sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Sobre Reação & Resposta


Dentro do conceito de que somos todos responsáveis direta ou indiretamente por tudo o que nos acontece, vale sempre lembrar a terceira lei do movimento de Newton que diz que a toda ação se opõe igual reação. No mundo físico isso deixa bem explicado e claro como as coisas funcionam. Porém, no âmbito das relações humanas em seu trajeto de desenvolvimento pessoal deve-se distinguir a diferença entre reação e resposta.
Cavaleiro de copas (Osho Zen tarot),
postura de abertura diante da vida!
A reação é, como diz a palavra, uma ação imediata a algo ou alguma questão recebida por nós. Sua emissão é quase que mecânica, e corresponde ao escopo dos nossos modos e conhecimentos, emoções e percepções. A maioria esmagadora de nós segue pela vida reagindo sem refletir sobre a consequência de nossas ações para nós mesmos e ainda mais para outros. Essas reações automatizadas são as responsáveis por grande parte das nossas encrencas, desentendimentos, e mágoas. É claro que reações instintivas podem também nos livrar de situações de perigo, ou nos fazer agarrar uma oportunidade de trabalho, ou de uma conquista amorosa etc. Na maioria das vezes, entretanto, nas nossas relações sociais elas atrapalham. As reações estão intimamente ligadas aos conceitos mentais e as emoções mais comuns dentro das nossas relações interpessoais.
A resposta, por sua vez, vem de um centro interior de harmonia, onde os julgamentos e vicissitudes usuais de comportamento não entram na ação. A resposta vem de uma consciência observadora, e não julgadora.
Um exemplo que costumo utilizar com clientes e alunos é o de um almoço com amigos onde você decide repetir a sobremesa. Um dos amigos então pergunta: “Vai comer sobremesa de novo?”. Numa atitude reativa essa pergunta é reinterpretada rapidamente de várias formas, todas elas são ou negativas ou depreciativas. Coisas como: “Tá me chamando de glutão?”, “Será que acha que sou mal educado?”. Ou então: “Mas que droga! O que fulano tem de se meter no que faço?”. Em ambos os casos há uma agressividade defensiva que poderá virar uma mágoa a ser guardada ou um ataque. Algo do tipo: “É, vou sim! O que você tem com isso?”. Numa atitude de resposta você pode simplesmente dizer “Sim!”. Ou até tecer um comentário do tipo: “É, gostei desse doce!”. Mesmo que a pergunta tenha sido feita com a intenção de atingir você, para constranger ou mesmo invadir seu espaço íntimo de autonomia, a verdade é que de sua parte o jogo não é ativado. Não há desperdício de energia emocional com algo que não o levará a nada edificante, e que pode sim levar a um dia todo de incômodos e sentimentos de baixa vibração. É evidente que temos de aprender a colocar limites no mundo exterior, a fim de preservar nosso espaço criativo pessoal. Mas há lugares e lugares para se fazer isso, situações e situações, e há o bom e o mau combate. Não se esqueça disso!
O Cavaleiro de espadas (Osho Zen tarot),
postura defensiva-agressiva diante da vida.
No exemplo antes citado fica mais do que claro que a reação vem de um centro emocional desequilibrado que é reforçado pela mente julgadora. A reação é, portanto, mental e emocional simultaneamente. Por esse motivo a personalidade reativa está intimamente ligada ao simbolismo do Cavaleiro de espadas do tarot. Esse arcano possui uma disposição aguerrida que se excede a ponto de ver tudo e todos como um obstáculo ou ameaça. Uma personalidade dessas se forma após sucessivas frustrações, oposições, ou ataques que abriram feridas profundas, que por sua vez criaram a determinação interna de não mais sofrer do mesmo mal a qualquer custo! A composição Elemental deste cavaleiro é fogo do ar. O fogo das emoções sendo inflamado pelo ar dos pensamentos e julgamentos, que analisam, reinterpretam e julgam tudo o que cai na fogueira das nossas emoções.
A resposta é típica de uma personalidade não defensiva, disposta a enfrentar todas as situações da vida com espontaneidade e entrega. O sentimento de desconfiança do Cavaleiro de espadas é aqui substituído por um sentimento de confiança na vida e no bem, mesmo que esse bem não venha do outro. É o bem e a confiança na vida que se traz interiormente. Postura que corresponde com precisão ao Cavaleiro de copas em sua manifestação mais elevada. Sua composição Elemental é o fogo da água, ou seja o calor passageiro da emoção é transmutado na mansidão de sentimentos profundos e duradouros. A raiva é transmutada em sentimentos como a aceitação, e o perdão. O fogo, impulsivo e irracional, é “apagado” ou suavizado pela fluência de sentimentos profundos e positivos. Essa condição só é alcançada quando a pulsão dos instintos (fogo) é permeada com a integração da consciência espiritual abarcante (água). Assim a mente não responde mais aos seus arquivos mnemônicos defensivos, e se eleva a um nível de epifania constante. 


O mundo exterior responde às nossas respostas e
reage às nossas reações com igual intensidade.

Ao deixarmos de ser reativos, o meio que nos cerca fará o mesmo, segundo o princípio da mesma lei do movimento que citamos no começo desse artigo, e que corresponde perfeitamente aos princípios da lei do Karma. A personalidade reagente desencadeia uma sucessão de reações que atraem o seu infortúnio. A personalidade que responde aos fatos e estímulos desativa o jogo insano de certos indivíduos do mundo externo, e transita melhor pela vida.
Mas essa é uma perspectiva que dificilmente nasce pronta. Essa é a consciência de alguém que fez o despertar interior, e esse pode ser o trabalho de uma vida (ou vidas) inteira!