sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Astrologia & Tarot - As Cartas da Corte


As cartas da corte como são colocadas
na roda astrológica anual da Golden.
E finalmente chegamos às cartas da corte e sua correspondência na roda astrológica do ano da Golden Dawn. Diferente das cartas numeradas, que correspondem a um decanato (dez dias) dentro do período de um mês, as cartas da realeza correspondem à trinta dias num ciclo de um ano, ou seja, a um mês inteiro! Sendo assim cada uma das três primeiras cartas da corte de cada naipe corresponde aos doze signos do zodíaco, e os valetes a todo o período de uma estação, ou seja, três meses. Igual aos quatro ases das cartas numeradas, você deve estar se perguntando, e tem razão em fazer isso, de qual seria o motivo dessa mesma compreensão de tempo no calendário? Isso ocorre porque na antiga ordem Golden Dawn a relação tarot/cabala era muito aplicada para definir o simbolismo das cartas do tarot. E dentro dessa relação os quatro ases se originariam de Kether, a Coroa, a sephira de Deus/Pai/Mãe criador de todas as coisas. Por esse motivos os ases do tarot simbolizam novos começos ou influxos poderosos e transformadores. Os valetes por sua vez estão relacionados à Malkuth, a sephira do mundo material, e de todas as forças manifestas. Representa o solo em que pisamos. Muitos cabalistas chamam Malkuth de o “trono de Kether”, ou ainda de “Kether inferior”. Por esse motivo que os quatro valetes também simbolizam novos começos, mas que requerem cuidados e ou observação para que frutifiquem. Uma analogia muito frequente é de se relacionar os valetes à sementes que foram lançadas no solo de Malkuth. Assim sendo ases e valetes possuem o mesmo tempo de duração e correspondem ao mesmo período do ano no calendário, mas podem ser sentidos de formas diferentes um do outro...

Os ritmos astrológicos

Os “ritmos” astrológicos é o nome que damos a energia que distingue os signos entre si, suas formas de atuação diante das adversidades da vida. O modo como lidam com a rotina, os conflitos, e como constroem as bases de seus mundos tanto interna quanto externamente.
Na relação das cartas da corte do tarot com o zodíaco os reis de cada naipe representam os signos fixos, assim chamados porque estão no meio das suas respectivas estações, simbolizando ações mais conservadoras e resistentes, como os nativos desses signos diante de dificuldades. Esperam, planejam e depois reagem, ou seja, suas ações são primeiro internas. Assim sendo o Rei de paus é Leão, o Rei de copas é Escorpião, o Rei de espadas é Aquário, e o Rei de ouros é Touro.

As rainhas, por sua vez, são representadas pelos signos cardinais, que são os signos que iniciam as estações. Ou seja, os signos que correspondem a esses ritmos agem sempre de modo a resolver as questões que se apresentam, são espontâneos, suas ações são exteriores e perceptíveis. Assim as rainhas usufruem do universo estável de seus reis. Por essa analogia a Rainha de paus é Áries, a Rainha de copas é Câncer, a Rainha de espadas é Libra, e a Rainha de ouros é Capricórnio.

As cartas da corte do Visconti-Sforza tarot.
Rainha, cavaleiro e Valete de espadas.
Baralho clássico do séc. XV.

Os cavaleiros, por fim, são representados pelos signos mutáveis, que são os signos do final de suas respectivas estações. Sua principal característica é a adaptação e a disponibilidade para a mudança e a renovação. São aqueles que expandem os domínios dos reis, e por isso, ampliam as possibilidades de desfrute de suas rainhas. Os cavaleiros estão sempre em busca de novas ideias, e novas formas de expressão. Assim o Cavaleiro de Paus é Sagitário, o Cavaleiro de copas é Peixes, o Cavaleiro de espadas é Gêmeos e o Cavaleiro de ouros é Virgem.

Deve-se observar duas questões antes de seguirmos na relação da roda do ano com as cartas da corte:

Observaremos que em cada carta das doze relacionadas com os signos do zodíaco haverá sempre a abrangência do último decanato do signo anterior, o que dará uma interessante nuance na composição da interpretação da personalidade de cada carta da realeza. Nunca havendo a influência pura de um elemento, mas sempre a pitada de um outro que contradiz e complementa simultaneamente, de alguma forma, a natureza do elemento/naipe dominante. Por isso veremos que toda a carta da corte do naipe de paus envolverá o último decanato do signo anterior, e veremos que os signos de fogo são todos antecedidos por signos de água. Enriquecendo muito as descrições de suas personalidades. Da mesma forma os signos de água são antecedidos por signo de ar, os de ar pelos signos de terra e os de terra pelos signos de fogo! Essa distribuição feita pelos magos da Golden foi simplesmente brilhante, pois que enriquece muito as possibilidades de interpretação desses arcanos.

Eis o o exemplo da alteração feita
na ordem dos arcanos da corte
pela Golden Dawn, o cavaleiro
de copas está claramente nominado
de "Rei de copas" no tarot
da Golden Dawn, de
Robert Wang.
O aspecto confuso, e não tão legal assim, era a insistência dos membros da Golden em alterar a ordem dos arcanos em função da ordem das letras cabalísticas. Já falei isso aqui antes, mas vamos lá mais uma vez: as quatro primeiras letras do o nome sagrado de Deus, yod, he, vau e he (também conhecidas como Tetragrammaton) foram relacionadas com os quatro elementos gregos de composição do universo, fogo (yod), água (o primeiro he), ar (vau) e terra (o último he).
Os cavaleiros foram associados à yod, e ao elemento fogo, as rainhas ao segundo he e ao elemento água, os reis a vau e ao elemento ar, e os valetes ao último he e ao elemento terra. Até aqui está tudo bem. O problema começa quando os magos da ordem acham que há algo de errado na ordem das cartas da corte (da realeza ou reais conforme outras versões), e colocam o cavaleiro à frente do rei que, afinal, representa a primeira letra do nome sagrado... Então decidem que os reis serão os cavaleiros, e os reis de antes seriam os príncipes de uma nova realeza dos arcanos. Essa arbitrariedade não se justifica nem se sustenta. Na relação tradicional os reis conservam, as rainhas trazem a plenitude, os cavaleiros expandem e os valetes trazem a semente do novo. Na nova proposta não há transição entre o príncipe e o valete, esse príncipe, aliás, atrapalha até a energia da rainha, que do desfrute teria de rumar naturalmente para a expansão... Esse arranjo é inaceitável também porque subjuga a ordem simbólica do tarot a um outro sistema simbólico mais antigo, no caso a cabala. E sempre é bom repetir que a associação tarot/cabala é outra arbitrariedade de alguns magos do século XIX, e se por um lado é brilhante e surpreende pela similaridade entre os dois, não invalida nem um e nem outro porque não há NENHUMA comprovação histórica da conexão entre eles, a não ser a da mera similaridade arquetípica.

O nascimento das princesas

A Princesa de discos
(Valete de ouros),
do Thoth tarot
de Aleister Crowley.
O aspecto positivo dessa proposta, que se apresenta nos baralhos de Crowley e da Golden Dawn, que seguem essa inversão nas cartas da corte, é de que transformaram os valetes em princesas, ou personagens jovens do gênero feminino, o que foi uma inovação bem vinda e que não fere o simbolismo estrutural do tarot. O elemento terra, assim como a água é um elemento feminino. Essa alteração trouxe uma representante imatura para o gênero feminino nos arcanos, e isso é bem interessante! Os reis sempre tiveram os cavaleiros como representação pueril, e as rainhas não tinham nada disso.

Antes de concluir aviso aos que conhecem a roda do ano da Golden que não adiro a essa inversão na roda zodiacal dos arcanos do tarot. Lá se escreve “Reis” para se referir a cavaleiros, e “Príncipes” para se referir aos reis da antiga ordem clássica do baralho. Nem preciso dizer que, obviamente, lá os cavaleiros é que são relacionados com os signos fixos, e os reis (príncipes) aos signos mutáveis.

Sempre lembrando que esta roda anual foi proposta na antiga ordem inglesa Golden Dawn para a melhor compreensão do simbolismo tanto das cartas numeradas quanto das cartas da realeza, ou da corte, de cada naipe. Mas que também serve como um mapeamento, através dos arcanos, de períodos do ano em que cada pessoa nasce, e abre a perspectiva para as possíveis influências sobre a personalidade de cada nativo desse período do ano.

Eis aqui então a tabela de relações que considero mais correta, verdadeira e justa com o simbolismo do tarot, esse maravilhoso instrumento simbólico de compreensão da vida e da essência humana ao qual dediquei minha vida a compreender, ensinar e divulgar:

Família do Fogo

Rei de paus – 12/07 à 11/08 –
Último decanato de Câncer, dois primeiros decanatos de Leão.

O aspecto canceriano da personalidade deste rei é o que o torna gentil, benévolo e, sobretudo, empático com aqueles que o cercam ou estão sob seu comando. Sua natureza, porém, é leonina, o que o torna generativo, magnânimo, forte, autoconfiante, líder, e capaz de se sobrepor às adversidades com tenacidade e autoconfiança. Este é o líder carismático que angaria simpatizantes e seguidores, e se responsabiliza de modo amoroso por seus apoiadores.

Rainha de paus – 11/03 à 10/04 –
Último decanato de Peixes, dois primeiros decanatos de Áries.

A parte pisciana da sua natureza é que a torna compassiva com o sofrimento do outro, e a faz querer abraçar um serviço para a humanidade, tornando-se uma cuidadora do bem estar de alguns, ou de muitos, conforme cada caso. Sua natureza, porém, é de uma ariana, por isso ela é altamente sensitiva, impulsiva, e envolvente. E também sensual com esse aporte de água em sua psique. Assim como briguenta e intrometida quando se trata de defender aqueles que ama.


O Rei de paus (O Criador),
do Osho Zen tarot.

Cavaleiro de paus – 13/11 à 12/12 –
Último decanato de Escorpião, dois primeiros decanatos de Sagitário.

A influência escorpiana nesse cavaleiro é que o torna intenso, passional e profundo ao mesmo tempo. Aspira as transformações da matéria e da alma, mas sempre de modo positivo, entusiasta e engrandecedor, já que sua natureza é de um sagitariano. Não crê em limites e é focado em mudar, melhorar e fazer crescer as coisas as quais dedica sua atenção. Pouco afeito a detalhes e sentimentalismos. É sem paciência com o pessimismo e os ritmos mais lentos que o dele.

Valete de paus – 21/06 à 22/9 – Primavera –

Incorpora em si os movimentos de despertar e desabrochar da primavera. O entusiasmo com as coisas novas, o desejo de criar e explorar as possibilidades com total liberdade de experimentação. Como uma criança recém-nascida descobre o mundo através do ambiente que a cerca. Esse arcano denota o despertar da luz dessa estação, e por isso guarda em si grande energia física, desejo de movimentação, criação e expressão das suas emoções de modo livre.

Família da Água

Rei de copas – 13/10 à 12/11 –
Último decanato de Libra, dois primeiros decanatos de Escorpião.

A porção libriana de sua personalidade é que o faz querer se relacionar com as pessoas, ouvi-las, e de alguma forma ajudar. Mas sua natureza essencial é escorpiana, o que o torna introspectivo, observador e cioso de sua intimidade e privacidade, como também temeroso de se abrir e ser ferido no processo. Por outro lado isso o torna um observador arguto, isento e profundo da natureza humana; um sábio da alma e, portanto, um notável e sensível conselheiro ou curador.

Rainha de copas – 11/06 à 11/07 –
Último decanato de Gêmeos, dois primeiros decanatos de Câncer.

A parte geminiana da sua psique é que a faz sensível às energias do seu meio ambiente, e suscetível a elas. Por ser em essência uma canceriana, sua sensibilidade psíquica fica ainda mais aguçada, intensamente intuitiva, mística e profunda. Percebe sentimentos e intenções ocultas, assim como sente o que os outros querem dela, e corre o risco de sempre corresponder às expectativas perdendo sua identidade. É amorosa, receptiva, e não julgadora.


A Rainha de copas (Receptividade),
do Osho Zen Tarot.


Cavaleiros de copas – 09/02 à 10/03 –
Último decanato de Aquário, dois primeiros decanatos de Peixes.

O viés aquariano de sua personalidade é que o torna idealista, visionário e ousado em suas buscas. Mas por ser pisciano possui imensa credulidade na vida e nas pessoas, confiança nos seus sentimentos e em suas intuições. É um paranormal que antevê desfechos que os outros nem supõe; descobre caminhos e respostas sem saber como chegou a elas. É um devoto, um místico ou um romântico, alguém que se lança de todo coração. Puro. É confiável e confiante.

Valete de copas – 23/09 à 21/12 – Verão –

A estação do calor traz as pessoas e os seres da natureza pra fora da toca, enfatiza a confraternização, a proximidade, a sensualidade, o acolhimento e as comemorações. Casamentos e ritos de fertilidade eram celebrados nessa estação. Esse movimento de aproximação rompe com fronteiras, aproxima vizinhos, famílias e tribos distantes. Essa abertura pode não ter muita profundidade e confiança reais, mas tende a ser bem fluente e prazerosa.

Família do Ar

Rei de espadas – 10/01 à 08/02 –
Último decanato de Capricórnio, dois primeiros decanatos de Aquário.

A porção capricorniana desse rei é o que o torna firme, tenaz, autoritário, controlado e controlador, bem como contido em suas expressões afetivas. A sua personalidade, entretanto, é aquariana o que o torna ainda mais frio e inexpressivo do ponto de vista afetivo, mas amplia sua perspectiva lógica e científica da vida. Adora o conhecimento organizado e racionalizado, a padronização do saber, o planejamento e a ordem sistêmica na elaboração e execução das coisas.

Rainha de espadas – 12/09 à 12/10 –
Último decanato de Virgem, dois primeiros decanatos de Libra.

A parcela virginiana dessa rainha é que a torna uma crítica organizadora, uma idealista dos valores de ética, e da transparência. Uma entusiasta do discernimento lúcido das questões da vida. A sua natureza é de uma libriana, o que a faz empenhada em garantir a justiça e a verdade, e de que os valores que sustentam as relações como um todo vibrem dentro desses princípios éticos. Professora, escritora, divulgadora ou uma orientadora de valores de correção moral.


O Cavaleiro de espadas (Lutando),
do Osho Zen tarot.

Cavaleiro de espadas – 11/05 à 10/06 –
Último decanato de Touro, dois primeiros decanatos de Gêmeos.

O aspecto taurino deste cavaleiro é o que faz focado, conciso e resoluto em seus objetivos, e um tanto materialista em sua percepção de realização pessoal. Sua personalidade geminiana é que o torna um esgrimista intelectual. É alguém que usa toda sua máquina intelectual e física para atingir suas metas, como um soldado em uma missão especial, ou um lutador de artes marciais mistas, que usa todas as suas habilidades e conhecimentos para obter aquilo que quer, sem tréguas.

Valete de espadas – 22/12 à 20/03 –  Outono –

A estação da colheita e do desabrochar das cores ocultas das folhas.
Era no outono que o resultado dos trabalhos de um ano todo eram revelados e medidos; se pagavam os impostos sobre a terra com os próprios frutos da terra ou com os seus dividendos. Um período de se confrontar com as falhas do passado, avaliar ideias, possibilidades e tendências, e se pensar no futuro. Renovar padrões e conceitos, reinventar a si mesmo e abrir-se para novas perspectivas de vida.

Família da Terra

Rei de ouros – 11/04 à 10/05 –
Último decanato de Áries, dois primeiros decanatos de Touro.

A influência ariana em sua psique é que o faz um líder absoluto, sem concessões sobre limites ou limitações, e firmeza na vontade de chegar ao topo. Mas como se trata de um taurino por excelência, ele não permite que essa energia se dissipe nem esmoreça. Mantém a constância, a disciplina e o foco nos seus valores primordiais. Pode ser que se torne só um acumulador de riquezas e bens, mas sua alta valorização da vida tende a torná-lo alguém que preserva o todo (holos).

Rainha de ouros – 13/12 à 09/01 –
Último decanato de Sagitário, dois primeiros decanatos de Capricórnio.

A nuance sagitariana em sua personalidade é que a torna otimista, livre e, acima de tudo, uma hedonista. Mas como capricorniana que é valoriza os frutos do seu trabalho, sua trajetória de vida e as suas construções, sejam elas materiais, intelectuais, afetivas ou mesmo espirituais. A rainha de ouros valoriza a vida. Ama os prazeres sensoriais sem, no entanto, desprezar o fator humano por trás disso. Claro que, mal dignificada numa leitura, pode ter tudo isso pervertido.


O Valete de ouros (Aventura),
do Osho Zen tarot.

Cavaleiro de ouros – 11/08 à 11/09 –
Último decanato de Leão, dois primeiros decanatos de Virgem.

As emanações leoninas na personalidade desse cavaleiro o fazem digno, orgulhoso e altivo na execução de suas atividades, pois vê um propósito no que faz. Mas como se trata de um virginiano ele nunca permite que sua ambição extrapole os limites da decência, dos valores humanos de civilidade, respeito e boa convivência, quer seja por padrões morais, quer seja por uma alta percepção espiritual da vida. Almeja a excelência. É um mestre que se forma com a prática.

Valete de ouros – 21/03 à 21/06 – Inverno –

A estação onde as posses estavam estabelecidas e a riqueza ou a pobreza contemplavam aqueles que as amealharam. O tempo em que a semente descansa no fundo da terra com a promessa de uma nova vida. Acreditava-se que o sol também descasava no ventre da terra guardando novas possibilidades e oportunidades até retornar em sua plenitude. Essa era a estação da gestão de novas ideias e empreendimentos, e de espera de um novo ciclo para prosperar!

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