segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Cruz Celta do Encantamento

Uma perspectiva mitológica do
sistema de leitura da Cruz Celta...

Apaixonado como sempre fui pela linguagem dos símbolos, acho que foi mesmo a mitologia a que encontrei primeiro pela boca do meu pai, e que abriu para mim o mundo mágico das linguagens simbólicas, que se resumiriam mais tarde no estudo dos arcanos do tarot. O Minotauro, a Caixa de Pandora e o Voo de Ícaro são as primeiras histórias mitológicas de que me lembro. Muitos anos depois o tarot entrou na minha vida, e foi paixão à primeira vista! Sua imensa flexibilidade arquetípica aliada à força de suas imagens abriu uma senda infinita de maravilhamento na qual trilho até hoje. Meus estudos não terminam, e quando penso que já tirei tudo de meus estudos e da observação das leituras para meus clientes e para mim mesmo, surge um novo ângulo inexplorado, uma nova perspectiva que enriquece minha compreensão da linguagem simbólica dos arcanos na sua interação com os sistemas de leitura que mais aprecio e pratico. E foi exatamente isso que aconteceu, mais uma vez, ao observar as posições da Cruz Celta dentro da adaptação feita por mim do significado de suas posições originais. Percebi nas dez posições desse método os dez personagens centrais de toda a trama mitológica, quer seja ela milenar como a grega, quer seja medieval como a do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Ao relacionar esses personagens aos palcos de atuação da psique, representados pelos dez posicionamentos desse método, foi possível criar um cenário de mitologia pessoal ao abrir as cartas. Via de regra estamos todos escrevendo nossas lendas pessoais neste mundo. Apenas alguns terão essas lendas influenciando a vida de milhares, ou milhões, de pessoas, e marcando a história de uma comunidade ou de toda a humanidade. Entretanto, isso não diminui o relato e nem a importância de nenhuma lenda pessoal. Andar por essa vida significa influenciar os outros com nossas trajetórias e ser influenciado por outras igualmente. Porém, compreender nossa trajetória e as lições que cada vivência traz em si é que pode agregar qualidade à nossa existência, e impulsionar a evolução e a transformação de nossa personalidade ao máximo de sua expressão. Essa é uma das funções dos sistemas oraculares, e ainda mais do tarot! Os personagens míticos são as representações de partes da consciência que todos acessamos em diversos momentos de nossa jornada. Mesmo os mais dramáticos como a escolha de Páris, que teve de escolher qual dentre as deusas Hera, Athena e Afrodite era a mais bela do Olimpo, e que ao escolher Afrodite, teve as outras duas deusas derrotadas a tramar contra ele no que culminaria na longa e sangrenta Guerra de Tróia. E quem nesta vida não faz escolhas que se não forem feitas com cuidado desembocam em consequências inalienáveis?
Da mesma forma os sistemas de leitura também apresentam os palcos onde todos nós desenvolvemos interesses em comum com todos os nossos irmãos de caminhada neste planeta. E, exatamente como ocorre nos mitos, os arcanos ali colocados mostrarão o modo particular como cada um de nós vive aquele setor da vida!
Dragões, símbolo dos grandes
desafios na senda evolutiva.
Os dez personagens míticos a que me referi na presente analogia são: o rei, a rainha, o mago conselheiro, o dragão, o reino, os súditos, o jovem guerreiro, a donzela, o mensageiro, e por fim, o encantamento ou maldição que permeia toda a história mítica. O rei como o centro do reino representa o centro da trama, e dos temas que empoderamos com nossa atenção. A rainha por sua vez é seu complemento amoroso, ou sua sina opressora como no casamento de Zeus e sua raivosa consorte, Hera. O mago é a personificação da sabedoria espiritual, ou inconsciente se preferir, que se manifesta em momentos críticos como uma ideia vaga, uma percepção sutil, mas persistente, ou uma forte intuição. Os magos são habitantes de um mundo superior, como Merlin ou Gandalf da obra de J.R.R. Tolkien, ou eram representados como humanos com habilidades superiores, como o sábio profeta cego Tirésias. O dragão, por sua vez, é uma figura mais persistente nos mitos medievais, e representa os desafios que parecem intransponíveis num dando momento de nossas vidas. Para os gregos os “dragões” tiveram muitas e assustadoras formas e poderes. Jasão enfrentou um dragão que não dormia para poder recuperar o Velocino de ouro. A Hidra de Lerna, uma fera cujo sangue era um veneno tão letal que nem os deuses escapariam. A Quimera, um animal com duas cabeças, uma de leão e outra de cabra, sendo que a cabeça caprina tinha um hálito venenoso... Possuía também patas de águia e uma cauda que na verdade era uma serpente peçonhenta. Serpentes também compunham os cabelos da Medusa, que transformava em pedra todos que a encarassem nos olhos. Uma clara alusão ao desafio de termos de encarar nossos temores. E assim por diante. De qualquer modo os dragões são a personificação mais recente dos obstáculos que nos atormentam, ao mesmo tempo em que engrandecem, ao serem vencidos, a nossa existência! O reino é a síntese de tudo o que se construiu no mundo concreto, a relação com o dinheiro e a vida material como um todo. Os súditos nos relatos míticos não são apenas uma massa de manobra, mas o suporte para as decisões do rei e suas ações. O jovem guerreiro aparece sob muitas formas, forte e consciencioso como Hércules, sensível e espiritual como Orfeu, beligerante como os gêmeos Pólux e Castor, ou nobre e honrado como Lancelot, que foi tão fiel ao seu amor por Guinevere quanto por sua amizade por Arthur. A donzela que na Idade Média teria de ser salva do dragão, ou de um monstro marinho como o foi Andrômeda pelo herói grego Perseu, que mais tarde a desposou. As donzelas são a vivência transformadora do Amor. É interessante observar que a figura do mensageiro perdeu significativa importância nos mitos medievais, o que não ocorre nos mitos gregos onde um deus (Hermes grego, ou Mercúrio romano), era designado para esta função. Seus alertas não podiam ser ignorados, pois que eram um aviso do próprio deus dos deuses, Zeus (ou de seu equivalente para os romanos, Júpiter). Por fim o encantamento é a chave para a compreensão de tudo o que ocorre na trama mitológica, revela o porquê das coisas acontecerem e o provável desfecho se nada for feito...

Bem, vamos à relação:

Posição 1 – O Rei: O soberano dentro de nós; representa o conjunto de vivências que tomam nossa atenção no momento. O tema que foi coroado por nós com nossa atenção e que reflete o panorama do nosso mundo interior, e que revela que espécie de rei afinal somos nós!

Posição 2 – A Rainha: Cruzada sobre a carta do rei, essa rainha pode estar sendo carregada por ele como num enlace romântico, ou como um fardo. Assim ela pode estar contribuindo para a expressão do seu rei, ou oprimindo-a.

Posição 3 – A Casa do Mago Conselheiro: O Conselho do Mago é a voz interior que fala-nos o tempo todo, a impressão mais funda de nossa consciência, ou a vontade mais urgente do nosso coração, e que nos soa como a verdade! Dependendo do resto do jogo se revelará se esta voz sábia está sendo de algum modo ouvida ou ignorada.

Posição 4 – A Toca do Dragão: Aqui mora o nosso desafio do momento, ele pode se apresentar como um problema real ou como a constatação de algo que tem de ser resolvido ou encarado de algum modo. Pode também representar o monstro interior, forjado por condicionamentos culturais e familiares, e que tem de ser superado!

Posição 5 – O Reino: Essa posição mostra a relação do indivíduo com o seu mundo material, seu trabalho, carreira, finanças, posses e tudo o que pode ser chamado de “seu reino”, suas conquistas, e como elas aparecem para o mundo! 

A Cruz Celta como um palco síntese 
dos mitos gregos e medievais.

Posição 6 – Os Súditos: Como nos reinos da antiguidade os súditos eram influenciados, mas também influenciavam, seus reis sobre as decisões do reino. Os súditos na vida moderna são representados pela família e os amigos, sobre os quais nos sentimos responsáveis, e para os quais nos voltamos para obter apoio sobre decisões importantes que poderão moldar nosso futuro.

Posição 7 – O Jovem Guerreiro: O jovem guerreiro vive dentro de nós e se apresenta toda vez que levantamos de manhã para enfrentar as demandas do dia a dia. Aqui é justamente esta sua função, mostrar como se está enfrentando a situação no momento.

Posição 8 – A Casa da Donzela (ou A Casa do Amor): A donzela em apuros aparece sempre que o amor irá se manifestar na trama dos mitos. Normalmente os heróis se apaixonam por ela, e ocupando esta posição da Cruz Celta ela indica a vida amorosa do consulente, ou se a possui; ou como encara a vida afetiva e sexual.

Posição 9 – O Mensageiro: Esta posição mostra uma indicação de algo que deve ser observado, como uma reflexão, ou o aprendizado de algo, que ao ser absorvido e apreendido ajudará a realizar a orientação do Mago Conselheiro e a vencer o Dragão. O mensageiro aponta uma perspectiva que não deve ser ignorada.

Posição 10 – O Encantamento: Todo o reino nas histórias míticas está sob a influência de algum tipo de encantamento, que ao ser revelado, explica muito do que ocorre na trama do mito. Seria a síntese, ou do que se trata o conjunto de vivências apresentadas pelos outros arcanos na leitura. A carta nessa posição revelará se estamos falando de um encantamento benigno a ser reforçado e apoiado, ou de uma maldição a ser superada!

Veja a redefinição original da Cruz Celta feita por mim lendo os seguintes artigos:
Tarot Terapêutico - O que é? 
Por Trás da Cruz Celta  
A Cruz Celta Astrológica