quarta-feira, 15 de abril de 2020

A Roda do Ano da Golden Dawn

A roda do ano da Golden Dawn e suas relações entre cartas da corte,
arcanos menores, os decanatos zodiacais, os signos e as estações do ano...

Os arcanos maiores do tarot parecem definitivamente atrelados aos caminhos das sephirot da cabala e são, de modo determinante a espinha dorsal da compreensão do simbolismo do tarot. Muito embora em termos cabalísticos as sephirot sejam mais importantes que os caminhos, eles acabaram se destacando por representarem poderosas forças de transição que criam eventos que por sua vez levam a novos estágios de consciência representados por cada uma das dez sephirot. O tarólogo, cabalista e escritor Robert Wang diz que: “o Tarot é um mecanismo de aprendizado projetado para facilitar a viagem subjetiva da consciência de um para outro centro objetivo de energia.”. E enquanto os arcanos maiores se conectam às 22 letras cabalísticas, ou sons primordiais, os arcanos menores se tornam mais compreensíveis à luz dos elementos astrológicos. Os quatro ases relacionam-se com os Elementos Primordiais, que também estão em Kether, e também à própria origem do Tetragrammaton. Embora eles não sejam os próprios elementos, mas sim sua origem projetada sobre o mundo físico. Ou seja, mais uma lembrança de que o mundo simbólico nada mais é do que a representação de planos mais abstratos. Quando representamos a Árvore da Vida, por exemplo, no mundo físico os Ases ficam no pólo norte, acima dos valetes ou princesas, que ficam no pólo sul e que são chamadas de os “Tronos dos Ases”, e por isso foi-lhes atribuída como morada a sephira de Malkuth, o mundo em que habitamos. A Golden Dawn diz que os quatro Ases governam a evolução do Universo, por conectarem o plano formativo ao plano material onde vivemos. Na roda da Golden observa-se que os ases de cada naipe regem o mesmo período de tempo que dos valetes correspondentes. As demais cartas dos arcanos menores foram arranjadas pelos magos da Golden numa roda zodiacal com decanatos. Esse arranjo astrológico foi criado pelo matemático grego Ptolomeu no antigo Egito. Assim a roda do zodíaco com 360º é dividida em 36 sessões de 10º cada, o que faz com que cada uma das doze casas zodiacais tenha três decanatos, e cada um desses decanatos corresponde a um dos arcanos menores do tarot. Essas divisões correspondem também a dias do ano, e assim podemos atribuir a cada pessoa uma das cartas dos arcanos menores conforme a sua data de aniversário!
O zodíaco tem como simbologia básica as casas e os planetas, as casas são divisões de 30º do zodíaco, cada uma das quais correspondem a um dos doze signos legado a ela. Áries na casa I, Touro na II e assim por diante. Sendo assim cada signo tem três decanatos, sendo cada um deles governado por um planeta diferente. Os planetas são pontos emissores de energias específicas, que nos decanatos permeiam a qualidade de cada signo, mais ou menos o contrário do que ocorre na interpretação do mapa astral e na leitura dos trânsitos, onde os signos é que qualificam a energia dos planetas! Essa energia é de tal forma específica a ponto de poder ser representada por uma carta do tarot.


Outra imagem que relaciona os arcanos maiores correspondentes aos signos,
as cartas da corte, e as cartas numeradas de dentro pra fora da roda...

A Golden rejeitava o início do zodíaco em 0º de Áries por considera-lo arbitrário! Retomaram assim ao um velho sistema que coloca o início do zodíaco em 0º de Leão, que corresponde ao 5 de paus. Uma carta cheia de energia combativa...! O grau 0 de Leão está associado com a estrela Regulus (Cor Leonis), ou o Coração do Leão, considerada uma das cinco estrelas sagradas da antiga astrologia pelos persas, e que simboliza honra, coragem, força e determinação! Também foi associada aos reis, pois que essas qualidades eram tidas como imprescindíveis para um bom soberano... Curiosamente, o último arcano da série das cartas numeradas, o 10 de ouros, corresponde ao último decanato de Virgem, o signo que sucede Leão e que é regido por Mercúrio!  Este arcano fala da cocriação da realidade, e parece haver aqui claramente a ideia de que o poder tem de se colocar de algum modo ao serviço do mundo e do próximo, já que Virgem é o signo da excelência em servir. O esquema da Golden também só leva em consideração os sete velhos planetas da astrologia antiga: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.  

Regulus, uma das estrelas da constelção de Leão!


No Liber T* encontra-se a seguinte declaração: “Havendo 36 decanatos e apenas sete planetas, segue-se que um dos últimos deve governar um decanato a mais do que os outros. Este planeta é Marte, ao qual é atribuído o último decanto de Peixes (10 de copas) e o primeiro de Áries (2 de paus), porque a superação do prolongado frio do inverno e o início da primavera requerem uma grande quantidade de energia”.
Na relação simbólica da Golden Dawn a cada decanato e arcano menor é atribuído um par de anjos, um dos quais reina sobre o dia e outro sobre a noite, ou seja, representando a dualidade de cada carta em seu aspecto tanto de luz quanto de sombra! Essa relação angélica, que não exploro aqui, deriva de uma ideia constante de que as cartas derivam de Yetzirah, o mundo dos anjos, em oposição aos arcanjos de Briah, ou aos deuses de Atziluth. As cartas seriam então imagens astrais que ilustrariam o mundo da matéria, situado abaixo, e refletindo simbolicamente os mundos da mente e do espírito que ficam acima. Yetzirah é o mundo formativo na cabala, através do qual os princípios superiores são transmitidos às vidas humanas. Um universo que é formado por imagens refletidas de acima e de baixo, o que explicaria o tarot ser tão eficaz na predição, e tão profundo como instrumento de autoconhecimento!

Sobre as Cartas da Corte

MacGregor Mathers disse que as cartas da corte não estariam nas sephirot (centros de consciência), mas além delas. Assim cada cavaleiro representaria, por exemplo, as forças elementares do Tetragrammaton nos quatro mundos da Cabala: Atziluth, Briah, Yetzirah e Assiah, que correspondem respectivamente aos quatro elementos do mundo concreto, tanto quanto da magia; o fogo, a água, o ar e a terra. Por esse motivo essas cartas podem representar pessoas numa predição, essas pessoas representariam qualidades dos elementos com que teríamos de lidar, ou aspectos da personalidade que se evidenciam em nós mesmos diante de determinadas situações. Situações práticas também podem ser representadas por essas cartas, situações que nos fariam lidar com energias elementares específicas dentro e fora de nós mesmos. Há ainda a afirmação de que as cartas da corte podem representar decisões, da nossa parte ou de outras pessoas, que colocam em ação as forças cegas representadas nas cartas numeradas de 1 a 10 dos arcanos menores. Como digo aos meus alunos, os arcanos maiores são os grandes acontecimentos arquetípicos, as cartas da corte as atitudes (ou decisões) que tomamos diante de tais acontecimentos, e os arcanos menores numerados as consequências disso tudo no mundo prático visível...


Cartas dos arcanos menores e da corte do Visconti-Sforza tarot:
da esquerda pra direita o 3 de paus, o cavaleiro de paus e o 2 de copas.

Citando mais uma vez Robert Wang: “Os Trunfos (arcanos maiores) geralmente representam forças kármicas que também influenciam as cartas menores numeradas. Repetindo: Na adivinhação as Cartas Reais são as escolhas dos homens, os Trunfos são as escolhas dos Deuses (embora num nível mais complexo, estas escolhas são também nossas) e as cartas pequenas são as forças postas em jogo”.
As cartas da corte, ou Cartas Reais como descreveu Wang, têm também correspondências astrológicas, os reis, rainhas e cavaleiros ficam atrás dos decanatos, enquanto os valetes ou princesas fariam a ligação entre os signos, como o fazem os quatro Ases, embora com significados bem distintos entre si.
Com tudo o que vimos não é a toa que as cartas da corte costumam representar maior dificuldade para os iniciantes em suas práticas, mas seguindo pelo mesmo exemplo pode se dizer que é justamente isso que torna o seu estudo, assim como o estudo do tarot como um todo, tão arrebatador e envolvente!

Obs
1) Clique nas imagens para ver em tamanho original.
2) Lembre-se que esta ordem inglesa deu grande contribuição ao estudo do tarot, mas também cometeu muitas arbitrariedades. Uma delas é que o aparece na roda da Golden como reis são na verdade os cavaleiros do tarot tradicional, assim como os príncipes são, na verdade, os reis da tradição clássica. Já comentei essa inversão em outros artigos, e ela se deu em função da relação que eles fizeram entre as cartas da corte com as quatro letras sagradas do nome de Deus (o Tetragrammaton), e a ordem dos elementos como aparecem nele!

*O Liber T, é o livro que continha o guia de estudos sobre o tarot na antiga ordem inglesa Golden Dawn.

O que há para se ler:

- O Tarot Cabalístico - Um Manual de Filosofia Mística
De: Robert Wang
Editora Pensamento

- A Golden Dawn - A Aurora Dourada
De: Israel Regardie
Editora Madras

- O Livro de Thoth - O Tarot
De: Aleister Crowley
Editora Madras

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