segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Estilos de Leitura e a Experiência Intuitiva...


A Alta Sacerdotisa, do Morgan-Greer tarot,
guardiã dos mistérios....
Uma cliente me disse ao final de uma leitura inicial de tarot que fiz para ela: ”Que bom jogar assim!”...  Assim como? Perguntei. Ao que ela respondeu: “Assim, sem me fazer nenhuma pergunta...” Logo me dei por conta do que ela falava, há tarólogos que perguntam coisas aos seus clientes antes ou durante o abrir as cartas, coisas tipo: “É casada? Tem quantos filhos? Trabalha com o quê? Gosta do que faz?”, e assim por diante. Acho tudo isso irrelevante, pois não me proponho a fazer uma adivinhação das características práticas do trabalho, e nem dos filhos... Eu digo aos meus clientes que faço as aberturas iniciais para colher as mensagens do tarot para eles, e que na verdade essas mensagens vêm da parte mais profunda da consciência de cada um. Já falei das carências afetivas de alguém sem, no entanto, seu relacionamento ser representado no tarot. Certa vez os arcanos mostraram que uma cliente procurava nesta vida um amor intenso e verdadeiro, o que ela confirmou acenando positivamente com a cabeça. No transcorrer da consulta quase caí para trás quando ela quis marcar o marido com quem era casada há quase trinta anos! Era uma união, como dizia ela, com um grande amigo, mas que nunca foi seu amor. Entendi desde então que não importa o que se está vivendo num determinado setor da vida, mas sim o que se está sentindo sobre aquele setor da vida ou área de interesse.
A maioria dos tarólogos se sente compelido a adivinhar fatos práticos dos seus consulentes nas leituras preliminares, parece que sentem a necessidade de corresponder ao papel estereotipado de oráculo que se espera habitualmente deles. Acho tudo isso uma tolice! Eu interpreto o que as cartas mostram, às vezes acontece de haver revelações que são surpreendentes, tanto para os clientes quanto para mim, mas não busco e nem prometo nada disso.
Minha relação com o tarot foi, desde sempre, intensamente intuitiva. Deixo que as cartas falem com suas imagens, e traduzo suas mensagens, ponto final! Claro que as orientações e discussões decorrentes das revelações apresentadas na sessão dependem sim de outras formações minhas, do meu próprio desenvolvimento pessoal e, portanto, também das minhas visões de vida. Todo o resto que antecede essa conversa é o espelho dos arquétipos refletindo a alma e as vivências das pessoas.


O tarot, um espelho que reflete vivências humanas,
e os sentimentos e emoções decorrentes dessas vivências...

Entendo a “aflição” dos tarólogos na sua busca por fazer a coisa certa perguntando coisas para confirmar percepções, tanto quanto entendo a desconfiança dos clientes com isso. Quando se procura uma consulta oracular se está, antes de tudo, na busca de uma outra versão de si mesmo e de suas vivências. Busca-se confirmar seus próprios sentimentos, pressentimentos e até mesmos suas desconfianças sobre o que se está vivendo, e sobre o que está se sentindo a respeito do que está sendo vivido. Insisto sempre que o consulente não vai buscar a opinião do tarólogo sobre esta ou aquela questão de sua vida. Ele vai dialogar com uma parte mais sábia e profunda de si mesmo que não consegue acessar conscientemente, e precisa dos símbolos para essa tarefa.
O que ocorre depois, como disse, é de se ouvir o ponto de vista do consultor sobre o que foi revelado, e nesse momento a sua capacidade de isenção, e o trabalho sobre si mesmo através do seu próprio autoconhecimento é que podem fazer toda a diferença... Uma amiga me contou que ouviu certa vez de uma cartomante que costuma frequentar: “Você precisa é achar um homem solteiro para casar minha filha...”, numa clara referência e crítica ao fato de ela estar se relacionando com um homem casado. Há dezenas, e talvez até centenas, de razões para alguém se relacionar com uma pessoa comprometida, da simples aventura inconsequente ao medo intrínseco de se entregar verdadeiramente num relacionamento com reciprocidade afetiva e comprometimento mútuo... Entre outras tantas razões, inclusive amor verdadeiro que surge de modo inconveniente do ponto de vista social!
A Alta Sacerdotisa, do Thoth tarot,
de Aleister Crowley. A visão interior
como um canal de acesso ao transcendente.
Costumo dizer que se alguém consulta dois tarólogos diferentes, é muito provável que essa pessoa ouça os mesmos fatos internos ou externos serem repetidos. O que mudará é o enfoque dado por cada leitor, aprofundando ou negligenciando os aspectos externos ou o internos, e é isso que fará com que esta pessoa fidelize ou abandone aquele leitor. Acreditem já ouvi coisas como: “Ah não gostei, ficou me dando datas de acontecimentos, mas não conversava comigo sobre a angústia que eu tava sentido.”, ou por outro lado: “Ela só me falava que eu tinha que me trabalhar, que aquilo ia continuar daquele jeito se não me curasse, mas não me falava dele!”. Tem de tudo, e a vida é assim mesmo! Tem de tudo para todo o tipo de gosto, e por isso acho que ninguém deve se sentir na obrigação de conquistar clientes. O trabalho que cada um faz tem uma assinatura específica, e tem pessoas que precisam exatamente daquele estilo de leitura e figuras de linguagem, que você leitor de tarot usa, para obterem aquela outra versão de si mesmas que falamos anteriormente. Então eu não gosto de obter informações antecipadas dos meus clientes porque isso pode excitar meu lado racional, e atrapalhar o que minha percepção intuitiva captou do que mostram os arcanos... Não tento mostrar poder ou nada do gênero, apenas sou fiel ao que aprendi com minha intuição e o tarot ao longo desses meus trinta anos de estudo e prática. Possuímos todos uma consciência julgadora e crítica, que se acentua e ameniza nesse ou naquele indivíduo, como aquela velha cartomante que atendia minha amiga, porém se nos atermos ao que as imagens da alma nos mostram, corremos menos riscos de sucumbir à nossa mente inferior, essa funcionária do nosso pequeno “eu”. 

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