quarta-feira, 20 de abril de 2011

Os Gatos & o Tarot

Interessante notar que esses dois elementos se encontrem com tanta frequência nos temas de cunho espiritual, oculto ou esotérico. Os gatos são figuras assíduas em histórias modernas ou antigas sobre bruxas, magos e oráculos. São seus companheiros. Os felinos eram seres adorados em civilizações antigas como os egípcios, os babilônicos e fenícios. Com o advento da cristandade (que nada teve a ver com os propósitos de Cristo) todas as religiões antigas foram taxadas de hereges e seus ídolos foram acusados de serem demônios. Os gatos passaram então de seres mágicos que podiam pressentir quando ia chover e que eram capazes de captar sons e imagens inaudíveis e invisíveis aos seres humanos, a servos de Satã, e cúmplices nos ardis do mal. Na inquisição um dos costumes mais terríveis era o de incendiar um cesto cheio de gatos junto com aquela pessoa acusada de bruxaria.
A Papisa (Ou Sacerdotisa), arcano II, no The Medieval Cat Tarot, à esquerda. A Torre, arcano XVI, no The Cat People Tarot, à direita.

Como tudo o que é combatido, a mitologia em torno do gato só fez crescer com o tempo, e esse animal passou a gerar um medo infundado em algumas pessoas, e fascínio a outras. Particularmente eu me encaixo no segundo grupo, sou um fã incondicional da beleza, inteligência e sensibilidade dos gatos. Muitos desenhistas de baralhos de tarot se deixaram seduzir de tal forma pela mítica felina que criaram baralhos inspirados nos belos e lânguidos bichanos. Dois exemplos disso são o The Cat People Tarot e o The Medieval Cat Tarot, duas criações artísticas totalmente embasadas na estética felina. É bem isso, nenhum dos dois baralhos propõe uma nova abordagem para os arcanos, apenas um olhar dentro do mundo misterioso dos gatos, em seus movimentos e expressões diversas.
Alguns baralhos figurados por gatos (a partir da esquerda):
Medieval Cat Tarot, Tarot of White Cats,
Tarot of Pagan Cats, Tarot of the Cat People, Tarot for Cats, e Cat's Eye Tarot.


O que não falta são histórias no mínimo curiosas sobre quem trabalha com os arcanos e convive com os gatos. Eu mesmo presenciei inúmeras vezes meu gato sair de onde quer que ele estivesse para ficar ao meu lado quando eu simplesmente pensava em pegar as cartas para uma consulta particular. Enquanto eu manipulava o baralho e tecia jogadas ele olhava com ávido interesse e máxima atenção dispersando-se ou caindo no sono tão logo a minha consulta encerrava. Uma amiga montou num pequeno quarto em sua casa uma sala de atendimentos para leituras de tarot e das mãos. Ela possuía uma gata da raça snowshoes que tinha o hábito de entrar na sala de consultas com certos clientes. Subia numa prateleira e ficava olhando sem trégua para aquele que se consultava. Com uma incrível frequência essa pessoa observada era a que trazia os problemas mais sérios ou que se mostrava mais abalada com seus dilemas pessoais. Assim que a sessão terminava a gatinha saía da sala e deitava-se no sofá mergulhado em sono profundo...

É claro que nem todos os gatos possuem essa ligação com as cartas do tarot ou com a prática de sua leitura, mas sem sombra de dúvida é o animal doméstico com que mais acontece esse tipo de “coincidência”. Alguns autores chegam mesmo a atribuir o significado de alguns arcanos às qualidades arquetípicas ou espirituais dos felinos. Os autores e tarólogos *Catherine Summers e Julian Vayne ao descrever o simbolismo da rainha de paus, fazendo referência ao arcano como ele é apresentado nos baralhos Thoth de Aleister Crowley e no Rider-Waite dizem: O simbolismo desta carta está de maneira intrínseca ligado ao do gato, esse animal de poder feroz mas de controle elegante e misterioso.
É, parece que essa parceria entre gatos e salas de cartomantes não vai parar tão cedo, e mais baralhos e analogias serão evocados. Continuo fiel à ideia de que isso se dá pelo aspecto transgressor que os temas espirituais possuem intrinsecamente, e que são muito similares aos preconceitos que afligiram todos os gatos (Tidos como animais mágicos ou sagrados por quase todas as culturas). Enquanto a humanidade temer os temas interiores ou misteriosos, no sentido de nem sempre possuírem uma explicação cientificamente comprovável, o mistério dos gatos e das cartas, e sua enigmática ligação, continuará ou incomodando, ou fascinando muitas pessoas.


* Tarô e Você,  Catherine Summers e Julian Vayne.
Editora Saraiva, São Paulo 1995.

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