quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Sacerdotisa - Arcano II


Título Esotérico – A Princesa da Estrela de Prata (A conhecedora dos mistérios do destino).

Analogia Astrológica – A Lua (Regente de Câncer), o astro que representa os ciclos da terra e da vida humana! Por sua transição do claro para o escuro, aparece/desaparece na imensidão do céu, sempre esteve associada ao mistério, ao oculto e aos ciclos misteriosos como nascer, viver e morrer análogos às suas três principais fases: crescente, cheia e minguante. Essas três lunações compunham a coroa de Ísis, deusa lunar da magia e da fertilidade, no antigo Egito. Por sua influência nas marés e nos ciclo menstrual feminino foi um astro sempre ligado aos ritos sagrados da terra, à feitiçaria, às bruxas e a tudo o que é mágico ou inexplicável. O psiquismo profundo é um dos seus atributos mais marcantes. E de fato, os cancerianos tendem a poderosos pressentimentos, e alguns chegam a ser grandes médiuns sensitivos, clarividentes e ou curadores.

Analogia Numerológica – O 2 como o número que se opõe ao mesmo tempo em que complementa a realidade apresentada pelo 1. Se o 1 é a luz da consciência e da razão, o 2 é a sombra do inconsciente que se comunica através de símbolos, intuições, ou profundas visões interiores. Se o 1 é o que se mostra e está explícito, o 2 é o que não se vê na aparência e tem de ser captado por outras vias. O 1 é objetivo e linear, o 2 é subjetivo e não linear. O 1 é ação, o 2 contemplação. O 1 afirma, impõe. O 2 questiona, duvida.  E assim por diante! Enquanto o 1 é a percepção de si mesmo e seus potenciais e talentos no mundo, o 2 é a percepção da existência do outro e suas necessidades.

O Arcano – Uma mulher sentada com um livro sobre as pernas. Ela usa uma coroa com uma tiara tripla, e um véu branco cai sobre seus ombros. Ela usa também um longo manto azul e por baixo está vestindo uma túnica vermelha. Em seu peito carrega uma cruz que parece cair sobre o livro. Atrás de si apenas insinua-se a presença de dois pilares que parecem sustentar uma espécie de véu ou cortina que oculta algo. A sua imagem ultrapassa a margem superior do quadro, a ponta da tiara se localiza logo ao lado do seu número, o II. Isso só se repete no arcano XXI, com a aureola do anjo e da águia ultrapassando o quadro.

Significado – A Sacerdotisa incorpora os aspectos espirituais e místicos do feminino. Ela incorpora os mistérios que cercaram a mulher em sua estranha conexão com os ciclos lunares e a tendência a pressentimentos, e a uma profunda conexão com os mundos interiores e imaginais! Ao contrário de A Imperatriz que incorpora os aspectos físicos do feminino, como maternidade, sedução, beleza, fertilidade etc. O livro que ela tem sobre as pernas simboliza a sabedoria registrada através dos tempos. Os livros foram durante séculos o único meio pelo qual o homem antigo registrou os conhecimentos adquiridos e os legou à posteridade! Por serem de acesso a poucos por muito tempo também, eles são igualmente o símbolo do conhecimento oculto e ou secreto. Em termos espirituais relaciona-se com os Registros Akáshicos, que são os registros armazenados misticamente nos planos superiores (no Corpo Akáshico) de tudo o que ocorre, ocorreu e ocorrerá! A coroa com a tiara tríplice pode ser uma alusão aos três reinos do humano: fisco, mental e anímico. Na simbologia católica é a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. O véu branco simboliza a pureza espiritual imaculada, a parte mais elevada do ser que não pode ser tocada por nada nesse mundo a não ser por sua própria vontade de evoluir! O fato de a ponta da coroa ultrapassar a margem superior do quadro no qual se encontra, alude ao acesso a uma consciência superior que é novamente resgatada ao fim da jornada dos arcanos maiores em O Mundo, onde o mesmo acontece com o desenho do arcano. O manto azul que a cobre denota a profundidade de sua natureza e a sua calma contemplativa. Entre o manto e a túnica vermelha há uma abertura que se parece com a entrada de uma gruta, a alguns até mencionam a entrada da vagina arquetípica da Grande Deusa-Mãe, cujos ritos eram realizados em cavernas pelos povos ancestrais! A cruz no centro do peito nos faz lembrar de nossa natureza dual, física e divina ao mesmo tempo. Ou como disse lindamente Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”. Os dois pilares atrás dela representam os pilares dos templos sagrados que refletiam as forças duais cujo atrito manifestava a vida e tudo o que há! Vida/Morte, Noite/Dia, Macho/Fêmea, Bem/Mal e assim por diante. Esse mistério que envolve essas manifestações e dos quais A Sacerdotisa é, simultaneamente, a conhecedora e a veladora é simbolizado pelo véu atrás de sua figura. Análogos aos Véus de Ísis que ocultam dos não iniciados as profundezas da sabedoria. Conhecimento este que não vem do só manancial acadêmico, mas também da contemplação interior dos mistérios.

A Sacerdotisa no Osho Zen tarot.
Divinação – A bruxa, a médium, canalizadora, a sensitiva, intuitiva, clarividente, clariaudiente. O conhecedor dos mistérios ocultos. A atitude contemplativa diante da vida, serenidade impassível. O sentimento de reconhecimento e conexão com o próprio destino ou propósito de vida. Fidelidade a si mesmo e seus princípios. A espera paciente pelo que é certo que chegará. Humildade, paciência, introspecção, profundidade de perspectiva. Espiritualidade, Sutileza, refinamento cultural ou espiritual, ou ambos! Distanciamento emocional, observação, preservação e autopreservação. Sensibilidade tanto psíquica quanto afetiva. O uso da intuição ou da guiança espiritual para obter êxito nos empreendimentos. Conexão interior com aspectos maiores da existência, tanto em nível psicológico quanto espiritual. A memória, que pode conter material de muitas vidas. Rege todas as atividades humanas que falam de observação, pesquisa, memória e sondagem profunda da vida e do homem. Tais como: história, antropologia, paleontologia, sociologia, psicologia, ocultismo, magia, oráculos e artes de cura psíquica. Com relação a isso deve-se salientar que enquanto O Hierofante rege as “técnicas” de cura que podem ser repassadas (em iniciações) aos interessados, A Sacerdotisa nos fala de habilidades únicas e intransferíveis de cura. Como nos casos dos afamados curadores Emma Kunz, Dean Kraft, Olga Worrall e João de Deus. Os talentos e dons naturais que fazem com que o indivíduo pareça ter nascido pronto, que parecem “saltar para o mundo” com pouca ou nenhuma estimulação! Simplesmente se manifestam num dado momento. Poupar, guardar (também no sentido de acumular), aguardar. A que vela de modo paciente pelo bem estar dos seus, fiel na presença. Em termos psicológicos e afetivos é a resiliência. Por esse motivo pode desempenhar na família o papel de “o amortecedor de impactos” durante as crises. O processo de somatização emocional, que leva à desarmonias físicas e doenças de todo o tipo, também estão sob a égide de seus aspectos negativos. Bem como a indiferença afetiva, a inacessibilidade social e interpessoal, a timidez exacerbada, e a frigidez sexual. E ainda a passividade, a acomodação, a covardia, e a resignação típica dos palermas e fracos.


Personagem do Cinema – As três personagens femininas centrais do filme As Brumas de Avalon (The Mists of Avalon, título original) de 2001 dirigido pelo diretor alemão Uli Edel especialmente para a televisão, Morgana (Julianna Marguiles), Igraine (Caroline Goodall) e Viviane (Anjelica Huston) representam bem as faces de A Sacerdotisa e também sua sombra. A história narra a luta dos seguidores da Deusa-Mãe para unir cristãos e pagãos através de um líder que representasse a ambos e assim confrontasse os saxões que devastavam toda a velha Bretanha! A trama é interessante, muito embora tanto o filme quanto a obra em que se baseia, escrita por Marion Zimmer Bradley, seja uma versão sob o olhar feminino da lenda do Rei Arthur que acaba distorcendo quase que totalmente esta linda história. A narrativa transforma Morgana numa boboca, e o poderoso Merlin (Interpretado por Michael P. Byrne), um sacerdote grão-druida e principal articulador de toda a lenda de Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, é reduzido a um mero coadjuvante! Sem falar que Viviane, a Senhora do Lago e grã-sacerdotisa de Avalon, o que menos faz é ficar em Avalon! Porém, a atmosfera e o enlevo místico e mágico que impregna a trama. O sentimento de propósito que guia os personagens, e o conhecimento do oculto e dos meandros do destino que se insinuam na sobrevivência do culto à Grande Deusa na figura da Virgem Maria no final, são temas bem típicos de A Sacerdotisa.

A Imperatriz - Arcano III


Título Esotérico - A Filha dos Poderosos (A herdeira dos poderes da terra e da vida).

Analogia Astrológica Vênus (regente de Touro e Libra), planeta que rege os relacionamentos humanos, bem como o amor, a beleza, as artes e a criatividade. Seu movimento de rotação é da esquerda para direita (Sentido horário) enquanto os outros corpos celestes se movimentam da direita para a esquerda (Sentido anti-horário) o que faz parecer com que ele vai de encontro aos seus irmãos celestes! É a estrela D’alva da manhã, e a estrela Vésper do entardecer. Na Babilônia era uma divindade guerreira e brutal ao amanhecer, pois era influenciada pelo sol. Ao anoitecer tornava-se uma divindade da fertilidade, do amor e dos prazeres da vida, pois que passava a receber a influência da lua! Ela aparece alternadamente no oriente e no ocidente dos dois modos, o que a fez um símbolo de morte e renascimento.

Analogia Numerológica – O 3 é o número das divindades tríplices da antiguidade, como as três deusas do destino que na mitologia nórdica eram as nórnias, ou nornes, Urd, Verdandi e Skuld. Na Grécia eram as moiras Cloto, Láquesis e Átropos, e em Roma as três Parcas. Geralmente elas se referiam às três fases da lua, crescente, cheia e minguante que por sua vez simbolizam a própria roda do tempo que rege a vida, e os destinos da humanidade. Por ser o número que une os opostos (1) masculino e (2) feminino, o três é tido como a cifra da multiplicação, da criatividade e da inovação. Já que em síntese tudo o que é novo surge da união, ou da tensão, entre os opostos!

O Arcano – Uma mulher coroada está sentada num trono cujo espaldar lembra duas asas semiabertas! Ela segura em sua mão direita um escudo que possui o emblema de uma águia que olha para o lado esquerdo (na perspectiva do próprio pássaro). Na mão esquerda ela segura o cetro encimado pelo globo com a cruz. Ela olha na mesma direção que a ave em seu escudo. Em seu ar imponente ela mantém as pernas abertas. Usa um vestido azul que lhe cai até mais ou menos nos joelhos, e por baixo, ela usa uma toga vermelha.

Significado – A mulher coroada representa a expressão máxima dos domínios femininos que se oporá, de modo complementar, a expressão máxima dos domínios masculinos de O Imperador. Ela se refere às emoções, à liberdade criativa sem compromisso com a utilização prática, mas apenas com a beleza e o deslumbramento. A ligação com os aspectos sensoriais da vida e do corpo. A natureza, as artes, a beleza, a inspiração, a comunicação, e a própria moda como uma comunicação não verbal de status social e estado de espírito. A posição de pernas abertas remonta a uma sensualidade clara, ao mesmo tempo em que nos lembra de que na antiguidade as mulheres davam à luz numa posição em que se colocavam sentadas, e que se erguiam em cordas ou vigas para dar à luz. Por isso ela encarna a maternidade e a criatividade em todas as suas expressões! A águia é uma ave de rapina e apesar de olhar para a esquerda, o lado das emoções, indica que essa Imperatriz sabe se impor quando preciso. Defende os que ama com intensidade, mas apega-se a eles tanto quanto ao seu escudo, podendo ser possessiva e muito ciumenta. Não é incomum A Imperatriz ser taxada de controladora. Ela indica o poder feminino ou mulheres que sobem ao poder imprimindo um ritmo próprio e diferente de governar. O cetro na mão esquerda assinala que seu poder preserva a família e a união com o clã ou a comunidade em que vive. As “asas” que seu trono ostenta lembram que ela é por natureza uma experimentalista, disposta a expandir horizontes e, sobretudo, relações e oportunidades de criação e desenvolvimento! Por estar sentada sua ação é relaxada, o vestido azul assinala suas expressões afetivas, mas a toga vermelha indica as paixões intensas às quais ela é capaz de viver e provocar.

A Imperatriz no Osho Zen tarot.
Divinação – A mãe e a maternidade quer seja ela biológica ou não! A musa inspiradora, as artes e o artista. A criatividade, a sensualidade, a beleza física e os cuidados com a aparência, o corpo e a saúde. Rege também as relações humanas mais aprazíveis e envolventes. Nas artes inclui sob sua influência desde as expressões mais simples como o artesanato, que se utiliza de materiais mais comuns e naturais, passando pela moda como uma forma de arte popular, indo até às artes plásticas mais requintadas como pintura e escultura. O contato com a natureza em suas expressões de beleza. A nutrição tanto física quanto afetiva e cultural. A abundância, o progresso e o franco desenvolvimento. A alegria e o prazer de viver a vida, festas e celebrações. Ama também a sua casa e as coisas que possui. Cuidar ou ser cuidado de modo amoroso, “materno”. O cuidado e a lida com a terra e seus ciclos, da jardinagem à agricultura. Aliás, o ritmo de A Imperatriz é o mesmo da terra. Aberta ao novo, mas sempre de modo prudente e autopreservado. Afetiva com todos, mas sempre segura do que sente por cada um e cada coisa individualmente! Negativamente ela seria o oposto disto tudo! A sensualidade vulgar, tipo “periguete”, perdulária, materialista, superficial, a escrava da moda e das tendências, a arrogante social. Do tipo “sabe quem sou eu?”. As mães possessivas que castram emocionalmente os filhos para os manterem sob seus cuidados, são aspectos sombrios de A Imperatriz! Também pode assinalar, em casos extremos de perversão das suas qualidades, aqueles indivíduos sem refinamento que não dão à mínima para a própria aparência, higiene e saúde.


Personagem do Cinema – Diana Sullivam, interpretada por Jill Clayburgh no filme Gente Diferente (Shy People, original em inglês) de 1987 do diretor russo Andrei Konchalovsky. Diana é uma jornalista da revista Cosmopolitan que lida de um modo moderno (na verdade quase indiferente) com o estilo de vida rebelde, e viciado, de sua filha Grace. Ela decide fazer uma reportagem sobre um ramo isolado de sua família que há décadas vive nos pântanos da Louisiana. Lá ela conhece sua prima Ruth (interpretada por Barbara Hershey), uma mulher possessiva com sua família que ignora um dos filhos que foi viver na cidade, e cultua a figura do marido morto. O encontro das duas é um verdadeiro choque cultural que transforma tanto a vida quanto a forma de maternidade dessas mulheres. A filha de Diana, Grace, distribui cocaína para os primos num dia em que a sua mãe e Ruth se ausentam. Faz sexo com um dos seus primos que vivia preso, é quase estuprada por outro. Refugia-se no pântano onde é resgatada pela mãe. Depois disso Diana e Grace voltam mais unidas para a cidade, mas com Diana mais presente e entendendo que cuidar e amar envolve também presença e rigor. Deixam Ruth que finalmente compreende que amar também é respeitar diferenças e manter certa distância da individualidade dos filhos. Um filme primoroso onde os aspectos sombrios e luminosos de A Imperatriz são reconhecíveis num e noutro lado das personagens centrais no desenrolar da trama.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Equívocos Simbólicos?


“O próprio do simbolismo é sugerir indefinidamente; cada um verá o que o seu olhar permita perceber”
Oswald Wirth

Esta semana deparei-me com um interessante texto de Giancarlo Kind Schmid no Clube do Tarot Intitulado Equívocos Simbólicos que se por um lado me fascinou devido a sua precisão histórica de pesquisa, por outro me fez perguntar se nós que estudamos os arcanos não temos que decidir em dado momento se somos afinal racionalistas ou simbolistas! 
Imagem de um feirante de alho.
O autor apresenta uma série de imagens de arcanos onde discute suas representações sob uma ótica mais precisa. No arcano de O Mago, por exemplo, ele afirma que as mãos do mago não são exatamente um gesto mágico, mas um movimento que os antigos ilusionistas medievais faziam para distrair o público em seus truques, ou que sua mesa não possuía de fato três pernas, mas que se trata de uma bancada longa onde outros feirantes mostravam seus produtos! Ok, bem interessante! Gostaria, porém, de apresentar outra perspectiva a este fato. Um símbolo não possui valor pelo que ele de fato é, mas sim pelo que aparenta ser, ou seja, pelo que ele nos sugere! A simbologia em si sugere indefinidamente, e estas sugestões é que tornam as cartas do tarot passíveis de tantos desdobramentos em seus significados. Os gestos do mago feirante e prestidigitador nos remete ao gesto mágico invocativo dos verdadeiros magos dos mistérios ocultos! E isso influenciou os maiores cânones da tarologia como A. E. Waite, Aleister Crowley, Paul Foster Case etc na interpretação deste arcano... Waite chegou a desenhar os quatro objetos mágicos dos elementos sobre a mesa do Mago! Eles se equivocaram? Não! Apenas se utilizaram da liberdade imaginativa e interpretativa que o símbolo oferece, e é assim que tem de ser! Um mesmo símbolo pode ser visto por muitos ângulos, o que só amplia seu significado tornando-o muitas vezes mais profundo e preciso.
O Mago, no Rider-Waite tarot.
Também não imagino que alguém possa ter pensado que exista de fato uma mesa de três pernas que ampare uma bancada de quadro lados. O que me parece é que se a versão do baralho de Marselha que mais se popularizou mostra apenas três pernas numa mesa do arcano, que sugere manifestação e talento, poderia haver uma alusão aos quatro elementos e os três tempos. O que de modo algum deforma o simbolismo e o significado do arcano, não concordam? Todas as possíveis sugestões que uma imagem pode propor só aumentam a perspectiva do arcano, e isso é bom! Caso contrário, se o vermos apenas como uma imagem de um ilusionista medieval, isso limitará sua expressão arquetípica que nunca englobará o significado de um verdadeiro iniciado nos mistérios ocultos. E que benefício isso traria para o estudo e a leitura do tarot? 
O Louco no tarot de Charles VI.
Na carta de O Louco ele revela que se trata de um cidadão vestido para o Folli, o carnaval medieval italiano que levava em sua sacola moedas e guizos para provocar os transeuntes e atiçar os cães. Isso, no entanto não me parece invalidar de modo algum que a imagem deste cidadão carnavalesco nos remete ao bobo da corte, capaz de confrontar com ironia a figura do rei, sendo assim um símbolo da liberdade e da ousadia! Nem o fato de os cães serem um dos primeiros animais domesticados pelo homem, e por isso os representantes da mente condicionada. Qualquer adestrador de cães sabe que eles não gostam de desordem na matilha ou na sua rotina, por isso ladram para tudo. Imagino que se hoje essa brincadeira ainda existisse os cães ladrariam para manter sua ordem, mesmo que presos a uma coleira, diante desses arruaceiros livres em seus instintos! Porque não relacionar esse encontro? Isso não parece uma casualidade cheia de significados?
O fogo, a representação mais comum
da presença do sagrado entre os povos antigos.
Um simbolista é alguém que olha para uma imagem e vê seu valor intrínseco. Um racionalista verá na imagem apenas o que ela apresenta. Em suas memórias Jung conta que uma de suas brincadeiras favoritas de infância era a de acender uma fogueira numa velha construção abandonada no interior da Suiça, onde vivia. A brincadeira consistia em nunca deixar que a chama se apagasse. Ele relata que isso o absorvia de modo tão fascinante que o tempo parecia não existir. Mais tarde quando descobriu em suas pesquisas que essa era a função de antigos xamãs e sacerdotisas em relação ao fogo sagrado, ele logo relacionou à memória de sua brincadeira infantil. Para quem vê as correlações simbólicas possíveis isso é fascinante! Essa é a visão de um simbolista. Um racionalista com certeza diria: "Ora, era só um menino solitário brincando com fogo!", e ele estaria certo, mas ainda assim isso não invalidaria a perspectiva simbólica interior do simbolista!
Agradeço ao Giancarlo pela rica pesquisa que nos apresentou, mas sugiro aos que estão lendo este artigo, e que se interessam no estudo da tarologia, que leiam, reflitam e relacionem os simbolismo das cartas do tarot no mundo simbólico o máximo possível! Sempre cuidando, é claro, para não distorcer os significados simbólicos “criando” visões particulares dos arcanos. Quando feito com cuidado, consciência e foco essa correspondência simbólica passa a ser uma experiência culturalmente enriquecedora, intelectualmente instigante e espiritualmente inspiradora, e mágica mesmo!