Em função do programa O Maior Brasileiro de Todos os Tempos do canal televisivo SBT (sistema brasileiro de televisão), que seguindo uma pesquisa da BBC de Londres, quer saber qual o maior representante da história de cada país, eu me peguei pensando nos heróis que de tempos em tempos despontam na história. O que faz um herói? Foram cem os citados nessa longa enquete feita via internet, com mais de 1.3 milhão de votos! É claro que logo saltou à minha lembrança o significado esotérico do representante simbólico dos heróis e guerreiros no tarot, a carta de O Carro. A imagem de um jovem guerreiro em sua carruagem puxada por dois cavalos que divergem quanto à direção a ser seguida, mas que dirigem seu olhar no mesmo sentido do olhar do cavaleiro, sintetiza em muito a trajetória dos heróis.
Algumas versões desse arcano, inspiradas pelos desenhos de Pamela Colman Smith para o Rider-Waite tarot, mostram o jovem deixando uma cidade para trás. Os heróis são justo aqueles que se afastam do senso e da perspectiva comum e seguem um caminho só seu, que nada tem a ver com o que já foi criado e vivido. Eles costumam andar sozinhos, e até pode acontecer que muitos o sigam com o tempo, mas quase nunca há alguém ao seu lado! São eles que abrem os caminhos por onde outros trilharão mais adiante, e muitos se beneficiam de sua ousadia e inovação, mas não raramente eles se sentirão sem lar e sem um lugar em que se sintam aconchegados até que tenham eles mesmos criado esse lugar.
Assim como o jovem cavaleiro da imagem do sétimo arcano do tarot aqueles que trilham o caminho da vida heroica enfrentam as adversidades (os cavalos em conflito) que se interpõem entre eles mesmos e os seus objetivos, e que tem de ser domadas e dirigidas pelo seu propósito interior (o olhar que os guia), bem como por sua coragem e força de vontade. O cavaleiro na carruagem usa as dragonas, as ancestrais das divisas militares, que indicavam não só a sua posição na hierarquia militar como também o reino ao qual ele servia. Assim, a luta desse guerreiro não se dá apenas por uma causa própria, ele leva consigo o nome, as esperanças ou as necessidades de uma nação, ou grupo de pessoas, mesmo que essas pessoas não tenham ainda total consciência do quanto precisam dele. Basta lembrar que muitos daqueles que hoje são reconhecidos como heróis na história foram chamados de traidores, loucos, ou arruaceiros por seus contemporâneos.
O arcano de O Carro em outras três versões diferentes:
Rider-Waite, 1JJ Swiss, e Morgan-Greer.
Rider-Waite, 1JJ Swiss, e Morgan-Greer.
O arcano de O Carro carrega em si os emblemas das seis cartas que o antecedem: na mão ele carrega um cetro que se parece com uma vara mágica, como a de O Mago. Sua carruagem é coberta por um véu como o de A Sacerdotisa. Suas dragonas são o antigo emblema da linhagem de nobreza que era transmitida somente pela rainha, neste caso A Imperatriz. Ele leva a mão à cintura como O Imperador, indicando sua capacidade de divisar o superior do inferior. Seu olhar firme e benevolente, ao mesmo tempo, sobre os cavalos se assemelha ao olhar de O Papa (ou O Hierofante) para os dois discípulos a sua frente. Aliás, essa dualidade domesticada e perfeitamente dirigida das duas bestas é um resquício do antagonismo da carta anterior, Os Amantes (ou O Enamorado). Por isso podemos dizer que o herói é fruto do seu meio, ele capta as vibrações, forças e necessidades que emanam à sua volta e atende ao seu ímpeto interior de fazer algo sobre isso!
Eu considero os quatro cavaleiros da corte do tarot os irmãos de cavalaria de O Carro, ou seus filhos. E expressam em seus naipes as áreas de interesse e atuação de cada herói. As obras de alguns dos cem classificados ilustra muito bem o significado dessas quatro cartas da corte.
A força dramática desse Cavaleiro o faz prender a atenção das massas por seus feitos atléticos e competitividade, ou por sua performance dramática e desejo de auto superação. Criar, mudar, mobilizar, impulsionar e inspirar são atributos desse Cavaleiro perfeitamente cabíveis em personagens como Pelé, Ayrton Senna, Machado de Assis e Roberto Carlos.
Esses são os que via de regra são mais incompreendidos, seus caminhos são sempre barrados pelo preconceito e a visão materialista, e por isso mesmo cética, da sociedade. Seu espírito caridoso, sua fé e confiança na conexão com o mistério da vida, com o sagrado, o transcendente e o imaterial são exatamente as qualidades do Cavaleiro de copas que pessoas como o médium espírita Chico Xavier e os religiosos católicos, Irmã Dulce, Frei Galvão e Padre Cícero manifestaram ao mundo.
Esses são aqueles que munidos de um intelecto aguçado, um plano e objetivo interiores bem arquitetados seguiram a diante até concretizar o que pretendiam exatamente como faria qualquer Cavaleiro de espadas. Alguns desses heróis tiveram de pegar em armas, mas mesmo procedendo assim apenas respondiam ao inevitável. Os melhores representantes dessa categoria de heróis são: Marechal Rondon, Duque de Caxias, Rui Barbosa e Lula.
Seus feitos tiveram como objetivo a construção de bases práticas e materiais para mudar a realidade de um povo ou região. Sob a égide do Cavaleiro de ouros eles trabalharam duro, investiram, persistiram e chegaram onde muitos duvidavam que eles pudessem. Esses grandes empresários e visionários do Brasil foram os empreendedores Eike Batista, Antônio Ermírio de Moraes e o Visconde de Mauá.
Heróis Comuns
Os heróis vivem no mundo e estão presente em todas as áreas de atuação humana, influenciam em pequena, média e grande escala conforme cada caso e situação. Não faltam exemplos como o de homens que enfrentam inundações para salvar animais abandonados, ou aqueles que se agarram a um suicida que ia pular de uma ponte (Cavaleiro de copas). Muitos estão na nossa família como aquele avô ou avó que “vieram do nada” e construíram um patrimônio para os seus, ou que foram um exemplo de trabalho digno e de contribuição para sua comunidade (Cavaleiro de ouros). Ou ainda aqueles que foram aventureiros desbravadores, ou heróis de guerras do passado (Cavaleiro de espadas). Artistas notáveis ou atletas incríveis para seu bairro, cidade, estado ou país (Cavaleiro de paus)... Há heróis de todos os tamanhos, tipos e influências. Todos possuem em comum o fato de serem luzes admiráveis nos caminhos muitas vezes escuros desta vida.
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