sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Em Defesa da Cartomancia

A Arte das Cartas

O Eremita do tarot 
de Marselha, ilustração 
de Claude Burdel (1727-1799).
A cartomancia é uma modalidade antiga e muito popular de adivinhação e aconselhamento através das cartas. A mais antiga, e que talvez tenha dado origem a todas as outras, é a cartomancia comum, feita com as cartas de baralho para jogo. Popularizaram-se na Europa entre os soldados que retornaram das duas Cruzadas do século XII, a de 1147/1149 e a de 1189/1192. Trouxeram o baralho das suas interações com o povo árabe que se utilizava das cartas tanto para jogos quanto predição. Isso dá à cartomancia uma idade por volta de mil anos! Embora o tarot tenha mais de seiscentos anos, o seu uso oracular só se torna imensamente difundido graças ao trabalho intenso de divulgação tanto prática (dando consultas), quanto teórica (proferindo palestras e cursos) do ocultista francês Etteilla (1738/1791) por volta de 1750, o que faz do tarot um senhor quase tricentenário na divinação. Por fim, o mais novo membro desta família, o baralho Lenormand, nasce de um engano. As cartas originais pertencem a um jogo de lazer que foi criado por um alemão chamado Johann Kaspar Hechtel (1771/1799), e foram publicadas com o nome de “Jogo da Esperança”. Por volta de 1840 as cartas foram lançadas na França em nome de Madame Lenormand, que veio a falecer em 1843. Portanto, as cartas nunca foram ciganas, e nem de Madame Lenormand (1772/1843)! O mais provável é que ela se utilizasse mesmo do tarot clássico, e de leituras astrológicas e das mãos (quirologia) em suas consultas. Ainda assim as cartas chegam ao Brasil por volta de 1929 com o nome de “Cartas Ciganas”, dando início a uma fantasiosa confusão que só é aumentada quando a cartomante Kátia Bastos resolve lançar uma versão nacional do baralho com o nome de Tarot Cigano! Nem por isso o poder divinatório do baralho Lenormand, também chamado de cartomancia francesa, ficou ofuscado, pelo contrário! Grandes leitores mudaram vidas se utilizando desse baralho. Assim sendo as "cartas de Madame Lenormand", as mais jovens da cartomancia, são senhoras quase bicentenárias.
Uma cartomante com cartas
do baralho comum...
Dentre todas as formas de cartomancia o tarot foi a que se popularizou de modo mais grandioso, com inúmeras e belas versões artísticas, como o tarot de Salvador Dali. Estudado por psicólogos, antropólogos e historiadores, os arcanos (ou mistérios) do tarot, como ficaram conhecidas as suas cartas, parecem ser a síntese mais perfeita de muitos conhecimentos ocultos numa única obra. Em seu simbolismo percebe-se analogia com disciplinas muito mais antigas como a cabala, a astrologia, a magia e a mitologia de muitos povos! E isso se deu de tal modo que o estudo do tarot ergueu-se da denominação cartomancia, que literalmente quer dizer “a arte das cartas”, para criar uma nomenclatura própria, a tarologia, que significa “o conhecimento do tarot”. Mas como disse o cartomante, tarólogo e historiador Emanuel J. Santos: “Nem todo cartomante é um tarólogo, mas com certeza todo tarólogo é um cartomante”, ao que eu digo com certeza! Somos todos membros de uma grande família espiritual, a família dos cartomantes. E o que explicaria o imenso sucesso da cartomancia em todas as suas manifestações no mundo de hoje? Creio que por ser de todas as mancias a mais jovem, as cartas resumem em seu simbolismo o significado de muitas outras práticas mânticas mais antigas. Isso sem falar na imensa facilidade de sua aplicação. Com um baralho nas mãos, quer seja o comum, o Lenormand, ou o tarot, podemos realizar uma leitura para alguém em qualquer lugar. Acrescenta-se a isso a capacidade inspiradora de suas imagens de nos fazer intuir com precisão situações, pensamentos, sentimentos, medos e até esperanças de pessoas com quem não temos contato algum, a não ser por aquele breve instante. Só quem trabalha com as cartas sabe o poder de fascínio e arrebatamento que isso proporciona para quem é atendido, tanto quanto para nós que lemos suas mensagens...
A Lua, do baralho Lenormand.
Versão de Ciro Marchetti.
Infelizmente a cartomancia tem sido vista com desdém e desconfiança quer seja por alguns ocultistas, quer seja pelo público leigo e, cá entre nós, nem sempre é à toa! As famosas “lives” do Facebook têm sido a prova de onde se origina tanta má vontade. Pessoas vestidas de forma suspeita, não raro falando com erros de português, dão respostas das mais obscuras as mais vagas possíveis! Numa dessas transmissões uma mulher que fumava sem parar respondia questões feitas a ela usando um Lenormand. Uma pessoa então diz que tem andado muito estressada e gostaria de saber o porquê. A referida cartomante embaralha, tira três cartas do maço e diz que a cliente tem estado muito agitada com muitas coisas do mundo prático dela, mas que o seu stress era mesmo espiritual. E enquanto dizia isso balançava com ares de gravidade os dedos, indicador e médio, onde segurava o cigarro. Logo após recolhe as cartas, e parte para outra pergunta de outro consulente virtual... Bem, não sei para vocês, mas essa me pareceu a resposta mais vaga, obscura e mal fundamentada que se podia dar. O stress, ou estresse em português, é causado por uma sobrecarga de estímulos ou demandas internas e externas que sobrecarregam o sistema nervoso, causando o aumento da produção de um hormônio conhecido como adrenalina, que causa entre outras coisas aumento da pressão arterial, insônia, ansiedade, e muitas outras perturbações sistêmicas. Como seria isso tendo uma origem espiritual? Ela estaria falando de quê? Obsessores? Mediunidade mal trabalhada? Influência mágica dirigida a consulente? Enfim, a lista de possibilidades é imensa, e quanto mais a lista cresce mais absurda parece a resposta da cartomante. Convenhamos que foi uma resposta que não esclarece coisa alguma!
A cartomancia não tem a ver apenas com entender de um certo sistema simbólico e ter intuições precisas, é também sobre orientar pessoas a partir de uma perspectiva interior mais profunda! Por isso recomendo que você ou não fale do que desconhece ou conhece pouco, que é o mínimo da decência, ou que vá ampliar seu cabedal de conhecimentos gerais... Por favor! 
A intuição, um poderoso guia
que se complementa bem com as 

informações da mente racional...
A figura da cartomante com linguagem de jargão do tipo “por noites vejo uma mudança em tua vida”, ou “cuidado, vão te fazer uma ursada minha filha!” está mais do que ultrapassada! Muitos conhecimentos foram agregados à moderna cartomancia, eles podem servir de base quando se precisar dar um nome àquilo que a percepção intuitiva estiver captando. O que acontece é que na carência de conhecimento de um termo exato usa-se o mais conhecido, e que quase sempre é o que se tem o conhecimento menos aprofundado, simplesmente porque não se teve o trabalho de pesquisar. O que parece ter sido exatamente o que ocorreu no caso da cartomante que acabei de citar.
Conheci uma pessoa que possuía imensa vidência com as cartas de baralho comum, mas que não lia nada sobre espiritualidade, esoterismo ou comportamento humano porque acreditava que isso atrapalharia sua visão interior... Pois é! Não preciso dizer que ela perdeu inúmeros clientes, pois que na ausência de um conhecimento mínimo que fosse sobre a alma humana, e numa vaidade imensa de conseguir dizer muitas vezes nomes e datas com precisão, ela caía no “achismo” do seu próprio ponto de vista. Disparando de vez em quando pérolas do tipo: ”que feio isso que você faz!” ou “nossa só arranja mulher feia pra namorar!”. Vaidade e falta de conhecimento é, como vimos, uma combinação mortal. Além de essas pessoas aumentarem exponencialmente o preconceito que as cartas já têm sofrido ao longo dos séculos.
Este exemplo ilustra bem que agregar conhecimentos não só enriquece o vocabulário, mas melhora em muito a postura do leitor, dando-lhe isenção de perspectiva. Em resumo, se você tem resistência com certos temas humanos como infidelidade, drogadição, homossexualidade etc, e nenhuma vocação para aprofundar seu conhecimento com novos aprendizados, ou de aprender com o que cada pessoa lhe traz, então você não tem condições nenhuma de fazer esse trabalho. Não importa o quão intuitivo ou mediúnico você seja.

Leia também: Espiritualidade & Tarot 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Que Tipo de Reikiano Você é?


Escrevi há algum tempo atrás, em dezembro de 2017, um artigo intitulado Que Tipo de Tarólogo Você É? sobre os tipos de tarólogos, segundo a tipologia psicológica junguiana, em que dividia os leitores de tarot em analíticos, relativos ao tipo pensamento, em psíquicos que são relativos ao sentimento. Os intuitivos, que são relativos ao tipo intuição e os sensitivos que se relacionam ao tipo sensação de Jung. O link para que você possa ler este texto na íntegra está no pé da página! Trago hoje essa mesma análise das quatro personalidades definidas pelo psicólogo suíço aos terapeutas reiki em suas atuações. Esse texto está baseado na minha própria experiência com meus alunos, nos relatos de clientes que frequentaram sessões de reiki com outros profissionais, bem como na troca com outros reikianos. Apresento também possíveis problemas que essa caracterização pode ocasionar quando for excessiva. Mostro também o que acontece quando o praticante reiki abre um canal mediúnico nas suas práticas. Muitos mestres e terapeutas não aprovam isso e dizem que o a riqueza da reiki é a sua simplicidade, e eu concordo! Entretanto, sabemos que há um elemento transcendente dentro de toda a atividade de terapia energética, assim como na oracular, e isso é algo que está além do controle da personalidade. É uma coisa que simplesmente acontece!


Então os reikianos do tipo pensamento são do Ar, os psíquicos da Água, os intuitivos do Fogo e os sensitivos da Terra. Fazendo assim o mesmo elo entre os elementos alquímicos e as características psicológicas de cada tipo. Como disse no artigo sobre tarot eu não creio que por me identificar com um determinado trabalho realizado por um dos tipos psicológicos que esse seja o meu no dia a dia! Acessamos diferentes partes de nós mesmos ao realizar determinadas atividades. Nas leituras de tarot eu me conecto totalmente com os tipos sensitivos (tipo sensação/terra). Já na prática terapêutica do reiki eu me identifico com os tipos intuitivos (tipo intuição/fogo). Agora vamos a eles:

Reikiano do Ar - São aqueles experimentalistas do reiki, sempre curiosos com os sistemas derivados do sistema original, eles se interessam por todas as versões e vertentes de aplicação de reiki e também por sua perspectiva científica. São os que mais frequentemente associam a linguagem científica à espiritual e acreditam que ambas podem coexistir e, inclusive, que se encontram na prática reiki. Sua imensa busca cerebral, porém, faz com que mudem muitas vezes as formas com que realizam o seu trabalho, pois parecem estar em constante investigação e experimentação das possibilidades de cura do sistema reiki e de si próprios. Acreditam que estão em constante evolução, o que justificaria as mudanças constantes. O problema é que aqueles que recebem seus cuidados podem não ver assim algumas vezes. Os reikianos do tipo pensamento são os que têm mais dificuldade em construir um trabalho e fidelizar público. A sua troca constante no estilo de trabalho passa a estranha impressão de inconsistência. Quando o cliente está se acostumando ao tratamento ele pode repentinamente mudar tudo! Ao desenvolverem um canal mediúnico na aplicação da energia ki, são os que costumam receber mensagens para as pessoas, como orientações para o seu bem estar.

Reikianos da Água – Esses são os que mergulham mais profundamente na aplicação do reiki, como se entrassem em transe! Suas sessões costumam ser longas e eles se conectam com as emoções dos clientes intensamente e conseguem perceber emoções profundas, mesmo aquelas que parecem superadas. Por estarem ligados ao tipo sentimento de Jung suas aplicações fluem no sentido de acolher as dores daquele que se trata com eles. A linguagem espiritual e emocional, muito mais que a científica, os interessa. Podem incluir certas práticas místicas em suas sessões como mantras, preces e yantras de cura. Quando desenvolvem um canal mediúnico durante a prática são aquele tipo que pode ter revelações sobre a doença a nível físico, ou sobre as emoções que estão associadas à enfermidade. Em casos extremos há reikianos da água que conseguem até prever eventos futuros ou obter revelações sobre os temas práticos da vida dos seus clientes. O grande problema aqui é que as pessoas podem acabar se tornando dependentes dele, ou apenas curiosas com a capacidade do terapeuta de ver coisas, o que pode além de tirar o foco do viés terapêutico, causar também uma inflação do ego desses reikianos. Atenção redobrada no próprio crescimento é o que se sugere a esse tipo de reikiano.

Reikianos do Fogo – De todos os tipos de reikianos os do fogo, ou do tipo intuição, são os que estão mais interessados em usar o reiki como um caminho espiritual de autodesenvolvimento, meditação e, portanto, de introspecção. Suas sessões costumam ter uma parte de conversa terapêutica e de práticas meditativas mais longas que a da maioria, e podem agregar outras técnicas terapêuticas como florais, cristais e cromoterapia em suas aplicações de energia ki nos clientes. Quando abrem um canal mediúnico em seus atendimentos eles conseguem perceber as emoções adjacentes ao momento ou enfermidade do cliente, assim como os tipos da água, mas não são focados em fatalismos ou predições. Há dentre os tipos do fogo uma tendência a serem puristas, rejeitando as técnicas alternativas de reiki, e em casos extremos há até mesmo aqueles que rejeitam os outros sistemas complementares como os florais e os cristais antes citados... O problema pode ser justo esse, como esses praticantes tem um propósito muito claro em sua atividade, para algumas pessoas suas sessões podem parecer “sérias” demais. Não parecendo muito com um colinho de cura e aconchego, como parecem ser as sessões dos reikianos da água, por exemplo.

Reikianos da Terra - Esses, a exemplo dos reikianos do ar, gostam de uma abordagem mais cientifica ou técnica e muito comumente tendem a empregar terapias corporais que aliam às suas sessões ou intercalam com elas. Eles acreditam que é muito importante empregar uma técnica mais física na pratica reiki para assim tornar a resposta mais “eficiente”. Não que duvidem dos benefícios do reiki, mas de alguma forma eles percebem que a energia ki flui mais livre e profundamente assim. Quando desenvolvem um canal mediúnico durante as sessões de reiki eles são do tipo que localizam dores e outros desconfortos físicos logo após mal terem tocado no corpo. Normalmente não conseguem captar intuitivamente suas origens emocionais mais profundas, como os do tipo água e fogo, mas para compensar isso recorrem ao conhecimento da psicossomática e da linguagem corporal que não raro eles são versados! O problema que pode surgir aqui é que a terapia corporal pode soar invasiva em certos momentos, ainda mais se o cliente quer relaxar mais que qualquer outra coisa. Por isso se lembrar de perguntar o que a pessoa quer ao invés de impor o que se acha certo, é um caminho que tende a ser mais eficiente!
E você, que tipo de reikiano você é?

Leia também: Que Tipo de Tarólogo Você É?