segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Entrevista com o Tarólogo Jaime E. Cannes

Entrevista concedida o jornal VIVA BEM de Porto Alegre em Julho de 2010.


1. Jaime, como começou sua caminhada espiritual, e sua escolha pelo trabalho com a espiritualidade?


Iniciou por intermédio de meu pai, que intrigado com minhas perguntas existencialistas, resolveu me introduzir na filosofia espírita da qual, ele já era adepto havia muitos anos. Foi maravilhoso encontrar um conjunto de ideias que abarcava o conceito de um plano transcendente para a vida. Com o tempo, porém, eu me afastei por possuir mais afinidades com a filosofia esotérica e menos com os dogmas religiosos que também existem no espiritismo.


2. Como se deu a descoberta de sua aptidão pelo Tarot?

Foi um por acaso, como todas as coisas realmente geniais da vida! Uma prima me trouxe uma revista com uma matéria especial sobre tarologia, tinha um pequeno baralho de tarot de Marselha com os 78 arcanos, maiores e menores, e um livro. Comecei a estudar, treinar jogadas e anotar tudo! Com o tempo, algumas previsões se confirmaram e os parentes começaram a me procurar... Com a prática observei que a tarologia vai além das previsões, ela induz a uma profunda reflexão sobre nós mesmos, nos permitindo avaliar exatamente onde estamos e que programações ou condicionamentos nos fizeram chegar até esse momento, oferecendo-nos a oportunidade de mudar isso através do uso do livre-arbítrio.

3. Na sua opinião qual é a maior contribuição da tarologia para esse momento planetário de transformação da consciência?

É justamente essa: a de impulsionar essa transformação ainda mais! Hoje o trabalho com os arcanos nos oferece a possibilidade de fazer escolhas quanto ao nosso futuro, sem as programações sociais arcaicas que carregamos desde o berço. Há um velho axioma que diz: “Mude que o mundo mudará!” Pessoas com mentalidade renovada são mais capazes de assimilar as mudanças necessárias para alterar a relação que temos com o planeta, a natureza e a nossa própria comunidade humana. Deixamos de ser o gado da sociedade de consumo e passamos a ser seres pensantes. Nisso a tarologia vai além da psicologia, pois ela abarca a consciência do espírito em suas muitas vidas, o conceito de karma e evolução interior bem como as mais modernas teorias psicológicas!


4. Fale-nos um pouco de seu Livro “Tarot para a Autotransformação e a Cura”


O livro nasceu do incentivo de alunos e de amigos como a *Kátia Escobar, eles acharam que eu tinha de colocar algumas visões das minhas aulas e consultas que seriam uma contribuição para o estudo tarológico, como a interpretação dos sonhos com o tarot, a aplicação das cartas em tratamentos de cura como reiki, massoterapia, etc. E conceitos bem próprios como o da carta sintoma, a relação do tarot com o karma humano, as leituras em grupo (um lindo trabalho vivencial com o tarot) e assim por diante! Tenho recebido ótimos retornos dos meus leitores aqui no estado e pelo país!

5. Estamos passando por modificações planetárias seja pelas forças da natureza, seja pelo desenvolvimento de novas tecnologias e pela busca do conhecimento espiritual. Que caminho você vê que o homem precisa seguir para a sua harmoniza com o planeta?

Não existe outro caminho que não seja o do autoconhecimento! Quando você começa a se responsabilizar por si mesmo entende melhor o absurdo do consumismo que vivemos hoje e que está acabando com os recursos naturais. A mãe natureza é infinitamente pródiga sim, mas não significa que todos nós possamos ou devamos, morar numa casa com vinte cômodos, para quê? Costumo perguntar: onde uma Ferrari pode nos levar que um carro utilitário, ou mesmo uma bicicleta, não possa? Através do autoconhecimento nos livramos da papagaiada dos familiares, dos amigos e da sociedade que nos fez acreditar que temos de ter para ser. O autoconhecimento nos liberta para apenas sermos, essa é toda a maravilha da existência! Somos perfeitos como somos, não necessitamos de apetrechos materiais títulos ou graduações acadêmicas para isso.


6. Estamos atualmente em meio a eventos que distanciam as pessoas, seja pela rivalidade política local, seja pela rivalidade esportiva, o meio global. O que isso traz para o coletivo social?


A total alienação da nossa natureza humana e amorosa! Somos os únicos seres que entendem o conceito de amar. Creio profundamente que os animais também amem, mas não entendem o conceito de amar, não são tão conscientes! Por isso alguém passa por um mendigo moribundo no meio da rua e não se dá por conta que ele está prestes a morrer, ou um homem é capaz de fazer um programa com uma prostituta menor de idade sem remorso algum, pois ambos creem que “não foram eles que fizeram aquilo”! Isso é o que ocorre quando as pessoas não são autorresponsáveis, quando não tem nenhuma reflexão! Todos nós ajudamos a fazer essas coisas justamente com a nossa indiferença. Não somos todos culpados, mas sim responsáveis! Um mundo melhor é responsabilidade de todos nós!

7. Ao leitor do Viva Bem, deixe um recado para esse período. 

Cuidado com ideias que vendam a você e que você compra. Muitas boas ideias se transformaram em movimentos radicais e até violentos. Não creia em nada que o coloque à parte dos demais. Tudo o que pode fazer você parecer estar totalmente certo. Ninguém está! Todas as verdades são as faces múltiplas da verdade, cujo corpo imenso permanece um mistério, assim uma única pessoa jamais a verá, a menos que se junte às verdades de todas as outras pessoas desse planeta. Nascemos para viver de mãos dadas e não atadas! Pense nisso! 

* Fundadora do Jornal  Em Aquarius

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Labirintos - Caminhos para o Sagrado

Os labirintos são símbolos pagãos encontrados em todos os continentes tanto entre os povos tidos como primitivos, como os navajos da América do Norte, como entre os gregos e os indianos! Suas formas circulares nos remetem ao útero materno e ao interior da terra, ou de nós mesmos! O labirinto de sete voltas (abaixo à esquerda) vem a ser o mais difundido dentre todos, aparece em todo o planeta. Mas qual seria a função original dos labirintos? Eis a questão! Tudo o que se tem são hipóteses. As que mais me agradam são as que mostram o labirinto como uma imersão em si mesmo, um encontro com a sombra, ou uma simulação da morte em vida.
Assim como na morte entramos no labirinto mergulhando no desconhecido, a entrada da cova. Ao encontrar o seu meio estamos integrados no si mesmo, e a partir daí a segunda parte da jornada é a saída para a luz pelo útero da mãe terra! O movimento externo libera uma energia psíquica interior de resolução. *A moderna psicologia descobriu através de sucessivas experiências que, se entrarmos num labirinto com uma dúvida ou questionamento, ao sairmos a resposta aparecerá! Se a aceitaremos ou não é outro processo, mas ela vem.
A igreja católica se apropriou deste antigo símbolo, dando-lhe um significado mais “cristão”. Para os cristãos franceses os labirintos eram chamados de Chemin de Jérusalem, ou Caminho de Jerusalém. E em igrejas como Chartres e Reims os peregrinos tinham de perfazer seu trajeto de onze voltas de joelhos. O onze estava associado ao pecado por ser o número que excedia aos dez mandamentos sagrados. Essa forma de peregrinação aludia à subida de Jesus ao Gólgota, onde ao chegar, e antes de expirar na cruz, ele encontra o seu Deus. Por isso a saída dos labirintos nos templos cristãos era defronte ao altar, para simbolizar esse encontro com o Divino. 
Os labirintos medievais encontravam-se sempre no portal oeste das igrejas. O lado onde o sol de põe, o quadrante da purificação. O labirinto de Reims era angular e foi destruído em 1768 porque o clero irritou-se com as brincadeiras de crianças dentro dele, **e isso lembrava antigos ritos pagãos como os que eram feitos a Dédalo e Ariadne. Além do que folguedos não combinavam com a postura sisuda da igreja na época.
Uma antiga lenda grega falava que no palácio de Cnossos o rei Minos sacrificava todos os anos vinte rapazes e vinte moças para um monstro terrível com corpo humano e cabeça de touro, o Minotauro. Sua fome insaciável o tornou muito temido. A besta era filho da esposa de Minos, Pasifae, com um touro ofertado pelo deus Poseidon ao rei como uma prova da aliança que fora realizada entre eles. Poseidon tornaria Minos o rei mais rico do mundo e após ter feito isso ele levantaria um templo em nome do deus dos mares e devolveria o touro. Entretanto, o animal era fabuloso! Era branco mármore, com chifres polidos como madeira, ele ainda tinha uma joia incrustada bem no meio de sua cabeça que emitia um brilho capaz de ser visto a quilômetros de distância. O ambicioso rei o quis para si. Injuriado Poseidon resolveu dar-lhe uma lição, fez com que sua rainha se apaixonasse pelo touro e essa pediu a Dédalo, o maior inventor e arquiteto que o mundo conheceu, para que construísse uma vaca de madeira, onde Pasifae entrou para copular com o animal. 

O labirinto no chão da catedral de Chartres.
Acima à direita, o panorama total do seu desenho.

Dessa união nasceu o Minotauro, a vergonha do palácio de Cnossos. Mais uma vez Dédalo é chamado para construir um labirinto com a finalidade de manter o monstro lá dentro e impedir que suas vítimas fugissem. E assim foi até o jovem herói Teseu ser mandado pelo senhor dos mares para acabar com aquilo. Ofereceu-se como vítima, mas com a ajuda de Ariadne, que usou uma linha para ajudá-lo a encontrar a saída, Teseu mata o Minotauro, liberta o povo do temor do monstro e sai da armadilha criada por Dédalo. Nesse momento Poseidon fez tremer a terra e levantou ondas imensas para destruir o palácio do ambicioso e traidor rei de Creta. 
A luta de Teseu contra o monstro de Minos tem muitos significados. Em termos psicológicos é a luta do homem com sua besta interior, seus instintos e apegos escravizantes. Em termos espirituais é o embate constante pela integração do aspecto humano-animal com sua intrínseca natureza divina ou espiritual. É interessante notar também que Poseidon é o Netuno da astrologia, o planeta da dissolução das ilusões materiais para o encontro com o aspecto transcendente ou místico da vida! Já o próprio rei Minos é referido muitas vezes como um mito relativo ao signo de touro... Cujo significado básico é a busca da segurança pelo acúmulo de bens e recursos monetários.

O duelo entre o heroi Teseu e o Minotauro
- Combatendo a sombra interior.

O tarot, enquanto uma linguagem simbólica, também pode ser visto como um labirinto. Ao nos depararmos com suas complexas imagens, nos sentimos desorientados a princípio. O conjunto de seus símbolos pode parecer desorientador para um não iniciado, mas com o tempo a jornada simbólica revela-se tornando possível o reconhecimento da trajetória de toda a humanidade, bem como as vivências individuais.  Até mesmo para o leitor experiente há uma sensação de mergulho na complexidade, mas ao organizar suas imagens em um sistema compreensível de leitura chega-se a uma síntese que faz um sentido absoluto! Proporcionando um acesso imediato a uma verdade que seria impossível por outros meios. Esse relance súbito e revelador de uma verdade incognoscível é arrebatador para a consciência, estimula a psique e faz com que o intérprete se sinta estranhamente conectado a algo muito maior que ele mesmo. O que equivale à saída para a luz.

A Lua, arcano XVIII, no Motherpeace tarot.

O arcano de A Lua é o que melhor expressa essa imersão no labirinto interior. Abandonados na mais absoluta escuridão, e sem nenhuma referência do que devemos fazer ou para onde devemos ir, só nós resta confiar na vida, em Deus, ou no absoluto. Ao fazermos isso encontramos a luz do próximo arcano O Sol, caso contrário podemos passar até anos nas sombras do décimo oitavo arcano do tarot nos perguntando coisas como: “Por quê?” Ou “Como?”.
No baralho Motherpeace, Vicki Noble e Karen Vogel desenharam a imagem de A Lua com uma mulher negra, num lago à noite com a água pela cintura. Ela tem de atravessá-lo às cegas como os morcegos que rodeiam sua cabeça. Mais uma vez a água aparece como um símbolo do inconsciente e da memória profunda. Ela está rodeada por fantasmas (Seus medos) e ao longe podemos ver o barco de Caronte, o condutor das almas. Indicando o seu temor da morte ou de qualquer fim súbito e infeliz. Ao pé da figura, em frente a mulher, aparece um labirinto e no alto da figura do arcano, onde tradicionalmente apareceria a imagem da lua crescente, surge uma cabeça de mulher perfilada, é Ariadne. Aquela que confiou nas próprias habilidades para sair do emaranhado interior.

* Leia mais sobre as aplicações terapêuticas do labirinto numa reportagem feita pela revista Isto É

** Na antiga Grécia faziam-se danças dentro dos labirintos em homenagem a Dédalo, o grande inventor e a Ariadne, a rainha de todos os labirintos.