terça-feira, 29 de outubro de 2024

Exercitando Imaginação, Escrita e Intuição

Uma leitura de tarot é, basicamente, a capacidade de imaginar e intuir o que as imagens estão nos dizendo, e narrar esta mensagem de forma clara e fluída. Há um exercício que ensino aos meus alunos com frequência, e que chamo de exercício imaginativo/criativo/intuitivo. Ele consiste em retirar cinco cartas, como os cinco atos do teatro grego, de preferência dos arcanos maiores caso ainda esteja se familiarizando com a linguagem do tarot. Em seu livro *Tarot For Your Self, Mary K. Greer sugere que a viagem de O Louco deve ser narrada como um conto de fadas, e propõe que se crie histórias a partir da sua viagem. Sugere também que os métodos de leitura podem ser usados como os trajetos por onde transcorrem essas histórias. Sugere, inclusive, que se utilize a Cruz Celta como um caminho para se compreender a sequência dos arcanos de naipe, um de cada vez, onde as cartas da Corte serviriam como os personagens dessas histórias. Acho isso, sinceramente, demasiado e com muitas possibilidades de erro para iniciantes! Eu prefiro uma iniciação com os arcanos maiores, que são a espinha dorsal da simbologia do tarot. Entender bem sua estrutura costuma facilitar a compreensão do oráculo como um todo, e praticar com poucas cartas ajuda em muito a desenvolver o poder de síntese numa leitura. Isso auxilia a se definir um caminho para se obter uma mensagem com a interpretação de uma ou duas cartas já abertas na mesa. O número de cinco é uma referência aos atos de uma peça teatral.  Sendo assim a primeira carta apresenta o contexto, a dois e a três mostra o conflito e o desenvolvimento da ação, respectivamente, e as cartas quatro e cinco apontam para o declínio e o fim da peça, com a apresentação do seu propósito ou significado. Mas se parece complicado demais esta ordenação esqueça tudo isto e simplesmente leia as cinco cartas num fluxo. A intenção é criar uma história que comece com “Era uma vez”, como sugere Greer. Então embaralhe o maço com os 22 trunfos e tenha sempre em mente que se trata de um exercício criativo/imaginativo/intuitivo, isso faz com que a imaginação fique descomprometida e livre! Quando achar que já é o suficiente retire cinco cartas do baralho e vá colocando-as uma a uma com as imagens para baixo, a seguir vire uma por uma, sempre dizendo ao abrir a primeira, Era uma vez...

Navegando pela vida com a sabedoria lunar,
imaginação, sonhos, e intuição

Segue abaixo um exemplo de uma prática recente que realizei. A aventura começa justamente com o arcano de O Louco: Era uma vez um jovem inexperiente e desorientado, totalmente sem rumo na sua jornada pessoal de crescimento. Um experimentalista em busca de sentido para sua própria jornada. A carta que surge a seguir é A Justiça e eu sigo, esse rapaz encontra uma mulher mais velha – considerei a imagem do arcano literalmente – ela é segura de si e de suas escolhas, muito racional e responsável. A próxima carta foi A Imperatriz, que revelou que no encontro dos dois há um cuidado e um respeito carinhoso que envolve admiração mútua, entre a liberdade e ousadia dele e o compromisso e a sobriedade dela. O aparecimento de A Temperança falou de uma sintonia alquímica entre eles, algo que transcendia a atração física ou as afinidades mentais entre ambos. Suas diferenças pareciam servir para complementar a vida um do outro; ao jovem a construção de um propósito, e à mulher séria uma oportunidade para apenas fazer e viver coisas sem uma meta definida, prática ou lucrativa que seja. A última carta do último ato foi O Mundo. Ao fim da jornada o jovem antes desorientado encontra seu lugar no mundo, e um lugar ao lado da sua benfeitora. O caminho de desorientação se transformou num encontro consigo mesmo, o fim da jornada revela seu propósito e o jovem inexperiente agora é um homem amadurecido que consegue entender a finalidade de tudo que viveu!

Desdobrando Interpretações 

com os Números

Agora veja como fica quando “brincamos” com os números fazendo a soma teosófica dos arcanos. O Louco, que é zero na sua simbologia, mas com valor 22 para efeitos de cálculo, é acrescido à Justiça 8, como é no original de Marselha e sem as deturpações de Waite. Somando 22 + 8 = 30 = 3 + 0 = 3. A Imperatriz já se mostrava regendo este encontro, a sua força amorosa rondava os dois. Agora somamos o valor de A Imperatriz a essa operação e 22 + 8 + 3 = 33 = 3 + 3 = 6. O sexto arcano, Os Amantes, confirma a conexão de amor e atração entre esse improvável casal! Seguindo na jornada arquetípica dos símbolos e números acrescentamos A Temperança a esta jornada e 22 + 8 + 3 + 14 = 47 = 4 + 7 = 11, A Força. O décimo primeiro arcano tanto confirma a intensidade química entre eles como também a intensidade da troca que envolve os outros planos da personalidade de ambos. Finalizando essa empreitada aritmética acrescentamos o último arcano dos cinco atos, e também da sequência dos arcanos maiores, O Mundo. Assim 22 + 8 + 3 + 14 + 21 = 68 = 6 + 8 = 14, A Temperança outra vez. Considero este um arcano que implica influências superiores do ponto de vista consciencial. Ao que parece desde o começo o encontro dos dois seria marcado por uma conexão maior e mais profunda. Somando a cifra deste arcano 1 + 4 = 5, encontramos O Hierofante. Para muitos intérpretes do tarot ele representa um casamento, para outros uma presença que simboliza exemplo e realização, como um mestre ou professor, e a mulher representada na figura de A Justiça parece ter mesmo cumprido este papel na vida do jovem. Inversamente ele também o fez, embora de maneira não tão óbvia.

Introduzindo os Arcanos Menores

As cartas de naipe, enriquecendo as leituras.

Utilizar todas as ferramentas arquetípicas que o arcabouço simbólico do tarot proporciona é, com frequência, muito enriquecedor! Os números são os mais óbvios componentes desse rico universos de imagens profundas dos arcanos, sobretudo nos arcanos maiores. Curiosamente muitas pessoas se sentem intimidadas com a estrutura das cartas de naipe. Parece muita coisa num primeiro momento, e de fato é! Sua estrutura acrescenta ricos detalhes à leitura, tanto práticos quando psicológicos, e merecem ser considerados! Existe também aqueles que se detém exclusivamente nos arcanos maiores para a aplicação oracular do tarot, uma escolha que não diminui o trabalho de ninguém, mas que a meu ver exclui grandes possibilidades. Acrescente os arcanos menores aos poucos, um naipe de cada vez começando pelo de sua preferência. Recomendo também misturá-los, ao invés de ler aos pares, o que torna a interpretação muito mais enxuta, objetiva e direta. A seguir outro exemplo desse exercício nas minhas práticas pessoais onde as cartas de naipe foram introduzidas juntamente com os arcanos maiores. Abrindo o primeiro ato a carta do 5 de copas assinala uma dolorosa perda afetiva que a pessoa em questão estava passando, e sem muitas perspectivas de como sair desse lugar. O arcano seguinte, Ás de espadas, revelou que uma poderosa força racionalizada e decisiva irrompeu da sua consciência. A postura de vítima, ou de “afetada” pelo cataclismo foi deixada diante da decisão recém incorporada. A Rainha de paus, a cuidadora amorosa e gentil, a fomentadora dos vínculos de um grupo ou família, aparece deixando claro que esta mulher (na minha imaginação faz mais sentido ser uma) decidiu que vai cuidar daqueles que ama e que ficaram de fora desse evento, ou que restaram dele! O arcano de O Imperador mostra que essa postura trouxe uma nova fase de estabilização em todos os níveis para nossa heroína, assentada em sua anima interior, e o surgimento de uma poderosa figura masculina com quem cria uma parceria de grande contribuição ao seu desenvolvimento, e com uma presença transformadora. A carta final de A Roda da Fortuna mostrou a virada que este encontro trouxe para ambos, e a inauguração de um nível superior de compreensão e atuação diante das mazelas da vida que nossa rainha enfrentou.

Exercitando a Escrita

Na sua obra Greer sugere a utilização da escrita criativa com os arcanos do tarot, se utilizando das cartas para escrever poemas ou pequenas crônicas inspiradas em suas poderosas imagens, e apresenta uma série de criações literárias, suas e de outras pessoas. Eu mesmo tenho alguns poemas inspirados nos arcanos do tarot e é de fato um exercício muito rico de estímulo à criatividade e à imaginação. Como já disse antes imaginar é uma habilidade fundamental para uma leitura de tarot realmente efetiva. Se tem pouca, ou nenhuma aptidão literária eu sugiro que comece escrevendo, simples e despretensiosamente, o que sente sobre a carta que escolheu e os sentimentos e pensamentos que lhe transmitem seus contornos e detalhes simbólicos. Guarde seus escritos, evite criticá-los, eles podem ser uma ferramenta poderosa para mostrar com o tempo o quanto sabia sem saber ou mesmo o quanto sua percepção e compreensão dos arcanos cresceu com o passar dos anos. Essas viagens criativas com o tarot são simplesmente fascinantes e ricas, se estiver com disposição para empreender este mergulho.

Escrever poemas, crônicas e ou anotar as interpretações
dadas nos exercícios criativos/imaginativos/intuitivos amplia
tanto imaginação quanto intuição, vocabulário e dialética.

Outra forma de conectar seus exercícios imaginativos à uma melhor absorção dos significados dos arcanos é escrever suas histórias. Assim que abrir os cinco atos fale em voz alta a sua interpretação imaginativa, em seguida anote o que acabou de ler num caderno. Não se surpreenda se novos detalhes saltarem à mente, inclua-os. Procure sempre usar palavras novas para expressar uma mesma ideia em narrativas diferentes, riqueza de vocabulário é fundamental. Pesquise em dicionários ou no Google sobre as expressões que deseja utilizar. Erroneamente acreditamos que a intuição não pode ser aumentada ou amparada por outras formas de saber. Conheci ao longo da minha vida inúmeras cartomantes incrivelmente intuitivas que, porém, tinham de fazer um esforço enorme para expressar o que captavam com suas cartas, e muitas não conseguiam. Só depois que alguns eventos se confirmavam é que eu ficava sabendo de fato do que se tratava suas visões. Os tempos mudaram, parecer ignorante não é mais visto como bonitinho ou inocente. Refine-se, tanto na sua capacidade intuitiva superior quanto na sua capacidade imaginativa e de riqueza de vocabulário! O tarot é um caminho de transformação para quem procura sua sabedoria, seja como consulente ou como aprendiz, e quem perde isso perdeu uma linda viagem.

*Tarot for Your Self, a Workbook for Personal Transformation.
Carmel (USA). Newcastle, 1984.


segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Leitura de Tarot Para Uma Anciã...

O 9 de espadas, do Thoth tarot, símbolo
da agonia e do sofrimento íntimos.

Uma senhora de oitenta anos veio consultar o tarot, e o 2 de ouros mostrou que ela estava num movimento planejado e gradual de mudanças em sua vida que, no entanto, como o 9 de espadas mostrava, esse movimento trazia apreensão e sofrimento mental sobre seu futuro; espadas é ar, e ar = pensamento, e o pensamento está sempre voltado para o amanhã! Antes que eu prosseguisse com a leitura ela disse que era exatamente isso, que estava pensando em fazer algumas doações em vida dos seus bens mais afetivos, e deixar em testamento as suas propriedades e bens materiais, mas não sabia por onde começar ou em quem confiar para ajudá-la nesta questão já que não tem filhos... Continuei com a leitura e o Ás de paus seguido da Rainha de ouros pareciam estar esperando a colocação dela para exclamar: “Ainda tem muito tempo de vida!” e o Rei de espadas logo após parecia assegurar que essa atitude era importante, mas que poderia ser mais bem planejada, e sem pressa! Foi nesse momento que para muito além dos Arcanos eu li no seu olhar que ela não sabia mais o que fazer com o seu tempo de vida. Como tomo o cuidado de não opinar nesses momentos abri o próximo Arcano da sequência, e A Força apareceu na sombra indicando a sua falta de força interior e conexão com a vida. Ela confirmou dizendo-se sem disposição pra nada. O 3 de paus finalizou indicando que ela devia se propor um novo desafio, uma reciclagem da vida em si mesma para continuar seguindo com o fluxo da existência. O Louco terminou a sequência de leitura falando de um salto decisivo para seguir na vida ou sair dela. Este Arcano é o arauto do livre arbítrio, e veio para lembrar que ser feliz é uma decisão, e ser infeliz também! Indiquei terapia e muito autocuidado. Vamos ver o que decide. 


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Entrevista Com Jussara Bohrer

O Tarot Como um Caminho...

Com mais de cinquenta anos de jornada Jussara Bohrer é com certeza a taróloga mais antiga ainda em atividade no Rio Grande do Sul. Além de especialista em tarot ela é terapeuta floral, uma das percussoras dessa prática terapêutica no estado, e também facilitadora de dinâmicas grupais. Depois de muito ouvir falar no seu trabalho a convidei em 2023 para o GITA – Grupo Interdisciplinar de Tarot – projeto que iniciei em 2023 na fundação F.E.E.U de Porto Alegre, onde conheci sua perspectiva prática e muito estratégica de abordar a simbologia do tarot. Aplicando-o realmente como um guia ou bússola para os dilemas da vida comum. Tive desde sempre vontade de registrar suas ideias sobre tarologia, e eis que lhe mandei algumas perguntas que ela respondeu de forma clara e direta como ela mesma o é no seu trabalho.

O Hierofante, do Golden Tarot,
de Kat Black

1) Como, e com quem, começou a sua trajetória com o tarot?

J – Eu ganhei um tarot quando tinha 17 anos, da minha madrinha, ela jogava baralho cigano, eu não conhecia, mas já tinha pesquisado nas monografias do Rosacruz.

2) O que motiva a continuar seu trabalho com os Arcanos mesmo depois de tantos anos?

J – O tarot já faz parte de mim, apesar do tempo sempre surge situações novas e interessantes.

3) Como começa, normalmente, a sua consulta? Tem algum método de abertura das cartas de sua preferência?

J – Sempre gosto de falar no geral sobre energia, chakras, astrologia, cristais... Eu gosto de iniciar sempre pela saúde. Jogo de forma direta e objetiva.

4) O que torna sua abordagem do tarot diferente, digo qual é a marca que procura deixar com seu trabalho nas pessoas que lhe procuram?

J  Eu utilizo tarot somente para orientação das situações que são mais prementes, incentivo as pessoas a terem iniciativas, para não ficarem dependentes.

5) Como vê o desenvolvimento da cultura do tarot nos dias atuais? Quais pontos positivos e negativos percebe na divulgação do tarot hoje em dia?

J – A partir dos anos 90 ele deixou de ser marginalizado para ser "cult". Mas, percebo muita desinformação, exagero, uso indevido, enfim, ficou banalizado.

Jussara Bohrer, dedicação e competência;
um exemplo de dedicação à cultura do tarot!

6) Existe algo que acredite ser importante de fazer para reduzir ou eliminar esta banalização?

J – Eu tento, sempre aconselho as pessoas que procuram conhecer melhor estes assuntos a buscar livros, cursos, revistas dos anos 70 até o final dos anos 80, que têm estudos mais aprofundados.

7) Neste momento tão difícil, da nossa história qual seria a contribuição que o estudo e o desenvolvimento da tarologia pode dar à humanidade?

J – O entendimento que se pode adquirir através deste estudo minimiza muitas dúvidas e principalmente evitam possíveis manipulações.

8) Tem algum recado que gostaria de deixar aos buscadores da via espiritual ou aos estudantes do tarot do nosso tempo?

J  Sempre que eu posso eu estimulo as pessoas que buscam, ativar sua intuição e principalmente respeitá- lá. O tarot que é uma tradição lunar tem que ser regido pela intuição e não por métodos.

9) Existe algum exercício adicional que recomende para o desenvolvimento intuitivo ou a prática do tarot já é este exercício?

J – Técnicas de expansão de consciência, meditação, dinâmicas de percepção dos sentidos, dos elementos. E o entendimento do próprio tarot sem sensor é um ótimo exercício.

Contato com Jussara Bohrer: WhatsApp: 51 98411-9853


quarta-feira, 17 de julho de 2024

Tarot - Um Caminho...

A seguir duas resenhas publicadas no Facebook, a primeira no dia 09/07/2024, e a segunda no dia 12/07/2019. Ambas sobre definições mais profundas sobre a função e aplicação das leituras de tarot...

I

Cinco Coisas Sobre Leituras de Tarot...

1) As leituras ajudam a reconhecer nossos desafios, medos, potenciais e aprendizados, dentro de um determinado momento de nossas vidas - Essa é sua função Fogo, pois ilumina a consciência e dá impulso para a ação. 

2) A leitura revela as emoções derivadas de cada experiência vivida, e como elas nos influenciam construtiva ou destrutivamente em nossa jornada - Essa é a sua função Água, que revela e aprofunda nossa percepção dos sentimentos.

3) Uma leitura nos proporciona entendimento sobre as muitas conexões entre fatos, pessoas, sentimentos, experiências e memórias que interagem entre si e moldam nossa realidade - Essa é a sua função Ar, pois traz clareza e entendimento racional das coisas.

4) A leitura de tarot nos possibilita ações estratégicas que nos previnem de empreitadas desastradas, tanto na vida pessoal quanto material, e nos ajudam a organizar o mundo privado e social - Essa é sua função Terra, prática, pragmática e organizacional.

5) A leitura do tarot nos possibilita um vislumbre da finalidade última dos acontecimentos, ligando eventos externos à oportunidades para o desenvolvimento interior - Essa é sua função Éter, que amplia nossas consciências à compreensão de um propósito superior e evolutivo para as experiências terrenas.

II

Consulte o Tarot...


Mas lembre-se que tarot é muito mais que divinação:

- É um instrumento simbólico para se compreender o momento presente com seus dilemas, e lançar luz sobre eles!

- É uma chave de acesso à sabedoria Superior dentro de você mesmo, que só pode se expressar através dos símbolos ancestrais da alma humana. 

- É um manancial  de todo saber que foi adquirido pela humanidade através dos tempos para o entendimento da vida.

- É um livro de páginas soltas que conta a história de cada pessoa sob uma perspectiva sempre inovadora.

- É um instrumento para se realizar conexões entre fatos aparentemente desconexos, a abrir o entendimento sobre eles, e sua relevância para nosso crescimento pessoal.

- É um sistema simbólico que se harmoniza perfeitamente com outras chaves simbólicas, como a astrologia, onde nos permite aprofundar o entendimento do mapa astrológico natal e dos trânsitos planetários! 

- É um código que nos permite reconhecer pontos cegos na nossa personalidade que sabotam o que desejamos conquistar...


sábado, 22 de junho de 2024

Sobre Leitores e Instrutores de Tarot...

                                           Uma Indicação Ética

O leitor de tarot só é mesmo bem-sucedido quanto menos houver de si na interpretação dos arcanos. Oráculo quer dizer “ouvir a grande voz”, e essa não é a voz de quem lê, mas a voz da grande sabedoria transpessoal do inconsciente coletivo e superior que se expressa no simbolismo das cartas. “Ora, mas não há como não intervir, leitores são pessoas com opiniões”, me dizem alguns, e é verdade! Porém, quando se atém ao que faz com foco muitas vezes um leitor será confrontado com questões que vão contra suas opiniões e valores. Não é NADA ético, porém, que esse intérprete conduza a resposta dentro de seus próprios valores. Tem ali uma sabedoria oriunda de uma fonte superior, apenas leia o que diz sua voz através dos arcanos, eles costumam apontar a melhor direção. Uma cliente no auge da carreira parecia estar na iminência de dar uma virada, seguindo outra direção, dizia o tarot. Ela confirmou dizendo que sim, estava disposta a largar a sua bem-sucedida carreira como publicitária para viver numa comunidade holística em Alto Paraíso... Minha porção humana arregalou os olhos e exclamei para mim mesmo: “isso é uma loucura!”, mas me dirigi às cartas que foram categóricas em afirmar que aquele era o seu real caminho, e que deveria seguir por ele. Nunca mais voltaria à velha vida. A encontrei seis anos depois se dizendo realizada  e que lembrava da nossa sessão de tarot,  pois não se imaginava vivendo outra vida!  Tarólogos são canalizadores da alma, suas influências devem se restringir aos métodos indicados para auxiliar seus clientes, e ao seu cabedal de conhecimento e experiência para exemplificar situações, além da própria forma ou viés com que lê o que os arcanos revelam. Uns mais práticos, outros mais psicológicos ou mágicos, mas nunca opinativos ou manipulativos. Isso não é nem ético e nem Espiritual.

Dos Bem-Intencionados 

Instrutores de Tarot

Já ouvi dizer que pessoas bem-intencionadas podem ser uma porta para o inferno! E cheguei à conclusão de que é verdade! Entrei numa das lojas esotéricas mais antigas da minha cidade e ouvi uma menina se dirigindo a um vendedor que foi chamado quando souberam que ela buscava um baralho de tarot. Ela estava interessada em adquirir um tarot de Marselha, pois que haviam dito a ela que era por onde devia começar, o que o bem-intencionado vendedor desaconselhou completamente... Entre a enxurrada de bobagens que ele disse mencionou que se tratava de um tarot arcaico, cheio de "preconceitos medievais". E, além de tudo, tinha outro “defeito”, não tinha imagem nos arcanos menores como o Rider-Waite tarot. Que esse sim, e também o Mitológico, de Juliet Sharman-Burke, eram os melhores para iniciantes... Enfim, como tarólogo o cara não serve nem como vendedor! Primeiro que o tarot de Marselha tem mesmo a origem das suas imagens e simbolismo na Idade Média, mas os arquétipos da alma se mantiveram intactos. A ponto, inclusive, de serem reconhecidos pelos maiores ocultistas da modernidade e pelo Dr. C. G. Jung, que foi quem forjou a teoria dos arquétipos, e os reconheceu no simbolismo deste baralho! Segundo que foi o seu simbolismo que deu origem a todos os outros baralhos modernos, inclusive o Rider-Waite que ele admira, mas que, no entanto, tem inúmeras distorções simbólicas que ameaçaram a integridade do tarot como um todo, e confundiram muitos estudiosos da tarologia... Sendo assim não é nada aconselhável se iniciar os estudos do tarot por ele, e sim pelo tarot de Marselha. Simbologia oculta não é concurso de beleza ou design, é o reconhecimento do manancial de símbolos ancestrais para dialogar com a alma. Aprende a essência, depois escolhe o baralho que quiser.


quarta-feira, 29 de maio de 2024

Desvendando a Carta Significadora no Tarot

A Carta Significadora, ou Carta Testemunha, é um representante simbólico do consulente na mesa, e um guia para o leitor. Esta carta é escolhida dentre as cartas da realeza dos arcanos menores, e é complementada ao sistema de leitura selecionado. Se utilizar o sistema da Cruz Celta, ela deverá ser adicionada às dez cartas escolhidas pelo consulente. Assim é possível saber sobre os traços de personalidade mais em evidência no momento de quem vem buscar a orientação dos arcanos. Para aquele que indaga o oráculo essa é uma oportunidade de autoconhecimento, de ver a si mesmo sob outra perspectiva, em manifestações muitas vezes inconscientes dentro das circunstâncias que o envolvem, e o desafiam de algum modo. Um cliente representado pelo Rei de paus, por exemplo, pode estar num estado de espírito positivo, progressista e diligente. Uma mulher representada pela Rainha de copas pode estar denotando um momento de mais sintonia com os seus sentimentos, e a busca por um alinhamento interior, de bem-estar e conexão íntima com o que está se vivendo, mais do que de valorização de aspectos extrínsecos como a busca por vantagens materiais ou estratégicas. A questão seguinte é: como se faz a escolha da Carta Significadora? Os métodos tradicionais separavam os reis para os homens e a as rainhas para as mulheres. Essa escola era muito focada, em princípio, na descrição da aparência física do consulente. Uma forma de atrair, através da imagem, a força e a presença do cliente para a leitura em si. Isso fica bem claro em obras clássicas como O Tarot Adivinhatório (1909), de Papus, onde as características físicas como cor do cabelo e provável posição social que ocupa reis e rainhas é escrita em cada carta. Com o tempo a descrição dos aspectos psicológicos passou a ter preponderância, justamente por permitir vislumbrar as motivações e possíveis expectativas que cada pessoa traz para a sessão de leitura de tarot.

O modo de se fazer esta escolha também passou por uma evolução. Se anteriormente as figuras dos reis eram naturalmente escolhidas para representar homens e as rainhas as mulheres, hoje isso se amplificou! Neste sentido uma das visões que mais aprecio é a de Gail Fairfield em seu livro Choice Centered Tarot (1982) que sustenta que qualquer uma das dezesseis cartas da corte pode representar pessoas de ambos os sexos. Isso faz muito mais sentido dentro de tudo que sabemos sobre psicologia humana. Um homem pode ter dentro de si uma atuação mais marcante da sua porção feminina (a anima, como definiu Jung) e assim expressar o arcano de uma rainha, da mesma forma uma mulher pode estar mais intensamente envolvida com a porção masculina da sua psique (o animus) e assim expressar as qualidades dos reis do tarot. Ambos por sua vez podem ativar o arquétipo do guerreiro dentro de si, e um cavaleiro se apresentar como a carta significadora neste caso. Da mesma forma a criança interior de homens e mulheres pode se evidenciar num momento de muita criatividade, necessidade de atuação, aventura, leveza ou imaginação, e um valete (ou pajem) ser um melhor representante na leitura. Lembrando que quem decide isso é a sincronicidade! As cartas da corte devem estar previamente separadas, em seguida embaralhadas e abertas em leque para que o consulente escolha uma. Esta carta é o espelho do momento de quem vem consultar as cartas, pode se falar sobre ela. Se preferir, pode indagar ao próprio consulente, depois de explanar seu simbolismo, sobre como ele mesmo sente o arcano, impressões e sentimentos que sua imagem evoca em si.

O Rei de paus do Tarot Adivinhatório, de Papus:
"Chefe masculino; Homem de vontade e
empreendimento; Homem castanho".

Existem outras possibilidades de escolha da Carta Significadora. Um método astrológico é utilizado por alguns tarólogos. Sua aplicação mais simples é a de combinar o signo solar de uma pessoa ao seu ascendente. Assim sendo um indivíduo do signo de Áries com ascendente em Peixes teria como arquétipo um Cavaleiro de copas. Essa escolha segue a relação entre os elementos que compõem cada um dos arcanos da realeza, segundo a regência astrológica estabelecida na Ordem Hermética da Aurora Dourada, a Golden Dawn. Já tratei aqui dessa tabela nos meus textos sobre os arcanos menores. Existem variações ainda mais complexas sobre este método astrológico de escolha desta carta na mesa. Para mim todos eles são inválidos e totalmente fora da própria natureza da tarologia! O tarot é um instrumento de avaliação do momento, e de possíveis influências do passado, tanto quanto de sondagem de prognósticos futuros. Seres humanos apresentam diferentes reações a eventos similares entre si. A mesma pessoa pode ter comportamentos diferentes dentro de situações semelhantes em momentos diferentes, porque é da natureza humana amadurecermos e aprendermos com nossas experiências, ainda mais quando compreendemos que elas representam um desafio ao nosso crescimento pessoal em algum momento. Sendo assim, não vejo sentido nenhum em a mesma carta sempre representar a mesma pessoa em situações diversas. Isso é estanque demais! O tarot é um reflexo dinâmico de uma personalidade em movimento e evolução, essa é a a sua essência. A astrologia é um estudo da proposta do Ser, o tarot do Estar, como definiu muito bem Nei Naiff em se livro Tarot, Ocultismo e Modernidade (2006). Além do que é muito estranho o consulente não participar dessa seleção, afinal o objetivo da Carta Significadora é desvendar o que ele traz, consciente ou inconscientemente, para as demandas do seu momento e de que modo isso interfere, ou não, nos eventos.

Eu já me utilizei do recurso da Carta Significadora nas minhas leituras, e com o tempo a deixei. Senti ao longo da minha jornada com os arcanos que deveria experienciar todas as suas possibilidades. Não senti necessidade de seguir com este recurso, porém há quem o utilize como uma prática usual em suas leituras. Trata-se não só de técnica e estilo, mas também de percepção pessoal e intuitiva de que informações são necessárias para aquilo que se entende como uma leitura bem-feita, com profundidade e consistência. Faça a sua experiência!


terça-feira, 26 de março de 2024

Cartas Aleatórias nas Leituras de Tarot

Quais são os limites de uma leitura de tarot? Todas as cartas que caem na mesa servem à leitura em curso? Como não acredito em generalizações, no que tange ao trabalho com linguagens simbólicas, eu diria que isso varia de leitor para leitor e de cada momento. Muitas vezes as cartas que caem não significam necessariamente uma mensagem para quem se consulta. Há outras vezes, porém, que isso funciona magicamente. Certa vez conversando com uma cliente que estava com muitos pensamentos sobre o porvir, e com seus planos de morar nas praias ensolaradas do Nordeste, e já nos trâmites finais da sua sessão, eu me preparo para tirar a carta de mensagem final para aquele momento. Isso é algo que já faço há muitos anos, a carta final é uma síntese sobre as melhores direções a serem seguidas pelo cliente a partir daquele ponto. Enquanto faço o embaralhamento das cartas uma delas salta, literalmente, do maço e vai ao chão. Abaixo-me para colher o arcano, e quando viro a imagem para cima vejo que se trata de A Estrela, arauto da esperança, dos sonhos com o amanhã, e da ampliação da visão e das perspectivas da vida. Rio, e comento com a cliente que era muito interessante aquele arcano ter se pronunciado naquele momento. Enquanto converso, já tenho a carta de volta ao maço, recomeçando a embaralhar, e fazendo isso digo à moça a minha frente que aquela bem que podia ser sua mensagem final, pois combinava muito bem com tudo o que havia sido dito até então. Quando disponho as cartas viradas para baixo em leque, e peço para que retire uma, adivinhe quem veio? Pois é, ela mesmo: A Estrela! Rimos da “bruxaria” contida naquele sincronismo. O arcano se pronunciou como quem dissesse “Hei, eu já estou aqui” e confirmasse com isso os desejos dela para o futuro.

A Roda da Fortuna, do
Ancient Italian tarot.

Em outra ocasião estou lendo as cartas para outra moça que estava preocupada com o andamento do seu relacionamento com o namorado, e pede para marcar a relação dela com a sogra, com quem tinha problemas de entrosamento. Alguém que ela considerava uma pessoa de difícil trato. Enquanto misturo as cartas, e me concentro na sua pergunta, uma delas salta ao chão. Saio da mesa, pois que saltou com certa distância, e quando a recolho vejo que se trata do arcano de A Roda da Fortuna. Senti naquele momento que sua mensagem era sobre uma virada de 180º no comportamento da sogra, e disse isso à minha cliente: Ela já não é mais assim, mudou muito. Era uma consulta on-line, via WhatsApp, e eu tinha saído do campo de visão dela, mas a ouvi dizer sorrindo “Sim, ela mudou muito! Estou perguntando justamente para saber se ela continuará assim”. Então resta saber se tudo o que acontece numa sessão de leitura de tarot faz mesmo parte da leitura. Acredito que uma consulta oracular é uma das coisas mais mágicas que a ancestralidade nos legou, e acredito, pela minha própria experiência, de que isso pode acontecer sim. Só não creio que seja uma regra, embora reconheça que se trata, mais uma vez, de um reflexo da minha própria experimentação com o caminho oracular, e do meu entrosamento com as linguagens simbólicas. Sinto que isso muda significativamente de pessoa para pessoa que vem para o atendimento. 

O leitor deve sentir isso dentro da sua sensibilidade, sem tentar fazer disso um atrativo dramático para suas leituras, embora seja de fato impressionante quando acontece. Creio que esse fenômeno se deve única e exclusivamente à sincronicidade, não trabalho com a invocação de entidades e muito menos com elementais. O sincronismo é algo que nos conecta a uma fonte muito maior que tudo isso, e nos torna verdadeiramente UM. O trabalho com oráculos, e em especial com o tarot, não tem como se tornar fastidioso justamente pela diversidade que cada pessoa traz em si e reporta à sessão através dos arquétipos que a representam. Cabe ao leitor perceber a sutileza de cada pessoa, e como ela se evidencia durante uma sessão de leitura. O mais importante disso tudo é ainda desvendar o propósito possível para este evento sincronístico. E, mais uma vez, atribuo seu significado ao propósito que cada intérprete dá ao seu trabalho. Para mim as cartas saltantes, como as chamo, são uma manifestação de uma parte da consciência que parece ressaltar uma mensagem, fortalecer uma perspectiva ou salientar uma possibilidade de reintegração interior que poderá orientar a um tratamento terapêutico que conduza a essa reintegração. O misterioso salto “acidental” de certos arcanos é tão misterioso para mim hoje quanto foi da primeira vez em que aconteceu, mas respeito aqueles que nunca foram acometidos por interesse ou revelações nesses incidentes arquetípicos. O tarot fala de formas diferentes com cada pessoa, e isso é igualmente fascinante! Costumo dizer aos clientes que as leituras de tarot são um acesso à porção mais sábia e elevada de si mesmos, seja lá qual for o nome que se dê a ela. Poder ser Eu Superior, EU Maior, Self, o subconsciente etc. Seja como for não a contatamos de modo direto e consciente, e precisamos dos símbolos para fazer esse intercâmbio. Essa comunicação tem como único propósito a harmonização do todo: corpo, mente, sentimento, plano vibracional e espiritual, que uma vez atingido impulsiona o indivíduo para outro patamar do seu próprio processo evolutivo... Se ele fizer um bom proveito do impulso interior que lhe é dado através das revelações do tarot, é claro!