerdotisa.

A Imperatriz - Arcano III


Título Esotérico - A Filha dos Poderosos (A herdeira dos poderes da terra e da vida).

Analogia Astrológica Vênus (regente de Touro e Libra), planeta que rege os relacionamentos humanos, bem como o amor, a beleza, as artes e a criatividade. Seu movimento de rotação é da esquerda para direita (Sentido horário) enquanto os outros corpos celestes se movimentam da direita para a esquerda (Sentido anti-horário) o que faz parecer com que ele vai de encontro aos seus irmãos celestes! É a estrela D’alva da manhã, e a estrela Vésper do entardecer. Na Babilônia era uma divindade guerreira e brutal ao amanhecer, pois era influenciada pelo sol. Ao anoitecer tornava-se uma divindade da fertilidade, do amor e dos prazeres da vida, pois que passava a receber a influência da lua! Ela aparece alternadamente no oriente e no ocidente dos dois modos, o que a fez um símbolo de morte e renascimento.

Analogia Numerológica – O 3 é o número das divindades tríplices da antiguidade, como as três deusas do destino que na mitologia nórdica eram as nórnias, ou nornes, Urd, Verdandi e Skuld. Na Grécia eram as moiras Cloto, Láquesis e Átropos, e em Roma as três Parcas. Geralmente elas se referiam às três fases da lua, crescente, cheia e minguante que por sua vez simbolizam a própria roda do tempo que rege a vida, e os destinos da humanidade. Por ser o número que une os opostos (1) masculino e (2) feminino, o três é tido como a cifra da multiplicação, da criatividade e da inovação. Já que em síntese tudo o que é novo surge da união, ou da tensão, entre os opostos!

O Arcano – Uma mulher coroada está sentada num trono cujo espaldar lembra duas asas semiabertas! Ela segura em sua mão direita um escudo que possui o emblema de uma águia que olha para o lado esquerdo (na perspectiva do próprio pássaro). Na mão esquerda ela segura o cetro encimado pelo globo com a cruz. Ela olha na mesma direção que a ave em seu escudo. Em seu ar imponente ela mantém as pernas abertas. Usa um vestido azul que lhe cai até mais ou menos nos joelhos, e por baixo, ela usa uma toga vermelha.

Significado – A mulher coroada representa a expressão máxima dos domínios femininos que se oporá, de modo complementar, a expressão máxima dos domínios masculinos de O Imperador. Ela se refere às emoções, à liberdade criativa sem compromisso com a utilização prática, mas apenas com a beleza e o deslumbramento. A ligação com os aspectos sensoriais da vida e do corpo. A natureza, as artes, a beleza, a inspiração, a comunicação, e a própria moda como uma comunicação não verbal de status social e estado de espírito. A posição de pernas abertas remonta a uma sensualidade clara, ao mesmo tempo em que nos lembra de que na antiguidade as mulheres davam à luz numa posição em que se colocavam sentadas, e que se erguiam em cordas ou vigas para dar à luz. Por isso ela encarna a maternidade e a criatividade em todas as suas expressões! A águia é uma ave de rapina e apesar de olhar para a esquerda, o lado das emoções, indica que essa Imperatriz sabe se impor quando preciso. Defende os que ama com intensidade, mas apega-se a eles tanto quanto ao seu escudo, podendo ser possessiva e muito ciumenta. Não é incomum A Imperatriz ser taxada de controladora. Ela indica o poder feminino ou mulheres que sobem ao poder imprimindo um ritmo próprio e diferente de governar. O cetro na mão esquerda assinala que seu poder preserva a família e a união com o clã ou a comunidade em que vive. As “asas” que seu trono ostenta lembram que ela é por natureza uma experimentalista, disposta a expandir horizontes e, sobretudo, relações e oportunidades de criação e desenvolvimento! Por estar sentada sua ação é relaxada, o vestido azul assinala suas expressões afetivas, mas a toga vermelha indica as paixões intensas às quais ela é capaz de viver e provocar.

A Imperatriz no Osho Zen tarot.
Divinação – A mãe e a maternidade quer seja ela biológica ou não! A musa inspiradora, as artes e o artista. A criatividade, a sensualidade, a beleza física e os cuidados com a aparência, o corpo e a saúde. Rege também as relações humanas mais aprazíveis e envolventes. Nas artes inclui sob sua influência desde as expressões mais simples como o artesanato, que se utiliza de materiais mais comuns e naturais, passando pela moda como uma forma de arte popular, indo até às artes plásticas mais requintadas como pintura e escultura. O contato com a natureza em suas expressões de beleza. A nutrição tanto física quanto afetiva e cultural. A abundância, o progresso e o franco desenvolvimento. A alegria e o prazer de viver a vida, festas e celebrações. Ama também a sua casa e as coisas que possui. Cuidar ou ser cuidado de modo amoroso, “materno”. O cuidado e a lida com a terra e seus ciclos, da jardinagem à agricultura. Aliás, o ritmo de A Imperatriz é o mesmo da terra. Aberta ao novo, mas sempre de modo prudente e autopreservado. Afetiva com todos, mas sempre segura do que sente por cada um e cada coisa individualmente! Negativamente ela seria o oposto disto tudo! A sensualidade vulgar, tipo “periguete”, perdulária, materialista, superficial, a escrava da moda e das tendências, a arrogante social. Do tipo “sabe quem sou eu?”. As mães possessivas que castram emocionalmente os filhos para os manterem sob seus cuidados, são aspectos sombrios de A Imperatriz! Também pode assinalar, em casos extremos de perversão das suas qualidades, aqueles indivíduos sem refinamento que não dão à mínima para a própria aparência, higiene e saúde.


Personagem do Cinema – Diana Sullivam, interpretada por Jill Clayburgh no filme Gente Diferente (Shy People, original em inglês) de 1987 do diretor russo Andrei Konchalovsky. Diana é uma jornalista da revista Cosmopolitan que lida de um modo moderno (na verdade quase indiferente) com o estilo de vida rebelde, e viciado, de sua filha Grace. Ela decide fazer uma reportagem sobre um ramo isolado de sua família que há décadas vive nos pântanos da Louisiana. Lá ela conhece sua prima Ruth (interpretada por Barbara Hershey), uma mulher possessiva com sua família que ignora um dos filhos que foi viver na cidade, e cultua a figura do marido morto. O encontro das duas é um verdadeiro choque cultural que transforma tanto a vida quanto a forma de maternidade dessas mulheres. A filha de Diana, Grace, distribui cocaína para os primos num dia em que a sua mãe e Ruth se ausentam. Faz sexo com um dos seus primos que vivia preso, é quase estuprada por outro. Refugia-se no pântano onde é resgatada pela mãe. Depois disso Diana e Grace voltam mais unidas para a cidade, mas com Diana mais presente e entendendo que cuidar e amar envolve também presença e rigor. Deixam Ruth que finalmente compreende que amar também é respeitar diferenças e manter certa distância da individualidade dos filhos. Um filme primoroso onde os aspectos sombrios e luminosos de A Imperatriz são reconhecíveis num e noutro lado das personagens centrais no desenrolar da trama.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Equívocos Simbólicos?


“O próprio do simbolismo é sugerir indefinidamente; cada um verá o que o seu olhar permita perceber”
Oswald Wirth

Esta semana deparei-me com um interessante texto de Giancarlo Kind Schmid no Clube do Tarot Intitulado Equívocos Simbólicos que se por um lado me fascinou devido a sua precisão histórica de pesquisa, por outro me fez perguntar se nós que estudamos os arcanos não temos que decidir em dado momento se somos afinal racionalistas ou simbolistas! 
Imagem de um feirante de alho.
O autor apresenta uma série de imagens de arcanos onde discute suas representações sob uma ótica mais precisa. No arcano de O Mago, por exemplo, ele afirma que as mãos do mago não são exatamente um gesto mágico, mas um movimento que os antigos ilusionistas medievais faziam para distrair o público em seus truques, ou que sua mesa não possuía de fato três pernas, mas que se trata de uma bancada longa onde outros feirantes mostravam seus produtos! Ok, bem interessante! Gostaria, porém, de apresentar outra perspectiva a este fato. Um símbolo não possui valor pelo que ele de fato é, mas sim pelo que aparenta ser, ou seja, pelo que ele nos sugere! A simbologia em si sugere indefinidamente, e estas sugestões é que tornam as cartas do tarot passíveis de tantos desdobramentos em seus significados. Os gestos do mago feirante e prestidigitador nos remete ao gesto mágico invocativo dos verdadeiros magos dos mistérios ocultos! E isso influenciou os maiores cânones da tarologia como A. E. Waite, Aleister Crowley, Paul Foster Case etc na interpretação deste arcano... Waite chegou a desenhar os quatro objetos mágicos dos elementos sobre a mesa do Mago! Eles se equivocaram? Não! Apenas se utilizaram da liberdade imaginativa e interpretativa que o símbolo oferece, e é assim que tem de ser! Um mesmo símbolo pode ser visto por muitos ângulos, o que só amplia seu significado tornando-o muitas vezes mais profundo e preciso.
O Mago, no Rider-Waite tarot.
Também não imagino que alguém possa ter pensado que exista de fato uma mesa de três pernas que ampare uma bancada de quadro lados. O que me parece é que se a versão do baralho de Marselha que mais se popularizou mostra apenas três pernas numa mesa do arcano, que sugere manifestação e talento, poderia haver uma alusão aos quatro elementos e os três tempos. O que de modo algum deforma o simbolismo e o significado do arcano, não concordam? Todas as possíveis sugestões que uma imagem pode propor só aumentam a perspectiva do arcano, e isso é bom! Caso contrário, se o vermos apenas como uma imagem de um ilusionista medieval, isso limitará sua expressão arquetípica que nunca englobará o significado de um verdadeiro iniciado nos mistérios ocultos. E que benefício isso traria para o estudo e a leitura do tarot? 
O Louco no tarot de Charles VI.
Na carta de O Louco ele revela que se trata de um cidadão vestido para o Folli, o carnaval medieval italiano que levava em sua sacola moedas e guizos para provocar os transeuntes e atiçar os cães. Isso, no entanto não me parece invalidar de modo algum que a imagem deste cidadão carnavalesco nos remete ao bobo da corte, capaz de confrontar com ironia a figura do rei, sendo assim um símbolo da liberdade e da ousadia! Nem o fato de os cães serem um dos primeiros animais domesticados pelo homem, e por isso os representantes da mente condicionada. Qualquer adestrador de cães sabe que eles não gostam de desordem na matilha ou na sua rotina, por isso ladram para tudo. Imagino que se hoje essa brincadeira ainda existisse os cães ladrariam para manter sua ordem, mesmo que presos a uma coleira, diante desses arruaceiros livres em seus instintos! Porque não relacionar esse encontro? Isso não parece uma casualidade cheia de significados?
O fogo, a representação mais comum
da presença do sagrado entre os povos antigos.
Um simbolista é alguém que olha para uma imagem e vê seu valor intrínseco. Um racionalista verá na imagem apenas o que ela apresenta. Em suas memórias Jung conta que uma de suas brincadeiras favoritas de infância era a de acender uma fogueira numa velha construção abandonada no interior da Suiça, onde vivia. A brincadeira consistia em nunca deixar que a chama se apagasse. Ele relata que isso o absorvia de modo tão fascinante que o tempo parecia não existir. Mais tarde quando descobriu em suas pesquisas que essa era a função de antigos xamãs e sacerdotisas em relação ao fogo sagrado, ele logo relacionou à memória de sua brincadeira infantil. Para quem vê as correlações simbólicas possíveis isso é fascinante! Essa é a visão de um simbolista. Um racionalista com certeza diria: "Ora, era só um menino solitário brincando com fogo!", e ele estaria certo, mas ainda assim isso não invalidaria a perspectiva simbólica interior do simbolista!
Agradeço ao Giancarlo pela rica pesquisa que nos apresentou, mas sugiro aos que estão lendo este artigo, e que se interessam no estudo da tarologia, que leiam, reflitam e relacionem os simbolismo das cartas do tarot no mundo simbólico o máximo possível! Sempre cuidando, é claro, para não distorcer os significados simbólicos “criando” visões particulares dos arcanos. Quando feito com cuidado, consciência e foco essa correspondência simbólica passa a ser uma experiência culturalmente enriquecedora, intelectualmente instigante e espiritualmente inspiradora, e mágica mesmo!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Imperador - Arcano IV


Título esotérico – Sol da Manhã; Senhor Entre os Poderosos (A luz de uma personalidade centrada nos mais altos níveis da sua consciência, que assume o comando da sua existência ou comunidade).

Analogia Astrológica – Áries (O 1º signo). A semente da primavera que abre caminho no solo em direção ao sol, para fazer vingar a sua vida! O impulso direto para avançar e conquistar com toda a força e determinação. A compulsão por agir, fazer algo. O líder, o grande iniciador. A força que nos faz impor nossa personalidade. A autoafirmação do “eu” e sua vontade! O líder intuitivo sempre aberto a novas possibilidades. O porta-voz das necessidades de toda a humanidade! Áries é o signo no qual as qualidades do sol se exaltam!

Analogia Numerológica – O 4 simboliza a ordem das coisas, é o número que “administra a natureza e suas forças”. Tudo o que é manifesto é passível de ser dividido em quatro fases, partes, ciclos etc. O tarólogo e simbolista alemão Hajo Banzhaf chama a atenção para o fato de que na maioria das religiões a palavra Deus tem quatro letras. Vem a ser, portanto o número da ordem, do poder, da organização e da concretização. Sua matéria é o mundo lógico, prático e científico!

O Arcano – Um homem de barbas brancas, mas de postura muito viril está ao que parece recostado a um trono de perfil, numa posição que imprime um ideia de repouso e prontidão simultaneamente! Ele usa uma coroa em forma de elmo dourada. Na mão direita ele segura o cetro que tem uma esfera encimada por uma cruz. A sua mão esquerda repousa sobre o seu cinto dourado. Suas pernas estão cruzadas, tendo a direita sobre a esquerda. No chão ao seu lado repousa um escudo onde a figura de uma águia de asas abertas aparece! Ao contrário da águia de A Imperatriz, esta olha para a sua direita. No peito ele usa um colar ou corrente amarela que sustenta o que parece ser um disco metálico!

Significado – A imagem do homem maduro e experiente aparece a partir de agora em três figuras masculinas muito importantes no tarot. Além do próprio Imperador, também o Hierofante e o Eremita se mostram assim. O lado esquerdo à mostra revela sua abertura emocional e a franqueza com suas emoções, bem como sua generosidade e magnificência com aqueles que o procuram ou dependem dele. Ele se recosta em seu trono, símbolo do poder, porque sabe de suas conquistas e tem sua posição assegurada pelo que construiu (estabilidade). Porém, isso não significa que ele diminua sua atenção e vigilância sobre o que conquistou. Ele é protetor e territorialista! Um imperador está acima de reis na hierarquia, o que simboliza uma autoridade inquestionável e firme. O elmo que ele utiliza tanto preserva sua nobreza quanto mostra sua disposição de ir à luta para defender seus domínios. Os elmos são capacetes ou adornos de cabeça que servem para proteger os soldados nas batalhas. O cetro na sua mão direita simboliza o poder que ele detém. A bola com a cruz é o arauto do seu poder sobre a Terra. Para os cristãos ela simbolizava o domínio de Cristo sobre o mundo! A mão esquerda, das emoções e dos desejos, que segura o cinto mostra a sua capacidade de divisar os aspectos inferiores e superiores da existência. O cinto é um antigo símbolo mágico que tanto representa a capacidade de unir o mundo terreno e o espiritual, quanto de distinguir entre eles. Como o faz os parâmetros da ciência moderna. As suas pernas cruzadas reafirmam sua liderança nos quatro planos do mundo manifesto. O escudo ao seu lado simboliza os seus domínios, e a águia é uma ave de rapina muito associada à nobreza por ser a que voa mais alto e enxerga mais longe. O que representa tanto sua visão ampla de vida e de mundo, quanto sua disposição para alargar seus territórios! A águia tem sido o animal totem dos grandes impérios, de Roma à Babilônia, da Prússia aos Estados Unidos. No escudo ela olha para o seu lado direito, reafirmando sua natureza fálica, dominadora e conquistadora. Na antiguidade os discos metálicos que ornavam colares e cordões reais eram o símbolo do sol, um astro com o qual a realeza muito se identificava por ser o centro da luz, e da força e o astro de maior brilho!

O Imperador no Osho Zen tarot.
Divinação – Poder, autoridade, virilidade, liderança, visão. O chefe, o patrão, diretor, presidente, administrador, gerente, o pai. Grande poder de execução. Uma figura masculina muito emblemática e importante. Indica estabilidade, segurança, ordem. Capacidade de ver para além do comum, do ordinário (visionário)! Uma personalidade firme e consistente, mas protetora, gentil e mantenedora de todos os que dependem de seus esforços e ou estão sob sua responsabilidade! A aquisição de coisas no mundo concreto (acúmulo de bens, propriedades etc). Possui uma inteligência prática com uma mente igualmente capaz de entender complexidades científicas. Ele incorpora a própria ciência como uma reveladora do funcionamento do mundo manifesto. É a alma humana sempre em busca de mais espaço para sua manifestação e realização de si mesma. O Imperador incorpora as qualidades de um grande líder democrático que incentiva o progresso e o crescimento dos seus liderados. O grande executivo ou empreendedor que reconhece as possibilidades e avança quebrando fronteiras e limites.  Que tanto vem para o bem quanto para o mal. Negativamente é o tirano, autoritário e inflexível. O líder que pratica assédio moral, o veterano da escola que pratica o bullying com o novato. Aquele que ignora ou humilha os que estão abaixo dele!


Personagem do Cinema – Mahatma Gandhi interpretado por Ben Kingsley no filme Gandhi de 1982. Este filme conta a história real e a trajetória política de um dos maiores líderes políticos do nosso tempo. Gandhi aparece como um idealista que pretende lutar contras as injustiças sociais e que sofre ao ver seu povo sob o domínio do Império Britânico. A trama mostra o jovem Gandhi sendo expulso de um trem na África do Sul por ser da minoria indiana que vivia naquele país. Ele então volta para o seu país, e no ano de 1915 começa uma série de protestos vigorosos, mas não violentos, pela independência de sua nação. Fica clara a extrema perícia deste homem em unir hindus e muçulmanos em torno de um objetivo comum: a libertação política da Índia e o fim da exploração do povo indiano com os pesados impostos tributários! O líder Gandhi tenta de todas as formas mostrar ao mundo que homens podem conviver entre si apesar de todas as suas diferenças. Ideal que em parte falha quando ele não consegue impedir a criação do estado do Paquistão que divide o imenso território indiano em uma nação hindu e outra muçulmana. Mas triunfa ao tornar a Índia independente sem derramar sangue dos dois lados, o que ele chamou de Satiyagraha (princípio da não agressão que ele usou pela primeira vez nos protestos que liderou na África do Sul). Liderança poderosa e inspiradora, visão política ampla e humanitária, determinação e força de caráter são alguns dos melhores atributos de O Imperador que são muito bem representados nesta obra cinematográfica!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Tarot e a Teoria do Karma

É surpreendente o número de pessoas que se envolvem com a leitura do tarot sem terem a mínima noção de certos conceitos espirituais! O Karma vem a ser o mais desconhecido de todos! Cercado de todo o tipo de preconceito, e medo, oriundo desse preconceito. 
Já escrevi sobre esse assunto no artigo O Tarot & o Karma, mas senti a necessidade me deter mais nesse tema para aprofundá-lo.
Primeiramente há quatro princípios básicos sobre o Karma que você deve saber antes de seguir adiante:

Karma, uma força de coesão universal.

1ª) O Karma não é sempre negativo, por isso não é uma punição, nem um prêmio caso seja um Karma positivo, é simplesmente o fruto de nossas ações voltando para nós mesmos!

2ª) Não se "pega" o Karma de ninguém, se você se envolveu no contexto Kármico de um parceiro(a), amigo(a), marido/esposa etc, é porque você fazia parte dele! E há, portanto, coisas nessa vivência que servem ao seu crescimento interior.

3ª) O Karma tanto pode ser individual quanto coletivo. O que significa que tanto pode ser o resgate ou o aprendizado de uma só pessoa, quanto o resgate ou o aprendizado de um grupo de pessoas, família, ou nações e etnias inteiras!

4ª) A lei do Karma não deixa de acontecer porque você não acredita nela. A palavra Karma vem do sânscrito e quer dizer “Ação”, assim é uma lei que podemos definir como sendo também física, e muito parecida com a terceira lei do movimento de Isaac Newton que diz que: "Toda a ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário". Encaixa-se também muito bem nas teorias de Charles Darwin que diz que uma espécie se adapta e melhora seus genes para que a geração futura sobreviva e continue evoluindo. Nossa alma, ou consciência, melhora a si mesma para continuar sua evolução. Simples assim!

A semelhança do Karma com as teorias científicas fica muito bem explicada no axioma hermético conhecido como o Princípio da Correspondência que diz: “O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima”. Por esse motivo o que ocorre no mundo físico ocorre no mundo espiritual. O que ocorre no, ou com, o planeta ocorre conosco. O que ocorre fora de nós também ocorre dentro, e assim por diante! Portanto, evoluir a nós mesmos através da auto-observação e da observação do que se apresenta diante de nós, bem como preservar as espécies para que continuem sua evolução é uma responsabilidade de todos!
Karma não é uma ideia religiosa, é um conceito espiritual cuja base é o retorno natural das nossas ações e reações a este mundo na interação que fazemos com ele e seus habitantes! A quem se pergunta: “Evoluímos pra quê?” a resposta é: Evoluímos para nossa própria libertação da roda reencarnatória, que Buda chamou de Samsara. Ao rompermos com esse ciclo entramos num nível de consciência inimaginável de total ordem, paz e perfeição. Sem desejos e apegos, e por isso sem sofrimento de nenhuma espécie. Não é um paraíso prometido como nas escrituras das religiões judaico-cristãs, é um estado de consciência e espírito conquistados através do trabalho sobre si mesmo. No oriente essa consciência foi chamada de Nirvana.

O TAROT COMO UM MAPA DA ALMA



No tarot os ciclos Kármicos ruins são perfeitamente reconhecíveis quando um cliente apresenta o mesmo ciclo de vivências. Como quando sofremos os mesmos tipos de desilusões amorosas, profissionais, familiares, de amizade etc. Na verdade estamos repetindo essas vivências porque elas representam um aprendizado Kármico não absorvido nesta ou em outras vidas, que se apresenta continuamente até que o padrão de consciência que criou o bloqueio seja absorvido! Fica aqui claro então que o que liberta o Karma é a conscientização do que está bloqueado e que serve como uma lição a ser absorvida no processo evolutivo da alma. E nesse aspecto o tarot funciona como um instrumento preciso de revelação desse bloqueio, oportunizando a possibilidade de libertação e evolução do Karma pessoal.
Na prática do tarot isso pode se evidenciar em sucessivas leituras, quando o cliente apresenta sempre os mesmos tipos de temática no seu processo pessoal. Outras vezes isso se revela numa mesma sessão, quando a própria leitura revela que ali está ocorrendo um processo Kármico. Por fim há aquelas almas já em avançado grau de maturidade que, ao se depararem com um sofrimento procuram os arcanos para lhe fazer as perguntas mais produtivas, tais como: “Por que isso está acontecendo comigo?” ou melhor “O que tenho para aprender ou crescer com isso? Possibilitando assim que o tema seja abordado!

A Lua, no tarot de Marselha.
O arcano XVIII, A Lua é o que melhor representa os movimentos de complexos atávicos do inconsciente vindo à tona, e causando, desconforto, angústia, medo e ou desorientação. Essas sensações desagradáveis são características de vivências Kármicas pesadas e muito antigas para a alma. Na imagem desse arcano, dois lobos uivam (o chamado da matilha para resgatar membros desgarrados) e esse chamado sempre causou medo no Inconsciente Coletivo da humanidade. Das águas (símbolo da memória bem como do inconsciente, tanto coletivo quanto individual) emerge uma lagosta (um crustáceo, uma das formas de vida mais antigas do planeta), que parece que vai atacar os dois animais desavisados. A noite por si só é o arauto das coisas submersas, ocultas e misteriosas da vida. O espaço do dia que dá vazão às nossas mais variadas fantasias. O arcano de A Lua simboliza os temas não resolvidos internamente e que oprimem a consciência. São temas com que não lidamos de modo livre e gratificante, ou seja, que “nos deixam no escuro”, desorientados e sem saber para onde ir. Criam o que os círculos esotéricos chamaram de a Noite Escura da Alma. Essas sensações são criadas por que intimamente nos sentimos de algum modo intimidados e incapacitados de lidar com esse tema quando ele se apresenta. O sofrimento ou limitação que ele representa estão encravados em nós numa memória muito mais profunda do que a que dispomos conscientemente. Os Karmas negativos são isso.
É claro que o simples aparecimento deste arcano não prenuncia uma vivência Kármica, outros fatores devem ser observados como a posição que ocupa no jogo e o aparecimento de muitos arcanos invertidos, por exemplo. As cartas invertidas indicam qualidades da psique com que não estamos conseguindo lidar livremente, e podem ter gerado, ou estão gerando, situações Kármicas. Mas nada disto é uma regra! Com sempre sugiro o uso da intuição  e do feeling pessoal de cada leitor! Robert Wang, autor do livro *O Tarot Cabalístico, diz que o aparecimento de muitos arcanos maiores numa leitura assinalam uma situação Kármica na vida de quem se consulta. Entretanto ele considera que quando uma situação Kármica ocorre não há muito o que o livre arbítrio possa fazer, e eu sinceramente não concordo muito com essa perspectiva. O livre arbítrio pode interferir superando ou trazendo simplesmente serenidade diante do desafio. Contudo também acho válida essa percepção, mas outra vez sugiro a guiança da Voz Interior do intérprete do tarot para validá-la.
O processo angustiante revelado pelo arcano de A Lua nos faz lembrar de que a intensidade de um Karma negativo pode ser avaliada pela intensidade do sofrimento que a situação está causando. Quanto mais sofrimento causa, mais antigo é o processo que gerou este sofrimento. Da mesma forma um Karma positivo pode ser avaliado pela intensidade de benefícios que ele gera. A intensidade também denuncia o tempo em que se vem desenvolvendo aquele estágio evolutivo. Quanto mais se sofre com um  mesmo tipo de envolvimento afetivo, por exemplo, mais o aprendizado requerido nesse tipo de relacionamento é antigo! O amor e o sofrimento (equilíbrio/desequilíbrio) são o peso e medida que caracterizam o Karma.
Outro aspecto importante de se entender é de que não é por ser Kármico que é de vidas passadas! O que semeamos tende a voltar imediatamente para nós para ser equilibrado. O que acontece é que podemos demorar muito para resolver essa “pendência desarmonizadora”, e o resgate não cumpra o prazo de uma vida. Então aos morrermos o processo é suspenso para ser novamente retomado ao renascermos. Do mesmo modo que seja lá um Karma bom ou ruim, o fato é que temos de nos livrar dos dois e parar de gerar KarmaEssa é a verdadeira transmutação espiritual. A dualidade da consciência humana é que gera o Karma e nos mantém presos à roda do nascer, morrer, renascer.

A Roda de Samsara.
Para finalizar apresento as conclusões sobre o Karma de um grande estudioso do tarot, do simbolismo e da espiritualidade, Veet Vivarta, em seu excelente livro **O Caminho do Mago – Uma Visão Contemporânea do Tarot. Fiz a cada passagem um comentário explicativo, para o caso dos termos empregados serem desconhecidos de quem não tem familiaridade com a leitura de textos espiritualistas:

1º) Karma é o conjunto ou somatório de conceitos, crenças, julgamentos, interpretações, valores, atitudes, hábitos, emoções, desejos ou comportamentos que de alguma maneira deformam a realidade maior impedindo-nos de reconhecê-la como ela é.

- Distanciados da realidade de que somos todos parte de uma consciência divina abarcante, começamos a produzir Karma. Os indianos dizem que Deus brincou de esconder consigo mesmo, o Deva Lilah (Divina Brincadeira), e lançou suas partes pelo universo, deu-lhes consciência própria e arbítrio e agora aguarda o seu retorno. Tornarmo-nos conscientes disso é o retorno à casa do pai de que falam as escrituras sagradas.

2º) Karma é tudo aquilo em nosso universo interior que nos mantém preso à ilusão ou maya, tudo o que nos afasta da Essência, tudo o que nos faz esquecer nossa origem divina e o caminho de volta ao lar.

- Maya são as ilusões que criamos com nossa mente. Criamos o dinheiro, por exemplo, depois acreditamos que não vivemos sem ele. Criamos as religiões, depois passamos a acreditar que nossa religião é a única verdade sobre Deus, e matamos e morremos por isso! Mas como nos lembrou bem Mahatma Gandhi, “Deus não tem religião”.

3º) Karma é realmente ação como diz a tradução literal do sânscrito. E, como ação, também é fruto do nosso dom de vice-regentes, ou livre arbítrio. E como toda ação gera reações – ou consequências – a ela.

- O livre arbítrio interfere tanto positiva quanto negativamente no Karma, o que pode modificá-lo, melhorando-o ou piorando-o conforme cada caso.

4º) Uma ação kármica pode acontecer em qualquer um dos quatro primeiros corpos, na forma de pensamentos, sentimentos, impulsos e concretizações. Mas sempre será uma ação desconectada do Eu Superior.

- Não há muito que explicar aqui, tudo o que pensamos, sentimos, fazemos (nos sentido de atuar) ou concretizamos gera Karma.

5º) O material kármico se manifesta em nosso cotidiano quase sempre de forma inconsciente. Ou seja, atuamos os padrões definidos em outras vidas sem perceber como e porque o fazemos.

- Justamente o trabalho com a linguagem simbólica como no caso do tarot, da astrologia etc, é que podem auxiliar a tornar isso consciente dando a possibilidade, como já mencionei, de transformar o Karma com a aplicação do livre-arbítrio.

6º) O karma é o que serve de matriz para o próprio ego. E o somatório do material acumulado por egos de várias vidas constitui o karma.

- Tudo o que somos hoje, tanto física quanto psicologicamente, foi moldado pelos Karmas de vidas anteriores. Inclusive traços bem específicos como maneirismos e características físicas, como cor dos olhos, formato do nariz etc.

7º) O karma também está sempre conectado com a projeção inconsciente; ou seja, o não reconhecimento de que a realidade ao nosso redor atua como um espelho. Karmicamente falando, a responsabilidade que atribuímos às pessoas ou os fatos externos que afetam nossas vidas nada mais é, na verdade, do que nossa própria responsabilidade não assumida conscientemente. Somos, sempre, totalmente responsáveis pela manifestação dos acontecimentos que nos afetam.

- Toda a vez que negamos que as raízes dos nossos problemas estão na verdade em nós mesmos, estamos gerando cada vez mais Karma tanto para essa vida, como para existências futuras! Esse tipo de negação nos impede de obter a conscientização que nos liberta do Karma no processo de auto-observação e autoconhecimento. 


Namastê!

* Editora Pensamento. São Paulo, 1994.
** Editora Francisco Alves. Rio de Janeiro, 1996.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Hierofante - Arcano V

Título Esotérico – O Mago do Eterno (O conhecedor dos segredos e valores que transcendem o mundo físico-material e temporal).

Analogia Astrológica – Touro (O 2º signo), a semente lançada em Áries desponta e precisa apenas de um tempo firmemente plantada no solo para crescer e dar flores e frutos. Este é o signo da consciência acumulativa para obter, possuir e reter tudo o que e necessário à manutenção da vida em segurança, o que também requer tenacidade e perseverança. Grandes qualidades taurinas! Interessa-se igualmente por valores e recursos humanos, pois quando não edifica valores internos Touro fica apático e dependente.

Analogia Numerológica – Tradicionalmente conhecido como o número da mudança, o 5 representa as sucessivas mutações da consciência em busca de sua expressão máxima ou perfeição espiritual! A sua forma lembra um meio quadrado equilibrado sobre um meio círculo que aludem a esta busca por harmonia entre o material e o espiritual. Harmonia esta só encontrada quando os valores superiores (éticos) preponderam sobre os inferiores (egoicos).

O Arcano – Um sacerdote de barbas brancas vestido com sua indumentária cerimonial completa está à frente de dois discípulos cujos rostos permanecem incógnitos. Uma das figuras estende a mão na sua direção como que pedindo sua benção ou ajuda. O outro está com as mãos espalmadas como se tivesse captando algum tipo de emanação que vem da figura do sacerdote. A mão direita do Sumo Sacerdote aparece com um gesto de benção espiritual em que levanta apenas os dois dedos, indicador e médio. Na sua mão esquerda ele tem uma luva amarela onde se pode ver a *cruz dos templários desenhada, e com ela segura uma cruz de três braços (a cruz papal). Em sua cabeça o chapéu cônico dos Papas, e atrás dele vê-se discretamente duas colunas como no arcano de A Sacerdotisa.

Significado - Este sacerdote é um Hierofante católico, o Papa, cuja crença católica diz ser o representante de Deus entre os homens. A palavra Hierofante deriva do grego e quer dizer “aquele que leva ao sagrado”. Ou seja, ele é o pontifex, uma palavra latina que significa “o construtor de pontes”, que une o homem ao sagrado da vida e dele mesmo. O Hierofante e pontifex não se resumem às crenças do catolicismo. Esse mesmo papel é representado pelos xamãs das culturas tribais, os curandeiros, terapeutas, conselheiros, professores ou aquelas pessoas que representam para cada um de nós uma presença de equilíbrio. Um amigo ou alguém em quem confiamos e respeitamos sua opinião. O arquétipo do Hierofante é extremamente amplo e flexível! Os dois discípulos à sua frente reforçam esse simbolismo. Um parece estar pedindo diretamente sua ajuda, o outro parece estar embevecido com sua presença e exemplo. O gesto de benção que ele sustenta com o dedo indicador e o médio evoca a natureza divina e humana em sua figura. Ou seja, ele é consciente da sua natureza divina e da natureza divina que habita todas as coisas, e grande parte do seu trabalho é resgatar isso dentro de cada homem. E divino aqui não tem um significado só religioso, mas espiritual e transcendente! A luva encobrindo a mão simboliza o domínio sobre os temas ocultos ou secretos que ele guarda e defende distribuindo-o somente a quem faz por merecer. Daí a cruz dos Templários, os guerreiros sagrados. A cruz de três braços é a cruz Papal. Seus braços tríplices são interpretados de muitas maneiras. A primeira interpretação é sobre o seu simbolismo na figura do Papa e suas atribuições dentro da Igreja Católica, a de sacerdócio, jurisdição e magistério. Quer dizer que ele é a conexão com Deus, o criador das leis éticas nas relações humanas e o instrutor para aqueles que comungam com ele. Num nível mais amplo seria a representação da igreja, do mundo e do céu divino. Também simbolizam os três reinos aos quais estamos todos submetidos: corpo, mente e espírito. As colunas do templo simbolizam aqui como em A Sacerdotisa a fonte dos mistérios da vida que ele, O Hierofante, tem de modo ordenado, conceitualizado, e sistematizado, ao contrário de A Sacerdotisa que os possui de modo puro, íntimo e direto.

O Hierofante no Osho Zen tarot.
Divinação – Realização social, a persona. Aquele que se realiza na atividade que faz, que vê um sentido profundo ou mais amplo na sua atividade. O ápice da realização social, o indivíduo respeitado, admirado, proeminente em seu meio. O bom exemplo a ser seguido, quer seja no mundo prático, quer seja no mundo espiritual. O encontro da vocação dentro das funções sociais. O amigo, o conselheiro, consultor, terapeuta, xamã. Médico, profissional da saúde. O curador em todas as suas representações. O ensino superior em todas as suas formas, desde o acadêmico (até pós-graduações, mestrados e doutorados), ao espiritual (como iniciações em linguagens simbólicas e esotéricas; tarot, astrologia, cabala, numerologia, magia, artes de cura etc). O professor, o orientador e ou o Mestre. O senso de valores internos, éticos e morais. A ética. O bom conselho e a boa orientação. Representa todos os mestres, guias e instrutores espirituais encarnados ou desencarnados.  Negativamente ele é o dogmatismo, que literalmente é o apego à própria opinião. O preconceito, a inflexibilidade. O tradicionalismo e o moralismo exacerbados que quando assim colocados não se adaptam ao gênero humano amorosamente. As más instruções, ou maus exemplos, também seriam uma perversão extrema deste arcano.


Personagem do Cinema – Tenzin Gyatso (personagem interpretado por Tenzin Thuthob Tsarong, um ator desconhecido), no filme Kundun de 1997 dirigido por um dos maiores cineastas de todos os tempos, o norte-americano Martin Scorsese. É a história real do décimo quarto Dalai Lama. O jovem Tenzin vive com seus pais nas montanhas do Tibet e um dia recebe a visita de monges que o identificam como a encarnação do décimo terceiro Dalai Lama falecido dois anos antes. Ao completar quatro anos ele é levado para Lhasa, a capital do país, e passa a ser educado como um monge e preparado para se tornar o chefe político-religioso de toda a sua nação. O menino surpreende pela clareza de memória que possui sobre sua encarnação pretérita e pela disposição que possui de cumprir seu papel. Aos catorze anos ele começa a enfrentar problemas com a China que tem planos de tomar posse do território do Tibet. Aos dezenove tem de fugir dos chineses que pretendem matá-lo para destruir a cultura tibetana. Ele se refugia na Índia e de lá começa a divulgação do budismo tibetano, que desde então se alastra pelo mundo! Disciplina, exemplo, a preservação amorosa da cultura e da tradição, espiritualidade, humildade, compaixão e ajuda ao próximo são temas apresentados e abordados no filme que refletem com perfeição alguns dos melhores atributos do arcano de O Hierofante.

*Nessa edição do tarot de Marselha, que é espanhola, a cruz curiosamente não aparece! Mas consta nas outras edições! Ainda assim eu a utilizei por considerá-la uma das mais belas versões deste baralho.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Os Amantes - Arcano VI

Título Esotérico – Os Filhos da Voz; O Oráculo dos Deuses Poderosos (A mente dual sempre aberta a sugestões e indicações externas; A consulta ao coração – mestre ou guia interior – que reflete planos superiores de consciência que nos dirigem à evolução).

Analogia Astrológica – Gêmeos (O 3º signo), o signo que assinala o fim da primavera no Hemisfério Norte, quando enfim as flores já brotaram e os insetos e animais saem do casulo e do ventre, ou dos ovos. Uma vez livres eles começam a explorar e conectar-se com o mundo que os cerca. Por isso este é o signo da curiosidade, da comunicação e das relações interpessoais com o meio, bem como da multiplicidade de possibilidades que confundem, muitas vezes, a razão.

Analogia Numerológica – O 6 como a cifra da perfeição. O único número simples que ao ser desmembrado em suas partes é reunificado plenamente. Juntando sua sexta parte (1), mais sua terça parte (2), mais sua metade (3), o temos íntegro novamente! É o número do amor, da união e da família bem como da busca pelo entendimento e pela perfeição na existência. Seu símbolo esotérico é a estrela de seis pontas, também chamada de Selo de Salomão. Essa estrela é símbolo do povo judeu, que se manteve unido mesmo diante das maiores privações, e do próprio rei Salomão, conhecido por sua sabedoria ao tomar decisões!

O Arcano – Um homem jovem está cercado por duas mulheres, seu rosto está inclinado para a Mulher morena à sua direita, mas o seu corpo inclina-se para a mulher loura à sua esquerda. Ele usa uma túnica com listas verticais nas mesmas cores das roupas das mulheres, mas com o acréscimo do amarelo! O jovem é louro e sobre sua cabeça aparece um anjo bebê entre uma luz fulgurante que mira seu coração com uma flecha prestes a ser disparada! A mulher loura à sua esquerda aponta justo para o seu coração, enquanto a da direita aponta para o chão ou, segundo algumas interpretações, para seus genitais.

Significado – Este arcano é o que assinala a entrada no mundo adulto das escolhas e, portanto, da responsabilidade pessoal. A mulher à direita do rapaz parece estar apontando para o chão, o mundo concreto e racional dos fatos, mesmo para os que alegam que ela aponta para o seus genitais isso simboliza ainda o mundo pragmático dos instintos. A mulher da esquerda, por sua vez, parece estar atentando para os ditames do seu coração e as aspirações da alma! O rapaz por si só representa o impulso da vida que quer se manifestar, mas que para isso precisa escolher um caminho, uma forma de fazê-lo. E não adianta, tudo na vida são escolhas! Da roupa que usamos para sair de casa, à carreira, do cônjuge, ao partido político, do local de férias, ao local onde escolheremos passar o fim dos nossos dias. Fazemos escolhas o tempo todo. De fato a mulher à direita da figura central tem uma roupa vermelha com mangas azuis. Ou seja, há o predomínio do prático e do instintivo, em contrapartida com a predominância do azul (afetivo, espiritual e profundo), com detalhe em vermelho na roupa da mulher à sua esquerda. O aparecimento do amarelo na sua túnica, que combina as duas cores de suas parceiras, indica a necessidade do uso do discernimento intelectual tanto quanto da intuição profunda para tomar a decisão diante do impasse que se apresenta. As cores de sua túnica são as mesmas da luz radiante que envolve o ser angelical sobre sua cabeça! O que indica não só que sua inspiração vem do alto, de sua consciência superior, mas também que ele está perfeitamente sintonizado com ela. A posição do personagem central sugere que, até que seja resolvida a ambiguidade, haverá um envolvimento na duplicidade desta situação, por um curto ou longo período de tempo dependendo de cada situação. A figura alada envolta em luzes acima do trio é Eros o deus do amor, e do desejo. Ele era comumente representado como um bebê alado, que também era a forma dada aos querubins, a ordem angélica que na Cabala corresponde a sephira de Chokmah, ou Sabedoria. Aha! Podemos dizer assim. Fica claro então que a mescla de Eros com os anjos da sabedoria divina indicam que o verdadeiro saber vem do coração, que segundo algumas tradições, como a gnóstica no ocidente, é a morada da divindade em nós! Assim sendo dizer “Siga o seu coração” não é apenas um refrão poético, mas também uma verdade espiritual! Mesmo que seja um erro a escolha levará ao amadurecimento da consciência, moldando a personalidade, extraindo do indivíduo o máximo de si mesmo, tanto seus talentos quanto o conhecimento de suas limitações! Ou seja, nossas escolhas revelam quem somos e nos elevam ao nosso autoconhecimento. É importante então escolher aquilo que se ama. Daí este ser o arcano das escolhas de vida tanto quanto do amor e do romance.

Os Amantes no Osho Zen tarot.
Divinação – Decisão, ou impasse a ser decidido, uso do livre-arbítrio. Decidir tendo como base aquilo que se ama ou acredita. Capacidade de executar duas ou mais tarefas ao mesmo tempo, de desdobrar-se. Envolvimento, namoro, amor, romance, atração. Proposta de novas possibilidades ou caminhos. Convites. Associações e parcerias. Afinidades que nascem do coração. Consultar outras fontes em que se confia para decidir ou resolver algo. Tornar-se aberto a outras opiniões. Sociável, envolvente, simpático. Tornar-se acessível ao próximo. Negativamente é o arcano das indecisões ou da dúvida persistente de que tomou ou não a decisão certa! É o “Maria vai com as outras”, incapaz de decidir sozinho ou assumir posturas diante de situações críticas. Não assume sua opinião. O dependente, que tanto pode ser afetivo ou material mesmo! Aquele que não se garante sozinho. O vacilão! O tipo influenciável, ou estar sofrendo influências que o resto do jogo dirá se são ou não desejáveis ou benéficas! Esta é a carta das triangulações amorosas, tanto proibidas (infidelidade) quanto consensuais. Todo o tipo de indefinição e pendência está sob sua égide, inclusive as de cunho político, legal e até mesmo sexual, como no caso da bissexualidade.

Personagem do Cinema – Sofia Zawistowski (interpretada por Meryl Streep), no filme A Escolha de Sofia de 1982. Ela é uma mãe polonesa presa num campo de concentração por tentar contrabandear presunto para sua mãe moribunda. É forçada por um soldado nazista a escolher um dos seus filhos para morrer na câmara de gás, o menino Jen ou a menina Eva. Caso se recusasse a escolher os dois seriam executados. Ela escolhe o menino por ser mais forte, mas nunca mais o vê. Muda-se para o Brooklyn decidida a esquecer de tudo o que passou. Um jovem aspirante a escritor Stingo (interpretado por Peter MacNicol) chega à Nova York em 1947 e conhece sua vizinha Sofia e seu parceiro Nathan (interpretado por Kevin Kline), com quem ela vive uma relação de céu e inferno, mas sem nunca comentar com ele nada do que viveu nos campos de Auschwitz. O rapaz se envolve com o casal sem ter nenhuma noção da instabilidade do homem e dos segredos da mulher. Com o tempo ambos começam a se sentir atraídos um pelo outro e mais uma vez Sofia deve escolher, e desta vez entre o amor do atual companheiro e a atração pelo jovem recém-chegado. Ela se divide entre acreditar que Nathan e sua esquizofrenia e uso frequente de drogas serão “curados” um dia, e enfrentar a realidade de um jovem que está longe de ser um conto de fadas. Romance, decisões difíceis e dubiedades constantes são temas centrais de Os Amantes, que são focados de modo intenso e brilhante neste filme.