Por que isso me interessa?
A Sacerdotisa II, do Cosmic tarot. Símbolo arquetípico da vivência espiritual profunda. |
Houve dentro do estudo da
tarologia literalmente um processo de desmistificação do tarot. Santo Agostinho
dizia que o místico é aquele que busca uma experiência pessoal com Deus.
Desmistificar é, portanto, tirar Deus, deuses ou as experiências místicas de
contato com a divindade, e de sua interação numa atividade ou conhecimento.
Assim sendo determina-se que o tarot não precisa da crença em Deus, ou deuses,
para funcionar. É um instrumento de leitura do inconsciente que revela os fatos
do momento presente como são sentidos e vividos por quem se consulta. Mostra
também as possíveis influências do passado dentro desse momento, e as projeções
do inconsciente para além do tempo reconhecível, ou seja, o tarot pode realizar
prognósticos para o futuro.
Dentro deste escopo de definições foram acrescidas
às funções oraculares do tarot possibilidades de aplicações terapêuticas. As
revelações dos arcanos desvelam programações profundas na psique, que ao serem
trazidas à tona abrem campo para a libertação do programa, e a sua resolução.
Não por acaso tantos terapeutas de abordagem convencional, como psicólogos e
psiquiatras, tanto quanto do holismo se aproximaram da tarologia. Como disse
esse movimento foi importante, e mais do que necessário. As muitas escolas de
magia, por exemplo, acabavam colocando suas próprias crenças como verdades
absolutas na prática e no estudo desse sistema simbólico. Eu mesmo ouvi coisas
como: “O tarot flui melhor se for lido sobre uma mesa redonda de vidro”, “Ah,
as cartas têm de ser consagradas a alguma entidade egípcia, devido as suas
origens”, ou ainda “Tem de se consagrar o tarot ao povo cigano, pois fortalece
sua prática de leitura”, e assim por diante. Isso tudo é verdade sim, mas para
cada uma dessas pessoas que desenvolveram suas práticas espirituais dentro de
doutrinas específicas, mas não é uma verdade absoluta para todos os que se
interessam pelo estudo dos arcanos. Isso não significa, de modo algum, que se
deva descartar essas possibilidades. A experiência pessoal é quem define o que
chamamos de sabedoria. Por isso experimente, não descarte.
Uma experiência interessante
Eu mesmo fiz uma experiência
muito comum no estudo do magia, a de se nominar objetos mágicos. Em seu livro O Tarot da Criança Interior os autores
Isha e Mark Lerner nos lembram de que é possível fazer isso com o seu baralho
de tarot! Escolha um nome dentro da mitologia, ou de inspiração própria, para
seu baralho. Se quiser, e tiver quem conheça a numerologia, poderá fazer um
estudo vibracional do nome escolhido. Esse nome não deve ser pronunciado na presença
de qualquer um! Segundo a tradição esse segredo torna o elo psíquico entre você
o objeto mágico em questão mais intenso e profundo. Fiz o experimento e o
resultado foi bem perceptível. Evoco o nome silenciosamente enquanto embaralho
as cartas e teço minhas intenções para aquela leitura. Desde então minha
interpretação se tornou mais fluente e a sensação de que as cartas “falam
comigo” é quase palpável, ou melhor, dizendo, audível!
Com isso quero dizer que sim, o
tarot não depende de nada disso para funcionar, mas tanto essa quanto outras
práticas, tanto mágicas quanto espirituais, reforçam e refinam o canal psíquico
do leitor! Pessoas que começaram a praticar a meditação, para citar outro
exemplo, observaram que sua clareza de interpretação e comunicação, e o foco
nos principais pontos da leitura, aumentaram em muito! Cada pessoa obterá
resultados diferentes das diferentes possibilidades, o que é muito natural.
Somos individualidades, pequenos universos com funcionamentos distintos. Como
astrólogo lembro que as influências de cada mapa natal respondem a isso muito
bem! Exemplificando mais uma vez, uma pessoa com Netuno bem dignificado no
mapa, e muitos planetas em signos do elemento ar, poderá sentir uma grande abertura
psíquica no simples ato de acender um bom incenso ou aspergir uma essência
aromaterápica no ambiente de uma leitura.
Ampliando horizontes
Quando falo em espiritualidade
não me refiro apenas a práticas mágicas ou meditativas, mas à própria percepção
filosófica do leitor. A diferença entre um materialista e um espiritualista é
de que o primeiro acha que toda a melhora que faz em si mesmo serve ao próximo,
e ao meio a que ele pertence. Um espiritualista também crê nisso, mas percebe
que, além disso, evolui para si mesmo em suas sucessivas encarnações. Dentro de
uma visão puramente materialista e mental da vida (onde se acham grande parte
das teorias psicológicas), todas as vivências são moldadas na relação do
indivíduo com o meio ambiente, familiar e social, e do que ele apreende dessas
vivências, consciente e, sobretudo inconscientemente. A visão psicológica nos
põe diante do fato do que somos fruto do meio e de que repetiremos a grande
maioria dos programas implantados por nossas vivências e os condicionamentos
decorrentes desses programas.
O próprio doutor Freud dizia que “para todo o
evento consciente há sempre um inconsciente que o determina”, e que a
psicanálise não tem por objetivo trazer a felicidade, mas sim aliviar as cargas
(no máximo) da nossa psique. Assim todo o desequilíbrio ou enfermidade da alma passa
por três estágios de resolução: 1º) Você reconhece que tem um problema, a partir
disso vai buscar ajuda. 2º) Há o reconhecimento de como se manifesta esse
problema, que pode se apresentar na forma de complexos, suas origens, e do que
o detona. Nesse momento você reconhece o funcionamento do condicionamento, mas
não consegue interrompê-lo. 3º) Nesse último estágio você é capaz de reconhecer
os mecanismos inconscientes e conter sua manifestação. Exatamente como diz o
lema dos alcoólicos anônimos: “Só pó hoje não”. Ou seja, o problema é diminuído ou contido significativamente, mas não de todo superado! Até aqui descrevi como operam
os processos terapêuticos convencionais de modo geral e sintético. Os procedimentos
das terapias complementares, bem como as leituras de tarot, percorrem esse mesmo
caminho. Uma leitura dos arcanos pode mostrar um ou dois problemas pontuais,
revelar suas origens e apontar os caminhos para sua resolução através de
orientações táticas. Entretanto, sem a compreensão intrínseca do que gerou esses problemas, muito provavelmente, eles se repetirão! Tudo isso, até aqui, pode ocorrer sem uma perspectiva
espiritual da existência.
A ideia de inconsciente até o presente momento ignora o conceito de alma, e a experiência reencarnatória. |
Práticas mágicas nem sempre definem uma vivência espiritual verdadeira. |
A meu ver uma abordagem focada unicamente nos aspectos terapêuticos do tarot serve apenas como um acelerador no reconhecimento dos processos psicológicos que motivam a psique, e moldam a personalidade. Por sua vez uma abordagem puramente oracular fica vazia, é se utilizar dos símbolos arquetípicos dos arcanos para “espionar as cenas dos próximos capítulos” do drama pessoal de quem se consulta. Somente abraçando uma perspectiva espiritual da vida é que as mensagens do tarot ganham significado e conotação mais amplos. É possível perceber através dessa ótica que estamos o tempo todo interagindo com nossa porção interior da divindade em nós mesmos e nos outros, e de que planos maiores de consciência e inteligência estão atuando em nossas vidas e nos dirigindo para a nossa evolução pessoal e coletiva, e a cada um dentro do seu próprio momento evolutivo. Estamos entrelaçados em nossos relacionamentos que não são, de modo algum, casuais, mas sim carregados de significados e propósitos que são invisíveis a uma consciência focada na casualidade. Essa percepção pode despontar numa única leitura, ou em sucessivas leituras regulares. E isso não é teoria não, é observação!
Para concluir acho importante
destacar que Espiritualidade não tem relação direta com Religiosidade. A primeira
bebe na essência que nutre as muitas vertentes do saber espiritual, inclusive
na dos fundadores das inúmeras religiões. A segunda baseia-se na doutrina de
seus fundadores e nos dogmas decorrentes das interpretações feitas por profetas
e sábios que vieram depois. Ou seja, a Religião limita-se em si. A Espiritualidade
abraça o todo!
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