A essa pergunta, que na verdade é
uma máxima atribuída aos ciganos e transformada em interrogação, eu digo que N ã o! Elas não mentem! Por quê? Não
vejo como símbolos do inconsciente poderiam estar errados sobre o que eles revelam
espontaneamente. Nunca vi as cartas errarem, por exemplo, sobre uma questão do
presente. O que vi, e vejo, são pessoas negando o que é revelado! Uma história
que conto aos meus alunos, e que se passou comigo no início do meu trabalho com
o tarot, foi o de uma senhora em torno dos seus sessenta e poucos anos que me
procurou para ler as cartas. O tarot mostrava de cara que esta mulher tinha de
aprender a seguir os desejos do seu coração, sem se deixar influenciar com as
reações e opiniões daqueles que a cercavam... Antes mesmo de eu terminar a
leitura ela me interrompeu dizendo que aquilo não era verdade! Que ela fazia
sempre o que queria fazer sem se preocupar com o que os outros iam pensar, que
era e sempre foi uma pessoa muito independente! Pois bem, pouco mais de meia
hora depois de ter me dito isso a percebo olhando nervosamente para o seu
relógio de pulso, até que me pediu: “Será que poderia fechar as cortinas da
janela, por favor?”, então eu disse que por ser inverno, e a iluminação da sala
ser indireta, o ambiente ia ficar muito escuro... Então ela me revelou que
morava no prédio em frente, e que de sua janela era possível me verem atendendo
em minha mesa de leituras... E eu perguntei: “Mas e daí...?”, ao que ela me
respondeu um tanto constrangida: “É que este é o horário em que minha filha
chega em casa, e não quero que ela me veja fazendo essas coisas...!”. Fiquei
atônito por um tempo, mas decidi não voltar ao que tínhamos falado
anteriormente. Em parte porque me pareceu que ela não estava totalmente
consciente da sua contradição. E também porque acredito que não temos de provar
nada a ninguém, nem esfregar na cara das pessoas verdades que elas não
reconhecem ou não estão prontas para admitir. Não é este nosso papel! Não tenho
dúvidas de que casos como este ocorrem o tempo todo, e sei que qualquer pessoa
que trabalhe com o tarot, ou cartomancia, ou runas, astrologia etc, tem
histórias bem similares ou idênticas a esta!
O Futuro que não se
Realiza ou Escapa...
Erros sobre o futuro? Bem, este é
um caso que deve ser bem avaliado. Em primeiro lugar o que nos é dado saber,
nos é permitido mudar. E fazemos isso consciente ou inconscientemente o tempo
todo! E nesse caso as previsões podem funcionar como uma autossugestão, que
atua positiva ou negativamente dependendo das esperanças ou medos que cada um
carrega intimamente sobre o que foi revelado! É nesses momentos que a
programação do inconsciente atua, ou seja é um fator puramente psicológico! Há
alguns anos atrás um cliente veio me procurar para ler o tarot. Era um rapaz de
orientação homossexual que se dizia cansado de ter “casos”, ou namoros inconsequentes.
Ele dizia querer um relacionamento firme, mas que também fosse uma história de
amor com consistência e profundidade. Abri as cartas para ver as perspectivas
nesse setor de sua vida e... Nossa! Estava todo mundo lá! O Mundo, O Sol, 2 de
copas, 6 copas, o 10 de copas... Sim ele encontraria um amor, mas seria longe
de onde vivia. Seria numa viagem a estudo ou trabalho. Ele ficou contente, mas
questionou que não tinha intenções de sair do estado para trabalhar e nem tão
pouco tinha nenhum curso em vista num período de curto a médio prazo!
Alguns
meses depois uma cliente dele se mudou para São Paulo e precisou de seus
serviços de designer na sua casa no bairro dos Jardins, por gostar muito do seu
trabalho, e não conhecer ninguém na nova cidade, o chamou para ficar duas
semanas trabalhando por lá. Ele foi e nesse período conheceu outro rapaz com
quem se encontrou duas ou três vezes antes de vir embora. Desse momento em
diante passaram a viver uma relação intensa, mesmo à distância. O novo namorado
ligava todos os dias de manhã para desejar bom dia. A cada duas semanas pagava
passagem de avião para ficarem juntos. Até que um dia, o referido novo amor atendeu
ao telefone de modo estranho, ficou de retornar e não o fez, depois não o atendia
mais... Foi o que bastou para o jovem que se consultou comigo entrasse numa
viagem mórbida de autodepreciação, dizendo que é claro que o namorado devia
estar com outro, porque afinal ele era feio, magro demais, não tão bem sucedido...
Quando finalmente voltaram a se falar, ele decidiu terminar tudo por telefone,
e não atender mais aquele que parecia ser tudo o que ele queria de uma relação!
Mais um tempo depois o namorado o procura e diz que estava passando pelo pior
momento profissional de sua vida, e que tinha recebido uma notícia bomba justo
naquele dia. Que estava profundamente magoado por ter demonstrado atenção às
necessidades do parceiro, mas que quando ele precisou tudo o que teve foi
desconfiança e acusações. Não pediu uma nova chance e sim quis terminar
definitivamente, pois já tinha sofrido com o mesmo tipo de coisa no passado e
não queria mais repetir isso em sua vida.
Quando nos falamos depois de tudo,
ele me dizia não compreender porque reagiu daquele modo. Conversamos sobre as
programações que todos carregamos sobre o amor, e ainda mais as pessoas que
pertencem a grupos minoritários. Ele então citou que seu pai ao perceber sua
diferença desde cedo, dizia a ele que pessoas “como ele” nunca eram felizes!
Precisa explicar mais? Poucas pessoas nesse mundo se acham merecedoras de amor
e felicidade. Isso parece ser mais uma coisa para os outros. Muitos culpam a
nossa cultura judaica cristã, mas o fato é que isso acontece com hindus tanto
quanto com muçulmanos, tanto no ocidente quanto no oriente, ou seja, é humano!
Se não fosse assim não haveriam tantas terapias para nos orientar no resgate da
própria felicidade, amor e saúde! No relato que fiz a pouco observamos que o
namorado do meu cliente também tinha uma programação de amar demais e não ser
acolhido, e os dois se encontraram, ao que parece, para corroborar com o programa
infeliz um do outro. Diante de um prognóstico positivo o condicionamento
relacionado ao amor e à felicidade foi ativado, e fez desmoronar as boas
perspectivas. Muitas pessoas fazem isso todos os dias sem se dar por conta de
que o fazem.
Prognósticos, bons ou ruins, ativam as programações do inconsciente. |
O Amor, um tema tão atraente quanto saturado de programas culturais. |
O Futuro que não se Revela...
Há também aqueles casos em que
pessoas alegam que coisas importantes não foram reveladas na leitura, e que
consideram por isso que o oráculo (seja ele qual for) errou. Bem, vou discordar
disso também. Como sempre digo os oráculos não são meramente instrumentos divinatórios
ou de avaliação psicológica, são também chaves de crescimento espiritual. Tenho
observado que o que não nos é dado saber é algo que temos de passar, porque de
algum modo serve ao nosso crescimento e amadurecimento interior, e não nos ser
revelado é a forma de impedir a interferência da consciência e do arbítrio na
situação. Mais uma vez tenho um caso que ilustra bem o que quero dizer. Uma
amiga me procura para ler o tarot, ia fazer uma viagem de um mês pelo interior
da França, num tour pelas regiões da Provença à Bretanha, com um grupo de amigos. Estava muito
entusiasmada em conhecer a região, e em especial a floresta de Paimpont, ex
Brocéliande, onde se encontra o suposto túmulo do Mago Merlin. Já havia
consultado uma astróloga, e uma numeróloga de sua confiança, e agora queria ver
se o tarot tinha algo a dizer sobre precauções quanto à viagem... Lembro-me das
cartas de O Eremita e de O Sol terem dito que estranhamente ela não seguiria com
os outros. Assustada perguntou se ficaria para trás! Eu disse que não, que ela
ia junto, mas que não iria a todos os passeios, embora eu não soubesse o
motivo. Como fazem algumas pessoas, irritantemente, ela começou a argumentar
que era estranho, pois era uma das duas únicas a falar francês no grupo, e que
seria também a motorista de uma das vans que levariam as pessoas.
Leituras oraculares são uma interação constante com os aspectos obscuros da alma humana. |
Uma vez lá, ela finalmente foi a
tão desejada visita à floresta mágica e mítica de Paimpont. E justo neste
passeio ela cai de uma ribanceira enorme, quebrando o braço bem na junta do
ombro. O resultado? Uma cirurgia cara e delicada, meses de recuperação e a
recomendação médica de não andar por longas distâncias, nem subir declives,
pois tinha a partir daquele momento uma liga de platina que juntaria os ossos e
permitira a cartilagem se recompor. Essa era na época uma técnica desenvolvida
lá na França, e que permitiria recuperar totalmente os movimentos do braço, ou
seja, mesmo no azar ela teve sorte! Voltou impressionada com minha leitura de
tarot, e indicou muitas pessoas a se consultarem comigo! Entretanto eu estava
intrigado com o fato de eu ver a consequência e não o fato que a levou àquela
situação. Nada na leitura dizia “cuidado”, ou assinalava perigo. Não havia
nenhum arcano ameaçador. Discuti isso com ela que disse estar impressionada de
qualquer modo, mas que de fato nada lhe foi revelado que pudesse evitar o que
aconteceu!
Até que um dia, num dos nossos encontros, ela me disse ter refletido muito sobre aquela nossa conversa, e concluiu que se tivesse sido avisada sobre o risco de um acidente evitaria ir à floresta. Sempre teve medo de lugares acidentados e temia ir até lá! Como nada foi ressaltado ela seguiu o plano da visita. Disse que depois de meses sem poder dirigir, nem sequer cozinhar e mal se servir sozinha, e de ter de ficar confinada em casa por longo tempo, se deu por conta que aquela era a primeira vez que ela estava podendo voltar a pensar em si mesma. E no fato de não estar mais empenhada, como desejou estar, em realizar as coisas que satisfaziam sua alma. Desde que se aposentou (e isso já tinha alguns anos) ela estava envolvida com assuntos da mãe idosa, da irmã divorciada e dos sobrinhos, e grande parte da sua angústia era a de não poder estar atendendo essas pessoas. Estava ocupada com todos, mas não consigo mesma. Passou anos num trabalho que não a realizava. Jurou para si mesma que depois de aposentada se dedicaria à sua busca espiritual e ao estudo da astrologia, uma antiga paixão, coisa que não estava fazendo. Mas só pode lembrar-se disso ficando literalmente imobilizada dentro de casa. Chegou à conclusão de que tinha sido essa a finalidade de sofrer o acidente: Fazer-lhe lembrar do que tinha esquecido, e do pacto que tinha feito consigo mesma. Concordei inteiramente. Houve um equívoco? E se houvesse os outros oráculos teriam se equivocado mais? Minha experiência e observação nesses anos todos diz que isso não existe. Quer chamemos de inconsciente, divindade interior (Eu Superior) ou Self, a verdade é que não obtemos a revelação de tudo dessa parte profunda de nós mesmos, para que não atrapalhemos ao processo de integração com nosso propósito de alma. Simples assim! Nem sempre é possível descobrir o motivo de uma revelação não ter sido feita, simplesmente porque isso compete em grande parte ao próprio cliente, olhar para si mesmo com franqueza e refletir, como o fez minha amiga. E isso é para poucos.
Até que um dia, num dos nossos encontros, ela me disse ter refletido muito sobre aquela nossa conversa, e concluiu que se tivesse sido avisada sobre o risco de um acidente evitaria ir à floresta. Sempre teve medo de lugares acidentados e temia ir até lá! Como nada foi ressaltado ela seguiu o plano da visita. Disse que depois de meses sem poder dirigir, nem sequer cozinhar e mal se servir sozinha, e de ter de ficar confinada em casa por longo tempo, se deu por conta que aquela era a primeira vez que ela estava podendo voltar a pensar em si mesma. E no fato de não estar mais empenhada, como desejou estar, em realizar as coisas que satisfaziam sua alma. Desde que se aposentou (e isso já tinha alguns anos) ela estava envolvida com assuntos da mãe idosa, da irmã divorciada e dos sobrinhos, e grande parte da sua angústia era a de não poder estar atendendo essas pessoas. Estava ocupada com todos, mas não consigo mesma. Passou anos num trabalho que não a realizava. Jurou para si mesma que depois de aposentada se dedicaria à sua busca espiritual e ao estudo da astrologia, uma antiga paixão, coisa que não estava fazendo. Mas só pode lembrar-se disso ficando literalmente imobilizada dentro de casa. Chegou à conclusão de que tinha sido essa a finalidade de sofrer o acidente: Fazer-lhe lembrar do que tinha esquecido, e do pacto que tinha feito consigo mesma. Concordei inteiramente. Houve um equívoco? E se houvesse os outros oráculos teriam se equivocado mais? Minha experiência e observação nesses anos todos diz que isso não existe. Quer chamemos de inconsciente, divindade interior (Eu Superior) ou Self, a verdade é que não obtemos a revelação de tudo dessa parte profunda de nós mesmos, para que não atrapalhemos ao processo de integração com nosso propósito de alma. Simples assim! Nem sempre é possível descobrir o motivo de uma revelação não ter sido feita, simplesmente porque isso compete em grande parte ao próprio cliente, olhar para si mesmo com franqueza e refletir, como o fez minha amiga. E isso é para poucos.
Sobre o Olhar do Leitor
É claro que podem ocorrer erros de interpretação do leitor, isto sim! E penso que para esses leitores é mais fácil dizer que os oráculos erram do que admitir sua própria incompetência! E nem sempre, é claro, é só uma questão de competência, ou a falta dela. É também uma questão de olhar. Durante seis anos tive um grupo de estudos de tarot que chamei de Consciência Arcana. Era formado por ex-alunos que quiseram seguir estudando e praticando o tarot de forma assistida, uma vez por mês durante quatro ou cinco horas.
A perspectiva e o alcance do olhar do leitor definem a amplitude de uma interpretação oracular. |
Sobre a Natureza dos Símbolos
Acho que você já leu estas palavras entre os parênteses antes, mas foi quando eu falava das suas antigas atribuições mitológicas dadas pelos povos do passado! Então como eles sabiam? É simples, não sabiam. Foram inspirados. Apenas usaram as imagens míticas que lhes eram conhecidas para expressar o que captavam intuitivamente da sua conexão cósmica. Estamos todos conectados, e como diz aquele axioma esotérico: “Assim como acima, abaixo...”. Portanto, um símbolo não pode ser influenciado ao se expressar. Porque é uma força transcendente que se utiliza de uma representação reconhecível à consciência humana para entabular uma conexão, e uma comunicação, com e através da alma.
Artigo maravilhoso, Jaime! Inspirada por ele, e por você, estou iniciando um grupo de estudos de Tarot e muitos dos seus textos serão objeto de estudo e aprendizado! Gratidão!
ResponderExcluirOi Liliane, só agora vi teu comentário! Quanta honra... Gratidão pelo teu carinho e registro!
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