A terra é sem dúvida o elemento mais próximo do homem, pois é o mais palpável! É o solo de onde retiramos nossa comida e que guarda em suas profundezas as águas das chuvas. Os poços escavados na terra foram os que irrigaram as plantações que alimentaram vilarejos inteiros nos primórdios da civilização com seus frutos. Foi do barro (outra mistura da terra com a água) que o homem primitivo extraiu grande parte dos utensílios que utilizou para sua vida prática e cotidiana. Mitos antigos, como dos gregos, dizem que o próprio homem foi feito do barro. Daí o corpo humano possuir analogias com esse elemento, firme e maciço, e que possui dentro dele os ossos duros como as rochas no interior do solo. Todos os outros elementos da natureza parecem secundarizados diante da importância da terra, até mesmo o ar, sem o qual não vivemos! O sentimento de propriedade, estabilidade e segurança, advém da terra. Em tempos muito antigos o valor de um homem era medido pelo tamanho de sua propriedade ou se a possuía ou não. Prática que ainda se sustenta num mundo onde a importância de alguém está em sua capacidade de juntar dinheiro mais do que a de inspirar pessoas, por exemplo. Para os povos ainda hoje ditos primitivos a riqueza de um homem é um sinal de sua boa relação com a terra. Em termos morais costumamos dizer que uma pessoa de boa índole é aquela que possui bons valores humanos. Significando que as riquezas não são só exteriores e extrínsecas, mas também interiores e, portanto, intrínsecas.
No tarot o elemento terra é representado no naipe de ouros. Esse metal extraído da terra foi o símbolo da sua riqueza e de todo poder que um homem poderia conquistar. Para os povos da América do Sul como os Astecas, o ouro era sagrado por representar o sol e seu poder. O mesmo ouro sagrado que fez com que os espanhóis dizimassem sua civilização levados pela mais pura e sórdida cobiça. A terra é símbolo da riqueza, da estabilidade, do conforto e bem estar material como também dos valores de caráter, como bom senso, justiça, constância e confiabilidade. Não é preciso entender de tarot para saber que esses parecem atributos bem “sólidos”, como a terra. Por outro lado a cobiça, a avareza e os sentimentos de menos valia também estão relacionados a este naipe. No tarot as cartas da corte simbolizam as personalidades terrenas, por assim dizer, fortes, trabalhadoras, organizadas e prósperas, mas também envolventes e sensuais. As cartas numeradas de 1 a 10 são as representações do desenvolvimento dos seus atributos de trabalho, produção e crescimento em todos os níveis. Vejamos:
Rei de ouros – Ar da terra. O engenheiro da terra, o empreendedor, aquele que conhece os mistérios do mundo material e sabe manejá-los para o seu progresso e de todos que desfrutam de sua proteção. O mantenedor, líder, administrador. Ele é a expressão da abundância, mas entende que isso não representa só juntar dinheiro, e sim viver a vida em todas as suas manifestações.
Rainha de ouros – Água da terra. A consciência do corpo e dos sentidos. O bem estar e o usufruir a beleza e os prazeres da vida com responsabilidade e consciência. A encarnação do conceito de qualidade vida. Massagens, yoga, relaxamento, nutrição. Toda a relação com o aspecto prazeroso, sensorial e material da vida sem culpa. Sua sombra é a sensualista grosseira e a perdulária descontrolada.
Cavaleiro de ouros – Fogo da terra. O trabalhador disciplinado, perseverante, solitário, prático e realista. Crê no trabalho constante e organizado. Aquele que possui uma relação de devoção com o que faz. Constroi suas ambições com valores como a ética, a justiça e o bom senso. Possui altos ideais sobre si mesmo e as atividades as quais se dedica. Sua meta é a excelência (alcançada no 9 de ouros). É confiável e confiante. Sua sombra é a do viciado em trabalho.
Valete de ouros – Terra da terra. O germinador das novas oportunidades, o investidor dos novos empreendimentos. Aquele que especula novas formas de crescer e prosperar. Sob muitos aspectos é o estudante com sede de conhecimento e evolução. Aquele que faz da instrução uma forma de evoluir social e materialmente. O explorador de novas oportunidades.
Às de ouros – É a potência da terra de crescer e multiplicar os seus poderes. De fazer a semente virar árvore e de a terra bruta gerar frutos. No homem é a expressão do seu caráter e potencial interno, o uso dos talentos que se transforma em sua riqueza. Em termos mundanos o Às representa a possibilidade de realização de todos os anseios sociais e materiais desse mundo.
2 de ouros – O arcano que traz para o mundo a incrível capacidade de adaptação da terra. Qualquer solo bem cuidado, mesmo os desérticos podem dar bons frutos. O solo tem a capacidade tornar-se quente como o fogo, liquefeito como a água e de voar com o ar através do pó! O 2 de ouros é o arcano da adaptação dos potenciais internos aos reveses da vida. De fazer do limão uma limonada, de uma situação adversa uma grande vantagem, e de rir da desgraça!
3 de ouros - A força do trabalho é mostrado aqui. Nada é obtido da Mãe Terra sem empenho e trabalho! Após ter se adaptado as suas mudanças sazonais é preciso trabalhar nela devotadamente. O 3 de ouros é o arcano da labuta e da confiança nos instintos ao lidar com a terra, ou seja, com a atividade que se está executando. A dimensão do progresso franco e veloz encontra-se nesse terceiro arcano do tarot.
4 de ouros – Depois do empenho e da colheita dos frutos terrenos a terra traz o bem adquirido. Aqui nasce o significado de meu, que é profundamente gratificante ao ego humano por simbolizar o resultado do empenho dos seus talentos. É o arcano da estabilidade, da segurança e da propriedade, mas também da avareza material e afetiva, e do separativismo já que o “meu” vem do “eu” e nos isola dos outros.
5 de ouros – A crise que liberta. A materialidade cega. Quem olha muito para o chão não vê mais a luz. Assim uma crise financeira, a perda de bens ou de um emprego ou mesmo do nosso sentimento de valor pessoal, nos retira do cercado que criamos com o que conseguimos. Vemos então o mundo ao redor e pela primeira vez tomamos consciência de nossa pequenez e fragilidade num universo onde a interatividade é fundamental.
6 de ouros – Nesta etapa abrimos nossa percepção para novas possibilidades e valores, aprendendo a ser generosos e a fazer concessões. Como a terra e seus bens também sugerem negociação, temos de ficar atentos para que essas concessões não virem mais um vício triste para se obter benefícios indiretos como atenção, amor e consideração. Nossa abertura e doação devem ser autênticas.
7 de ouros – Nessa fase retomamos os ritmos naturais do nosso corpo e dos eventos todos, não mais lutamos contra a natureza em nós e a natureza das coisas. Respeitando o tempo de produzir e descansar. Também respeitando o outro em seu movimento de confraternizar-se e de ficar consigo mesmo ocasionalmente. Exatamente como acontece com os ciclos das estações na natureza, ou na gestação humana. Sua sombra é a indulgência excessiva.
8 de ouros – O caminho da simplicidade. Com os acontecimentos anteriores aprendemos a ser humildes (uma bela característica da terra) e a fazer cada coisa com o máximo de atenção aos detalhes e aos erros do passado com a forte intenção de reaprender e crescer serenamente. No outro extremo este é o arcano do “capacho” humano e da mediocridade. Daquele que se perde em detalhes toldando-se para a visão do todo.
9 de ouros – A excelência. O 9 de ouros indica a completa superação das mazelas passadas e a absorção total das experiências vividas. Assim como a terra dá frutos, o indivíduo colhe os frutos de si mesmo: uma consciência e um potencial amadurecidos que evocam notoriedade e respeito. O mestre de si mesmo com uma individualidade bem formada, mas não mais egoísta, que atinge seu ápice. O aspecto mais negativo é o perigo de tornar-se muito distante dos mais simples.
10 de ouros – O indivíduo finalmente entende que ele é o cocriador da sua realidade e da realidade planetária! Seja como for que esteja nossa vida fomos nós quem a fizemos assim, e somente nós podemos mudá-la! A consciência global, cooperativa e corporativa nasce nesse arcano. Como indivíduos, família, empresa ou sociedade entendemos que nossas ações nos influenciam e aprendemos a cuidar de nós mesmos e uns dos outros. A última etapa da evolução humana e planetária, que vem a ser a proposta da Nova Era.
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