quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Que Tipo de Tarólogo Você É?

O tarot e as múltiplas formas de percepção de
suas imagens arquetípicas...

Em seu livro O Tarot – Uma História Crítica, Cynthia Giles cita outra autora, Mary K. Greer, em seu livro Tarot Mirrors em que identifica quatro processos fundamentais numa de leitura do tarot sugerindo que cada leitor recorrerá a dois ou três deles em mais ou menos grau, geralmente com o predomínio de um deles, que são:
Analítico: Análise das correspondências entre símbolos e significados para determinar a sua relevância.
Psíquico: Uso intuitivo da “visão” interior e de “sentimentos” sensoriais sutis para conhecer as coisas.
Terapêutico: Ajuda o consulente a descobrir os significados, opções e objetivos pessoais.
Mágico: Afirma a habilidade do consulente de criar o que ele considera de valor.
Segundo Greer o leitor analítico seria o mais dependente das cartas utilizando-as como se fosse uma linguagem simbólica ou um alfabeto psíquico. O leitor terapêutico também tem uma estreita relação com as cartas, mas as utiliza como uma forma de entabular um diálogo com o cliente, algo como: “O que esta carta lembra a você?”. Os leitores psíquicos são os que menos se utilizam das cartas diretamente, e costumam se utilizar do processo de embaralhamento e de distribuição das cartas como um meio pelo qual acessam seu próprio psiquismo interior. Já o leitor que se utiliza do método mágico usa as cartas no que Giles chamou de um meio parcial, porque sua organização é colocada sob um ponto de vista específico, onde as cartas são selecionadas e arrumadas em termos de revelar oportunidades de mudança e crescimento. Por essa visão de Greer eu seria um leitor predominantemente analítico e mágico... Esses modos de se ver a leitura do tarot são todos psicológicos e intimamente ligados aos quatro tipos básicos da psicologia junguiana. O método analítico corresponderia ao tipo pensamento, o método psíquico ao tipo sensibilidade, o terapêutico ao tipo intuição e o método mágico ao tipo sensação. Bem, com todo o respeito ao trabalho de Greer e mais ainda ao de Giles, acho que essas breves relações não explicam quase nada e pouco têm a ver conosco, habitantes do Hemisfério Sul deste planeta, tão influenciado pelo sensível elemento água. A partir disso fiz uma relação dos quatro métodos de leitura que considero mais consistentes com tudo que vi e conheci através de colegas e, sobretudo, de alunos que se entregaram em leituras para outras pessoas na minha presença durante as práticas em grupos de estudo ou em casos que me trouxeram devidamente apontados em suas agendas ou cadernos de estudo! A própria Giles diz que o estilo de leitura está muito além de uma questão de escolha ou de personalidade como sugere Greer, já que o tarot possui um inegável componente metafísico que torna sua aplicação algo para além do controle da vontade humana. O que concordo plenamente.
Apresento a seguir uma avaliação minha dos quatro métodos possíveis de leitura do tarot segundo minha própria experiência como leitor e professor, e também como estudante em troca permanente com outros tarólogos:


Cada intérprete do simbolismo dos arcanos possui uma
"assinatura" própria no modo como traduz suas mensagens,
e isso se dá de modo muito fluente, e com frequência

fora do controle do próprio leitor...

1º O Tipo Analítico (Elemento Ar): Esse é o tal que enterra a cara nos livros, que sabe citar autores e datas de publicação, e que defende com argumentações bem fundamentadas as abordagens do tarot, em suas muitas e possíveis aplicações. O leitor analítico desconfia da própria intuição, pois considera o processo psíquico instável e altamente influenciado pelo ambiente que cerca o próprio leitor, como as oscilações da vida pessoal e familiar, a movimentação e o humor de pessoas ao redor dele, etc. Ele confia nos seus estudos, e faz deles seu principal suporte nas leituras. Por possuir uma intensa carga mental, é bem comum que as sessões de leitura do tarot sejam bem desgastantes para eles, geralmente falam demais, exemplificam, e fazem muitas e inúmeras recomendações, desde as terapêuticas às literárias. Não é incomum também que eles tenham a tendência a tornar as leituras algo “controlável”, trabalhando com significados bem definidos dos arcanos e refletindo, por exemplo, sobre as possíveis interpretações dos significados de cada arcano em determinada posição de um sistema de jogo de sua preferência! Sua análise depende totalmente de sua interação com as cartas.

2º O Tipo Psíquico (Elemento Água): Esse costuma ser o que mais impressiona as pessoas por conseguir “ver coisas” que não são necessariamente sugeridas pelo simbolismo das cartas como nomes, datas precisas de acontecimentos, descrições físicas exatas de pessoas, etc. O tipo psíquico possui pouca relação ou conhecimento do simbolismo do tarot, as suas imagens arquetípicas servem apenas para despertar nesse leitor o seu psiquismo interno, e talentos mediúnicos como clarividência e ou clariaudiência, alguns até amparados por entidades espirituais. As leituras psíquicas costumam girar em torno de coisas e fatos exteriores ao consulente, como pessoas do seu meio comum de convivência, no trabalho, na família, amigos, e também viagens, propostas, promoções... É muito comum também que esse tipo de leitor não se atenha muito ao que cada pessoa pode fazer para mudar sua situação, muitos parecem crer com sua experiência e observação que as coisas simplesmente acontecem, e que cabe a nós tirar o melhor de cada evento... Tem aqueles que se utilizam de recursos mágicos, místicos e ou mesmo espirituais para tentar auxiliar seus clientes a passar pelo que lhes reserva o futuro. Coisas como orações, magias e rituais de todo tipo.


3º O Tipo Intuitivo (Elemento Fogo): Assim como o tipo analítico o intuitivo tira todo o seu processo de análise da relação com as cartas, menos de uma perspectiva racional e mais de uma interação com o cliente, e na observação das reações deste aos arcanos e suas respostas emocionais a eles. Nesse processo não é nada incomum que o significado das cartas deem “saltos” de abrangência para esse leitor. Para ele o simbolismo das cartas é plástico, e se molda a cada experiência de leitura conforme cada pessoa que se consulta com ele. Suas sessões de tarot se parecem muito com uma consulta a um psicoterapeuta ou a um filósofo espiritualista. A sua atenção muito comumente está voltada para que o cliente veja a sua experiência sob outro enfoque ou perspectiva, geralmente mais interior e psicológica, e que cresça com ela. É bem pouco interessado em previsões sobre o futuro. O tipo intuitivo de intérprete do tarot geralmente é simpático a práticas terapêuticas de autotransformação intensa, como Regressão de Memória, Meditação Dinâmica, Renascimento, Constelação Familiar, entre outras! Isso quando ele mesmo não se torna um terapeuta dessas técnicas holísticas.

4º O Tipo Sensitivo (Elemento Terra): Esse também se utiliza das cartas com uma perspectiva de crescimento ou desenvolvimento. Dentro dos sistemas de disposição de leitura que escolhem sempre há posições do jogo que simbolizam aconselhamento, aprendizado, desafios, crescimento, etc. De modo geral ele não exclui os eventos práticos da vida comum, e nem descarta a aplicabilidade da divinação. Percebem que na interação com os eventos mundanos revelam-se potenciais de grande relevância para o processo evolutivo de cada pessoa. Mesclam intuitivamente com mais frequência o trabalho oracular ao terapêutico, mas sempre visando uma aplicação prática das revelações feitas através das cartas do tarot. Podemos dizer, comparativamente, que este leitor está menos interessado nas influências culturais e do passado sobre a psique do consulente do que o tipo intuitivo, e menos focado nos eventos do futuro que o leitor psíquico. Sua análise parece mais dirigida para o agora e as possibilidades de atuação e transformação desse período de tempo na vida de cada indivíduo, baseado numa forte crença interior da possibilidade de se mudar a realidade através da compreensão dos eventos e da atuação sobre eles.

Olhando para essa relação eu me identifico fortemente com alguns aspectos do tipo analítico, como em sua pesquisa e definição do simbolismo dos arcanos. Encontro-me totalmente identificado com o tipo sensitivo, e com o leitor intuitivo apenas na abordagem terapêutica dos arcanos. Atualmente não possuo nada, ou muito pouco, de um leitor psíquico... E você, que tipo de tarólogo você é?

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

De Onde Vem as Revelações do Tarot...?


Um tarólogo só revela aquilo que as cartas mostram, são elas as mensageiras do seu inconsciente na conexão com o Grande Inconsciente Coletivo da humanidade! O tarólogo é um intérprete sensitivo que alia ao seu conhecimento dos arcanos a sua intuição, para aprofundar a conexão simbólica entre as imagens arquetípicas ali representadas e traduzi-las, mas não vem dele as revelações...! Quem consegue ver para além do que mostram os arcanos são os videntes, que poderão, ou não, se utilizar de um sistema oracular! Ainda assim ele mesmo, o vidente, é só um canal por onde passam essas informações...

- Jaime E. Cannes

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Formulando Perguntas ao Tarot

Eis uma prática bem usual nas leituras de tarot, e que ainda assim pode ser vista sob uma perspectiva bem enganosa. Podemos perguntar qualquer coisa ao tarot? Sim, minha experiência tem mostrado que sim. *Hajo Banzhaf diz que qualquer pergunta pode ser formulada às cartas, mas assinala também que uma coisa que o tarot não pode fazer é responder sucintamente SIM ou NÃO a uma indagação. Pois que seu simbolismo sempre se desdobra em reflexões ou revelações de motivos ou sentimentos subjacentes às vivências do momento. Eu concordo, mas o que aparentemente soa como uma limitação, a mim parece mesmo uma boa vantagem.
Há necessidade de formular com clareza uma pergunta ao tarot? Bem, aí começa um ponto que controvérsias se farão presentes. Uns dirão que não há necessidade disso, de que a inteligência que opera no tarot é a da Inconsciente Coletivo, e de que tudo está revelado em algum nível da consciência (ou do subconsciente) de quem indaga ao oráculo! Em parte concordo com tudo isso, porém, destaco dois fatores bem importantes: 1º) É preciso que o consulente exerça sua confiança no leitor, este também é um trabalho de entrega do consulente, e um tempo para ele ouvir a si mesmo, e é no momento de trazer as perguntas que essa ouvidoria própria se dá. 2º) É fundamental que o intérprete dos arcanos exercite a sua percepção intuitiva, aliando-a a tudo o que ele estudou ao longo de sua jornada formativa, simples assim! Faz-se fundamental que ele ajuste a pergunta ao simbolismo dos arcanos retirados no processo, e os conecte intuitivamente ao significado das casas das diferentes disposições que são utilizadas à medida que a entrevista avança. Cada disposição escolhida representa o aprofundamento numa questão, seja de autoconhecimento, prognósticos, orientação estratégica e aconselhamento, relacionamentos etc. Costumo dizer que nas minhas consultas vale a regra: quanto mais precisa a pergunta, mais precisa a resposta. Por outro alado, quando mais ampla a questão formulada tanto mais ampla, e, portanto difusa, será a resposta obtida.
Certa vez fui chamado para fazer um evento esotérico num clube grande da cidade, era um sábado inteiro de atividades, e com a presença de profissionais de várias áreas do holismo e da interpretação de oráculos. Como não podia estar presente recusei, mas a organizadora que contatou comigo perguntou se eu tinha alguém de minha confiança que pudesse indicar, e eu o fiz. Tinha um aluno meu com longos anos de estudo da tarologia, antes mesmo de fazer um curso comigo, e que estava mais do que disposto a testar suas habilidades interpretativas com pessoas totalmente estranhas num evento como esse. Ele aceitou de pronto, e ao retornar perguntei como havia sido a experiência. Parecia bem frustrado, e confessou que achava não ter feito um bom trabalho. Trouxe o relato de uma senhora que pediu para ele abrir os arcanos porque ela queria saber dos filhos. Ele então pediu para ela tirar as cartas e quando abriu a leitura disse que claramente o tarot indicava que aquela mulher estava vivendo demais a vida dos filhos, e que estava na hora de voltar-se mais para sua própria vida e ocupar-se de si. Prontamente a senhora reagiu dizendo: “Mas não foi isso que perguntei!”. 
A Cruz Celta, um método bem flexível,
que tanto serve para leitura geral,
quanto para responder questões
formuladas ao tarot.
Entendem o que digo quanto a importância de se deixar bem claro o que se deseja saber? Eu o confortei dizendo que na verdade ele tinha feito, muito provavelmente, uma leitura bem acertada. Convenhamos que não estava evidente o que ela queria saber, e ao deixar ampliada a sua pergunta ela acabou abrindo espaço para que a sabedoria do seu inconsciente se manifestasse, e ela ouviu o que precisava e não o que queria! E, quase sempre, o que se precisa ouvir não corresponde exatamente ao que se quer ouvir! A necessidade de se dirigir objetivamente ao um oráculo parece bem clara para mim. A dubiedade que algumas pessoas dizem haver nos oráculos, e imortalizada na obra MacBeth de William Shakespeare, mora na verdade é dentro de quem formula a pergunta e não de quem responde, desde que seja este alguém realmente talhado e experimentado nesse ofício. Somos intérpretes, lemos o que se apresenta, e exatamente por isso que devemos orientar as pessoas que nos procuram a como formular uma questão ao tarot. Muitas vezes só cabe mesmo uma avaliação mais panorâmica, tipo ver o plano geral de um setor da vida. Isso ajuda a se ter uma ideia abrangente de onde a pessoa veio e para onde se dirige em linhas gerais. Algo como saber a situação da vida econômica e ou financeira etc. Entretanto, ao se buscar orientações estratégicas ou de autoconhecimento para se lidar com as situações, é importante que se seja claro e, mais ainda, específico!

Testando o Tarot


Algumas pessoas têm por hábito testar as próprias habilidades interpretativas de ler tarot com um estranho teste. Costumam pedir para que amigos e pessoas de sua convivência formulem perguntas mentalmente, mas sem lhes dizer do que se trata, a partir disso pedem para se retirar algumas cartas, algo entre 1 e 3. Passam então a interpretar a simbologia dos arcanos em suas combinações, enquanto aquele que faz a consulta fica encaixando o que é dito com o que de fato acontece na sua vida, ou de como percebe o momento e os possíveis desenlaces. Algumas vezes isso funciona tão precisamente que assusta a todos, outras vezes ficam com a sensação de que chegou bem perto, o que também soa de modo espantoso! Não vejo nenhuma vantagem nesse processo, ao contrario! Vejo muitas desvantagens. A primeira delas é que o leitor fica tateando no escuro, dissertando sobre os muitos possíveis significados da carta na posição em que caiu, sem exercitar aquele encaixe intuitivo do arcano com sua posição no jogo, e mais as próprias percepções intuitivas do tarólogo. Isso é a arte de ler tarot. Sem falar que a tentação de se deixar a tarologia de lado para se utilizar da “achologia” é bem grande! Logo se começa a querer encaixar coisas que se sabe sobre a pessoa em consulta, ainda que vagas, com o significado das cartas... Ou seja, um lado embusteiro da personalidade pode se manifestar, ainda que de modo inconsciente! Outro aspecto que considero potencialmente perigoso é o de deixar que aquele que se consulta encaixe ao seu bel prazer e disposição as respostas obtidas. As pessoas possuem a tendência a direcionar informações subjetivas conforme suas próprias crenças. Essa prática pode facilitar em muito a projeção de fantasias escapistas, autoengrandecedoras, ou mesmo mórbidas nas respostas. O leitor, por não saber o que foi perguntado, deixa livre o campo da fantasia e das invencionices do ego para se manifestarem na consulta... 

*As Chaves do Tarot
Editora Pensamento. 
São Paulo, 1993.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Cuidados com o Baralho II

Lembrando que: Um baralho energizado não é igual a um baralho imundo...!

Olhem o estado dessas cartas...! Costumo perguntar aos meus alunos, que possuem faixa etária próxima da minha, se eles se lembram das antigas cartomantes que passavam uma vida toda com o mesmo baralho, e pergunto se lembram do fato de a grande maioria delas ter pelo menos uma das unhas dos dedos acinzentada... E, sim a maioria lembra! Adivinha? Era fungo! Papel é material orgânico, junta bactérias e elas podem sim dar fungos, por isso todo cuidado é pouco. É possível manter um baralho com as marcas do tempo, que afinal são os testemunhos da sua jornada, mas inteiramente limpo! Uso o mesmo baralho nas minhas leituras há 11 anos, e nem de longe se parece com as imagens que apresento a seguir.
Como eu digo no meu artigo anterior:
"Os baralhos, assim como nós, envelhecem. Não há como evitar que fiquem amarelados ou que suas cores descasquem, isso é natural! A própria fricção causada pelo ato de embaralhar mais a umidade natural do ambiente causam isso. Porém, como nós, ele podem e devem envelhecer com dignidade!"

Obs: Clique nas imagens para vê-las em tamanho natural


Esse deve ter sido passado inúmeras na fumaço do incenso para 
limparas vibrações densas, e com isso o carvão do incenso 
entranhou deixando essa aparência nojenta. 
Com certeza nunca foi limpo
com um pano úmido.


Esse tá impregnado com a sujeira do tempo mesmo, também 
nunca foi lavado com um pano umedecido em água mineral 
como faço com os meus... O resultado é esse!


Nem precisaria de legenda, essa imagem fala por si mesma...


Esse baralho é o mesmo que vimos em forma de mandala,
aqui vemos as imagens (e a sujeira) sob outro ângulo!

Leia também o texto original: Cuidados com o Baralho

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Interpretação do Tarot...


"...É uma arte intuitiva que pode ser desenvolvida e aprimorada, mas não pode ser "criada"! Sim, temos todos intuição, mas nem por isso todos conseguem pensar abstrata ou simbolicamente. Assim como todos temos razão, e nem por isso todos são capazes de pensar lógica ou cientificamente..."

- Jaime E. Cannes 

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Aviso aos Navegantes...


Eis dois textos que postei no Facebook nos dias 09/07/2017 e 10/07/2017, sobre a doutrina do "modo certo e errado" de ler o Tarot, que ainda persiste nas redes sociais pelo Brasil a fora...

I

Ninguém é "meio tarólogo" só porque prefere fazer leituras se utilizando apenas dos arcanos maiores...! Isso vem do processo intuitivo de cada um e, portanto, é profundo, pessoal e intransferível! Já vi tarólogos fazerem descrições profundas usando este método, enquanto outros experts na utilização de todas as lâminas não chegaram nem perto...
Atualmente utilizo os setenta e oito arcanos misturados nas sessões presenciais de Tarot, mas por muitos anos fiz leituras só com os maiores, porque era apaixonado por um certo baralho que tinha mesmo apenas os vinte e dois trunfos. E, nas consultas online, ainda prefiro proceder deste modo!
Claro que aconselho a quem assumir o papel de professor de Tarot, que tenha sim um bom conhecimento e prática na interpretação dos dois conjuntos (maiores e menores) na lida com a tarologia. Afinal, você não pode levar o outro, com segurança, onde você mesmo nunca esteve, não é verdade?
II

Em função das respostas, dúvidas e colocações sobre a postagem do dia anterior, achei pertinente citar três princípios que considero fundamentais para quem está estudando o Tarot:

1° Entenda que NÃO EXISTE o jeito certo ou errado de se ler Tarot. E tão pouco o melhor método de leitura. Portanto se seu professor o ensinou que o melhor método de disposição das cartas é o americano, que mistura os arcanos maiores e menores, ou pelo contrário, que o melhor mesmo é o método europeu que separa arcanos maiores e menores nas leituras, e que um bom tarólogo usa sempre todos os arcanos sobre a mesa... Ou pelo contrário, se ele diz que não existe isso de arcanos menores, que toda a verdade está apenas nos vinte e dois trunfos, entenda que isso NÃO É uma verdade absoluta sobre o Tarot! Trata-se da visão do seu professor, baseada nas experiências e vivências dele. Elas devem ser consideradas sim, mas não devem inibir você de fazer suas experiências, e testar todas as formas e métodos de leitura! Você tem o direito de formar sua própria visão de tarologia!

2° Da mesma forma saiba que NÃO HÁ o melhor sistema de disposição das cartas! Não importa se disseram a você que a Mandala Astrológica é o mais abrangente, ou de que a Cruz Celta é o mais preciso... As leituras de Tarot são formas de ampliação da consciência tanto para leitores quanto para consulentes. A forma de disposição das cartas é o caminho pelo qual essa experiência se dará, portanto não pode ser imposta por regras ou convenções, simplesmente porque não faz sentido! Todo o trabalho dentro do mundo dos símbolos é de cunho intuitivo, e como já disse antes, é, portanto pessoal, profundo e intransferível! Daí vem o terceiro conselho...

3° Aprenda TUDO sobre Tarot, teste tudo também! Uma coisa é você deixar de fazer porque é um ignorante sobre o tema, ou que se deixou levar pela experiência, ou mesmo pela ignorância ou visão estreita de um outro professor ou autor. Outra coisa é ser alguém que explorou todas as possibilidades e acabou escolhendo as que melhor se adaptavam à sua visão de vida, intelectual e espiritual. No futuro, se escolher se tornar um professor de tarologia, lembre-se de dar a mesma liberdade ao seu aluno, estimule-o a testar outros métodos e sistemas conjuntamente aos que você ensinou. Afinal, não se trata mais só de você, mas da trajetória de outra pessoa... Seu dever é dar sim uma formação consistente e completa, mas também o de estimular a pesquisa interior e intuitiva, tanto quanto a racional e objetiva.

sábado, 22 de julho de 2017

O Tratamento Reiki à Distância...

Como Funciona?

1) O tratamento Reiki à distância substitui um tratamento presencial?

De forma alguma. O tratamento presencial permite uma interação psíquica e energética muito maior entre o terapeuta e o cliente, por isso deve sempre haver, de preferência, uma troca direta de transmissão da energia Ki.

2) Como isso é possível?

A energia Ki permeia todo o Universo, e o nosso mundo com todos os seus habitantes. Somos todos compostos dessa energia que sustenta a vida em todas as suas manifestações. Assim, ao enviarmos a força Ki para uma pessoa, através da utilização dos símbolos Reiki de tratamento, estamos movimento essa energia. Frequentemente eu a comparo com o próprio ar, nós não o podemos ver, e só o sentimos em ventanias ou quando acionamos os meios criados pelo nosso engenho para essa tarefa, como circuladores de ar e condicionadores que o movimentam e temperam respectivamente. Acontece algo semelhante ao nos utilizarmos dos símbolos dos níveis II e III para efetuar tratamentos à distância com o Reiki!

3) Quando posso me utilizar de um tratamento à distância?

Geralmente quando a pessoa não pode vir até o consultório, ou em casos de emergência, ou ainda quando ela nem sabe que precisa de ajuda por estar passando por algum momento de muita dificuldade...

4) Mas nesse caso isso não seria uma intervenção no livre arbítrio de uma pessoa que não nos pediu ajuda?

Não! É importante salientar que ninguém "controla" a energia Ki Universal, nós a canalizamos e a enviamos às pessoas interessadas, ela é uma energia inteligente que atua conjuntamente com nossos canais superiores de consciência. Temos todos uma parte superior de nossa consciência, que é conhecida como "Eu Superior", esta parte do nosso ser está sempre atenta a tudo o que serve ou não ao nosso processo evolutivo. Ela não está submetida à nossa mente egoica inferior. Quando recebemos a sintonização em Reiki nível I, é bem comum que os Mestres nos digam que cada um recebe apenas a quantidade de Reiki que estiver aberto a receber. O que é verdade...! Uns absorvem 100% da energia Ki emitida, outros 50%, outros ainda 10%... Por que então seria diferente num tratamento à distância?

5) É correto se cobrar pelo tratamento à distância?

Ninguém cobra pelo trabalho em si, seja ele qual for! A maioria dos profissionais leva em conta o tempo que despendido para tal tarefa. Eu não cobrava até bem pouco tempo, mas isso mudou quando os pedidos de Reiki para outras pessoas começaram a aumentar consideravelmente, e isso começou a me tomar cada vez mais tempo... Como não me utilizo de técnicas como a do caderno, ou da caixa Reiki, onde o nome de várias pessoas são colocadas conjuntamente, e assim é enviado periodicamente Reiki a todas elas... Eu trato pessoa a pessoa, escrevendo seus nomes num pedaço de papel e deixando entre as minhas mãos por um tempo entre 10 a 15 minutos de cada vez, por quatro dias. Costumo perceber coisas no campo energético e sutil enquanto transmito a energia Ki, que eu anoto e em seguida envio com as datas das transmissões via e-mail, numa espécie de relatório breve das aplicações... Costumo cobrar o valor de uma única sessão por esses quatro dias de aplicação de Reiki. Contudo, cada um deve estipular seu próprio método de trabalho e sentir se deve ou não cobrar por isso.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sobre a Frequência Terapêutica

Eis uma questão muito frequente em consultórios de qualquer tipo de modalidade terapêutica, sejam elas holístico-vibracionais, ou convencionais. E essa semana me deparei muito com essa indagação: Qual a regularidade mínima recomendada para um tratamento? Minha resposta é: Pelo menos uma vez por semana! Algumas terapias recomendam até duas vezes por semana, principalmente as psicanalíticas! As terapias vibracionais não precisam de toda essa regularidade por se valerem de práticas e técnicas que atuam por um tempo maior nas pessoas. O reiki, por exemplo, tem seus símbolos que funcionam como tatuagens energéticas que ficam vibrando no corpo físico e nos corpos sutis de quem o recebe por mais alguns dias após a aplicação. O bem estar que a renovação da energia ki proporciona se faz sentir ainda ao longo da semana. Com a terapia floral é a mesma coisa, as questões levantadas nas sessões de terapia, e tratadas com os florais adequados, vão desabrochando, por assim dizer, nos dias que se seguem. Outras questões, entretanto, surgem e por esse motivo encontros com regularidade mais curta, tipo semanal, se fazem necessários! A tese das sessões semanais pode ser dividida em duas partes:
1º) Encontros quinzenais ou mensais (que me parecem ser impensáveis para se obter resultados satisfatórios) são longos e acumulam muito “material” a ser trabalhado. Vivências passadas que podem refletir questões levantadas na sessão, e o resultado das técnicas terapêuticas empregadas, podem ser esquecidas, passar despercebidos, ou serem “filtrados” pelo cliente enquanto se encaminha para sua consulta e vai selecionando no caminho o que é mais importante de tratar com seu terapeuta! Muitas vezes o que o cliente não toma como relevante vai se mostrar com muito sentido lá adiante, mas quando não é comunicado ficará sem sentido e fora do contexto para a avaliação do terapeuta... Como conectar e tratar o que não foi dito?
Leituras de tarot, ampliação da consciência através
das chaves simbólico/arquetípicas da alma...
2º) Um processo terapêutico pode durar de alguns meses a alguns anos, dependendo das questões levantadas e das intenções apontadas pelo próprio cliente. Então imagine que num processo de tratamento regular a terapia fosse durar um ano, se a frequência diminuísse para quinzenal esse tempo poderia ser facilmente dobrado, e se for desmembrado para um encontro mensal então... É evidente que estou falando de uma probabilidade média, e que muitas vezes a compreensão do cliente dá saltos quânticos, e vários meses podem ser sintetizados em algumas semanas. Isso, porém, depende de uma série de variáveis tanto de quem se trata quanto de quem trata. Da parte do cliente depende do seu nível de autoconhecimento e da sua busca interna antes de chegar àquele momento, do quanto suas questões vem sendo ignoradas antes do tratamento, bem como da profundidade da sua influência. Da mesma forma, por parte do terapeuta, depende do seu feeling, ou seja de sua capacidade de percepção do cliente, ou mesmo se ele se utiliza de algo mais profundo e impessoal que suas percepções, como ferramentas do inconsciente, para captar as coisas não ditas nas sessões. Coisas como o tarot, a astrologia, a numerologia, o eneagrama, etc... E é claro, se ele tem conhecimento aprofundado na aplicação dessas linguagens do inconsciente. Afinal uma coisa é achar que sabe o que se pratica, outra é realmente saber...!


Por fim, a pergunta que ronda a cabeça das pessoas que leem ou ouvem narrativas assim é: Por que alguém quer interromper o tratamento de algo que o incomoda, e geralmente há vários anos? Também os motivos são variados! E vão desde o apego inconsciente ao mal conhecido, que mesmo sendo perturbador é algo comum e que se sabe como lidar, até o medo puro e simples de não dar conta da mudança, do que os outros vão pensar, de se desapontar com os resultados... Enfim, uma miríade de possibilidades!
É evidente que há casos em que não resta outra solução a não ser diminuir a periodicidade dos encontros quando, por exemplo, o cliente mora noutra cidade, e não se sente confortável com sessões online. Ou tem dificuldades físicas que o impedem de se dirigir até o encontro de terapeuta... Muitos alegam ainda que a terapia está ficando dispendiosa (o ego adora essa), a falta de dinheiro mexe com a necessidade egoica de autopreservação. Nesse caso sugiro uma mudança de perspectiva, o autoconhecimento é um investimento onde não se perde nada, e se tem a possibilidade de lucrar de inúmeras formas! Por ouro lado é algo que não se consegue fazer sozinho, ao mesmo tempo em que é um caminho que ninguém pode trilhar por você! 

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Baralho Lenormand NÃO É Tarot Cigano!


O que tem de gente que vem me contar que marcou consulta com a taróloga fulana de tal, e ao chegar lá o que a mulher abriu foram as "cartas ciganas", e que a pessoa se constrangeu em dizer que não queria aquele atendimento, e que conhecia bem o que era tarot...! Que fiasco! Esse vício vem lá dos anos 90 quando a Kátia Bastos lança uma versão própria do baralho Lenormand, chamando a esse baralho de Tarot Cigano... Perpetrando assim um longo e incrível equívoco que ainda perdura, e que muitas vezes mais parece a má fé de certos profissionais. Nessa época a cartomancia andava meio em baixa, então os livreiros resolveram chamar todo baralho oracular de tarot, pois a tarologia era uma verdadeira febre! O Lenormand nem ao menos é cigano! É uma versão francesa que foi criada, levando o nome de Madame Lenormand, a partir de um baralho alemão anterior (o Jogo da Esperança, de Johann Kaspar Hechtel)... No mundo todo é conhecido como cartomancia Lenormand ou cartomancia francesa... No Brasil ficou conhecido como cartas ciganas. Ciganos são exímios em fazer leituras e prognósticos, mas não criaram um baralho seu. Foram sim os primeiros usar o tarot de modo divinatório, até onde se sabe, mas o único sistema oracular legitimamente cigano é a quiromancia, ou a leitura das linhas das mãos. Quem lê essas cartas é um cartomante, e não um tarólogo! O tarólogo é sim um cartomante também, mas que se utiliza de um baralho específico com mais desdobramentos arquetípicos, que é o tarot!
E como já disse na página "A História do Tarot" aqui do meu blog: O tarot é um conjunto de 78 cartas divididas entre 22 arcanos (segredos ou mistérios) maiores e 56 arcanos menores. Esses últimos têm ainda uma subdivisão de 16 cartas com figuras humanas de reis, rainhas, cavaleiros e valetes (A corte) e 40 cartas numeradas de 1 a 10 divididas em quatro naipes, como no baralho comum, paus, copas, espadas e ouros. Se um baralho tiver mais ou menos cartas, ou faltar qualquer uma das estruturas citadas, não é nem melhor, nem pior, apenas NÃO É TAROT! Não é um descendente do baralho medieval original, o que também não significa que não funcione nem seja bom!

Saiba mais sobre as origens do Baralho Lenormand 

terça-feira, 6 de junho de 2017

Tarot & Florais - Uma Combinação Alquímica


Ace of Cups, do
Salvador Dali tarot.
Desde que comecei a atuar com o tarot, senti que faltava algo que auxiliasse a digerir, e posteriormente tratar, as revelações feitas pelos arcanos. Foi assim que em 1994 conheci a terapia floral. E até hoje não consigo imaginar combinação terapêutica melhor para uma leitura de tarot. Comecei a identificar na assinatura das flores características dos arcanos em determinadas situações. Não do modo como já vi em alguns livros, que dizem que para arcano tal indica-se floral tal... Simplesmente porque isso é muito variável! Os arquétipos são plásticos. O arcano de A Torre, por exemplo, pode tanto simbolizar uma experiência desestruturadora, como um empuxo para se livrar de sistemas opressores. Por isso a esse mesmo arcano podemos tanto associar Waratah, do sistema Bush (australiano), que nos dá forças para suportar crises devastadoras, quanto Cayenne do sistema FES (californiano), para mover a consciência da estagnação e da inércia evolutiva. Por isso entendo que não é um arcano que define uma essência floral, mas sim a situação indicada pelos arcanos conjuntamente numa leitura.
Com o tempo o processo de sintonizar florais à arcanos ficou tão introjetado que tenho dificuldade em explicar de modo metódico como o faço. Da mesma forma que ficou muito complicado indicar florais sem a leitura dos arcanos... Minha experiência tem demonstrado que quando interagem ativamente o processo é mais preciso. Certa vez uma mulher me procurou, havia sido indicada para fazer terapia... Como não citou a leitura de tarot me preparei para a anamnese usual da terapia com as flores. Perguntei o que a trazia a até mim, e ela se queixou de falta de foco nos estudos e da necessidade de concluir seu curso de direito. Como ficou só nisso perguntei sobre a vida familiar e afetiva, ao que ela respondeu que tinha uma família complicada com irmãos que haviam se dispersado, e uma mãe pouco afetuosa, mas que ela não ligava mais para isso apesar de ainda morar com a mãe. Sobre o amor disse que tinha terminado um relacionamento a pouco, e que não estava mais focada nisso, e na verdade até um pouco desacreditada dos afetos, e reforçou que precisava mesmo era tocar logo a carreira para seguir o seu caminho... Ou seja, tinha muito trabalho pela frente até ela se dar em conta que ia ser difícil de focar em algo com toda essa negação de sentimentos mal resolvidos e afetividade frustrada. 
Two of Vessels (copas) do
Alchemical tarot,
de Robert M. Place.
Pedi a ela um tempo para avaliar os florais, e disse que os mandaria por e-mail, pois aquele não era o meu procedimento usual para a terapia com florais... Ao que ela indagou quase que imediatamente: “Ah, não? E qual é seu método?”, falei que eu me utilizava da leitura do tarot. Prontamente ela complementou: “Então eu quero!”. Marcamos para o início da semana seguinte. Quando abri as cartas, o tarot mostrou de pronto que ela ainda sonhava com um novo relacionamento que a fizesse novamente acreditar e apostar no amor, como também sonhava com a reintegração da sua família, coisa aliás que não lhe saía da cabeça! Fiquei cheio de dedos para dizer que o que os arcanos me mostravam era o oposto do que ela havia me dito na nossa primeira sessão. Quando enfim falei, outra surpresa! Ela sorriu com um canto da boca e disse com um claro ar de admiração: “Como isso mostra mesmo as coisas, né?”. A negação havia cessado, os símbolos do inconsciente vieram à tona e mostraram o seu paradoxo, e então ela parou de relutar e, é claro, mudamos completamente o seu receituário floral... Ela não mentia para mim, mas para si mesma, e a intervenção dos símbolos arquetípicos desarmou isso! Sem o tarot essa fantasia autossugestionada demoraria meses para ser esclarecida!
Essa foi uma das muitas provas que tive de que eu devo mesmo é continuar sendo esse terapeuta-tarólogo, ou um tarólogo-terapeuta-floral, para alquimizar a pedra bruta que habita a alma humana... 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Repetindo... O Tarot é um Espelho!


O sistema de leitura da Cruz Celta, um espelho
de nossas vivências interiores e exteriores
simultaneamente...
Já disse inúmeras vezes, mas se faz necessário repetir e repetir... O tarot é um maravilhoso instrumento de divinação, revelação de pronósticos, aconselhamento, orientação, e reflexão sobre o presente, como também sobre o passado, o futuro e sobre nós mesmos e nossas atitudes... Porém, não substitui a necessidade de se viver a própria vida e assumir para si a responsabilidade da própria existência! O que tem de pessoas que me escrevem dizendo que consultaram este e aquele tarólogo, e que as respostas mudavam, e que por isso concluíram de que o tarot estava confuso... Oi? Quer dizer então que uma pessoa não se contenta nunca com uma resposta, vai num profissional e ouve uma narrativa, mas mesmo sendo positivo o que ouviu, sente necessidade de  confirmação, e então vai noutro. A narrativa muda um pouco, o tarot é afinal um instrumento de revelação de um determinado momento da vida de quem retira as cartas, e um momento muda porque atuamos sobre ele, consciente ou inconscientemente. Sem falar na competência de cada intérprete, e na afinidade com a linguagem oracular que ele desenvolve, o que são variáveis que sempre devem ser levadas em conta. A referida pessoa acha então que se algo mudou a revelação que ela ouviu não é consistente, e sai à procura de outro, e outro, e no fim conclui de que o tarot é que está confuso? Mas ela, é claro, não está nada confusa! Se o tarot é um espelho, de onde virá a confusão detectada, do reflexo ou do espelho? Usando outro exemplo, se você se vê gorda no espelho, o espelho é que a engordou?
Enquanto houver pessoas que insistam de que o que os oráculos revelam é algo fora delas, será impossível para essas pessoas extrair do trabalho de orientação com os sistemas simbólicos como o tarot, a astrologia, a numerologia, o I Ching, etc o seu melhor, e de crescer e de se desenvolver com isso...

terça-feira, 9 de maio de 2017

Mario Quintana e o Oculto...


Quintana e o Tarot... 

Pois é...! Achei este poema no livro "Aprendiz de Feiticeiro" de 1950, e me espantou o quanto os versos nos fazem lembrar do arcano Prince of Disks, do Thoth tarot de Aleister Crowley. No poema Mario fala em Rei de Ouros, e Crowley por questões cabalísticas renomeou o Reis do tarot para Príncipes... Com certeza isso não foi consciente por parte do poeta, pois que o poema é, como já disse, de 1950 e a primeira edição completa do Thoth tarot só aconteceu em 1962, e ainda assim em edição limitada. A sincronicidade e a força dos arquétipos se fez presente mesmo nesse encontro. O poema fala de poder e do ápice de uma situação. Justo o significado deste arcano que denota poder material, riqueza e realização. "Coincidentemente" o Rei de Ouros do tarot tem correspondência astrológica com o segundo signo do zodíaco, Touro... Leiam os versos e comparem com a imagem deste arcano... Por ser também uma das ferramentas do inconsciente a arte pode dar saltos surpreendentes...



PINO

Doze touros 
Arrastam a pedra terrível.

Doze touros
Os músculos vibram
Como cordas.

Nenhuma rosa
Nos cornos sonoros.
Nenhuma.

Nas torres que ficam acima das nuvens
Exausto de azul
Boceja o Rei de Ouros.

Do livro: Mario Quintana - Aprendiz de Feiticeiro,
seguido de Espelho Mágico.
Editora Objetiva. Rio de Janeiro, 2012.

Quintana e a Astrologia... 

Quem diria hein? Mas muitos de seus poemas falam em alquimia, magia, e em um de seus versos ele cita a palavra "quincúncio", que é um aspecto referente a um ângulo de 150º  entre dois planetas na mandala do mapa astral... E o presente soneto é uma prova escrachada de que o poeta tinha pendores,  ou pelo menos curiosidades astrológicas...

ASTROLOGIA

A minha estrela não é a de Belém:
A que, parada, aguarda o peregrino.
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além...

- Meu Deus, o que é que esse menino tem? -
Já suspeitavam desde eu pequenino.
O que eu tenho? É uma estrela em desatino...
E nos desentendemos muito bem!

E quando tudo parecia a esmo 
E nesses descaminhos me perdia
Encontrei muitas vezes a mim mesmo...

Eu temo é uma traição do instinto
Que me liberte, por acaso, um dia
Deste velho e encantado labirinto.

Do livro: Baú de Espantos;
Quintana de Bolso. L&PM Pocket.
Porto Alegre, 2010.
Seleção de Sergio Faraco.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Lilith - A Senhora das Sombras

O texto que se segue foi publicado pela primeira vez no jornal Athame, de Porto Alegre, em Agosto de 1998. Um amigo o encontrou na internet nas "Melhores respostas do Yahoo" e então pude resgatá-lo! O apresento hoje sem nenhuma reedição ou retoque na ideia original, mas com apenas algumas correções ortográficas. Continuo concordando com o motivo central que exalta a urgência da transformação de uma arcaica consciência masculina ainda dominante, mas reconheço que um gigantesco passo já foi dado na direção dessa transformação, haja visto a grande quantidade de homens que tem me procurado para leituras de tarot e trabalhos terapêuticos; e mais do que isso, se envolvido ativamente na transformação planetária... 
Espero que os leitores de hoje o apreciem!  
Eva, a segunda esposa de Adão...
A Senhora das Sombras...

Pesquisar o mito de Lilith foi uma das experiências intelectuais mais instigantes e fascinantes de minha vida. Nesse mito encontrei muitas respostas para o comportamento humano, extremamente manifestado no sexo masculino, de temer o mundo oculto e perverter a sexualidade. No estudo, que conclui há três anos fiz questão na ocasião, como faço agora, de buscar uma analogia com parâmetros históricos na formação das grandes religiões mundiais e seus conceitos morais intrínsecos.
Lilith é mais abordada no Talmud, o sagrado Livro do Judaísmo. Lá encontramos um Adão diferente do que a cultura cristã nos fez acreditar. Seu nome era Adão-Enkidu, andrógino, meio animal e sem par. Esse Adão pouco aceitável para nós, mantinha relações sexuais com animais, andava nu e solto pelo mundo do Criador. Após um longo período de solidão ele sente falta de uma parceira, esta lhe aparece em sonhos e comunga com Adão nos impulsos bizarros para o sexo. Outra versão conta que Deus estava com sua criação quase pronta, então ele criou os répteis, os insetos e por ultimo os demônios, pois já era o fim do sexto dia. Assim sendo, Lilith nasceu no cair da noite de uma Sexta feira e dissipou-se da criação antes do raiar do dia de Sábado. Sua ruptura com a criação se deu devido a um fato insólito, aparentemente, mas com uma grande riqueza simbólica: Adão-Enkidu foi deitar-se com sua parceira tão sonhada. Na hora da cópula, ela recusou-se a submeter-se ao seu parceiro, o homem. Segundo as escrituras, a primeira mulher questionou porque deveria ficar por baixo durante o ato da cópula. "Não sou eu também filha dele, por que devo ficar por baixo e tu por cima?" E o primogênito de Deus retrucou: "Porque meu Pai assim o quis". Nesse momento nasceu a Senhora das Sombras, aquela que desejava ser igual ao primogênito do Senhor e não aceitava ser subjugada, nem por ele nem por ninguém. Aquela que desejou transgredir a ordem, que não aceitou as explicações dadas, nem os fatos apresentados.

Conflito Alma e Corpo

Este trecho da historia oferece mais do que aparenta. Entendo o ficar embaixo mais do que uma posição para o ato sexual; aparentemente trata-se da natureza animal do homem querendo tomar sua consciência espiritual. O mito de Lilith é uma figuração (em minha opinião) do eterno conflito entre a alma humana que busca a ascensão, por ser esse seu propósito maior, e o corpo primitivo, cheio de impulsos bestiais. Esse drama é inerente ao contexto humano e as religiões monoteístas apenas acentuaram esse ponto de discórdia.
Lilith, a representação mágica,
e bestial da noite...
Conta-nos o Talmud que o Adão-Enkidu, antes do aparecimento de Lilith e posteriormente de Eva, mantinha relações sexuais com os animais. Deus por sentir-se repugnado com o comportamento daquele que deveria ser a sua maior obra, o proibiu de fazê-lo. Pessoalmente, duvido que uma forca criadora, responsável pela criação e manutenção de bilhões de estrelas e de mundos diferentes do nosso, estivesse preocupado com a estrutura moral de cada sociedade. A moral apenas é um conceito que mantém sob controle a besta em cada um. A mitologia em todas as culturas e religiões sempre segue o mesmo padrão: criar símbolos para comunicar um fato real adornado em todas as sensações que dele derivam. Os pastores nômades do Oriente Médio mantinham relações sexuais com animais quando não tinham condições de ter uma esposa. Esse impulso sem nenhum freio tornou-se uma compulsão.
Nenhum homem totalmente livre é administrável no plano físico; porém, se colocarmos a par dos desígnios superiores, de uma força ou Deus que tudo vê, ele irá refletir. No caso dos pastores, eles temeram. A moralidade é exatamente isso, um profundo sentimento de que esse ou aquele comportamento estão errados, não são normais. Normal é tudo aquilo que anda conforme as normas sociais. As normas de Deus na boca dos profetas antigos era igual a nossa.
A energia sexual, por seu enorme poder energético incontrolável fez do homem primitivo um ser grotesco, portanto penso que o lamentável evento da culpa sexual foi o meio mais próximo, na época, que os antigos lideres espirituais dos clãs encontraram para fazer parar a fúria dos fornicadores. Até que a humanidade encontrasse outra forma de trabalhar essa energia.

Não Somos Animais, 
Somos Homens!

O sexo com animais manifestou o lado mais obscuro dessa força dentro de cada homem e mulher no planeta. Os que se acharam incomodados com esse comportamento não estavam sob o efeito de nenhum preconceito embutido pela sociedade em suas mentes, já que isso era inexistente. Muito provavelmente foram tomados por uma intuição: Não somos animais, somos homens! E quem de nós poderá afirmar que essa intuição tenha ou não vindo de uma mente superior? Somos almas que se individuaram do grande coração divino e não há nada de errado com o sexo, o erro está na perversão de qualquer força. O instinto e a animalidade começaram a ser temidos. No Antigo Egito os deuses com cabeças de animais podiam ser bem mais cruéis do que os representados em forma humana unicamente. A maior parte dos demônios (que eram entidades espirituais) eram representados por metade feras, metade homens.
Essas entidades amorais foram largamente adoradas na Arcádia e na Suméria. Propunham prazer, êxtase e poder a qualquer um e a qualquer custo. Essa era a manifestação do homem-besta, que vivia apenas externamente como quem luta pela sobrevivência. Obviamente surgiram aqueles que tentaram (e conseguiram) usar esse temor do Deus único como uma forma de extorsão de outra grande forca, a Fé. Assim sendo o homem foi deixando para trás sua natureza mais livre e sua profunda identificação com a natureza.


Muitas representações de animais simbolizam as experiências
internas do homem. O Cavalo alado assinala a ampliação
da consciência a um patamar Superior.

Pouco a pouco seus deuses com formas animais deixaram de ser importantes, dando lugar à idolatria do próprio homem. Chegamos, então, a uma Era em que não mais nos sentimos irmanados com a natureza, e os animais, destruindo-os sem a consciência plena de que destruímos a nós mesmos.
Conta, ainda, a alegoria mítico-religiosa que logo após a rebelião Lilith fugiu para as praias do Mar Vermelho, e lá, dentro de cavernas paria cem demônios por dia. Lutou contra os anjos do Senhor e amaldiçoou a humanidade... Realmente, os conflitos e dramas gerados entre o espírito humano e seu veiculo físico foram uma verdadeira maldição por milhares de anos e talvez ainda o seja. Resta ainda aqui uma última indagação a qual não encontrei respostas: Lilith também foi criada só em espírito, não tendo lhe sido dado um corpo. Seria a questão da elevação da energia sexual uma questão inerente ao trabalho evolutivo do espírito? Ou somente uma inspiração da mente superior da atormentada raça humana que busca sensações em meio a rompantes profundamente destrutivos? A concepção de elevação da energia sexual mais perfeita nasceu na Índia e foi chamada Kundalini. Os iogues orientais comprovaram que, mais do que orgias, se podia também elevar a consciência a um ponto nunca alcançado pelo homem mediano, obtendo assim conhecimento superior.

O Feminino Incompreendido

Como pesquisador, uma duvida perseguiu-me por muito tempo: Por que a mulher foi de tal forma associada a todas as forças malignas do mundo? Lilith era um espírito feminino e, mesmo Eva encarnada teve como responsabilidade uma espécie de traição a Deus. Buscar apoio nas pesquisas históricas nem sempre é o que basta. Haja visto que a Historia não é um estudo de alta precisão dos fatos. Quando se busca um fato histórico deve-se tentar pensar sem o esclarecimento intelectual do agora, somente assim nos aproximamos da consciência, inúmeras vezes mais pura, do homem primitivo.
A alienação das experiências do feminino
fez com que por muitos séculos o
homem também se alienasse da
essência Espiritual da Vida.
Imaginemos esse homem em suas primeiras ações para formar uma sociedade. Com mais tempo com seus iguais e já possuidor de algumas faculdades intelectuais ele pode observar mais atentamente alguns fenômenos da vida. A gravidez, a menstruação, o aleitamento e o crescimento dos homens que saiam de dentro das mulheres, provavelmente o intrigava. Completamente inconsciente de sua participação nesse fenômeno, começou a atribuir as mulheres um poder mágico, uma faculdade secreta que lhe era negada. A presença do sangue na menstruação o apavorava, o sangue era visto nas caçadas e nas lutas tribais como signo da morte. A ideia do sangramento causava-lhe pânico. Como aquele ser podia sangrar sem morrer? Seria uma criatura aparentada com a morte, e mesmo assim possuidora de poderes sobre a vida? Em minha opinião esse era o inicio do patriarcado feroz. Mesmo nas sociedades embasadas no culto a uma Deusa como entidade maior, era o homem que regrava a disposição geral da família. Toda ideia da mulher traiçoeira, mentirosa e fútil nascia ai. Também de que os poderes místicos que elas possuíam eram exclusivamente femininos.
A imagem arquetípica do feminino passou por muitas projeções do homem que, afinal, sentia-se atraído por elas. Esse ser misterioso deveria ser domado antes de possuído. Mulheres, mães, prostitutas, bruxas e serpentes foram uma só; e assim foram esmagadas com sua beleza também. Hoje essas histórias mais parecem um retrato bizarro do passado, e realmente o é. A feminilidade está desmitificada e sabemos que seus poderes não funcionam sem os atributos masculinos e vice versa. A intuição e o psiquismo são atributos da mente cósmica, abertos a todos que desejarem comungar com essa poderosa força. A vida e a morte estão dentro de todos nos. As bruxas, místicas e feiticeiras tão renegadas ao papel de projeção do lixo emocional dos homens, hoje buscam sua faceta mais sagrada. Aos homens cabe encontrar o seu lugar nessa dança cósmica. A Mãe Misericordiosa do Universo os aguarda de braços abertos. Para finalizar quero sublinhar meu respeito à esse mito fantástico da Lilith que retrata com clareza o feminino incompreendido do mundo. 

Leia também: Anjos & Demônios no Tarot   


Observação: Na astrologia Lilith é um aspecto que revela nosso poder oculto, e também as vivências infantis não desenvolvidos! É conhecida como Lua Negra. No tarot tem relação com os arcanos de O Diabo XV, e de A Lua XVIII que, respectivamente, representam a sexualidade primal da psique, os medos inconscientes e os temas não resolvidos da alma. Na numerologia relaciona-se com o número 11, que tanto rege a aspiração da alma às alturas quanto seu aspecto transgressor, já que o 11 é a cifra que decidiu existir após o 10, que representa a perfeição do Deus Criador!