“O próprio do simbolismo é sugerir indefinidamente; cada um verá o que o seu olhar permita perceber”
Esta semana deparei-me com um interessante texto de Giancarlo Kind Schmid no Clube do Tarot Intitulado Equívocos Simbólicos que se por um lado me fascinou devido a sua precisão histórica de pesquisa, por outro me fez perguntar se nós que estudamos os arcanos não temos que decidir em dado momento se somos afinal racionalistas ou simbolistas!
Oswald Wirth
Esta semana deparei-me com um interessante texto de Giancarlo Kind Schmid no Clube do Tarot Intitulado Equívocos Simbólicos que se por um lado me fascinou devido a sua precisão histórica de pesquisa, por outro me fez perguntar se nós que estudamos os arcanos não temos que decidir em dado momento se somos afinal racionalistas ou simbolistas!
Imagem de um feirante de alho. |
O autor apresenta uma
série de imagens de arcanos onde discute suas representações sob uma ótica mais
precisa. No arcano de O Mago, por exemplo, ele afirma que as mãos do mago não
são exatamente um gesto mágico, mas um movimento que os antigos ilusionistas medievais faziam para
distrair o público em seus truques, ou que sua mesa não possuía de fato três
pernas, mas que se trata de uma bancada longa onde outros feirantes mostravam
seus produtos! Ok, bem interessante! Gostaria, porém, de apresentar outra perspectiva
a este fato. Um símbolo não possui valor pelo que ele de fato é, mas sim pelo
que aparenta ser, ou seja, pelo que ele nos sugere! A simbologia em si sugere
indefinidamente, e estas sugestões é que tornam as cartas do tarot passíveis de
tantos desdobramentos em seus significados. Os gestos do mago feirante e
prestidigitador nos remete ao gesto mágico invocativo dos verdadeiros magos dos
mistérios ocultos! E isso influenciou os maiores cânones da tarologia como A.
E. Waite, Aleister Crowley, Paul Foster Case etc na interpretação deste
arcano... Waite chegou a desenhar os quatro objetos mágicos dos elementos sobre
a mesa do Mago! Eles se equivocaram? Não! Apenas se utilizaram da liberdade imaginativa e interpretativa que o símbolo oferece, e é assim que tem de ser! Um mesmo símbolo pode ser visto por muitos ângulos, o que só amplia seu
significado tornando-o muitas vezes mais profundo e preciso.
Também não imagino que alguém possa ter pensado que exista de
fato uma mesa de três pernas que ampare uma bancada de quadro lados. O que me
parece é que se a versão do baralho de Marselha que mais se popularizou mostra
apenas três pernas numa mesa do arcano, que sugere manifestação e talento, poderia
haver uma alusão aos quatro elementos e os três tempos. O que de modo algum
deforma o simbolismo e o significado do arcano, não concordam? Todas as
possíveis sugestões que uma imagem pode propor só aumentam a perspectiva do
arcano, e isso é bom! Caso contrário, se o vermos apenas como uma imagem de
um ilusionista medieval, isso limitará sua expressão arquetípica que nunca
englobará o significado de um verdadeiro iniciado nos mistérios ocultos. E que
benefício isso traria para o estudo e a leitura do tarot?
O Mago, no Rider-Waite tarot. |
O Louco no tarot de Charles VI. |
O fogo, a representação mais comum da presença do sagrado entre os povos antigos. |
Agradeço ao Giancarlo pela rica
pesquisa que nos apresentou, mas sugiro aos que estão lendo este artigo, e que
se interessam no estudo da tarologia, que leiam, reflitam e relacionem os
simbolismo das cartas do tarot no mundo simbólico o máximo possível! Sempre
cuidando, é claro, para não distorcer os significados simbólicos “criando”
visões particulares dos arcanos. Quando feito com cuidado, consciência e foco
essa correspondência simbólica passa a ser uma experiência culturalmente enriquecedora, intelectualmente instigante e espiritualmente inspiradora, e mágica mesmo!
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