Percorrer o simbolismo dos 22
arcanos maiores é percorrer os principais eventos que marcam a vida humana em
todas as suas manifestações, sejam elas psicológicas, culturais, de credo ou
legitimamente espirituais. Podemos definir os arcanos maiores como os
principais acontecimentos que levam ao processo de iluminação da consciência,
ou individuação, como diria C. G. Jung. As suas vivências movimentam-se em diferentes intensidades ao longo de toda a vida, ou em apenas um dia. Assim, podemos viver todos os 22 arcanos maiores durante um período de 24 horas, ao mesmo tempo em que passaremos a vida desenvolvendo apenas um ou dois desses arcanos em profundidade! Incrível, não?
Como os exemplos dramáticos ilustram melhor que os felizes, vejamos o arcano XIII, A Morte. A morte é fato inevitável, mas que não ocorre repentinamente. Enquanto eu escrevo e você lê isso, estamos ambos morrendo um pouco mais, e mais mortos hoje do que ontem, embora nós dois não saibamos quando isso vai ocorrer de fato! Morremos um pouco quando terminamos um relacionamento em que apostávamos muito, ou quando saímos de um trabalho que vínhamos fazendo com dedicação. A morte, como podemos ver, nos acompanha um pouco a cada dia até que se precipite de modo derradeiro e definitivo sobre nós! O grande arquétipo da morte se dilui em pequenas mortes ao longo de toda uma vida. O mesmo se dá com os outros 21 arcanos numerados da série conhecida como arcanos maiores do tarot. Noutro exemplo, o arcano de Os Amantes (ou O Enamorado em português), o tema das decisões tomadas de acordo com a “voz do coração” pode variar de um entre dois amores, ou entre duas carreiras, dois empregos, duas camisas no armário antes de se sair para trabalhar de manhã! Os arcanos maiores assim se chamam justamente porque sua abrangência simbólica envolve os quatro níveis de consciência, física, mental, sentimental e espiritual. Enquanto os arcanos menores têm seus significados mais restritos a cada um desses níveis representados por seus naipes. Ouros, o mundo físico, Espadas, o mundo mental, Copas os sentimentos e Paus o plano criativo-energético! Por esse motivo arcano maior e arcano menor não significa mais ou menos importante! Significa, isto sim, maior e menor abrangência simbólica.
Como os exemplos dramáticos ilustram melhor que os felizes, vejamos o arcano XIII, A Morte. A morte é fato inevitável, mas que não ocorre repentinamente. Enquanto eu escrevo e você lê isso, estamos ambos morrendo um pouco mais, e mais mortos hoje do que ontem, embora nós dois não saibamos quando isso vai ocorrer de fato! Morremos um pouco quando terminamos um relacionamento em que apostávamos muito, ou quando saímos de um trabalho que vínhamos fazendo com dedicação. A morte, como podemos ver, nos acompanha um pouco a cada dia até que se precipite de modo derradeiro e definitivo sobre nós! O grande arquétipo da morte se dilui em pequenas mortes ao longo de toda uma vida. O mesmo se dá com os outros 21 arcanos numerados da série conhecida como arcanos maiores do tarot. Noutro exemplo, o arcano de Os Amantes (ou O Enamorado em português), o tema das decisões tomadas de acordo com a “voz do coração” pode variar de um entre dois amores, ou entre duas carreiras, dois empregos, duas camisas no armário antes de se sair para trabalhar de manhã! Os arcanos maiores assim se chamam justamente porque sua abrangência simbólica envolve os quatro níveis de consciência, física, mental, sentimental e espiritual. Enquanto os arcanos menores têm seus significados mais restritos a cada um desses níveis representados por seus naipes. Ouros, o mundo físico, Espadas, o mundo mental, Copas os sentimentos e Paus o plano criativo-energético! Por esse motivo arcano maior e arcano menor não significa mais ou menos importante! Significa, isto sim, maior e menor abrangência simbólica.
Visconti-Sforza (1450), o tarot mais antigo a
ter o baralho completo com 78 arcanos.
ter o baralho completo com 78 arcanos.
Já citei aqui que os arcanos maiores representam numa leitura o que está acontecendo, os arcanos menores a consequência desses acontecimentos em nossa vida imediata e as cartas da corte, que pertencem ao conjunto dos arcanos menores, mostram como nos posicionamos e atuamos diante desses acontecimentos no nível da personalidade. Combinados assim os arcanos maiores e menores são uma perfeita *“máquina de imaginar” como bem o descreveu o tarólogo e escritor espanhol Alberto Cousté! Isso, no entanto, não define o modo como esses dois conjuntos do mesmo baralho devam ser jogados. Há aqueles que como eu gostam de lançá-los misturados numa leitura, outros preferem jogar em separado, combinando arcanos maiores e menores a cada lançamento. Há ainda os que preferem ler apenas os arcanos maiores em todas as sequências de leitura sem nunca acrescentar os menores! Isso depende muito de como funciona o processo psíquico-intuitivo de cada leitor. Não há certo ou errado! Descubra o seu modo! Só não vale sair por aí ensinando só arcanos maiores e dizendo que está “formando tarólogos”, pois seria um engodo! Sem falar que curso nenhum forma um tarólogo, apenas o inicia na linguagem simbólica dos arcanos. A formação só se completa com o tempo, a prática e a dedicação não só em executar leituras, e em estudar o simbolismo das cartas, mas também em tirar o máximo delas para o próprio crescimento. Que se dá através dos ensinamentos de vida que as lâminas do tarot, em toda sua profundidade arquetípica, proporcionam a quem sabe ver seu significado intrínseco!
O clássico tarot de Mareselha (1750), uma
reprodução de baralhos mais antigos.
reprodução de baralhos mais antigos.
Existem uma miríade de versões de baralhos de tarot, muitas delas absolutamente lindas, outras nem tanto! Há ainda aquelas que são uma cópia descarada de baralhos mais conhecidos como o Rider-Waite e o Thoth-Crowley. O problema que há em se estudar baralhos de autores é que cada um deles enfatiza os significados que lhe são mais significativos em sua interpretação deste ou daquele arcano! Basta ver as alterações arbitrárias e sem maiores justificativas feitas por Waite ao trocar as posições dos arcanos maiores VIII A Justiça e XI A Força, ou a alteração que Crowley fez nos arcanos menores transformando os Cavaleiros em Reis e rebaixando os Reis a Príncipes! Outro exemplo que costumo citar, como uma prova clara da interferência dos autores no simbolismo do tarot nas versões do baralho criadas por eles é o do arcano XV, O Diabo, que para Aleister Crowley é uma figura que representa o poder e a paixão plenamente vividos. Enquanto que para Vicki Noble, autora do Motherpeace tarot, é um símbolo do capitalismo e do patriarcado dominante, onde o macho entronado numa pirâmide social instiga a luta entre classes. Crowley era um pagão sexualmente ambíguo e nada contido em seus impulsos. Noble é uma feminista, e ambientalista pagã! Percebem o motivo dos enfoques dados aos seus “Diabos” nos baralhos que compuseram? Ambos captaram bem o significado do arcano que engloba as duas interpretações, mas ao desenharem seus baralhos enalteceram os significados que mais lhe diziam respeito sem dar muito espaço para os outros... Como ver a paixão sexual no Diabo de Noble? Como ver o poder opressor no Diabo de Crowley?
O tarot Motherpeace (à esq.) e o tarot Thoth (à dir.), enfocando e enaltecendo
certos significados pertinentes ao arcano XV O Diabo.
Isso não significa que devamos evitar os baralhos modernos de autor, mas sim que devemos encará-los com cautela. Os baralhos modernos podem trazer perspectivas interessantes sobre os arcanos ao colocá-los sob a ótica de uma determinada mitologia, cultura ou doutrina espiritual, como nos casos do tarot Mitológico, o Thoth e o Osho Zen, só para citar alguns exemplos bem sucedidos. Em minhas aulas eu prefiro utilizar as cartas do tarot de Marselha, um baralho que imita os antigos conjuntos medievais de tarot. Até onde sabemos o tarot não foi criado com o propósito de ser um oráculo, mas sim um jogo da nobreza europeia que acabou funcionando como um material projetivo da psique humana. A mesma despretensão mística ou oculta o isentou de interferências deste ou daquele autor! Costumo dizer aos meus alunos que ao entendermos bem o simbolismo básico do tarot de Marselha, entenderemos as intenções das intervenções dos autores de tarots modernos em seus baralhos!
As Cores
As cores falam-nos diretamente às
emoções, temos sempre uma reação imediata ao visualizar uma cor que gostamos ou
que detestamos. E também amamos ou detestamos uma cor sem uma razão aparente!
Há pessoas que se sentem subitamente tristes com o azul, outras imediatamente
irritadas como vermelho e assim por diante! Sem falar na linguagem simbólica
que criamos para representar nossas emoções utilizando as cores: azul de fome,
verde de inveja, vermelho de raiva, e a quem sucumbe ao medo dizemos que ele ou
ela “amarelou”. Muito embora nem todas essas relações semânticas tenham
consistência no significado psicológico das cores, elas simbolizam bem sua
íntima relação com as emoções humanas.
No tarot de Marselha as cores que
são representadas são as básicas, vermelho, azul, amarelo, verde, branco e
preto. O branco aparece como um detalhe significativo no cabelo de A
Imperatriz, na barba de O Imperador e O Hierofante, na água que escorre dos
jarros do arcano de A Temperança e em alguns dos raios de energia dos arcanos
de A Lua e de O Sol. Já o preto, apesar de aparecer mais fortemente nos arcanos
maiores de A Morte, XIII e nos contornos da face de A Lua, XVIII, ele só se
salienta mesmo no naipe de espadas. E essa cor, como veremos, tanto é dor e
desorientação, quanto o vazio da experiência de elevação espiritual! Exatamente
como o é o mergulho nos aspectos críticos desses arcanos maiores e no naipe de
espadas, uma crise que traz em si a possibilidade de crescimento interior.
Vamos às cores e seus
significados simbólicos:
Vermelho
Como o fogo, avança. Ação,
movimento, rapidez, paixão, intensidade, destreza, agilidade e disposição
física! Energia, vigor, embate, disposição para o confronto. Uma cor associada
tanto à guerra quanto ao sexo e à sedução. Pode também sugerir impulsividade,
pressa, impaciência e agressividade!
Azul
Como a água, infiltra-se. Calma, tranquilidade,
profundidade, espiritualidade, contemplação. A ação interior, como a reflexão e
a meditação. O psiquismo mediúnico, premonição, vidência etc. Os dons da alma.
Memória, sonho, idealização. Por outro lado simboliza também a passividade, a
preguiça, a inércia, a reclusão e ou indiferença emocional.
Verde
A cor da fertilidade, do
progresso, da regeneração e da cura, tanto física quanto espiritual. Essa é a
cor do encontro da verdade, por mostrar como as coisas, assim como os frutos,
são no início. Por isso é também uma cor de revelação e esperança! É a cor
associada aos profetas e à grandeza do mar, podendo significar soberba.
Amarelo
Luz, inspiração e intuição
superior, criatividade, descontração, brilho, reconhecimento, sucesso, êxito.
Por estar associada ao sol muitos reis, como os imperadores chineses, a
reservavam somente para si! Sugere riqueza, felicidade, talentos, dons, beleza
e posses reconhecíveis a qualquer um! É também a cor da vaidade, da ambição e
da ostentação!
O preto é a cor predominante em arcanos críticos como no caso
de A Morte (à esq.) e o 3 de espadas (à dir.).
Branco
de A Morte (à esq.) e o 3 de espadas (à dir.).
Branco
A paz profunda, consciência
amplificada. A cor da pureza, e por isso mesmo muito ligada ao espírito e à
Divindade. É uma cor de neutralidade e descanso, bem como da visão total da
existência, pois do branco saem todas as outras cores. É a cor dos anciãos e da
sabedoria adquirida com o tempo e livre das máculas projetivas do eu inferior.
Preto
Simboliza a ausência de luz, e
por isso o desespero, o luto, a falta de perspectiva e orientação, a
negatividade, o medo. Por outro lado é a cor do descanso da mente, e no Zen
budismo, por exemplo, simboliza o vazio da consciência que nos leva à
iluminação espiritual através da libertação da mente dos desejos, de onde
nascem todos os sofrimentos!
A Posição das Imagens
Muita coisa tem sido escrita
sobre as personagens dos arcanos maiores, bem como dos arcanos da corte, estarem
viradas para a esquerda ou para direita e os possíveis significados disso! Uns
dizem que se deve considerar sempre a perspectiva do espectador. Por exemplo, o
Hierofante está virado para o seu lado esquerdo, mas para quem o olha ele está
virado para a direita e este deve ser então o lado a ser considerado na
interpretação! No mínimo é confuso! Além do que nunca consegui tirar disso
grandes significados simbólicos, o que é claro pode ser pura limitação minha,
vamos deixar bem claro! Acho infinitamente mais significativo observar que as
duas únicas figuras dos arcanos maiores que encaram o expectador diretamente é
a mulher em A Justiça, arcano VIII e o próprio sol no arcano de mesmo nome O
Sol, XIX. Os dois simbolizam o domínio da consciência. O primeiro puramente
racional, o segundo mais abrangente, envolvendo os muitos aspectos da
consciência.
Também acho interessante que as duas únicas representações de seres que olham para o alto apareçam nos arcanos de A Lua, XVIII onde duas bestas uivam para a lua, e no arcano XX, O Julgamento onde uma família olha para as alturas atendendo à chamada de um anjo! Quer esse olhar seja uma busca pelo mais alto ou um chamamento dele, no primeiro arcano há desorientação e a invocação de sentimentos e instintos atávicos, como o medo. Já no segundo há um esclarecimento profundo, o resgate de uma nova consciência e perspectiva sobre os eventos do passado e do presente e a observação de uma relação entre eles que liberta os velhos condicionamentos da alma. Um é a estagnação, o outro a libertação!
Os personagens de A Lua e O Julgamento voltam-se para os céus,
um busca alento, o outro o encontra.
Também acho interessante que as duas únicas representações de seres que olham para o alto apareçam nos arcanos de A Lua, XVIII onde duas bestas uivam para a lua, e no arcano XX, O Julgamento onde uma família olha para as alturas atendendo à chamada de um anjo! Quer esse olhar seja uma busca pelo mais alto ou um chamamento dele, no primeiro arcano há desorientação e a invocação de sentimentos e instintos atávicos, como o medo. Já no segundo há um esclarecimento profundo, o resgate de uma nova consciência e perspectiva sobre os eventos do passado e do presente e a observação de uma relação entre eles que liberta os velhos condicionamentos da alma. Um é a estagnação, o outro a libertação!
Essas “coincidências” se repetem
por todo o simbolismo dos arcanos maiores do tarot de Marselha! E muitas outras
observações sobre elas ainda podem ser feitas, mesmo dentre aqueles arcanos que
citei aqui!
A Viagem do Louco
Para entendermos bem os arcanos
maiores e sua representação como etapas vivenciais da existência, encarar as
cartas como estágios de uma viagem pela vida é de imensa ajuda! O esquema que
apresento aqui e utilizo em minhas iniciações foi apresentado por Sallie
Nichols em seu livro **Jung e o Tarot,
de 1980. O esquema é organizado em três setenários que se dispõe de modo muito
rico tanto simbólica quanto aritmeticamente. O Louco representa o próprio
viajante que se coloca fora do grande esquema de 21 cartas. Ao ser colocado
antes da carta de O Mago ele é o ignorante puro de coração, aquele que percebe
sua falta de conhecimento e sabedoria e sai em busca delas.
O Louco, o Buscador
dentro de cada um de nós!
dentro de cada um de nós!
Ao completar, porém, o longo
trajeto arquetípico ele se vê mais uma vez fora do grande esquema. Mas agora
não mais como um ignorante, mas sim um sábio iluminado que passou por tudo, e
que apesar de compreender o esquema dos eventos da vida comum, não mais comunga
com eles. A viagem, entretanto, nunca termina! Como o penúltimo arcano da caminhada,
O Mundo, anuncia um fim e prenuncia simultaneamente um novo começo, O Louco
prossegue mais instruído em seu trajeto. A busca da evolução nunca finda e
continua em níveis cada vez mais elevados, pois o autoconhecimento é um caminho contínuo!
E mesmo aqueles cuja evolução transcendeu os níveis da humanidade e não mais
precisam do recurso reencarnatório, já que sua evolução não continua aqui na
Terra, continuam em sucessivas peregrinações evolutivas em outras dimensões! A
esses chamamos de muitos nomes, Mestres Ascensos, Iluminados, Avatares, são
alguns deles.
Os três níveis das cartas são
divididos, como já disse, em setenários que vão de O Mago ao arcano de O Carro.
Do arcano de A Justiça ao arcano de A Temperança. E, finalmente, do arcano de O
Diabo ao arcano de O Mundo! Muitas visões diferentes sobre esta jornada já foram publicadas e cabe a cada neófito no estudo do tarot conhecer essas muitas
versões e escolher a que mais faz sentido para si dentro do seu próprio
processo evolutivo pessoal. Para mim o primeiro setenário fala do processo de
formação do indivíduo, o segundo das leis ou princípios que regem a vida e o
terceiro do caminho da transcendência que poucos trilharão com sucesso, muito
embora tenham todos a oportunidade de fazê-lo! Apresento a seguir uma síntese
de cada setenário e o significado resumido de cada carta passo a passo. Antes,
porém, devo advertir que aqui O Louco será visto como uma criança recém-chegada a este mundo.
A viagem de O Louco se dá pelos três setenários
evolutivos dos arcanos maiores.
O Caminho do Indivíduo
evolutivos dos arcanos maiores.
O Caminho do Indivíduo
O Caminho das Leis
Logo O Louco, agora travestido de
O Carro, aprenderá pela observação, estudo ou experiência que a vida é regida
por leis ou princípios. Que vão do código penal à constituição, das leis
naturais, como a lei da gravidade, às leis espirituais, como a lei do Karma (A Justiça). Aprenderá que a solidão é a
regra desta existência e que ele estará sempre só em sua dor ou êxtase nas
experiências mais profundas e significativas de sua vida. E que quer ele faça o
bem ou o mal, ele será o maior responsável por suas ações e pagará por elas (O Eremita)! Verá também que a mudança é
a lei da vida, que tudo muda sempre, mas que também tudo é cíclico! Tudo muda,
mas se repete porque nada é exatamente igual, como um verão não é igual ao
outro. Aprenderá também que ciclos similares que se reptem com insistência
evocam a evolução da consciência (A
Roda da Fortuna). Descobrirá que o poder para mudar nosso próprio destino
jaz dentro de cada um de nós, mas requer força de vontade, empenho, coragem e
muita energia (A Força). Porém, para
que nosso ego não enlouqueça de vaidade, aprenderemos que na vida há o
imponderável que nos torna impotentes! Que por mais fortes e saudáveis que
sejamos, envelheceremos e morreremos. Que por mais que amemos alguém, não
podemos livrá-lo da dor e do sofrimento. A entrega nesse momento é um convite
para a contemplação do transcendente (O
Enforcado). Outra lei irrefutável é que tudo morre, mas que a morte não é
um fim, e sim uma transcendência, que como diz o nome, é um ir além das experiências e formas conhecidas até então (A Morte). E que a morte é uma das
maiores conspiradoras para a abertura e a busca por objetivos de maior
amplitude e significado filosófico ou espiritual (A Temperança).
O Caminho da
Transcendência
Na entrada do caminho da
transcendência encontramos aquele que faz de tudo para nos fazer crer que além
deste mundo que vemos a vida não tem nenhum sentido! Que não há transcendência
espiritual! Ele nos propõe transcendências físicas, e algumas bem biológicas
tais como poder material, sexo e drogas que nos prendem ainda mais a este mundo
(O Diabo). Somente uma libertação
consciente das amarras do ego ilusório, que poderá ser voluntária ou resultante
de uma crise de grandes proporções, nos faz despertar deste sono, ou maya como dizem os indianos (A Torre). A ruptura nos faz ver para além
de nós mesmos, e pela primeira vez vislumbramos nossa comunidade humana como
uma família, e esse universo como nossa casa (A Estrela). Mas logo após essa revelação o ego insufla o medo da
própria destruição e pensamentos de pânico como “Vou me perder”, “Estou ficando
louco”, ou “Ah, é só minha imaginação!” podem nos fazer voltar atrás e
abandonar o caminho da evolução (A Lua).
Ao resistirmos e atravessarmos os mares dos nossos fantasmas a consciência
antes adquirida se consolida, e um imenso esclarecimento sobre nosso propósito
interior advém e se reforça, trazendo clareza, êxito, força interior e foco (O Sol). Então, ao revermos nossa viagem
pela vida, todos os fatos que aparentemente não possuíam conexão entre si
entrelaçam-se e o sentido último de nossa existência se revela (O Julgamento). A dança cósmica se
completa em nós, e um profundo sentimento de satisfação e comunhão com todas as
coisas deste mundo e do universo se realiza dentro de nós com perfeição e
regozijo. Saímos então da roda das encarnações (O Mundo).
Curiosidades Aritméticas
Neste arranjo das cartas dos
arcanos maiores algumas reflexões podem ser feitas com os números nesta
disposição. Por exemplo: Se somarmos verticalmente a primeira carta da primeira
fileira (O Mago I) com a primeira carta da terceira fileira (O Diabo XV),
obteremos o número 16. Observamos então que a carta que fica entre os dois
arcanos é o primeiro arcano da segunda fileira (A Justiça VIII). Curioso, não?
Parece haver uma sugestão simbólica aqui, algo mais ou menos assim: O grande poder
da divindade interior (O Mago I) pode ser corrompido ao ponto de perverter-se
completamente (O Diabo XV)! Por isso é preciso manter a crítica, a autocrítica,
o bom senso e o discernimento consciente para equilibrar “os pratos da balança”
(A Justiça VIII). O mesmo ocorre entre a Sacerdotisa II e a Torre XVI, cuja
soma 18, encontra seu equilíbrio no arcano central O Eremita IX, e assim segue
entre todas as somas verticais!
Outra curiosidade é que as somas transversais, tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda, dão sempre no mesmo arcano. Veja isso: a soma do arcano de O Mago I, com o arcano de O Mundo XXI é igual a 22 cuja metade é 11, o arcano de A Força XI. Outra mensagem parece estar se insinuando aqui: entre descobrir o poder da divindade interior e atingir a transcendência é preciso muito empenho, coragem e disposição para debruçar-se sobre si mesmo ao confrontar a fera interior! O arcano de A Força é a metade resultante de todas as somas transversais entre os números dos outros arcanos maiores. Para conferir continue somando A Sacerdotisa II com o Julgamento XX, A Imperatriz III com O Sol XIX, O Imperador IV com A Lua XVIII... E até nas cartas da mesma fileira a que o décimo primeiro arcano pertence, como A Justiça VIII com A Temperança XIV, e até dos dois vizinhos mais próximos A Roda da Fortuna X com O Enforcado XII. Parece que a reflexão central desse simbolismo aritmético é que a confrontação com a sombra dos instintos inferiores, a besta interna, e sua integração impulsiona o despertar da luz espiritual, dos dons e talentos latentes e a evolução do indivíduo. Que se dá dentro do modo indicado pelo significado das cartas que compõem a fórmula! Estas “coincidências” provam mais uma vez que a troca feita por Waite colocando a carta de A Justiça no lugar de A Força no ponto central do quadro dos 22 arcanos maiores, não se sustenta simbolicamente. Medite sobre essas relações, tire suas conclusões e reveja-as periodicamente. Você crescerá muito em suas percepções sobre a vida e em seu próprio desenvolvimento pessoal e espiritual.
Outra curiosidade é que as somas transversais, tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda, dão sempre no mesmo arcano. Veja isso: a soma do arcano de O Mago I, com o arcano de O Mundo XXI é igual a 22 cuja metade é 11, o arcano de A Força XI. Outra mensagem parece estar se insinuando aqui: entre descobrir o poder da divindade interior e atingir a transcendência é preciso muito empenho, coragem e disposição para debruçar-se sobre si mesmo ao confrontar a fera interior! O arcano de A Força é a metade resultante de todas as somas transversais entre os números dos outros arcanos maiores. Para conferir continue somando A Sacerdotisa II com o Julgamento XX, A Imperatriz III com O Sol XIX, O Imperador IV com A Lua XVIII... E até nas cartas da mesma fileira a que o décimo primeiro arcano pertence, como A Justiça VIII com A Temperança XIV, e até dos dois vizinhos mais próximos A Roda da Fortuna X com O Enforcado XII. Parece que a reflexão central desse simbolismo aritmético é que a confrontação com a sombra dos instintos inferiores, a besta interna, e sua integração impulsiona o despertar da luz espiritual, dos dons e talentos latentes e a evolução do indivíduo. Que se dá dentro do modo indicado pelo significado das cartas que compõem a fórmula! Estas “coincidências” provam mais uma vez que a troca feita por Waite colocando a carta de A Justiça no lugar de A Força no ponto central do quadro dos 22 arcanos maiores, não se sustenta simbolicamente. Medite sobre essas relações, tire suas conclusões e reveja-as periodicamente. Você crescerá muito em suas percepções sobre a vida e em seu próprio desenvolvimento pessoal e espiritual.
Analogias e Análises
Para finalizar quero explicar o modo
como explanei o simbolismo de cada um dos arcanos maiores na análise
individual.
Título Esotérico – Uma livre interpretação minha dos títulos dos
arcanos como eles foram concebidos na antiga Golden Dawn, eles fornecem, a meu
ver, uma pista bem significativa sobre o significado intrínseco e mais elevado
das cartas.
Analogia Astrológica – A relação entre arcanos e a astrologia já foi debatida e bem criticada! Eu, porém, considero essa relação muito enriquecedora desde que fique bem claro que não deverá haver nunca uma comunhão de 100% entre os significados de um e de outro, já que são sistemas esotéricos autônomos, mas que uma relação entre eles esclarece bem a ambos os estudos. De fato um não derivou do outro, como sustentam alguns, mas por vezes repetidas eles se traduzem mutuamente de modo mágico!
Analogia Numerológica – Sou fascinado pelo conteúdo esotérico dos
números e acho que eles traduzem muito bem as imagens dos arcanos. Os que se
prendem a uma avaliação superficial do simbolismo numérico dirão não haver, por
exemplo, uma relação provável entre o número 5 e o arcano de Hierofante. Os que
defendem esta tese dizem que o 5 é o número da mudança e dos instintos sexuais
enquanto o Hierofante é o arcano da tradição e da busca filosófica-espiritual da realização
interior. Essa visão parcial do significado do 5, bem como de outros atributos numerológicos, tem contribuído para tornar a
numerologia a mais vulgarizada e diminuída das ciências ocultas. Na verdade o
cinco fala das mudanças que a alma realiza para ascender ao seu propósito existencial,
e instiga a experimentação da vida através dos instintos até que a consciência
sutil desperte e faça a comunhão desses instintos com a alma... E não é essa a
função do grande iniciador, o Hierofante?
O Arcano – É uma descrição de todos os elementos visuais que
aprecem em cada arcano para a localização do iniciante.
Significado – É uma análise da cada símbolo que surge no arcano
dentro de uma perspectiva não só esotérica e ou cristã, mas também psicológica
de cada figura.
Divinação – Trata-se de uma lista de prováveis significados
práticos para uma leitura das cartas numa sequência de jogo, seja esta uma sequência
de leitura geral como no caso da Cruz Celta ou da Mandala Astrológica, quer
seja em sequências para responder perguntas objetivas como o método Péladan,
por exemplo. Aprecio demais o termo “divinar”, pois resgata o sentido sagrado
de ler as cartas para alguém, juntando sentidos e dando um novo significado, mais
profundo e relevante, para suas vivências cotidianas.
Personagem do Cinema – A dramatização pictórica dos sentimentos humanos
e suas reverberações pela vida que o cinema proporciona, expressa os arquétipos
da inconsciente coletivo que por sua vez estão também, e de modo ainda mais
claro e significativo, nos arcanos do tarot! Certos personagens cinematográficos
expressam muito bem as qualidades arcanológicas, tanto inferiores quanto superiores,
possibilitando assim que a compreensão do simbolismo do tarot penetre de modo
criativo e lúdico!
Espero que apreciem, aproveitem e
absorvam bem!
Namastê!
* Tarot, ou A Máquina de Imaginar. Editora Ground. São Paulo, 1989.
**Jung e o Tarot. Editora Cultrix. São Paulo, 1987
* Tarot, ou A Máquina de Imaginar. Editora Ground. São Paulo, 1989.
**Jung e o Tarot. Editora Cultrix. São Paulo, 1987
Fantástico texto. Muito difícil para nós iniciantes achar algum texto esotérico que fale de forma imparcial. Geralmente o que encontramos são "verdades" que causam confusão.
ResponderExcluirObrigado Ruan, sinto que ensinar consiste basicamente em dar liberdade à possibilidade de tirar as próprias conclusões!
ResponderExcluirSeja sempre bem vindo!
Um grande abraço.
Muito bom Jaime! Obrigado pelos esclarecimentos!
ResponderExcluirObrigado João, seja sempre bem vindo! É um prazer dividir o que aprendi neste caminho profundo, enigmático e maravilhoso que é o tarot!
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