segunda-feira, 20 de novembro de 2023

A Viagem do Louco - Aprofundando Conexões

Apresentei a viagem arquetípica do Louco no artigo Arcanos Maiores – O Mapa da Vida. Nesta viagem o arcano zero dos 22 trunfos (os arcanos maiores) aparece como uma alma prestes vir para este mundo e cumprir sua viagem evolutiva, o que tanto envolve seu desenvolvimento psicológico quanto espiritual na sua viagem de retorno à unidade divina, ou sagrada. O Louco é, em última instância, a representação de cada um de nós pelos caminhos desta vida, enfrentando os desafios e crescendo, ou não, com eles. Num movimento fluído seguir adiante é sinônimo de evolução! Algumas pessoas, entretanto, ficam como que presas à certas vivências arquetípicas. Reconhecer onde estamos na jornada e onde nos “enganchamos” ao longo dela é um trabalho fundamental dentro de uma perspectiva de crescimento e desenvolvimento pessoal. Vamos rever agora a linda jornada que fazemos usando a roupagem deste bufão encantado em busca da verdade Superior, mas desta vez aprofundando as relações numéricas entre os arcanos e seu entrelaçamento simbólico para a compreensão dos processos que impulsionam a consciência a se expandir. Vale registrar aqui que esses entrelaçamentos são minha experiência contemplativa do simbolismo dos trunfos, cada um fará a sua e, portanto, poderá chegar às suas próprias conclusões. Vamos à jornada:  

A Viagem do Louco

A Viagem de O Louco, uma busca
por si mesmo e a Sabedoria.

Para entendermos bem os arcanos maiores e sua representação como etapas vivenciais da existência, encarar as cartas como estágios de uma viagem pela vida é de imensa ajuda! O esquema que apresento aqui e utilizo em minhas iniciações foi apresentado por Sallie Nichols em seu livro Jung e o Tarot, de 1980. O esquema é organizado em três setenários que se dispõe de modo muito rico tanto simbólica quanto aritmeticamente. O Louco representa o próprio viajante que se coloca fora do grande esquema de 21 cartas. Ao ser colocado antes da carta de O Mago ele é o ignorante puro de coração, aquele que percebe sua falta de conhecimento e sabedoria e sai em busca delas.

Ao completar, porém, o longo trajeto arquetípico ele se vê mais uma vez fora do grande esquema. Mas agora não mais como um ignorante, mas sim um sábio iluminado que passou por tudo, e que apesar de compreender o esquema dos eventos da vida comum, não mais comunga com eles. A viagem, entretanto, nunca termina! Como o penúltimo arcano da caminhada, O Mundo, anuncia um fim e prenuncia simultaneamente um novo começo, O Louco prossegue mais instruído em seu trajeto. A busca da evolução nunca finda e continua em níveis cada vez mais elevados, pois o autoconhecimento é um caminho contínuo! E mesmo aqueles cuja evolução transcendeu os níveis da humanidade e não mais precisam do recurso reencarnatório, já que sua evolução não continua aqui na Terra, continuam em sucessivas peregrinações evolutivas em outras dimensões! A esses chamamos de muitos nomes, Mestres Ascensos, Iluminados, Avatares, são alguns deles.

Os arcanos como estágios
evolutivos da consciência

Os três níveis das cartas são divididos, como já disse, em setenários que vão de O Mago ao arcano de O Carro. Do arcano de A Justiça ao arcano de A Temperança. E, finalmente, do arcano de O Diabo ao arcano de O Mundo! Muitas visões diferentes sobre esta jornada já foram publicadas e cabe a cada neófito no estudo do tarot conhecer essas muitas versões e escolher a que mais faz sentido para si dentro do seu próprio processo evolutivo pessoal. Para mim o primeiro setenário fala do processo de formação do indivíduo, o segundo das leis ou princípios que regem a vida e o terceiro do caminho da transcendência que poucos trilharão com sucesso, muito embora tenham todos a oportunidade de fazê-lo! Apresento a seguir uma síntese de cada setenário e o significado resumido de cada carta passo a passo. Antes, porém, devo advertir que aqui O Louco será visto como uma criança recém-chegada a este mundo.

O Caminho do Indivíduo

O Mago, o Pai Cósmico,
a divindade interior.

Ainda no ventre da mãe o infante preserva a conexão com o poder criador do pai cósmico que realiza os milagres tanto naturais quanto sobrenaturais, e que para a maioria será esquecido ao longo da vida, e cujo resgate alude à volta à casa do Pai das escrituras sagradas (O Mago). Da mesma forma o acesso à sabedoria universal através da voz interior da grande mãe cósmica (A Sacerdotisa). Ao nascer a conexão com o mundo espiritual e transcendente é cortada e a mãe terrena o conecta ao corpo e ao mundo dos sentidos e do prazer físico (A Imperatriz). O pai terreno surge para apontar para o mundo concreto das realizações e das limitações, para que não se perca a vida em indolência (O Imperador). Ao crescer um pouco mais o infante vai à escolinha e receberá a partir de então uma série de iniciações que nunca mais findarão, se ele for de fato um buscador espiritual. Da alfabetização ao doutorado, das iniciações acadêmicas às iniciações espirituais, ele será iniciado nos mistérios que conduzem à realização maior, e que prosseguem a níveis cada vez mais refinados e sutis (O Hierofante). Com os colegas na escolinha, na universidade ou nas escolas de mistério, assim como na vida, o jovem aprenderá a ouvir outras visões e versões sobre a verdade, diferentes daquelas que ouviu de seus professores e Mestres e escolherá se ele se adaptará a alguma ou se seguirá a tradição (Os Amantes)! No fim, o jovem adulto se sente confiante para enfrentar o mundo. Aposta em suas formações, visão e escolhas e sai como um guerreiro pronto para a batalha do crescimento pessoal na jornada da vida (O Carro).

O Caminho das Leis

A Justiça, o regulador da Balança.

Logo O Louco, agora travestido de O Carro, aprenderá pela observação, estudo ou experiência que a vida é regida por leis ou princípios. Que vão do código penal à constituição, das leis naturais, como a lei da gravidade, às leis espirituais, como a lei do Karma (A Justiça). Aprenderá que a solidão é a regra desta existência e que ele estará sempre só em sua dor ou êxtase nas experiências mais profundas e significativas de sua vida. E que quer ele faça o bem ou o mal, ele será o maior responsável por suas ações e pagará por elas (O Eremita)! Verá também que a mudança é a lei da vida, que tudo muda sempre, mas que também tudo é cíclico! Tudo muda, mas se repete porque nada é exatamente igual, como um verão não é igual ao outro. Aprenderá também que ciclos similares que se reptem com insistência evocam a evolução da consciência (A Roda da Fortuna). Descobrirá que o poder para mudar nosso próprio destino jaz dentro de cada um de nós, mas requer força de vontade, empenho, coragem e muita energia (A Força). Porém, para que nosso ego não enlouqueça de vaidade, aprenderemos que na vida há o imponderável que nos torna impotentes! Que por mais fortes e saudáveis que sejamos, envelheceremos e morreremos. Que por mais que amemos alguém, não podemos livrá-lo da dor e do sofrimento. A entrega nesse momento é um convite para a contemplação do transcendente (O Enforcado). Outra lei irrefutável é que tudo morre, mas que a morte não é um fim, e sim uma transcendência, que como diz o nome, é um ir além das experiências e formas conhecidas até então (A Morte). E que a morte é uma das maiores conspiradoras para a abertura e a busca por objetivos de maior amplitude e significado filosófico ou espiritual (A Temperança).

O Caminho da Transcendência

O Diabo, o desafio de se ver
além da matéria.

Na entrada do caminho da transcendência encontramos aquele que faz de tudo para nos fazer crer que além deste mundo que vemos a vida não tem nenhum sentido! Que não há transcendência espiritual! Ele nos propõe transcendências físicas, e algumas bem biológicas tais como poder material, sexo e drogas que nos prendem ainda mais a este mundo (O Diabo). Somente uma libertação consciente das amarras do ego ilusório, que poderá ser voluntária ou resultante de uma crise de grandes proporções, nos faz despertar deste sono, ou maya como dizem os indianos (A Torre). A ruptura nos faz ver para além de nós mesmos, e pela primeira vez vislumbramos nossa comunidade humana como uma família, e esse universo como nossa casa (A Estrela). Mas logo após essa revelação o ego insufla o medo da própria destruição e pensamentos de pânico como “Vou me perder”, “Estou ficando louco”, ou “Ah, é só minha imaginação!” podem nos fazer voltar atrás e abandonar o caminho da evolução (A Lua). Ao resistirmos e atravessarmos os mares dos nossos fantasmas a consciência antes adquirida se consolida, e um imenso esclarecimento sobre nosso propósito interior advém e se reforça, trazendo clareza, êxito, força interior e foco (O Sol). Então, ao revermos nossa viagem pela vida, todos os fatos que aparentemente não possuíam conexão entre si entrelaçam-se e o sentido último de nossa existência se revela (O Julgamento). A dança cósmica se completa em nós, e um profundo sentimento de satisfação e comunhão com todas as coisas deste mundo e do universo se realiza dentro de nós com perfeição e regozijo. Saímos então da roda das encarnações (O Mundo).

Curiosidades Aritméticas

Neste arranjo das cartas dos arcanos maiores algumas reflexões podem ser feitas com os números nesta disposição. Por exemplo: Se somarmos verticalmente a primeira carta da primeira fileira (O Mago I) com a primeira carta da terceira fileira (O Diabo XV), obteremos o número 16. Observamos então que a carta que fica entre os dois arcanos é o primeiro arcano da segunda fileira (A Justiça VIII). Curioso, não? Parece haver uma sugestão simbólica aqui, algo mais ou menos assim: O grande poder da divindade interior (O Mago I) pode ser corrompido ao ponto de perverter-se completamente (O Diabo XV)! Por isso é preciso manter a crítica, a autocrítica, o bom senso e o discernimento consciente para equilibrar “os pratos da balança” (A Justiça VIII). O mesmo ocorre entre a Sacerdotisa II e a Torre XVI, cuja soma 18, encontra seu equilíbrio no arcano central O Eremita IX, e assim segue entre todas as somas verticais!

Outra curiosidade é que as somas transversais, tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda, dão sempre no mesmo arcano. Veja isso: a soma do arcano de O Mago I, com o arcano de O Mundo XXI é igual a 22 cuja metade é 11, o arcano de A Força XI. Outra mensagem parece estar se insinuando aqui: entre descobrir o poder da divindade interior e atingir a transcendência é preciso muito empenho, coragem e disposição para debruçar-se sobre si mesmo ao confrontar a fera interior! O arcano de A Força é a metade resultante de todas as somas transversais entre os números dos outros arcanos maiores. Para conferir continue somando A Sacerdotisa II com o Julgamento XX, A Imperatriz III com O Sol XIX, O Imperador IV com A Lua XVIII... E até nas cartas da mesma fileira a que o décimo primeiro arcano pertence, como A Justiça VIII com A Temperança XIV, e até dos dois vizinhos mais próximos A Roda da Fortuna X com O Enforcado XII. Parece que a reflexão central desse simbolismo aritmético é que a confrontação com a sombra dos instintos inferiores, a besta interna, e sua integração impulsiona o despertar da luz espiritual, dos dons e talentos latentes e a evolução do indivíduo. Que se dá dentro do modo indicado pelo significado das cartas que compõem a fórmula! Estas “coincidências” provam mais uma vez que a troca feita por Waite colocando a carta de A Justiça no lugar de A Força no ponto central do quadro dos 22 arcanos maiores, não se sustenta simbolicamente. Medite sobre essas relações, tire suas conclusões e reveja-as periodicamente. Você crescerá muito em suas percepções sobre a vida e em seu próprio desenvolvimento pessoal e espiritual.

Aprofundando as Perspectivas Verticais

A verticalidade é, sem síntese, a relação micro e macrocosmo, homem e universo. Mantendo sempre em mente que os números aqui conectam os arcanos simbolicamente. Na primeira fileira, já como vimos, O Mago, que simboliza o poder absoluto de fazer as coisas acontecerem e criar dinamismo onde se apresente através dos seus dons e habilidades aplicados com excelência, se conecta com o arcano de O Diabo que perverte, e subverte toda a emanação do poder oriundo da fonte superior. Nesse caso o Diabo seria a sombra do Mago que possui entre seus atributos mal dignificados a mente brilhantemente maligna, o gênio do mal. A solução para isso seria, como nos ensinou Buda, o caminho do meio. Entre esses dois poderosos arcanos está A Justiça. Símbolo da razão pacificadora e retificadora, da consciência plena e da mente que avalia, critica, e julga a fim de chegar ao cerne da verdade e do bom senso. Só essa postura crítica e autocrítica livrará O Mago de mergulhar na sua própria escuridão.

Na fileira seguinte vemos A Sacerdotisa, símbolo da espiritualidade intrínseca, e muito além da experiência religiosa, que se expressa na sabedoria interior revelada nas intuições profundas, nas visões interiores (clarividência) e na voz do altíssimo (a clariaudiência) que nos conectam aos planos superiores de consciência. Ou de suas bênçãos expressas em dons de cura, e outras habilidades mediúnicas, mediante o mergulho em si mesmo. Aqui também A Torre parece estar representando a sua sombra, que seria o efeito destrutivo de tais revelações quando proferidas por pessoas incautas, despreparadas e até mesmo mal-intencionadas. O antídoto para este perigo fica entre os dois trunfos. O Eremita que surge como a prudência, e foi Éliphas Lévi quem primeiro atribuiu esse significado a este arcano. Além da prudência ele enaltece o valor da sabedoria que é conhecimento + prática + observação. Muitos médiuns acham que não precisam estudar as leis herméticas para aplicar suas habilidades. O mesmo se dando com estudantes das artes oraculares que se acham prontos com seus cursos de poucas horas. Causam muito mais dano do que o benefício que pretendiam!

Em seguida o arcano de A Imperatriz surge como a expressão do amor cuidadoso que as mães nos dispensam e nos ensinam e que, por fim, aprendemos a ter com todas as coisas e pessoas que amamos. Apegada aos seus apetrechos de poder a sua sombra é justamente quando este amor e cuidado é diluído no amor às causas mais que às pessoas, e sua afetividade vira uma afinidade impessoal e mais mental que afetiva, tão bem representado na nudez de A Estrela. Onde uma donzela comunga com os astros distantes seu êxtase pela vida. Entre os dois arcanos a carta de A Roda da Fortuna surge dizendo que intercambiar as duas posturas é fundamental para a construção de relações saudáveis e harmônicas. Amar ao próximo sem esquecer de abraçar aqueles que estão ao nosso lado e que também precisam do nosso amor. Muitas vezes referida como a Mãe-natureza, a imperatriz também pode conectar os aspectos biológicos e naturais do corpo que precisam de interação e “troca” com os elementos naturais como são representados em A Estrela, o pássaro, árvores, água, terra e os próprios astros do sidéreo. A filosofia das tradições medicinais do oriente e nativas falam da importância dessa interação para a cura física e mental.

Na quarta fileira o arcano de O Imperador representa o poder delegado. As autoridades que comandam, gerenciam e movem este mundo! O poder que ele representa é o do líder das massas, aquele em quem se cofia para dirigir um lar, uma empresa, o país! A sua sombra também se expressa no arcano de A Lua. O perigo que todo governante tem de projetar em todo esse poder e confiança a sombra de seus próprios medos e frustrações não resolvidas, e o risco que corre ao enfrentar os antagonistas que se movem nos bastidores do jogo político, da bajulação, e das articulações dúbias do poder! O arcano de A Força é a resposta para esta escuridão abismal. Simboliza a necessidade de se preservar, com constância, a posição firme dos que comandam com integridade. Sem deixar nunca de marcar seu posicionamento, lembrando de seu papel e importância, ressaltando também a importância de cada um na integralidade de suas funções. A donzela de A Força segura firme e gentilmente a cabeça do leão mantendo um pé a frente, marcando sua posição com rigor. É, literalmente, a mão firme que mantém as coisas no seu devido lugar. O líder deve manter-se em seu papel e função sem oprimir, mas distinguindo a função de todos sob seu comando!

Na quinta fileira aparece uma conexão difícil. O arcano de O Hierofante representa as tradições e a sabedoria ancestral que pode justamente nos levar à iluminação! A palavra Hierofante quer dizer “aquele que leva ao sagrado”, muitas vezes na tradição oculta o sagrado é também referido como a presença da luz... Como isso poderia ser ruim, ou sombrio? O arcano de O Sol simboliza mesmo a iluminação espiritual, mas também o risco da vaidade ou da intensidade com que olhamos para nossa própria trajetória. O Enforcado surge como o caminho da humildade que nos faz reconhecer que todo saber deve estar a serviço de algo maior (de cabeça para baixo se olha para o céu!). A sua posição, que é simultaneamente de submissão e entrega, permite justamente olhar por outra perspectiva, a do outro, ou de outra forma que nos permita aceitar sem recriminar... Suas mãos estão para trás indicando abertura e receptividade. Um observador atento e amoroso que aprendeu com seus próprios sofrimentos e desilusões a considerar os erros como parte da trajetória rumo à luz na vida de qualquer um. A sombra de O Hierofante é justo o preconceito e o dogmatismo empedernido.

O sexto arcano mostra Os Amantes (ou O Enamorado em português) que na iminência de decidir com a pureza do seu coração é antes incitado pelo arcano de O Julgamento a mergulhar numa última avalição interior da sua decisão. O Julgamento é justamente o aprofundamento da consciência numa busca de ampliação de si mesma. Assim como o juízo final bíblico se refere a um chamado para que a humanidade retome à consciência correta (ou perspectiva) sobre o real valor e sentido da vida. A Morte surge entre os dois trunfos assinalando primeiro que as decisões causam mudanças irreversíveis na maioria das vezes, e que por isso devemos considerar o que estamos perdendo ao decidir. Por fim, a Morte revela-se como o verdadeiro moderador da vida. Tudo morre, por isso todo tempo perdido em ambiguidades, fruto da imaturidade, é o desperdício do bem mais precioso à vida: o tempo! A incapacidade de decidir ou de conviver com suas decisões é o mais explícito ato de uma alma imatura em seu desenvolvimento. Entender o propósito de estar neste mundo (O Julgamento) e fazer escolhas compatíveis com este propósito (Os Amantes) são os marcos de uma real evolução tanto pessoal quanto espiritual. E, de novo, a Morte como o regulador do existir, nos incita a encontrar o propósito de nossas vidas porque a Morte nos espera no fim desta jornada chamada vida.

Na última fileira o sétimo arcano do guerreiro intitulado O Carro mostra um jovem príncipe que se move em sua carruagem (uma biga) em direção ao mundo, à vida, e com a clara intenção de vencer tudo e todos para chegar no último arcano do caminho transcendente, O Mundo! Ele venceu todas as etapas anteriores e se sente mais que pronto para atingir seus grandes objetivos. Entretanto, o arcano intermediário, A Temperança aparece lembrando ao jovem herói que nada é conquistado sem constância, perseverança e metas e direções claras! O anjo de A Temperança nos lembra os processos alquímicos que pretendiam transmutar a matéria bruta do chumbo na nobreza do ouro. Um processo gradual e dificultoso em que a própria consciência seria depurada, sutilizada e elevada. Daí este décimo quarto arcano do tarot também representar todos os tratamentos curativos e medicinais, e também as jornadas tanto internas quanto externas (viagens/peregrinações) onde se almeja alcançar algo, quer seja concreto ou empírico. O anjo ensina ao jovem príncipe que sem isso nenhuma obra será completa ou satisfatória (O Mundo).

Aprofundando as Perspectivas Diagonais

Neste cruzamento onde os símbolos e os números se entrelaçam mais uma vez numa espécie de dança arquetípica, o simbolismo do arcano de A Força predomina. Todos os outros arcanos se abastecem de seu manancial simbólico durante esta viagem. Sua grande relevância se evidencia já na posição que ocupa dentro do quadro formado por três setenários. Colocado exatamente no centro dele este arcano mostra a sabedoria (a donzela) conduzindo a força (o leão), ou seja, a sutileza, a inteligência, a vontade serena, mas firme, constante e centrada encontram o êxito de sua empreitada... A autoconfiança é sem arrogância, o êxito sem exibicionismo! A fera interior está domada e a serviço do Si-mesmo. Os esforços lograram êxito e uma imensa satisfação! As distâncias, tanto angulares quanto aritméticas funcionam como o fio de Ariadne que conectam sentidos e simbolismos através do décimo primeiro arcano maior. Vamos às conexões:

O imenso talento de O Mago, só realizará a Magna Obra de O Mundo através do empenho vigoroso e contínuo de A Força!

O psiquismo e as visões de A Sacerdotisa só reverberarão em ampliações da consciência e na unificação de sentidos de O Julgamento se integrarem os aspectos humano e espiritual da vida como em A Força.

O amor e o cuidado de A Imperatriz só resultarão no amor maduro e feliz de O Sol, se houver a suplantação do ego humano e suas infinitas carências e ânsia de controle, a sombra de A Força.

O poder e a liderança de O Imperador não serão corrompidos pelas tramas ocultas do poder que ocorrem em A Lua se a severidade for combinada ao respeito às posições ocupadas (a hierarquia) como em A Força.

Os preciosos ensinamentos de O Hierofante não serão dispersados amplamente e em vão em A Estrela, se o respeito ao que se sabe for uma constante nas ações como em A Força.

As escolhas amorosas de Os Amantes, não serão destrutivas ou autodestrutivas em A Torre se tiverem como base a autorresponsabilidade e a disposição de enfrentar-se como em A Força.

Os objetivos de avanço e conquista de O Carro não irão descambar numa cobiça desmedida e sem consequências em O Diabo, se a vigília sobre si mesmo e suas sombras for constante como em A Força.

O equilíbrio de A Justiça só se transformará na harmonia pacificadora reorganizadora de A Temperança quando os baixos instintos do ego forem transmutados na luz da consciência como em A Força.

A busca pela sabedoria e a luz interior de O Eremita, não será barrada pelo medo do fim como em A Morte, se a atenção estiver plenamente focada no caminho escolhido como a donzela está focada no ato com seu leão em A Força.

Os ciclos do tempo e as intervenções do destino de A Roda da Fortuna, não prostrarão ou vitimizarão o buscador como em O Enforcado se ele assumir o seu poder pessoal de coautor de sua vida como em A Força.