sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

A Descida de Inanna - Um Método de Leitura

Depois de dezenove anos utilizando a Cruz Celta em minhas leituras diárias, eis que me senti fortemente compelido a acrescentar um sistema mais profundo, e focado no mergulho da alma humana, numa abordagem inicial das minhas leituras diárias de tarot! O sistema de Cruz Celta – também conhecido como Cruz Céltica – presta um lindo serviço ao integrar mundo prático e psíquico com inteireza, síntese e precisão! Entretanto senti necessidade de mergulhar mais fundo na Luz e nas Sombras daqueles que me procuram, e a disposição de “A Descida de Inanna”, um método de leitura desenvolvido pelo tarólogo e astrólogo alemão Hajo Banzhaf com o título original de "A Descida de Inanna ao Inferno", caiu como uma luva. Eu já havia me utilizava dessa leitura em ocasiões específicas, em situações eventuais como nos solstícios e equinócios, quando convidava os clientes a obter um olhar mais profundo sobre a própria jornada. Esses períodos do ano servem como portais sazonais tanto dentro de nós quanto na natureza, e a proposta sempre foi bem acolhida. Agora inaugurando uma nova fase do meu trabalho, coloco o sistema de “A Descida de Inanna” como um convite de pronto a este olhar para além da superfície desse mundo e, paradoxalmente, como uma forma de se estar mais bem situado nele! Apresento aqui este complexo e maravilhoso método, uma abordagem oracular profunda e intensamente reflexiva:

O Mito:

Inanna a Rainha do Céu, da cidadela onde nasce o Sol, desce do Grande alto a fim de visitar sua irmã mais velha e amargurada inimiga Ereshkigal, a misteriosa Rainha do Grande Embaixo, país de onde não se pode retornar.

Inanna, uma deusa celeste que
desce ao submundo e ao
encontro de sua própria sombra!

Antes de partir, ela se enfeita, vestindo os trajes imperiais e colocando suas joias. Dá instruções ao seu vizir, Ninschubur (o vizir das sábias palavras, seu cavaleiro das palavras da verdade); no caso de ela não retornar depois de três dias, ele deverá organizar harmonicamente os gritos de dor junto às ruínas. Depois disso, ele deverá pedir ajuda ao majestoso deus Enlil, em Nippur, caso este lhe negue ajuda, o vizir terá de pedi-lo ao deus da Lua, Nanna, em Ur, caso este também se recuse a ajudá-lo, deverá dirigir-se ao deus da sabedoria Enki, pois com essa ajuda poderá contar.

Logo a seguir, Inanna vai à montanha feita de lápis-lazúli, o portal do inferno, e solicita entrada ao porteiro Neti. Assim que este entende que a Rainha do Grande Alto quer entrar no inferno pergunta, confuso: “Se és a rainha do céu, da cidadela onde nasce o Sol, por que, em nome dos céus, vieste à região onde não há retorno?”.

Diante dessa pergunta, Inanna confessa que deseja participar do funeral de Gugallanna, falecido marido de sua irmã mais velha, Ereschkigal.

Neti fica visivelmente atrapalhado, e pede a Inana que espere um pouco. Corre até sua rainha, Ereschkigal, para ouvir o que esta decide fazer. A misteriosa rainha do Grande Embaixo fica terrivelmente nervosa ao ouvir a notícia da visita de sua luminosa irmã (tão enfurecida, de fato, que morde a própria coxa, de raiva). Apesar disso, ela diz a Neti que deixe Inanna entrar. Mas, como todos os mortais comuns, ela terá de entregar todas as suas roupas e joias, parte por parte, em cada um dos sete portais do inferno, até que afinal, entre nua e curvada no aposento em que Ereschkigal, rainha das profundezas, a espera, juntamente com os annunaki, os temidos sete juízes do submundo, que decidem sobre o destino dos recém-chegados. Eles dirigem o olhar da morte para Inanna – e ela morre.

Seu confiável vizir, Ninschubur, seu fel aliado no céu, cumpre rigorosamente as instruções da patroa. Eleva os gritos de dor junto às ruínas e, logo depois, pede ajuda aos deuses, na ordem recomendada; primeiro ao grande deus Enlil, em Nippur; depois ao deus da Lua, Nanna, em Ur, e, finalmente, ao bondoso deus da sabedoria, Enki, em Eridu. Quando Enki ouve o que aconteceu com sua amada Inanna (com a sujeira que tem embaixo das unhas) ele cria duas criaturas assexuadas, Kurgarru e Kalaturru, que são mandadas ao inferno com o alimento e a água da vida.

Kurgarru e Kalaturru conquistaram a simpatia da rainha do grande embaixo e, com isso, a permissão de despertar Inanna para uma nova vida. Inana depois de renascer, abandona o reino das profundezas. Todavia, não há exceção à regra nesse país: ninguém que tenha atravessado o portal do inferno poderá voltar ao país da luz sem deixar um representante, que terá de ficar no reino dos mortos em seu lugar. Como a regra vale também para ela, Inanna parte seguida por uma horda de seres demoníacos horrorosos que têm a incumbência de aprisionar e levar consigo o condenado ao inferno. Em sua busca por uma vítima apropriada, Inanna percorre os países, e todos os seres vivos que encontra fogem assustados, tanto por sua causa como devido aos demônios que a acompanham. Quando chega ao lar, ela vê, com grande raiva, que seu filho e amante, Dumuzi, visivelmente não sentiu sua falta, instalando-se, além disso, confortavelmente, em seu trono. É sobre ele que Inana lança o olhar da morte: os demônios caem sobre sua presa e arrastam a atemorizada vítima, que suplica por ajuda e perdão, ao escuro e sombrio reino dos mortos.

O encontro com sua sombra (a irmã Ereschkigal) fez de Inana uma Rainha ainda mais poderosa e lúcida de suas antigas máscaras e ilusões. Nascida e renascida sobre si mesma.

As Etapas do Mito Dentro de 

Cada Posição da Leitura:

I – Inana, rainha do céu.

2 – Neti, porteiro-mor do inferno.

3 - 9 – Os sete portais do inferno, onde Inanna teve de deixar as joias e trajes que havia vestido. Isoladamente são:

1- A Schugurra, a coroa do plano.

2- O bastão de medição de lápis-lazúli e a fita métrica.

3- O colar de lápis-lazúli ao redor do seu pescoço.

4- As pedras Numuz sobre seu peito.

5- O anel de ouro em sua mão.

6- O escudo peitoral: “Venha, homem, venha”.

7- As vestes imperiais.

X – Ereschkigal, rainha do inferno.

11 – Ninschubur, o vizir de Inanna.

XII – O alimento da vida.

XIII – A água da vida.

XIV – Inana ressuscitada.

15 – Dumuzi, a vítima destinada ao inferno.

Modo de Ler:

Joga-se com 15 cartas; 15 é o número da Lua Cheia, Ishtar, a sucessora babilônica de Inanna, venerava a Lua. Antes do jogo, as cartas dos Arcanos Maiores são separadas das dos Arcanos Menores. O consulente tira 5 cartas dos Arcanos Maiores e 10 dos Arcanos Menores. As posições determinadas na ilustração com algarismos romanos devem ser cobertas com as cartas dos Arcanos Maiores, ao passo que as cartas dos Arcanos Menores devem ser colocadas nos lugares marcados com números arábicos.

Antigo relevo sumeriano que retrata
o casamento de Inanna com Dumuzi.

A mensagem deste mito que eu gostaria de reproduzir aqui diz o seguinte: “A caminho do inferno, Inanna tem de desistir de muitas coisas que até aquele momento haviam sido muito importantes e valiosas para ela. Curvada e completamente nua, ela encontra ali seu lado de sombra. Nesse encontro ela morre. Isso significa que sua antiga identidade se desfez. Com a ajuda do seu aliado, ela desperta para uma nova vida e volta ao mundo luminoso como uma nova Inanna. Por desistir de sua velha identidade e por solucionar o seu lado sombrio, ela tornou-se totalmente nova, inteira e sã. Para tanto, ela ainda tem de fazer um sacrifício (de gratidão) ao chegar ao mundo superior, na medida em que (temporariamente) renuncia a algo a que dá importância”.

Diante deste plano subjacente, é assim que interpreto as cartas:

O Significado das Posições da Leitura:

– O (pretenso) lado da luz, que só depois do encontro com o lado da sombra e de sua aceitação (X) torna-se um todo e fica são.

2 – A recepção diante do portal do inferno.

– – Os bens, os modos de comportamento, os hábitos, os desejos, as perspectivas, etc, dos quais se tem de desistir.

X – O lado da sombra, que deve ser solucionado, a irmã misteriosa, o ouro negro, que tem de ser elevado.

O encontro de Inanna (I) e de Ereschkigal (X) significa a morte da antiga identificação com o “eu” (nenhuma carta).

11 – A força que auxilia, o aliado no mundo superior.

XII – A primeira força reanimadora.

XIII – A segunda força reanimadora.

XIV – A recém-adquirida identidade.

15 – A vítima. Literalmente, aquilo a que se tem de renunciar, temporariamente: Dumuzi é o deus da primavera, o deus do ano crescente, que todos os anos tem de ser sacrificado no outono e que renasce na primavera.

Extraído do Livro: “As Chaves do Tarô”, de: Hajo Banzhaf. Editora Pensamento.  São Paulo, 1993.