"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás
o universo e os deuses."
o universo e os deuses."
- Sócrates
A cura é um processo interior ou
exterior de restauração do equilíbrio e da harmonia pessoal, nesta ordem, para
a devolução do corpo ou da consciência ao seu estado natural de saúde e bem
estar, ou a elevação ao próximo estado evolutivo. Portanto, a ideia de que a
cura é um processo puramente físico e que trata basicamente de patologias é
falsa!
Como todo o processo relacionado
ao humano a cura pode ser dividia em quatro estágios diferentes, todos
conectados entre si, mas que não levam um ao outro de modo automático. Cada
etapa é uma conquista em si e depende muito do modo como cada pessoa encara seu
próprio processo de cura interior e do comprometimento que tem com o mesmo.
Apresento aqui uma síntese desses quatro estágios de cura interior ou exterior.
Vamos a eles:
1º Estágio – O Auto reconhecimento
Nesse ponto inicial há o
reconhecimento da consciência sobre sua situação limitadora. Algo que surge com
frases do tipo: “Tenho um problema!”, ou “Há algo errado comigo” de modo geral,
ou uma percepção a cerca de suas limitações em um dado ponto da sua
personalidade que limita sua atuação e realização social e individual. Para
muitas pessoas esse ponto é o mais crítico, pois que muitos encaram esse
reconhecimento como uma espécie de admissão do fracasso pessoal, e podem
escolher “resolver por si mesmos” o que consideram um problema exclusivamente
seu. Com muita frequência vemos os homens fazerem isso mais que as mulheres. A
cultura machista ocidental alienou os homens de sua vida interior, de suas
emoções, sentimentos e percepções mais profundas. Em troca ofertou-lhe a
persona do senhor do mundo, do conquistador implacável (de mulheres e posses),
e do eterno vencedor. Apresentou-lhe isso como sendo a essência verdadeira do
masculino, e tudo o que não se encaixe nisso é fraqueza e o faz menos homem.
Enquanto isso as mulheres ao se
livrarem da dominação patriarcal, aprenderam que ser fortes não compromete sua
feminilidade, e muito menos fazer experimentos com sua consciência, percepção,
sensibilidade e até com sua sexualidade. Costumo dizer que mulheres e homens foram
vítimas do machismo.
2º Estágio – A
Identificação
Nesta etapa da cura aprendemos a
identificar o que nos causa sofrimento, e geralmente se trata de uma postura,
atitude ou pensamento que se apresenta sempre que um conjunto de vivências
importantes para nosso sentido de realização quer se manifestar. Uma pessoa
sempre acusada de agressiva com os que ama, por exemplo, de repente percebe que
diante de uma demonstração de amor sente um medo profundo que se manifesta como
suspeita de falsidade, medo de cobrança ou de abandono que a faz reagir
defensivamente.
Nesta fase, entretanto, ainda não
se consegue interromper o fluxo reativo. É quase como se estivéssemos vendo
nossa vida passar pela televisão. Apesar de ser uma conquista importante dentro
do processo de autoconhecimento e cura, é também um tanto angustiante. Muito
frequentemente as pessoas sentem culpa e vergonha do seu condicionamento.
Apesar disso é fundamental seguir
adiante, aceitando que somos seres humanos, e que por isso mesmo nascemos mal
acabados e vamos nos aprimorando ao longo de nossa existência.
3º Estágio – O Controle
Esta é uma valiosa conquista
sobre si mesmo. Ao contrário da fase anterior, conseguimos interromper o fluxo
reativo e paramos antes que ele se projeto sobre o outro ou os eventos
externos. Então, seguindo nosso exemplo anterior, o indivíduo agressivo com os
que ama sentirá dentro dos gestos de carinho confiança no que está vivendo
naquele momento. Ao ouvir a voz do medo egoico dentro dele dirá a si mesmo: “É
só medo, não é real! Estou seguro!”. Esta síntese que apresento não pretende insinuar
que esses três estágios da cura interior são fáceis ou puramente psicológicos,
eles se aplicam também como forma de curar sentimentos e emoções que se
manifestam também como sintomas físicos. Todo e qualquer processo de terapia
precisa de um profundo comprometimento interior com o propósito da cura. Para a
maioria das teorias psicanalíticas este estágio é o final do processo de
sanidade. O problema é que ainda existe uma identificação do ego com o
desequilíbrio. Como quando um ex alcoólatra mesmo sem beber há mais de 30 anos
se declara: “Eu sou alcoólatra!”. Ainda que pelo antagonismo ele continua preso
ao seu distúrbio. Como alguém que metaforicamente vivia apenas de um lado da
moeda de sua vida, e agora decide viver somente do outro lado.
4º Estágio – A
Transmutação
Nesse estágio é comum a sensação
de liberdade e totalidade. O indivíduo consegue olhar para sua limitação,
condicionamento ou distúrbio de forma a não mais se identificar com ele. Não é
mais necessário fazer nenhum esforço para o autocontrole, simplesmente se vê de
fora do processo, que passa a ser estranho a ele. Ou seja ele se vê, mas não
mais se identifica.
Nem todos chegam a este estágio
de cura pessoal, pois envolve muito mais do que uma abertura racional e
inquiridora sobre si mesmo, envolve também uma ampliação da percepção
espiritual e uma não identificação com a mente egoica. A mente não mais se fixa
no que sabemos de nós porque nos falaram, o que sabemos de nós é o que reconhecemos
no mais fundo do si mesmo! Nesses casos o desafio que se apresentou como um
distúrbio, limitação, condicionamento ou mesmo enfermidade funciona como a
ferida de Quíron, um sofrimento que o faz transcender, ou seja, ir além das
experiências conhecidas até então em direção às alturas do espírito.
Assim a cura não é apenas um
processo físico/mental, mas intrinsecamente espiritual para todos! Porém, poucos
a percebem assim e a fazem um processo de ascensão da própria consciência. Não existe
uma receita de como proceder para iniciar ou conduzir cada um dos quatro
estágios, é um despertar interior, que para uns poderá levar uma vida inteira!
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