sexta-feira, 12 de maio de 2023

Os Caminhos da Espiritualidade

 


Os caminhos que constituem a busca espiritual humana são diversos e representam expressões íntimas de conexão com o sagrado. Muitas pessoas se ligam a atividades da Nova Era como formas de bem viver, saúde, e qualidade de vida, mas não necessariamente se conectam com o significado espiritual dessas práticas. E, sim, a espiritualidade está no cerne de muitas práticas tidas como ocultas ou esotéricas. Grandes ocultistas e magos do passado como Éliphas Lévi e Papus criam que a magia era uma forma de acessar o Criador por outra via. Assim como viam os oráculos como uma forma de acessar o manancial da sabedoria Superior para nos guiar em nossos dilemas terrenos. Como disse, nem todos conectam com a essência espiritual das atividades ancestrais e mesmo as modernas. Foi o filósofo e matemático francês Blaise Pascal (1623/1662) quem disse muito bem quando proferiu que “É o coração que sente Deus e não a razão”. Seguindo nessa mesma direção de pensamento o genial escritor russo Leon Tolstói (1828/1910) concluiu: “Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira”. E é verdade! Citei abaixo os cinco caminhos possíveis para a expressão da vida Espiritual, e os tipos de buscadores que se conectam a eles, inspirado nos cinco elementos alquímicos e da medicina chinesa, e também nas reflexões de Tagore em sua fantástica obra Sadhana – A Realização da Vida. Isso tudo somado aos meus inúmeros atendimentos, cursos e palestras onde tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas e suas trajetórias pessoais nisso que convencionamos chamar de Caminho Espiritual. Antes de concluir esta introdução acho relevante observar que nem todo físico quântico aderiu à perspectiva espiritual, assim como há astrólogos e tarólogos ateus e agnósticos, e terapeutas vibracionais materialistas. Sim, eles existem por mais obtuso que possa parecer esse posicionamento... Achei importante também, para fomentar a curiosidade e a pesquisa dos leitores interessados, destacar o trabalho de alguns buscadores ao redor do mundo, e seus preciosos legados aos caminhantes da posteridade quando estes despertassem para o universo que, paradoxal e incrivelmente, nos conecta com os planos superiores de vida terrena e da consciência mística. Vamos à relação:  

Buscadores Filosóficos – São aqueles que buscam a compreensão da relação homem/Deus/Universo, tanto dentro de uma perspectiva místico-religiosa, quanto científica-espiritual. Aspiram à compreensão da natureza de Deus, do sagrado ou transcendente, conforme cada caso. O misticismo de religiões oficiais como o esoterismo cristão (Gnose), e judaico (Cabala), bem como os preceitos espirituais de religiões muito antigas e filosóficas como o hinduísmo e o budismo, através de seus muitos gurus, mestres, yogis e iluminados, seguem esta abordagem e pertencem a este grupo. Assim como as ordens criadas por grandes ocultistas do passado como Etteilla, Papus, e Martinès de Pasqually, e as tradicionais Rosacruz e da Maçonaria, bem como a Teosofia e a Antroposofia entre outros representam bem essa perspectiva da vida espiritual. Da mesma forma os cientistas que percebem a natureza espiritual da vida nos modernos conceitos da física quântica. Esse movimento começou com a adesão de cientistas famosos como o físico Fred Alan Wolf, mais tarde surge o médico indiano Deepak Chopra introduzindo o pensamento quântico junto com os ensinamentos do ayurveda. Em seguida os também físicos Amit Goswami (Índia) e Gregg Braden (EUA) inauguram de vez o misticismo quântico da atualidade. Os espiritualistas desta categoria atuam em sua maioria como professores, oradores, pesquisadores, e autores de livros e textos inspiracionais em blogs, jornais, revistas e sites mundo a fora. Destaco neste grupo o trabalho do mestre Zen budista vietnamita Thich Nhat Hanh (1926/2022) e do escritor alemão Eckhart Tolle. O primeiro por ensinar os preceitos budistas e da meditação zen no dia a dia de forma simples e direta, mas sempre poética e profunda. O segundo por extrair os ensinamentos espirituais de doutrinas tão diversas quanto o Sufismo, o Zen, o Vedanta e da Bíblia para transmitir os ensinamentos que guiaram e transformaram totalmente sua própria vida! Dois autores inspirados e profundos com muito a contribuir para os desafios modernos da nossa civilização.

Buscadores Arquetípicos – Este grupo se caracteriza por aqueles que são apaixonados pela linguagem dos símbolos ancestrais, e que percebem neles uma natureza transcendente que se comunica com a parte mais profunda da psique do homem comum, e com o poder de expandir e transformar a natureza íntima de cada pessoa, ou de ampliar o entendimento da humanidade sobre sua origem, evolução e subsequente destino. Eles se dividem em dois tipos: O primeiro grupo é daqueles que buscam desvendar os arquétipos individuais atuando como consultores e ou professores dos antigos sistemas oraculares e de sondagem do tempo e da essência humana como o Tarot, Astrologia, Numerologia, Runas, Cartomancia, I Ching, Quirologia, Calendário Maia, Eneagrama, só para citar os mais famosos. Eles creem que através dessas linguagens simbólicas o homem comum pode ressignificar seus desafios e sofrimentos, dando verdadeiros saltos de percepção que impulsionam sua evolução pessoal rumo ao seu modelo interno de perfeição espiritual. Desse primeiro grupo destaco o trabalho da inglesa Liz Greene (Astrologia) e do alemão Gerd Bodhi Ziegler (Tarot) que usaram seus estudos para libertar e ampliar a consciência de alunos e clientes pelo mundo. O segundo grupo é composto por aqueles que veem os símbolos como guardiões de chaves de sabedoria para a humanidade, e que podem por isso trazer respostas para o sentido da nossa existência na Terra, bem como nossas origens no planeta. Esses espiritualistas são comprometidos em interpretar e estudar o passado, e também a sabedoria contida na simbologia mística representada na cultura e na língua de civilizações obscuras ou cientificamente adiantadas para seu tempo, como egípcios, maias, sumérios, assírios, Incas, etc. Em sua maioria são historiadores, mitólogos, linguistas, arqueólogos e ufólogos (ou estudiosos autodidatas dessas disciplinas) que se encaixam nesse tipo de buscadores espirituais. Destaco nesse grupo o trabalho excepcional do mitólogo americano Joseph Campbell (1904/1987) que viu na simbologia dos mitos ancestrais a manifestação do sagrado, e da busca humana por sua comunhão com Deus (ou o transcendente se preferirem) em todas as culturas da antiguidade.

Buscadores Criativos – Estes são os que se conectam com o sagrado através da arte, seja na dança (como os dervixes), na poesia (como Rumi, Blake, Tagore e Pessoa), ou nas artes visuais (como Johfra Bosschart). Muitos destes espiritualistas antes citados não previram em vida o impacto de suas obras, e a grande contribuição que seriam  para os buscadores da posteridade. Hoje há mais artistas sintonizados como esta frequência espiritual, artesãos que confeccionam mandalas, joias de cristal, talismãs rúnicos, ou hex signs para criar conexão entre os seres do mundo natural e a essência humana. Também músicos do movimento New Age e World Music que criam íntimos espaços mágicos de relaxamento, meditação ou enlevo dentro de seus ouvintes, como as cantoras Enya (Irlanda) e Loreena McKennitt (Canadá), e dos instrumentistas Kitaro (Japão) e Aurio Corrá (Brasil) ou de grupos como o francês Deep Forest que resgata os sons tribais de todas as partes do mundo, por exemplo. Os místicos criativos perfazem o caminho do sagrado através da via interior expressando-a externamente em suas obras, num impulso de beleza para inspirar a vida. Destaco nesse grupo também o belo trabalho do mestre dançarino alemão Bernhard Wosien (1908/1986), criador das danças Circulares Sagradas, que aproximou das pessoas comuns danças folclóricas e místicas de vários povos do mundo e em todos os tempos. Um verdadeiro trabalho de integração da essência espiritual humana através da arte do movimento de nossas muitas culturas e civilizações.

Buscadores Mágicos – Esses são os espiritualistas que creem nas muitas faces do divino expresso nas forças da natureza. São em sua maioria preservacionistas e ambientalistas. Esse grupo de buscadores espirituais estão em grande número ligados às religiões ancestrais como o xamanismo dos nativos das três Américas, e também dos aborígenes australianos e dos feiticeiros africanos. No Brasil se concentram nos grupos de Umbanda e do Santo Daime (ayahuasca) e também do Candomblé. Assim como nas Antilhas na Santeria e no Vodu. Todos oriundos do sincretismo das religiões africanas com a cultura local. A Wicca e suas muitas tradições, e as tradições neopagãs que ganharam muitos adeptos pelo mundo todo, como o Ásatrú que resgata as tradições espirituais nórdica/germânicas são parte desse grupo. Os buscadores mágicos diferem em seus ritos e crenças, mas todos creem que as forças da natureza em comunhão com o espírito humano o elevam numa integridade que enaltece a ambos. Assim, homem e natureza crescem e evoluem juntos, e se protegem mutuamente! Em suas práticas abarcam também as atividades dos buscadores arquetípicos e criativos, pois suas fés incluem oráculos, assim como danças e cantos e a produção de artefatos mágicos que integram magia, simbolismo e arte. Destaco entre esses místicos o trabalho do escritor wiccano, Scott Cunningham (1956/1993) que deixou um legado de mais de cinquenta livros sobre magia e bruxaria prática para todos aqueles interessados em “viver a arte”. Sua obra simples e clara nunca ignorou a profundidade das tradições implicadas. Da mesma forma notável foi a dedicação da holandesa Freya Aswynn tanto em apresentar a tradição oracular e mágica das runas ao mundo, quanto a tradição xamânica dos povos do Norte. Tão importante quanto os livros que escreveu foram suas inúmeras consultas rúnicas que mostraram a força do runemal (muitas delas registradas no YouTube), e em seus cursos como professora de runas, que é como se apresenta nas redes sociais.

Buscadores Curadores – Este é um grupo amplo de espiritualistas que creem, em sua maioria, que a natureza humana é sagrada e perfeita. A saúde seria, portanto, um estado natural e a doença um desequilíbrio ocasionado pelo espírito em suas muitas vidas, ou nesta vida, pelos condicionamentos e desarmonias das nossas culturas sociais e familiares que o afastaram de sua natureza sagrada. Os curadores creem que reestabelecer o equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual é retornar à nossa natureza divina. Os caminhos da cura seriam muitos, e nem sempre tem a ver com reintegração da saúde como se imagina. Muitas vezes a doença também faz parte de um estágio de crescimento e expansão da consciência. A teoria oriental do Karma tem tido muita aderência pelos curadores espirituais do mundo ocidental. Assim cura tem a ver com despertar da essência plena. Os curadores atuam em muitas áreas da vida e do entendimento geral sobre a vida. Destaco aqui dois dos grandes curadores da história como o japonês Mikao Usui (1865/1026) e o britânico Edward Bach (1886/1936) que atuaram em campos diversos de interesse em como reconectar o humano à sua natureza espiritual perfeita e íntegra. O primeiro buscou através da imposição das mãos a canalização da energia vital sustentadora da vida. Já o segundo concentrou seus estudos na síntese dos estudos alquímicos de Paracelso e do médico Christian Hahnemann, fundador da homeopatia. Enquanto Usui trouxe o conceito do toque humano como um canal de uma força transcendente para a plenitude do corpo e do espírito, Bach voltou-se ao uso das essências de flores, numa reconexão com os elementos e os elementais da natureza. Essências que seriam a fonte de saúde, bem-estar, integridade e evolução em todos os sentidos! O reiki e a terapia floral são os dois métodos de terapia complementar mais difundidos da atualidade. As formas de se restabelecer essa integridade têm, porém, muitas faces, desde os trabalhos corporais como as massagens orientais (Shiatsu, Massagem Ayurveda, Do-in, Anma, Tuiná, etc), e outras técnicas energéticas como o Johrei e o Mahikari, que também são japoneses. E também Cromoterapia, Cristaloterapia, Renascimento, Homeopatia, Aromaterapia, Rakiram, Constelações Sistêmicas, enfim...