quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O Simbolismo da Rosa nos Arcanos do Tarot

A Rainha de espadas, do
Morgan-Greer tarot.
A rosa está para a o ocidente como o lótus está para o oriente. Ela representa a primeira manifestação que de dentro das águas primordiais se eleva e desabrocha, como a rosa cósmica Tripura Sundari, da cultura indiana, que faz referência à beleza da Mãe Divina. Não é à toa que no rosacrucianismo a rosa é representada no centro da cruz, ou seja no lugar do coração do Cristo. Na iconografia cristã representa a transmutação do seu sangue, ou de suas chagas. A rosa mística do cristianismo é também um simbolismo atribuído à Virgem Maria, e mais especificamente em suas inúmeras aparições, sendo a mais marcante a de 1947 para a enfermeira italiana Pierina Gilli, e outras aparições com os mesmos símbolos se estenderam até 1984. Em sua primeira aparição Nossa Senhora da Rosa Mística aparece segurando em seus braços três espadas, e depois passa a ser representada trazendo junto ao peito três rosas, uma branca, uma vermelha e outra, dourada. A rosa branca simboliza a abertura à oração como uma forma de comunhão com o Divino, e o encontro da vocação interior. A vermelha representa a purificação dos pecados através do sacrifício feito amorosamente. E, por fim, a rosa dourada simbolizaria a penitência de todos aqueles que deveriam representar os preceitos cristãos, mas que traíram a Igreja, seus sacerdotes e monges, e a necessidade de corrigi-los! Curiosamente as rosas aparecem, com uma grande frequência, associadas ao simbolismo do naipe de espadas, que traz em seu escopo de significados a ideia de sofrimento, correção, a busca da verdade, da justiça e a potência da razão. 
A rosa, símbolo de beleza e também
de elevação espiritual.
A rosa também aparece como uma roda, devido ao arranjo de suas pétalas, e que se evidencia na forma da rosa dos ventos, indicando que evolução é movimento! E como tanto na tradição católica quanto muçulmana, e também pagã, as rosas são associadas ao sangue derramado, seu simbolismo está fortemente ligado ao conceito de renascimento espiritual. Sua imagem parece mesmo traduzir isto tudo! De uma haste espinhenta e, portanto dolorosa, ergue-se uma linda flor delicada e de perfume embriagador. Como a alma que se eleva de seus sofrimentos com a beleza do entendimento, a sabedoria, que exala para todos os que a cercam, encantando e instruindo pelo exemplo. Um símbolo de crescimento interior e de amadurecimento espiritual. A deusa grega Hécate, uma deusa do submundo e arauto dos aspectos sombrios da consciência, era por vezes representada portando uma guirlanda de rosas de cinco folhas. O número cinco representa a mudança e o movimento que vêm do quatro, que é a cifra da ordem em vigência. Isso associado ao simbolismo de Hécate deixa claro que não existe nenhum tipo de renascimento ou despertar espiritual sem um mergulho nas próprias sombras. O que costuma ser doloroso de algum modo!
Mais tarde a rosa seria associada ao amor, pois que uma vez associada ao Cristo em sua missão e sacrifício por amor à humanidade, passa a representar o amor puro ou ideal que todos os homens buscam. Mais uma vez vemos uma referência à idealização humana, um claro atributo da mente racional (naipe de espadas), mais do que da afetividade fantasiosa (naipe de copas).
O 9 de espadas, do Rider-Waite.
Foi nos baralhos criados por alguns dos membros da Hermética Ordem da Aurora Dourada, a Golden Dawn, que se originou a conexão entre o simbolismo das rosas e as imagens arquetípicas do tarot. O primeiro foi Arthur Edward Waite em seu Rider-Waite de 1910, que apresenta o arcano de O Louco segurando uma rosa branca na mão esquerda, simbolizando uma consciência pura, livre de conceitos enrijecidos e aberta a novas inspirações. Depois rosas vermelhas aparecem rodeando o personagem central do arcano de O Mago, e nas vestes do arcano de A Imperatriz. O primeiro representando o influxo poderoso de uma energia superior, e o segundo a manifestação criativa no mundo exterior desse mesmo influxo. Mais adiante as rosas vermelhas aparecem ao lado de símbolos astrológicos bordados nas cobertas da atormentada figura do arcano do 9 de espadas. Quem sabe numa alusão a se extrair um propósito maior do sofrimento? 
O 2 de espadas do Thoth tarot,
de Alesiter Crowley. Rosas do vento

aparecem ao fundo...
Aleister Crowley faz o mesmo em vários arcanos do naipe de espadas em seu Thoth Tarot, de 1943. Como no 2, 3, 4 e 6 de espadas. O 2 de espadas de Crowley alude a uma paz delicada que não pode ser mantida para sempre, e algo tem de ser decidido, por isso aparecem as duas espadas atravessando o centro de uma mítica rosa azul (um sonho de perfeição da Idade Média). O 3 de espadas mostra uma rosa sendo destruída por três espadas de tamanhos diferentes, simbolizando o sofrimento que é inerente às escolhas que fazemos. O 4 de espadas mostra quatro espadas que se encontram no centro de uma rosa fantástica de quarenta e nove pétalas, simbolizando a trégua depois do enfrentamento. E, por fim, o 6 de espadas mostra a rosa-cruz como a conquista de um novo patamar de consciência (Ciência) sobre os sofrimentos passados. 
O 6 de espadas do Golden Dawn
tarot, de Robert Wang.
O mesmo ocorre no tarot da Golden Dawn, desenhado por Robert Wang em 1978, que segue as instruções contidas no Liber T, e que também serviu de base aos criadores antes citados para os seus respectivos baralhos. Esse texto era utilizado para as meditações e práticas rituais que se utilizavam do tarot. Os iniciados nessa ordem eram incentivados a estudar, praticar e desenhar seus próprios baralhos como uma forma de imersão profunda no simbolismo dos arcanos. Não se admira que tantos baralhos influentes até hoje tenham derivado desses adeptos. O que também deu, por outro lado, origem a todas as distorções criadas no simbolismo clássico do tarot que vemos hoje. Reza a lenda que o baralho original da Golden teve seus esboços desenvolvidos por MacGregor Matthers, um de seus lideres mais influentes.
No baralho desenhado por Wang, sob a orientação de Israel Regardie, outro membro da Golden, o naipe de espadas tem rosas representadas nos seus arcanos numerados do 2 ao 8. Já mencionei em outro artigo meu A Viagem da Alma nos Arcanos Menores, que as cartas de naipe no tarot, assim como os arcanos maiores, mostram uma trajetória da consciência, mas desta vez por cada um dos quatro níveis específicos de manifestação da vida: energético/criativo (paus), psíquico/afetivo (copas), mental/racional (espadas), e prático/físico (ouros). A sequência dos desenhos mostram nessa obra a mente movida por altos ideais em sua busca por elevação e compreensão das mazelas vividas, começando por suas decisões no 2 de espadas, até ser superada por si mesma, quando nos arcanos 9 e 10 de espadas a rosa desaparece. Então o ideal da nossa áspera mente julgadora e crítica fenece e abre, depois de muito sofrimento, espaço para uma nova forma de percepção, uma que vá além da mente, e integre as outras partes do ser. Qualidade representada pelo próximo naipe, ouros, que vem a seguir encerrando a série dos quatro mundos manifestos.
O Louco do Osho Zen tarot segura
a rosa branca, assim como seu irmão
do Rider-Waite...
Mais recentemente, no Morgan-Greer tarot, a lúcida mas exigente Rainha de espadas é representada, ao que parece, num belo jardim cercada de lindas rosas vermelhas enquanto empunha majestosamente a sua espada a frente, entre si mesma e o expectador. Parece lembrar-nos de que a mente e suas capacidades de análise, discernimento, julgamento e discriminação são extremamente úteis e necessárias sim, mas que devem estar embasadas em ideais o mais libertadores e flexíveis possíveis. Caso contrário encontraremos a sombra dessa rainha, que é justamente o preconceito, a visão estreita e nada inclusiva de certo e errado, e a crítica devastadora a tudo que não se encaixe dentro desta visão! O que poderíamos resumir citando aquela máxima que diz que a mente é uma ótima serva, mas uma péssima anfitriã.

Livros para ler:

- A Golden Dawn - A Aurora Dourada
De: Israel Regardie
Editora: Madras

- Dicionário de Símbolos
De: Jean Chevalier & Alain Gheerbrant 
Editora: José Olympio

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

As Muitas Faces do Arcano XVIII - A Lua...

The Moon, Old Tarot Card.
O Oculto

O oculto é onde habita todo o conhecimento inorganizado da mente consciente, os sonhos, as intuições, as experiências mediúnicas... Mas também os medos, as sombras da alma e suas assombrações... Oculto é o nome que damos ao absoluto desconhecido!

As Muitas Faces da Lua

Muito mais sobre a Lua... Mistério, sonhos, imaginação. Mediunidade espontânea e inorganizada, coisas obscuras, mal resolvidas. O Karma.
O ocultismo, a magia e todas as atividades que fogem à compreensão da mente racional e objetiva. Pode também ser a superstição!
Ligação mágica com as forças da lua. Conexão com a figura da mãe, porém, nunca de forma harmoniosa. Gravidez complicada ou indesejada. Problemas na gestação, ou de fertilidade. Pode simbolizar o trauma profundamente inserido na psique... No mundo concreto são s negócios feitos em surdina, tipo "na calada da noite". Alguns tarólogos veem ainda neste arcano o romantismo exacerbado, ou a melancolia frequente... Tudo uma questão do olhar!

The Moon, by xwocketx on DevianArt.
Leitura das quatro Fases da Lua

Como estamos todos conectados ao poder e à influência da Lua, trago hoje esse pequeno método para uma leitura reflexiva e de autoconhecimento baseado nas suas quatro fases.
Depois de embaralhar o maço de cartas com a mente limpa, corte-o em dois, junte novamente as duas partes em um monte com a porção inferior cobrindo a superior, espalhe as cartas em leque na sua frente e retire 4 arcanos. O primeiro ficará à sua esquerda e representará a Lua nova, o segundo ficará em cima e representará a lua crescente, o terceiro ficara à sua direita e será a fase cheia da Lua, e embaixo fica então a carta da Lua minguante.

1) À Lua nova pergunte: O que está adormecido em mim, e vire a carta (e que pode estar consciente ou inconsciente)?

2) À Lua crescente pergunte: O que está crescendo em mim dia a dia (positivo ou negativo)?

3) À Lua cheia pergunte: O que hoje me preenche e me toma completamente (positivo ou negativo)?

4) À Lua minguante pergunte: O que eu preciso deixar para trás para seguir o meu caminho evolutivo (simboliza a cura)?


Essa ilustração de Yulia Volchok, se assemelha
ou menos com o arranjo das cartas como eu o faço...
O arcano oculto (se houver) fica no centro.

Se sair mais de um arcano maior na leitura some-os para descobrir o arcano oculto. Por exemplo, se saiu A Justiça VIII, e a Roda da Fortuna X, some 8 + 10 = 18 = 1 + 8 = 9. Nesse caso O Eremita é o arcano oculto e o seu guia nesse momento de sua vida. Essa carta deverá então ser colocada no centro da leitura . Se utilizar apena os arcanos maiores some todos os quatro com o mesmo fim...

Observação: Para este método de leitura mesmo os arcanos compostos deverão ser reduzidos a um único dígito final, como no exemplo acima, em que 18 que corresponde ao arcano de A Lua foi reduzido a 9, de O Eremita. Os arcanos de 1 a 9 representam a essência e, portanto, a alma humana.