sábado, 27 de novembro de 2010

A Rainha de Espadas e a Intolerância

A tolerância representa o maior desafio da moderna sociedade. Os conceitos políticos de democracia fizeram surgir todo o tipo de diferença: social, cultural, étnica e de orientação política, religiosa e sexual. O bom desenvolvimento dessa qualidade, a tolerância, tornou-se fundamental para que não tenhamos um estado de guerra permanente na vida comum. Existe algo na humanidade, entretanto, que pende sempre para a condenação do outro, e a condenação ou rejeição dos diferentes. Somos todos orientados por um desejo de segurança que nos faz criar padrões para pensar que isso e aquilo são mais aceitáveis ou confiáveis que aquilo outro... E se o "aquilo outro" quer se salientar, ou se salienta,  mais do que seria seguro ou usual dentro de uma rotina conhecida, pronto! Temos uma tensão que levará a uma manifestação de intolerância. A intolerância é dirigida por um senso de moralidade que muda de tempos em tempos, mas tal mudança não se dá de modo pacífico e sem, é claro, fazer vítimas. E eis que temos nas mãos o dilema de que toda sociedade precisa de um vetor moral para se conduzir, caso contrário cria-se no caos. Por outro lado essa mesma moralidade precisará ser revista sazonalmente, o que gera sempre muita agitação. O ego gosta do status quo, isso reafirma a ele mesmo, a mudança o desestrutura.
A Rainha de Nuvens (Espadas),
do Osho Zen tarot. A moralidade
julgadora...
O que fazer? Bem, não pretendo vender a solução para o mundo, mas me parece que um caminho a seguir é  o de observar se as diferenças que são combatidas ameaçam de fato uma estrutura maior, ou se o medo nasceu apenas de uma ideia pré concebida e que da qual não temos nenhuma comprovação. Ora, a história recente está repleta de exemplos dessa tragédia! Os nazistas diziam que o caos alemão era decorrência do espólio dos judeus que guardavam dinheiro enquanto o país passava fome. Logo eles foram responsabilizados por toda a crise. Isso foi mais fácil do que admitir que a política externa alemã com seus vizinhos de fronteira tinha fracassado. Da mesma forma a AIDS foi taxada de "A praga gay", um castigo de Deus ao comportamento dos homossexuais, que copulavam sem ser para procriar, por simples luxúria, e praticavam sodomia. Essa era a conversa dos moralistas da época. Um discurso que logo caiu pelo ridículo que ele mesmo sustentava. A questão que foi levantada foi a seguinte: Só os gays copulavam por prazer nos anos 80? E por não envolver sodomia o lesbianismo teria sido protegido por Deus enquanto o homossexualismo masculino teria sido amaldiçoado...?
O mais importante é se reconhecer o quanto pode ser perigoso um apego demasiado à própria opinião, isso causa estragos. A Rainha de espadas incorpora os aspectos moralizantes da alma e leva isso de tal modo que pode tornar a vida insuportável para todos que a cercam, e ainda mais para ela mesma. Retomar a flexibilidade mental das crianças, como a vontade de aprender e conhecer com o diferente seria fundamental. Mas como a Rainha de espadas, estamos de modo geral com nossas crianças internas aprisionadas no gelo dos nossos conceitos petrificados.


A Rainha de espadas do Thoth tarot,
acima das nuvens, a criança e sua espontaneidade
congeladas por conceitos rígidos. 

Não podemos esquecer também que a verdade é multifacetada, e que a verdade maior é composta por essas múltiplas faces. Um único homem não a poderá olhar diretamente e vê-la em sua totalidade, mas todos juntos, trocando impressões e dialogando, é que poderão abranger a sua totalidade. As diferenças na verdade enriquecem o que conhecemos como cultura, e tudo o que não se renova morre. Assim sendo não se trata de não ter uma direção moral, mas sim de cuidar para que ela não endureça a ponto de não permitir que a vida aconteça.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tarot e Transformação

Arcano de O Sol, XIX, do
Gilded tarot, arauto da iluminação
da consciência...
Ao longo de mais de duas décadas de trabalho e exercício do tarot como prática tanto oracular quanto meditativa, tenho vivido cada dia com muitas gratas surpresas. Quantas coisas eu fui levado a refletir e transformar depois de uma "conversinha" com os arcanos...! Estudei muitos outros sistemas oraculares e o tarot foi o que mais me pareceu nos revelar o que está por trás das aparências, tanto de mim mesmo quanto de quem quer que me procure para interpretar as cartas.
Tenho insistindo com cada um dos meus clientes que não sou eu quem produz as leituras, mas que sou um tradutor de uma linguagem simbólica, meu papel é auxiliar a acessar a sabedoria intrínseca que há dentro de cada ser humano. Nas tradições mágicas ela é chamada de a sabedoria dos tempos. Os mais afeitos à psicologia, sobretudo junguiana, dizem que essa é a sabedoria do inconsciente coletivo manifestada através dos arquétipos, uma poderosa energia psíquica que se manifesta através dos símbolos. Não importando muito de que modo tal símbolo seja representado num baralho de tarot. O arcano de O Sol, por exemplo, é o símbolo arquetípico da felicidade, amor e êxito em qualquer baralho em que seja representado.
Arcano de  Julgamento ( The Aeon),
do Thoth tarot de Crowley, uma
tomada de consciência transformadora.
O que também continua me surpreendendo, negativamente, é a capacidade das pessoas em ouvir coisas tão profundas quanto as que os arcanos revelam, e muitas até se comovem de verdade com o que ouvem, sem com que façam daquilo um start para a sua transformação pessoal. Ainda persiste uma ideia de que o leitor é quem produz aquelas informações, por mais que elas sejam reconhecidas na vida de quem procura o oráculo. Como se fosse algo vindo de fora... Há também, segundo minha percepção, uma certa desorientação, algo do tipo "O que eu faço agora?". E um terceiro, e não menos lamentável item, a falta de comprometimento que algumas pessoas têm com a realização do seu bem estar, alegria e felicidade pessoal. A sociedade capitalista nos ensina que as conquistas estão fora de nós. As religiões nos ensinam que a salvação está fora de nós... Como um cara maluco, com umas cartas em punho pode afirmar que apenas com o que os arcanos dizem podemos começar um movimento de mudança em nossas vidas? Uma realização e uma salvação que vem de dentro...? O temor da mudança, o temor da simplicidade e de olhar para si mesmo com novos olhos é o grande entrave... Afinal, o que os outros vão pensar?
Felizmente há uma grande maioria de pessoas que, em progressivas visitas ao meu consultório, mostram através das próprias cartas do tarot o quanto apreenderam da última sessão, e verbalizam isso depois com muita satisfação ao verificar que o espelho interior refletiu mais uma vez com muita limpidez o que seus corações haviam tomado como proposta de evolução.

Leia também: Tarot Terapêutico - O que é?